Mas o tempo chuvoso deve retornar na segunda-feira, segundo previsão do Inmet
As fortes chuvas que atingiram o estado do Rio Grande do Sul causaram 41 mortes, segundo a última atualização feita às 12h deste sábado (9) pela Defesa Civil. De acordo com os dados, 46 pessoas ainda estão desaparecidas, 30 no município de Muçum, oito em Arroio do Meio e oito em Lajeado. As chuvas deixaram estragos em 87 cidades gaúchas. O jornalista Cícero Copelo, da Rádio Independente, de Lajeado, atua na cobertura do desastre. Ele relatou ao portal Brasil 61.com como está a situação na região.
“O momento é triste, é desolador. Infelizmente tivemos essas mortes e tivemos crianças perdidas em meio a toda essa catástrofe jamais vista aqui na nossa região. Agora é a hora de reconstruir. A gente tem todos os órgãos de segurança atuando, helicópteros decolam a todo momento, cães farejadores são utilizados também para buscar essas vítimas que ainda existem, que ainda estão desaparecidas e a gente não sabe se foram a óbito ou estão perdidas em algum ponto da nossa região. O fato é que a região foi atingida pela maior cheia da sua história”, pontua.
Óbitos: 41
Desaparecidos: 46
Pessoas resgatadas: 3.130
Municípios afetados: 87*
Desabrigados: 3.193
Desalojados: 8.256
Afetados: 147.341*
Feridos: 223
Carlos André, de 54 anos, do município de Cruzeiro do Sul, é proprietário da Kixiki Lanches. Ele conta que ficou dividido entre tentar salvar as coisas em casa e na lancheria, o que não foi possível fazer.
“A minha primeira reação foi querer salvar o que eu tinha construído na minha vida toda. Só que não deu, não consegui salvar mesmo. Só que foi muita chuva, uma enchente muito alta. Eu nunca imaginava uma coisa tão violenta. Aí no fim acabei perdendo em casa e acabei perdendo na lancheria também. Estou abatido, mas com força para lutar, para tentar reconquistar tudo que eu tinha”, desabafa.
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as chuvas devem dar uma trégua neste sábado e também no domingo (10), mas a previsão é que voltem a atingir a região no decorrer da próxima semana. O meteorologista do Inmet Olivio Bahia afirma que a previsão inicial é que as chuvas retornem de segunda a quarta-feira.
“A perspectiva para o início da semana é novamente o retorno da chuva por lá. Começa a chuva no decorrer da segunda-feira, começando a atingir áreas na região sul do Rio Grande do Sul. Infelizmente a condição do tempo volta a instabilizar a partir segunda-feira. E aí tem condição de chuva forte, até condição de alguns volumes também expressivos. Talvez nada parecido com o que ocorreu”, explica.
Até às 12h deste sábado, de acordo com informações do governo do Rio Grande do Sul, consolidadas com o Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM), há sete trechos com bloqueios totais ou parciais em seis rodovias. Segundo as informações, duas pontes foram destruídas pelas chuvas, na ERS-448 – entre Farroupilha e Nova Roma do Sul – e na ERS-431 – em Bento Gonçalves, no limite com São Valentim do Sul.
Ainda conforme o governo, há pistas alagadas em função do transbordamento dos rios, conforme informações do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) e da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR). É possível verificar quais rodovias estão bloqueadas, total ou parcialmente, no site do governo do estado. Basta clicar no link.
Desde o dia 24 e até 30 de julho (domingo), o Paraná promove a Semana Nacional de Mobilização de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. A campanha faz parte da Campanha Coração Azul, do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). Ela tem como objetivo conscientizar sobre prevenção e informar sobre as opções de assistência e proteção para vítimas.
A iniciativa foi estabelecida pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), em conjunto com a rede de parceiros da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (PNETP) desde 2009 — e acontece no Brasil desde 2013.
Silvia Xavier, coordenadora de Direitos Humanos e Cidadania da Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania do Paraná (Seju) e chefe do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, explica que o objetivo da mobilização é conscientizar o público sobre essa questão, disseminar informações e cultivar indivíduos que possam discutir a respeito em suas comunidades, igrejas e condomínios, visando alertar as pessoas sobre o crime.
“Nós temos uma estimativa de que por ano, no estado do Paraná, nós atendemos em torno de 400, 500, 600 pessoas. No ano passado, só o caso do Camboja nos rendeu 934 denúncias a respeito do trabalho análogo à escravidão”, avalia.
A coordenadora expõe que o número de denúncias tem aumentado devido à conscientização das pessoas sobre o que elas devem fazer. “O Paraná tem a política de enfrentamento ao tráfico de pessoas desde 2013 e desde então a gente faz a prevenção, a repressão — e o atendimento humanizado às vítimas. Nós acompanhamos essas vítimas por 2 anos”, explica.
Por meio de nota, o MJSP explicou que publica periodicamente dados sobre tráfico de pessoas, consolidados a partir das informações registradas pela rede de enfrentamento. “Os relatórios não permitem apontar com exatidão quantas pessoas são traficadas em determinado período, até porque estamos tratando de um crime subnotificado. Mas, por outro lado, permitem traçar as principais tendências do crime no Brasil”.
De acordo com o último Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas do UNODC, mulheres e meninas representam 65% das vítimas do tráfico de pessoas.
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Uma campanha coordenada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) colocou fim a uma espera de mais de 30 anos no interior de Pernambuco. A ação, que começou no dia 25 de maio deste ano, possibilitou que um homem conhecido como Francisco, e que vivia nas ruas de Arcoverde (PE) há mais de três décadas, fosse encontrado pela Polícia Científica do estado.
O desfecho dessa história começou quando Francisco, em situação de rua, foi convencido por um voluntário da cidade a tomar a vacina contra a Covid-19. Nem mesmo a falta de documento impediu que o homem fosse vacinado. A história gerou comoção e foi suficiente para mobilizar outros voluntários na busca pela verdadeira identidade de Francisco.
A procura dos voluntários coincidiu com o andamento do trabalho da Polícia Científica pernambucana, que coletou o DNA do homem e os materiais biológicos. O material foi encaminhado para o Instituto de Genética Forense Eduardo Campos (IGFEC), em Recife. Após dois meses, o resultado dos exames atestou que Francisco, na verdade, se chamava Cicero, o qual já vinha sendo procurado pela irmã Antônia há pouco mais de 30 anos, na cidade de Lajeado, também em Pernambuco.
Hoje, Cícero saiu das ruas e já está em casa, morando com a irmã, que não esconde a felicidade de tê-lo novamente ao lado. “Foi uma felicidade muito grande ter reencontrado meu irmão. Eu sempre pensava nele, no dia em que eu o encontrasse”, comemora.
Segundo o anuário do Fórum de Segurança Pública, o número de pessoas que desapareceram em 2020 no Brasil foi de 62.857. São Paulo é o estado com maior registro de casos (18.347). Com a campanha do Ministério da Justiça, já foi possível que outras 28 famílias de brasileiros encontrassem os restos mortais de seus familiares desaparecidos.
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A identificação por meio dos restos mortais foi constatada pelos bancos estaduais em Goiás (6), Maranhão (1), Mato Grosso do Sul (1), Minas Gerais (1), Rio de Janeiro (3) e Rio Grande do Sul (11).
O coordenador da Rede Integrada de Banco Perfis Genéticos da pasta, Guilherme Jacques, explica como familiares que buscam pelos entes queridos podem tentar ter a mesma sorte que Cícero e Antônia. “Basta a pessoa acessar o site do ministério para saber onde estão os postos de coleta de dados. Feito isso, é ir até lá e fornecer o seu DNA de forma simples. O recolhimento é feito com um cotonete na parte interna da boca e, por fim, seu DNA vai para o banco de dados do ministério”.
Para mais informações, acesse o site do Ministério da Justiça e Segurança Pública. O endereço da página é o gov.br/mj.
No mês de junho, a Campanha Nacional de Coleta de DNA de Familiares de Pessoas Desaparecidas fez uma mobilização que colheu material genético de mais de duas mil famílias de desaparecidos e possibilitou, até agora, que 18 famílias tivessem informação sobre seus parentes.
A campanha foi realizada de 14 a 18 de junho, coordenada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) em parceria com os estados. Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiás e Minas Gerais foram os estados que tiveram maior adesão.
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O serviço de coleta de material genético está disponível durante todo o ano. O DNA deve ser doado, preferencialmente, pelo pai ou mãe do desaparecido, além de filhos, irmãos e pessoa com quem ele teve filhos.
Para fornecer os dados e o DNA, parentes de pessoas desaparecidas deverão procurar o local indicado por cada uma das Secretarias de Segurança Pública, nas 27 unidades da federação. O local de coleta de cada estado está disponível no site do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Nesta sexta-feira (23), vamos falar sobre os principais acontecimentos abordados no portal Brasil61.com durante a semana.
O governo federal enviou ao Congresso Nacional a segunda fase da reforma tributária. O texto diz respeito a mudanças no Imposto de Renda de pessoas físicas, empresas e investimentos. Sobre saúde, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou que a AstraZeneca realize estudos para avaliar a possibilidade de uma terceira dose da vacina contra a Covid-19. E começando essa edição do podcast, vamos falar sobre o número de pessoas desaparecidas no país e as maiores dificuldades dos familiares.
Quer saber tudo? Aperte o play e escute o Giro Brasil 61.
“O desaparecimento da minha filha realmente mudou a nossa vida. Porque ele remete a uma situação que você não consegue pensar, não consegue achar solução. A única coisa que você pensa é achar o mais rápido possível.”
Esse é o relato de Vera Lúcia Ranú, mãe de Fabiana Renata Gonçalves, que desapareceu no dia 12 de novembro de 1992, no bairro Jaraguá, em São Paulo.
Fabiana tinha 13 anos quando foi para a escola e nunca mais voltou para casa. Na época, para registrar boletim de ocorrência de desaparecimento era necessário aguardar um período de 72h, e Vera Lúcia só conseguiu fazer o registro após 100h do sumiço da filha. Nesse período, ela e a família procuraram Fabiana por hospitais, IML, vizinhança e na casa de amigos, mas não obtiveram resultado. Neste ano completa 29 anos do sumiço de Fabiana.
Vera Lúcia relata que na época não houve êxito na investigação por parte da polícia, pois não existia vestígios por onde começar as buscas e precisou se ausentar do trabalho. Além das mudanças no cotidiano, o sumiço da filha impactou toda a família.
“Eu tive vários problemas de saúde, principalmente psicológicos, e os meus filhos também. Como eram muito pequenos eles não entendiam por que a irmã tinha saído do convívio social deles e a todo momento queriam saber onde ela estava, eles não entendiam a situação. Recorri a um tratamento psicossocial para as crianças poderem superar essa situação”, relata Vera Lúcia.
Uma das situações mais difíceis para ela e o marido foi lidar com diversas pistas falsas sobre o paradeiro de Fabiana, o que resultou em gastos maiores com investigação particular e viagens. “O desaparecimento de um filho é um sentimento confuso, por um lado a gente tem esperança, por outro lado, de repente, também vem a desesperança. Eu costumo dizer que quem tem um filho desaparecido não vive mais, ele simplesmente sobrevive o dia a dia para continuar na busca.”
“A meu ver o desaparecimento é uma sepultura sem túmulo. Porque quando a gente enterra um familiar existe uma sepultura que você chora e visita nos momentos que sente saudades. O desaparecimento fica marcado naquele dia que você se vê com a falta da pessoa e busca dia após dia, ano após ano.”
Vera Lúcia Ranú, fundadora e presidente da ONG Mães em Luta.
Logo nos primeiros anos do desaparecimento da filha, Vera Lúcia fundou, junto com uma amiga, que também teve a filha desaparecida, a ONG Mães da Sé, uma das maiores organizações do Brasil para a busca de pessoas desaparecidas. “Foi um marco no nosso país, porque ninguém falava sobre desaparecimento, principalmente de crianças e adolescentes”, conta Vera Lúcia.
As manifestações da Mães da Sé tiveram início com um protesto silencioso no qual os familiares de pessoas desaparecidas se reuniram na escadaria da Praça da Sé, em São Paulo, segurando fotos na esperança de que alguém as visse e pudesse ter alguma notícia das pessoas ali divulgadas. Atualmente os protestos ainda acontecem da mesma forma.
Em 2005 Vera Lúcia fundou outra organização voltada a pessoas desaparecidas, a Mães em Luta, que trabalha com a prevenção nas comunidades e escolas por meio de palestras com familiares e jovens sobre as principais causas do desaparecimento. A ONG busca junto às autoridades de políticas públicas mais eficazes na busca de pessoas desaparecidas. A Mães em Luta e Mães da Sé já localizaram mais de dez mil pessoas no Brasil.
De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021, existem 62.857 pessoas desaparecidas no país, sendo 172 casos por dia. Entretanto, houve uma queda de 21,6% entre 2019 e 2020. São Paulo possui 18.342 pessoas desaparecidas, sendo o estado com a maior quantidade, seguido por Minas Gerais (6.835) e Rio Grande do Sul (6.202).
Conforme informou o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), São Paulo é o estado do Brasil que tem reportado o maior número de registros de desaparecimento, o que significa que a área tem relevância para entender o fenômeno e representa a diversidade do Brasil. Por isso, a instituição fez um estudo sobre o impacto e as necessidades dos familiares de pessoas desaparecidas que servirá também para orientar os governos a fim de promover projetos e respostas adequadas a essas necessidades.
O relatório intitulado “Ainda? Essa é a palavra que mais dói” foi realizado com 27 famílias do estado paulista que tiveram acompanhamento constante e participaram de entrevistas coletivas e individuais desde 2018. Também foram ouvidos 18 servidores públicos com experiência no atendimento a casos de desaparecimento e seis líderes e colaboradores de associações de familiares de pessoas desaparecidas.
Segundo a coordenadora do programa de pessoas desaparecidas e suas famílias do CICV, Larissa Leite, as consequências do desaparecimento de uma pessoa afeta todas as áreas da vida dos familiares. “Vemos famílias sofrendo a angústia e muitas vezes se jogam em atividades perigosas que acabam tomando todo o tempo de um familiar. Esse, muitas vezes, deixa de trabalhar e acaba ocasionando em um adoecimento mental e um adoecimento físico.”
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Quadros de depressão, ansiedade e adoecimento psicossomático são os mais frequentes entre os familiares. Além disso, existe também o impacto na parte econômica, pois as famílias costumam investir tudo o que tem na busca pelo parente que desapareceu e há também consequências de ordem jurídica.
O relatório aponta que entre os problemas de ordem jurídica enfrentados pelos familiares estão o recebimento de boleto de cobrança por um curso que a pessoa desaparecida não havia iniciado; impossibilidade de encerrar a conta bancária da pessoa desaparecida, existindo cobrança de taxas bancárias; manutenção em depósito judicial de valores decorrentes das verbas trabalhistas pagas pela empresa na qual a pessoa desaparecida trabalhava e impossibilidade de transferir para o comprador um veículo registrado em nome da pessoa desaparecida.
O CICV realiza desde 2019 um programa de acompanhamento às famílias de pessoas desaparecidas. A iniciativa, que termina no final deste ano, auxilia cerca de 40 famílias, a maioria participantes da avaliação de necessidades. “Nesse programa de acompanhamento realizamos várias atividades focadas em fortalecer essas famílias para que elas não fiquem paralisadas pela busca e nesse fortalecimento elas passam por atividades psicossociais, passam também por atividades informativas sobre direitos, serviços, atividades que procuram sensibilizar as famílias para o autocuidado e ensiná-las a promoverem entre elas o apoio mútuo”, explica Larissa Leite, da CICV.
A coordenadora destaca ainda que os atendimentos individuais são ofertados. “Realizamos atividades de promoção da memória sobre as pessoas desaparecidas e atividades públicas que podem ser reparadoras, porque as famílias sentem necessidade de que seu sofrimento seja reconhecido socialmente, já que é um sofrimento tão específico e muitas vezes um pouco negligenciado pela sociedade.”
Segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, ainda não é possível extrair dados que indiquem se existe ou não um perfil preponderante entre as pessoas desaparecidas no Brasil. “Ainda existe uma dificuldade de centralização de informações sobre os registros de desaparecimento e como não conseguimos centralizar e atualizar essas informações, também não conseguimos saber quais são as características dessas pessoas: idade, local de moradia e até as circunstâncias do desaparecimento”, explica Larissa Leite.
A fundadora e presidente da ONG Mães em Luta, Vera Lúcia Ranú, diz que o desaparecimento é um leque de possibilidades muito grandes. “Ele começa com conflitos familiares, passa pela prostituição, adoção ilegal, violência sexual, pedofilia, homossexualismo, tráfico de drogas, enfim, ele é um leque de situações sociais vulneráveis a qual a maioria das pessoas afetadas são as mais carentes, porque são as mais invisíveis, tudo é mais difícil, todo acesso é negado”, diz.
“O desaparecimento no nosso país é um crime social, um crime no qual acaba com a família, acaba com a saúde, faz com que a estrutura familiar acabe. É preciso entender que todos nós podemos passar por isso.”
Vera Lúcia Ranú, fundadora e presidente da ONG Mães em Luta.
Além do momento e do local do desaparecimento, algumas informações prestadas pelos familiares que participaram do relatório do Comitê Internacional da Cruz Vermelha sobre as circunstâncias do fato se sobressaíram nas entrevistas.
A coordenadora do programa de pessoas desaparecidas e suas famílias do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Larissa Leite, explica que o relatório possui pilares importantes, como sugestões para criar um mecanismo de busca de pessoas desaparecidas.
“No Brasil nós temos várias iniciativas e existe uma lei recente que trata da busca de pessoas desaparecidas, mas ainda é necessário aprimorar a coordenação entre todas as instituições que têm um papel relevante. Aqui a gente fala da polícia, dos estudos de medicina legal, do cemitério, dos hospitais, casas de acolhimentos, serviços que atendem pessoas vulneráveis e muitos outros. Todos esses serviços precisam estar articulados em um mecanismo que seja eficiente, que faça um bom compartilhamento de informações e que seja baseado em protocolos acordados entre todas as instituições.”
O segundo pilar seria a criação de um centro de referência multidisciplinar que possa atender as famílias e ser fonte de comunicação com as outras instituições que têm um papel importante para atender as necessidades. E o terceiro pilar, de acordo com o CICV, seria um aperfeiçoamento legislativo.
“Hoje já existem normativas mais claras sobre o desaparecimento, mas alguns problemas ainda precisam de uma solução que passa por normatização, como por exemplo, definir o status jurídico de pessoas desaparecidas para que as famílias possam ter acesso rápido aos direitos e também solucionar problemas jurídicos que começam a acontecer imediatamente após o desaparecimento”, pontua Larissa.
Vera Lúcia Ranú também faz parte dos familiares que recebem ajuda do Comitê Internacional da Cruz Vermelha e diz ter recebido bastante apoio. “Ela é um suporte no qual tem nos ajudado muito a passar por essa situação, entender melhor através de ajuda psicológica, através do amparo, através da união de familiares e buscando também, junto com a gente, caminhos com as autoridades que possam amenizar e criar políticas públicas de busca e divulgação.”
O administrador Jonis Martins é uma das pessoas que fez parte do relatório do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e também participa das ações oferecidas a pessoas que possuem familiares perdidos. Segundo ele, o CICV o auxilia de forma positiva. “Nós somos um grupo de aproximadamente trinta e poucos familiares tentando identificar quais são as nossas necessidades. O CICV começou a fazer um trabalho lindo de conectar as nossas necessidades com as autoridades e fazer tudo isto ser movimentado com um poder maior de fala, de conectar as pessoas e de unir os familiares, dando a possibilidade desta ligação com as autoridades.”
Era sábado à tarde, dia 30 de janeiro de 2016, no bairro da Vila Maria (SP), quando a mãe de Jonis Martis, Sueli de Oliveira, desapareceu. Na época, com 68 anos, ela saiu para passear e não retornou no horário de costume. A noite chegou e, preocupado, pois a mãe estava passando por alguns quadros psiquiátricos, Jonis saiu para procurá-la. “Os minutos foram passando e começou o meu pesadelo. Neste momento não sabia nem o que fazer. Porque você nunca pensa na possibilidade da pessoa desaparecer. Imaginei que ela estava na casa de uma amiga e comecei a ligar para as pessoas que eu conhecia, liguei até para o meu pai que é casado e mora em outra cidade. No momento que descobri que ela não tinha voltado para casa foi desesperador”, relata o administrador.
No dia seguinte Jonis registrou um boletim de ocorrência de desaparecimento e passou a contar com a ajuda de pessoas para divulgar nas redes sociais e realizar buscas pelas ruas, mas sem respostas. “O sentimento de espera é desesperador porque a qualquer ligação, a qualquer mensagem, a qualquer campainha você cria uma expectativa muito grande de que a qualquer momento vai receber uma resposta e isto vai te destruindo. Já passaram cinco anos e não tenho nenhuma resposta.”
Com relação a dividir a história com outras pessoas que têm familiares desaparecidos na CICV, Jonis diz que conseguiu enxergar a situação de uma forma menos doída e que isso o ajuda a manter a esperança de um dia reencontrar a mãe. “Você falando a mesma língua com as pessoas que passam por esse problema passa um tipo de esperança. De vez em quando eu tento evitar para poder seguir a minha vida, tento não me envolver com o assunto de desaparecimento, mas é inevitável porque tudo acaba ligando a minha mãe, que é algo muito forte dentro de mim, em algum momento vem à tona a lembrança, mas nunca a falta de esperança.”
Brasil e Unidades da Federação | Pessoas desaparecidas | Pessoas localizadas (NT) | |||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Ns. Absolutos | Taxas (2) | Variação (%) | Ns. Absolutos | ||||
2019 (3) | 2020 | 2019 | 2020 | 2019 (3) | 2020 | ||
Brasil | 79.608 | 62.857 | 37,9 | 29,7 | -21,6 | 42.319 | 31.996 |
Acre | 110 | 191 | 12,5 | 21,4 | 71,2 | ... | ... |
Alagoas | 566 | 466 | 17,0 | 13,9 | -18,0 | 34 | 43 |
Amapá | 379 | 129 | 44,8 | 15,0 | -66,6 | 233 | 41 |
Amazonas | 907 | 638 | 21,9 | 15,2 | -30,7 | 44 | 22 |
Bahia | 1.821 | 1.379 | 12,2 | 9,2 | -24,6 | 818 | 561 |
Ceará | 1.912 | 1.622 | 20,9 | 17,7 | -15,7 | ... | ... |
Distrito Federal | 2.876 | 2.005 | 95,4 | 65,6 | -31,2 | 2.537 | 1.730 |
Espírito Santo | 1.708 | 1.502 | 42,5 | 37,0 | -13,0 | ... | ... |
Goiás | 3.397 | 2.651 | 48,4 | 37,3 | -23,0 | 469 | 454 |
Maranhão | 799 | 671 | 11,3 | 9,4 | -16,5 | 98 | 75 |
Mato Grosso | 2.008 | 1.692 | 57,6 | 48,0 | -16,7 | ... | ... |
Mato Grosso do Sul | 1.551 | 1.147 | 55,8 | 40,8 | -26,8 | 1.350 | 780 |
Minas Gerais | 8.756 | 6.835 | 41,4 | 32,1 | -22,4 | 6.041 | 4.373 |
Pará | 889 | 636 | 10,3 | 7,3 | -29,2 | ... | ... |
Paraíba | 102 | 80 | 2,5 | 2,0 | -22,0 | 13 | 12 |
Paraná | 6.780 | 5.377 | 59,3 | 46,7 | -21,3 | 4.588 | 3.280 |
Pernambuco | 3.129 | 2.576 | 32,7 | 26,8 | -18,2 | 856 | 776 |
Piauí | 373 | 307 | 11,4 | 9,4 | -17,9 | ... | ... |
Rio de Janeiro | 4.619 | 3.216 | 26,8 | 18,5 | -30,8 | 2.074 | 1.332 |
Rio Grande do Norte | 356 | 223 | 10,2 | 6,3 | -37,8 | 7 | 6 |
Rio Grande do Sul | 8.486 | 6.202 | 74,6 | 54,3 | -27,2 | 8.499 | 5.699 |
Rondônia | 1.253 | 1.076 | 70,5 | 59,9 | -15,0 | 32 | 25 |
Roraima | 250 | 129 | 41,3 | 20,4 | -50,5 | 117 | ... |
Santa Catarina | 4.353 | 3.285 | 60,8 | 45,3 | -25,4 | 4.696 | 3.722 |
São Paulo | 21.745 | 18.342 | 47,4 | 39,6 | -16,3 | 9.780 | 9.053 |
Sergipe | 254 | 232 | 11,0 | 10,0 | -9,5 | 17 | 4 |
Tocantins | 229 | 248 | 14,6 | 15,6 | 7,1 | 16 | 8 |