O Brasil segue com números elevados de casos de lesões corporais — agressões que levam à morte das vítmas. Em números absolutos, 610 pessoas sofreram esse tipo de crime só em 2022, um aumento de 17,4% em comparação com o ano anterior. A Bahia aparece entre os três estados de maiores registros com 64 vítimas, atrás apenas de São Paulo (94) e Rio Grande do Norte (77). Um crescimento de 14,2%. Os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023, estudo realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Na opinião do especialista em segurança pública e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Cássio Thyone, os números apenas refletem a falta de investimento do estado com a questão.
“O estado da Bahia não tem feito a lição de casa, no que diz respeito a tratar a segurança pública com a prioridade e com as ações assertivas que a gente espera que o estado viesse a fazer. Os índices de criminalidade na Bahia estão realmente ruins. São vários índices não só de crimes letais, como homicídios. Tem a questão da letalidade da polícia também, feminicídio e outros — além também de crimes contra o patrimônio que têm crescido bastante no estado”, revela.
O Anuário ainda revela que a Bahia entrou no topo da lista dos estados mais violentos do Brasil. A taxa de mortes violentas intencionais (MVI) é de 47,1 por 100 mil habitantes, enquanto a média nacional é de 23,3 por 100 mil. No primeiro semestre de 2023, as forças de segurança da Bahia prenderam 9.019 criminosos. São 50 pessoas envolvidas com atividades ilícitas capturadas diariamente. Em números absolutos foram contabilizados 2.523 casos de mortes violentas — homicídio, latrocínio e lesão dolosa seguida de morte.
Na escala subnacional, o estado mais violento do país em 2022 foi o Amapá, com taxa de MVI de 50,6 por 100 mil habitantes, mais do que o dobro da média nacional. Na terceira posição, aparece o Amazonas, com taxa de 38,8 por 100 mil habitantes.
Lembrando que a pesquisa considera apenas o número de registros dos crimes, o levantamento indica que a Bahia tem os quatro municípios mais violentos do país — Jequié, Santo Antônio de Jesus, Simões Filho e Camaçari. As estatísticas apontam também que as polícias mataram 1.464 pessoas em intervenções oficiais; com isso, o conjunto de forças de segurança do estado pela primeira vez se consolida como a mais letal do Brasil.
O especialista em segurança pública, Elias Miller, acredita que os índices de violência urbana no Brasil cresceram consideravelmente a partir da segunda metade do século XX. E a sua ocorrência é registrada em cidades de todas as regiões do país. “A violência urbana é um fenômeno social que ocorre nas cidades e tem como causas problemas de ordem estrutural, como as desigualdades socioeconômicas, a segregação urbana e a falta de oportunidades para a garantia de uma vida digna no espaço urbano — aliado a fatores de ordem moral”, salienta.
O advogado criminalista e professor de direito penal, Carlos Fernando Maggiolo, diz que, hoje, se vive um momento em que a escalada da criminalidade se dá em razão da benevolência de todos. Para o analista, a casa legislativa também foi se tornando mais benevolente com os autores dos crimes, sobretudo os crimes violentos.
“Hoje a recomendação é que seja recolhido à prisão apenas os autores de crimes com violência cuja pena seja acima de 4 anos. Então o crime de furto, que é um crime que a pena é de 1 a 4 anos, ele nunca vai ter o agente criminoso detido porque a própria lei já diz que ele não pode ser recolhido”. O advogado acrescenta que esses autores acabam saindo impunes pela porta da frente da delegacia. “A gente está vivendo um momento realmente de descalabro no Brasil”, adverte.
De acordo com o estudo realizado pela Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol), a partir de dados das polícias civis e da Polícia Federal, a Bahia também é o segundo pior estado na resolução de inquérito policial por homicídio, com apenas 17,24% de casos resolvidos no ano de 2022. O estado fica atrás apenas do Rio de Janeiro que possui uma taxa de 11,8%.
Mais de 100 policiais civis e militares realizaram nesta terça-feira (14) uma operação integrada na região de Valéria, bairro na periferia de Salvador. Segundo a Polícia Civil, o alvo da operação são grupos de criminosos responsáveis pelo tráfico de drogas e homicídios no bairro. Durante a operação, mandados de busca e apreensão foram cumpridos em diversos pontos e ações preventivas ampliadas na região.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), durante a operação policiais civis da Coordenação Operações e Recursos Especiais (CORE) desmontaram três acampamentos utilizados por integrantes de facção na região. Itens como colchões, roupas, marmitas e calçados foram destruídos.
De acordo com a SSP-BA, os locais estavam montados em regiões de mata fechada e eram “utilizados em fugas ou durante ataques contra traficantes rivais por disputa de ponto de venda de entorpecentes”.
Conforme a Polícia Civil, essas ações são desenvolvidas em conjunto com o Comando de Operações Policiais Militares (COPPM), o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), do Batalhão de Patrulhamento Tático Móvel (BPatamo), Grupamento Aéreo da Polícia Militar (Graer), Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque), Rondesp/Central e Pelotão de Emprego Tático Operacional (Peto).
Devido a operação, o serviço de transporte público no bairro e as aulas nas escolas municipais foram suspensos. Mais de 300 alunos ficaram sem aula.
Conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023, estudo realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a Bahia é o segundo estado mais violento do Brasil. Segundo o levantamento, a taxa de mortes violentas intencionais (MVI) no estado é de 47,1 por 100 mil habitantes, enquanto a média nacional é de 23,3 por 100 mil.
O estudo ainda indica que a Bahia possui atualmente o maior número de cidades violentas do país. Dos 50 municípios elencados na lista, 12 estão na Bahia. São eles: Jequié, Santo Antônio de Jesus, Simões Filho, Camaçari, Feira de Santana, Juazeiro, Teixeira de Freitas, Salvador, Ilhéus, Luís Eduardo Magalhães, Eunápolis e Alagoinhas.
Segundo o Instituto Fogo Cruzado, em outubro forma registrados 158 tiroteios que deixaram 123 pessoas mortas e 34 feridas. Entre alguns locais afetados estavam barbearias, bares, restaurantes, shoppings e residências. Dos 13 municípios que compõem a Grande Salvador, 11 deles foram atingidos pela violência armada em outubro.
Para o especialista em segurança pública e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Cássio Thyone, esses números refletem o aumento de registros de ondas de violência que vêm ocorrendo em regiões da capital baiana e em municípios do interior do estado.
“O estado da Bahia não tem feito a lição de casa no que diz respeito a tratar a segurança pública com a prioridade e com as ações assertivas que a gente espera que o estado viesse a fazer. Os índices de criminalidade na Bahia estão realmente ruins. São vários índices, não só de crimes letais, como homicídios. Tem a questão da letalidade da polícia também, feminicídio e outros — além também de crimes contra o patrimônio, que têm crescido bastante no estado”, diz.
Segundo o especialista, além de implementar políticas públicas de segurança eficazes e a longo prazo, é necessário investir de forma mais inteligente os recursos.
“As medidas que podem ajudar a reverter essa situação passam necessariamente por questões como: implantação de políticas públicas de segurança. Além disso, a atuação empregando inteligência buscando, por exemplo, combater as facções através de prisões de lideranças, trabalhos que possam minar a questão dos recursos financeiros dessas facções. A gente tem percebido também, por exemplo, que a polícia judiciária, a polícia civil, tem passado por um sucateamento muito grande. Então, falta investimento — em especial nas forças policiais e a questão de se investir, mas se investir de uma forma mais inteligente”, explica.
Violência na Bahia: moradores do estado alertam que a situação é de insegurança e pânico
Ao menos 51 fuzis foram apreendidos entre janeiro e outubro de 2023 em operações policiais na Bahia. Conforme a Secretaria de Segurança Pública do estado, as maiores apreensões de fuzis no ano ocorreram durante ações nas regiões de Tancredo Neves, Calabar e Valéria – bairros de Salvador.
De acordo com informações da SSP-BA, o número é o maior da história. A marca foi alcançada com os dois fuzis apreendidos pela Polícia Militar no último sábado (21), após perseguição de detentos.
Segundo a Secretaria de Segurança do estado, durante operações em setembro “três armas do calibre 5,56 foram achadas com integrantes de duas facções, além de granadas no bairro de Valéria”.
No mesmo mês, um grupo de criminosos gravou um vídeo exibindo fuzis e indicando uma “invasão” na região do Calabar e Alto das Pombas. Dois dias após a divulgação, as forças de segurança fecharam o cerco contra o bando e apreenderam seis fuzis".
Outro caso de repercussão com apreensões de fuzis aconteceu em junho. Durante uma campana para impedir que um “bonde” (grupo com dezenas de integrantes de facção) atacasse traficantes rivais na região do Subúrbio Ferroviário, foram localizados 13 fuzis. “O ataque foi frustrado e, durante a perseguição que terminou no bairro de Tancredo Neves, as armas foram encontradas”.
Em nota, a SSP-BA informou que “a ampliação do trabalho de inteligência, com as implantações de novos Núcleos, e a integração das Polícias Militar, Civil e Federal, e a instalação da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO) têm relação direta com as apreensões”.
Desde o mês de junho o estado tem apresentado altos índices de violência. Entre os dias 1º de setembro a 2 de outubro, foram registradas pelo menos 71 mortos em confrontos envolvendo a polícia no estado e facções — sendo 68 delas de suspeitos de envolvimentos com crimes e uma de um policial federal, o agente Lucas Caribé e mais dois policiais militares, segundo a polícia militar do estado.
Conforme dados do Instituto Fogo Cruzado, em setembro 203 tiroteios foram registrados na Grande Salvador, um aumento de 9% em relação ao número de tiroteios do mês anterior (186). Deste total de tiroteios, a maioria deles foi oriunda de operações policiais (74), disputas entre grupos armados (20), perseguições (10) e outras motivações, que assustaram a população e que restringiram serviços básicos em alguns bairros.
Dentre os bairros mais atingidos pela violência armada em setembro estão: Alto das Pombas, Calabar e Valéria. Para o especialista em segurança pública Leonardo Santana é preciso aprimorar ainda mais a integração entre órgãos federais, estaduais, municipais e as agências com afinidades com a segurança pública — a fim de melhorar na condução das operações de segurança pública.
“Tem uma linha do tempo que não é algo breve, então nós estamos falando de pelo menos uma década do que precisa ser reavaliado no que se refere à política pública. Os órgãos de inteligência, como eles têm atuado e como tem sido o investimento para esses órgãos? Quando você não tem um tratamento das informações, dos dados, estatística, quando você não tem uma integração dos órgãos, quando você não tem um monitoramento desses números e quando você não passa por um processo de reavaliação para saber se aquilo funcionou ou não, naturalmente nós temos esses aumentos, nós temos essas alterações muito ruins para o cidadão de uma maneira geral”, avalia.
Violência na Bahia: moradores do estado alertam que a situação é de insegurança e pânico
“Com toda essa onda de violência que culminou nessa frenética troca de tiros há pouco tempo, estão todos morrendo de medo. A sensação geral dos moradores é de medo, muita angústia e pânico”, relata um morador da Barra – bairro próximo a região de Calabar — que prefere não se identificar.
“Sempre andei de forma muito tranquila e despreocupada, independente do horário na região, mas hoje a sensação é que estamos vivendo um medo constante. É uma violência que nós não estávamos acostumados e não sabemos como lidar”, completa o morador.
De acordo com esse morador, houve confrontos no último final de semana entre uma facção criminosa que atua na localidade, e um grupo rival que tenta invadir e tomar a região.
Os confrontos entre facções criminosas e forças de segurança no estado cresceram nos últimos meses em bairros periféricos de Salvador e municípios próximos à capital. Entre os dias 1º de setembro a 2 de outubro, foram registradas pelo menos 71 mortos em confrontos envolvendo a polícia no estado e facções — sendo 68 delas de suspeitos de envolvimentos com crimes e uma de um policial federal, o agente Lucas Caribé e mais dois policiais militares, segundo a polícia militar do estado.
De acordo com a Polícia Civil da Bahia, um dos suspeitos de envolvimento na morte do policial federal Lucas Caribé foi morto durante confronto com a polícia na segunda-feira (2), na cidade de Catu, a 70 km de Salvador. Em nota, a Polícia Civil informou que Alexsandro dos Santos Santana estava em um imóvel desde o ataque que resultou na morte do policial federal, em 15 de setembro.
Para o especialista em segurança pública e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Cássio Thyone esses números refletem o aumento de registros de ondas de violência que vêm ocorrendo nas últimas semanas no estado.
“O estado da Bahia não tem feito a lição de casa, no que diz respeito a tratar a segurança pública com a prioridade e com as ações assertivas que a gente espera que o estado viesse a fazer. Os índices de criminalidade na Bahia estão realmente ruins, são vários índices não só de crimes letais, como homicídios, tem a questão da letalidade da polícia também, feminicídio e outros", destaca.
Na avaliação do Presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB/MG e advogado criminalista, Berlinque Cantelmo, além da disputa territorial por parte de facções criminosas, a violência no estado está atribuída à queda do efetivo das polícias.
“Nós vivenciamos não só no estado da Bahia, mas em vários estados da federação, uma nefasta queda do efetivo das polícias. E com esse tipo de deficiência tanto do ponto de vista de gestão quanto do ponto de vista também social, nós temos que enxergar o aumento indistinto da criminalidade nesse sentido, além da ausência de investimento estrutural nas agências investigativas nas agências persecutórias — o que não é diferente no estado da Bahia”, afirma.
Para Cantelmo, é preciso haver uma intervenção maior por parte do Ministério Público.
“Dada a gravidade, é preciso uma alocação de repressão qualificada maior com estratégia de dominação de pontos de foco relacionados, inclusive a gerência das organizações criminosas, uma intervenção maior por parte do Ministério Público, inclusive, talvez até por parte da Polícia Federal, com uma medida de despatrimonialização dessas organizações criminosas. Atacar diretamente os agentes financiadores, não só de modus operandi criminosos, mas também de agentes paralelos, que servem para dar determinada roupagem de licitude para organizações criminosas voltadas, inclusive, a atividades de lavagem de dinheiro”, explica.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, chegou a afirmar que não há possibilidade de uma intervenção federal na Bahia para conter a onda de violência crescente no estado. Segundo Dino, a medida só deve ser tomada quando o governo estadual não age.
A declaração foi dada após a cerimônia de concessão da medalha da Ordem do Mérito, no grau de Grã-Cruz, ao Padre Júlio Lancellotti, realizada no domingo 24 de setembro, em São Paulo.
Na ocasião, o ministro da Justiça afirmou que a situação na Bahia "é um dos maiores desafios da segurança pública no Brasil". “Nós temos conversado com o governador (Jerônimo Rodrigues) , com o secretário de segurança (Marcelo Werner), para que haja um aperfeiçoamento, um aprimoramento dessas ações. É um quadro muito desafiador, muito difícil”, afirma.
De acordo com o advogado criminalista, deve partir do governador do estado solicitar o Ministério da Justiça em busca de apoio em uma intervenção na segurança pública. O especialista ainda ressalta que, em um primeiro momento, o governo federal deve aguardar a implementação efetiva do Programa Nacional de Enfrentamento às Organizações Criminosas (Enfoc), que vinha sendo elaborado havia três meses, no Ministério.
O Enfoc foi lançado na segunda-feira (2) e deve funcionar como um “projeto de reestruturação integrado entre as forças de segurança do país, com a perspectiva de estruturação financeira das agências de inteligência e da alocação de efetivo em determinados locais no país com demandas preeminentes”.
Bahia é o segundo estado mais violento do Brasil, indica Anuário Brasileiro da Violência
Bahia: violência e criminalidade explodem no estado, com expansão do tráfico de drogas
Ao menos seis pessoas morreram durante megaoperação policial na Bahia, na manhã desta sexta-feira (22). Outros 15 homens e mulheres tiveram os mandados de prisão cumpridos através da operação Saigon. A ação foi conduzida pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e tinha como objetivo cumprir mandados de prisão e 43 mandados de busca e apreensão contra um grupo acusado de envolvimento com tráfico e mais de 30 homicídios.
Segundo a Polícia Civil, além de Águas Claras, em Salvador, os mandados foram cumpridos no sistema prisional e em Feira de Santana. Armas, drogas e dinheiro também foram apreendidos durante as ações.
Em nota a Polícia Civil informou que durante os confrontos, “seis pessoas resistiram, chegaram a serem socorridas e atendidas no hospital, mas não sobreviveram”. Cinco prisões aconteceram na região de Águas Claras e uma em Feira de Santana. Dentre eles, uma das lideranças do tráfico de drogas em Águas Claras, Eduardo dos Santos Cerqueira, mais conhecido como 'Firmino'. Ele é apontado por ser o mandante de diversos homicídios ocorridos na região.
Outro investigado que resistiu à prisão é Gilmar Santos de Lima, mais conhecido como 'Capenga'. Segundo a Polícia Civil ele “acumula uma extensa ficha criminal, com entradas por tráfico de drogas e homicídio” - Capenga era o gerente do tráfico nas Casinhas, em Águas Claras - Durante a Operação Saigon, a mãe e a esposa dele foram presas. A mãe foi encontrada com drogas e a quantia de R$ 8 mil, e a esposa com uma arma.
A Polícia Civil ainda informou que todos os “custodiados foram encaminhados para a sede do DHPP onde ficarão à disposição do Poder Judiciário” e que “todo material apreendido será encaminhado para o Departamento de Polícia Técnica (DPT)”, diz em nota.
Participaram da operação Saigon, a Superintendência Inteligência da SSP, diversos departamentos de inteligência da Polícia Civil, unidades da Polícia Militar, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal.
Desde junho os confrontos violentos entre facções criminosas e a polícia têm se intensificado em regiões de Salvador e municípios do interior. Nas últimas operações realizadas, tiroteios e mortes foram provocadas, aumentando ainda mais os índices de violência no estado.
Na avaliação do especialista em segurança pública Júlio Hott é necessário integrar as forças de segurança nas comunidades e periferias do estado. Para ele, a atuação da polícia próxima da população diminuiria a violência.
“A segurança pública nacional em todo o Brasil é muito compartimentada. O ideal era que a gente tivesse, no mínimo, uma integração e uma aproximação da polícia com a comunidade. Quanto maior a sensação de insegurança, maior serão os índices de violência, principalmente na periferia, em que a gente sabe que o estado através da polícia, é ausente. O ideal era que a polícia estivesse presente mesmo na periferia, mesmo nos lugares onde é dominada pelo crime organizado, por milícias que exploram ali oferecendo segurança a título de extorsão e acaba na verdade fomentando e incentivando o crime”, diz.
Cerca de 2 mil alunos tiveram as aulas suspensas, segundo informado pela Secretaria Municipal de Educação (Smed). As escolas Eduardo Campos, Cantinho das Crianças, São Damião, Iraci Fraga e Francisco Leite, em Águas Claras, seguem com as atividades suspensas nesta sexta-feira (22).
Já a Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob), informou que os trajetos de algumas linhas foram alterados nas regiões de Águas Claras e Cajazeiras VII. De acordo com a Secretaria, os ônibus não estão chegando ao fim das linhas nas localidades. Segundo os rodoviários, a normalização do transporte será realizada após o retorno da polícia.
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Com o reajuste, valores de apreensão vão ter acréscimo médio de 50%
O governo da Bahia anunciou um reajuste nos valores pagos por armas de fogo apreendidas por policiais. A medida foi publicada por meio de decreto no Diário Oficial do Estado (DOE) no sábado (16). Com o reajuste os novos valores terão acréscimo de 50%, em média.
Na tabela atualizada, a apreensão de revólveres passará de R$ 1.200 para R$ 1.800; de pistolas e espingardas de R$ 2.400 para R$ 3.500; e de fuzis de R$ 6 mil para R$ 9 mil.
Na avaliação do especialista em segurança pública Júlio Hott a iniciativa do governo é positiva. Ele ainda destaca que, estatisticamente, em regiões onde medidas parecidas com essa foram aplicadas, o índice de violência diminuiu.
“Todas as medidas nesse sentido foram positivas. Desde o estatuto do desarmamento, em 2003, todas as vezes que o estado incentivou a entrega de armas, tentou de alguma forma recolher armas. Essa de pagar pelas armas é uma política pública interessante, porque desperta a ambição em quem está perto, além de poder entregar essa arma e receber um valor. Tudo isso é positivo sobre esse aspecto de retirar da área urbana o maior número de armas possíveis e às vezes em que isso aconteceu foi positivo para a diminuição da violência”, afirma.
A medida foi anunciada no momento em que a Bahia passa por uma onda de violência em regiões da capital Salvador e em municípios do interior do estado. Segundo o governo do estado, a medida tem como objetivo “reconhecer o esforço diário dos policiais militares e civis no combate ao crime organizado”.
Por meio de nota, o secretário de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner, informou que, “em 2023, as forças de segurança apreenderam pouco mais de quatro mil armas de fogo na Bahia”.
Segundo dados do Instituto Fogo Cruzado — entidade que usa tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada — em agosto deste ano foram mapeados 186 tiroteios, que resultaram na morte de 163 pessoas e deixaram 45 feridas em Salvador e na região metropolitana. Do total de tiroteios, 64 deles ocorreram durante ações e operações policiais e 19 em meio a disputas entre grupos armados. Salvador e Camaçari foram os municípios com maiores números de violência armada.
O município de Camaçari está na lista das cidades mais violentas do país, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023. Dos 50 municípios elencados na lista, 12 estão na Bahia. São eles: Jequié, Santo Antônio de Jesus, Simões Filho, Feira de Santana, Juazeiro, Teixeira de Freitas, Salvador, Ilhéus, Luís Eduardo Magalhães, Eunápolis e Alagoinhas.
Ainda segundo o Anuário de Segurança Pública, Bahia é o segundo estado mais violento do Brasil. O estado só fica atrás do Amapá. Na terceira posição, aparece o Amazonas.
Após a morte de um policial federal em confronto com uma facção criminosa na Bahia, na última sexta-feira (15), o especialista em segurança pública Leonardo Sant’Anna critica a atuação dos gestores estaduais.
“Eles acreditam que armas de baixa qualidade, um volume pequeno de pesquisa, viaturas e quantidade de profissionais é o suficiente para confrontar o crime que hoje o Brasil enfrenta. Essa não é a realidade, principalmente em um momento que falamos que a modernização não faz parte do que muitos dos estados resolvem investir, principalmente o estado da Bahia ao longo dos últimos anos”, argumenta.
Para o especialista, as forças de segurança do Brasil têm dificuldade em adquirir ferramentas para uma atuação mais eficaz. Ele defende mais investimentos em logística, capacitação e treinamento e compara o panorama atual de violência no país com o que os Estados Unidos enfrentaram ao adentrar no Afeganistão e no Iraque.
Como o Brasil 61 mostrou, a Bahia é o segundo estado mais violento do Brasil, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023. O levantamento foi realizado pelo Fórum Brasileira de Segurança Pública (FBSP).
Os dados mostram ainda que o estado possui o maior número de cidades violentas no país. Dos 50 municípios elencados na lista, 12 estão na Bahia. São eles: Jequié, Santo Antônio de Jesus, Simões Filho, Camaçari, Feira de Santana, Juazeiro, Teixeira de Freitas, Salvador, Ilhéus, Luís Eduardo Magalhães, Eunápolis e Alagoinhas.
A Bahia também é o segundo pior estado na resolução de inquérito policial por homicídio, com apenas 17,24% de resoluções no ano de 2022. O estado fica atrás apenas do Rio de Janeiro que possui uma taxa de 11,8%. Os dados fazem parte do estudo realizado pela Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol), a partir de dados das polícias civis e da Polícia Federal.
De acordo com dados do Instituto Fogo Cruzado — entidade que usa tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada —, em agosto foram mapeados 186 tiroteios, que resultaram na morte de 163 pessoas e deixaram 45 feridas em Salvador e na região metropolitana.
Do total de tiroteios, 64 deles ocorreram durante ações e operações policiais e 19 em meio a disputas entre grupos armados. Salvador e Camaçari foram os municípios com maiores números de violência armada.
Para o especialista em segurança pública e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Cássio Thyone, esses números refletem o aumento de registros de ondas de violência que vem ocorrendo em regiões da capital baiana e em municípios do interior do estado.
“O estado da Bahia não tem feito a lição de casa, no que diz respeito a tratar a segurança pública com a prioridade e com as ações assertivas que a gente espera que o estado viesse a fazer. Os índices de criminalidade na Bahia estão realmente ruins. São vários índices não só de crimes letais, como homicídios. Tem a questão da letalidade da polícia também, feminicídio e outros — além também de crimes contra o patrimônio que têm crescido bastante no estado”, diz.
Forças de segurança localizam quinto suspeito de atirar em agentes na Bahia
A Operação Fauda foi deflagrada pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), na manhã de sexta-feira (15) contra uma facção ligada, de acordo com a SSP, ao tráfico de drogas, homicídios e roubos. Um agente e cinco suspeitos foram atingidos e morreram em confrontos. Outros dois agentes — um da PF e um da Polícia Civil da Bahia (PC-BA) — ficaram feridos, segundo a PC-BA.
O policial federal Lucas Caribé Monteiro de Almeida faleceu na sexta, em Salvador. Em nota, a Polícia Federal lamentou a morte do agente e afirmou que “está empenhada e acompanhando de perto a investigação das circunstâncias que envolveram o falecimento”.
Conforme informações divulgadas ontem pela PF, o diretor-geral em exercício, Gustavo Souza, foi a Salvador acompanhar os fatos. “Também estão em deslocamento, equipes de policiais federais que atuam na inteligência e em grupos táticos da PF, além de blindados, para reforço da operação”, diz a Polícia Federal.
O quinto envolvido no enfrentamento entre policiais e uma facção criminosa em Salvador (BA) foi localizado por equipes da Polícia Federal (PF) e da Patamo na madrugada deste sábado (16).
Com ele, apreenderam uma submetralhadora, carregador e munições, segundo informações da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA). A PF e as polícias Civil e Militar do estado da Bahia seguem à procura dos demais integrantes da facção que entrou em confronto com agentes nessa sexta-feira (15).
Na manhã deste sábado, o diretor-geral em exercício da PF, Gustavo Souza, e o secretário de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner, além de outras autoridades, se reuniram para discutir ações de combate ao crime organizado e traçar estratégias para encontrar os outros envolvidos nos disparos contra as forças de segurança. A informação é da SSP do estado.
O especialista em segurança pública Leonardo Sant’Anna avalia que o ocorrido é o “espelhamento” do investimento feito pelo crime organizado na última década. Ele afirma que a morte do policial federal na operação — profissional de alto nível de treinamento — mostra o que pode acontecer se não houver mudanças nos investimento em áreas como logística, armamento e inteligência na segurança pública
“O primeiro ponto que precisa ser considerado é que nós temos, nesse momento, alguém ou um grupo que tem tido muito mais inteligência, logística, preparação, equipamento do que se imaginava. Então é hora de haver uma mudança para cima, de comportamento em relação ao que se investe nas forças de segurança para que esse resultado não mais aconteça.”
A Operação Fauda foi deflagrada pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), na manhã de sexta-feira contra uma facção ligada, de acordo com a SSP, ao tráfico de drogas, homicídios e roubos. Um agente e cinco suspeitos foram atingidos e morreram em confrontos. Outros dois agentes — um da PF e um da Polícia Civil da Bahia (PC-BA) — ficaram feridos, segundo a PC-BA.
O policial federal Lucas Caribé Monteiro de Almeida faleceu na sexta, em Salvador. Em nota, a Polícia Federal lamentou a morte do agente e afirmou que “está empenhada e acompanhando de perto a investigação das circunstâncias que envolveram o falecimento”.
Conforme informações divulgadas ontem pela PF, o diretor-geral em exercício, Gustavo Souza, foi a Salvador acompanhar os fatos. “Também estão em deslocamento, equipes de policiais federais que atuam na inteligência e em grupos táticos da PF, além de blindados, para reforço da operação”, diz a Polícia Federal.
Sandra Cristina Ribeiro, de 47 anos, é moradora do município de Lauro de Freitas, localizado na região metropolitana de Salvador. Ela relata que a violência na capital baiana tem mudado a rotina dos moradores e de quem frequenta a região. Sandra Cristina conta ainda que a “violência extrema” na cidade tem causado tensão.
“A situação está de um jeito que a gente vai, mas com medo de pegar um ônibus, um metrô, com medo de tiroteio, com medo de assalto. Até os bairros mais nobres daqui a gente vê relatos na televisão o tempo todo que estão sendo o alvo dessa violência. Então eu vejo que a violência em Salvador ultrapassou a fronteira dos bairros perigosos. Ela está em todos os ambientes, em todos os bairros.”
A Direção-Geral da Polícia Federal manifesta seu profundo pesar pelo falecimento do agente de Polícia Federal Lucas Caribé Monteiro de Almeida, lotado no Grupo de Pronta Intervenção (GPI) da Bahia, ocorrido nesta sexta-feira (15), em Salvador.
Lucas Caribé ingressou na Polícia Federal em 2013, na SR/PA, sendo inicialmente lotado na Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio e ao Tráfico de Armas (DELEPAT/PA) e, em seguida, na Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE/PA).
Passou a integrar, em 2019, a Superintendência Regional da Polícia Federal na Bahia, sendo lotado, inicialmente, no NEPOM/BA. Atualmente, compunha o quadro de policiais do GPI.
O Diretor-Geral substituto da Polícia Federal, Gustavo Paulo Leite de Souza, decretou luto oficial de três dias.
A Polícia Federal expressa suas condolências e solidariedade aos familiares e amigos enlutados.
Informamos, ainda, que a Polícia Federal está empenhada e acompanhando de perto a investigação das circunstâncias que envolveram o falecimento.
No primeiro semestre de 2023, as forças de segurança da Bahia prenderam 9.019 criminosos. São 50 pessoas envolvidas com atividades ilícitas capturadas diariamente, conforme dados da Secretaria da Segurança Pública do estado. Em números absolutos foram contabilizados 2.523 casos de mortes violentas — homicídio, latrocínio e lesão dolosa seguida de morte. E mais casos se somam a esse ciclo de violência extrema como a chacina que matou 9 pessoas em Mata de São João, na Região Metropolitana de Salvador, e o assassinato da líder quilombola mãe Bernadete, morta dentro do quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, no dia 17 de agosto.
Na opinião do especialista em segurança pública, Elias Miller, os criminosos precisam estabelecer território. Ele explica que a predominância de facções de drogas e armas tem levado a violência e a criminalidade para além dos grandes centros. “Quanto mais existir desigualdade social e ineficiência no aparelho de justiça, maior será a violência, pois o crime organizado virou uma empresa, um negócio transnacional”, aponta.
Aliado a isso, o analista ressalta que ainda existe a ausência do poder público. “Um governo que não adota políticas públicas preventivas e repressivas favorece e alimenta o mercado do crime.
O professor e escritor Leonardo Castro vai além. Ele diz que até o instante em que a droga era tratada como um problema de saúde pública, não se tinha o que se tem hoje. “Não havia essas organizações criminosas dedicadas única e exclusivamente à traficância, que é a grande moeda do mundo crime, a droga. A partir do momento em que virou um problema de segurança pública, os criminosos passaram a se organizar melhor, passaram a tratar a traficância como um verdadeiro negócio”, revela.
A Bahia tem os quatro municípios mais violentos do país — Jequié, Santo Antônio de Jesus, Simões Filho e Camaçari —, segundo dados da 17ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. As estatísticas apontam também que as polícias mataram 1.464 pessoas em intervenções oficiais; com isso, o conjunto de forças de segurança do estado pela primeira vez se consolida como a mais letal do Brasil.
Para Elias Miller, existe ainda um outro cenário para o tráfico e a criminalidade ir além das áreas metropolitanas. “Os traficantes têm tendência a utilizar a violência como forma de impor suas regras no território em que se encontram. A crescente violência urbana tem relação com a expansão das organizações criminosas e a disputa de traficantes por territórios — e essa luta levou o tráfico para o interior do país”, avalia.
A socióloga Camila Galetti acrescenta que a expansão da criminalidade para o interior se deu por conta da ausência do poder público em determinados locais. “A gente percebe que num contexto pós-pandemia houve uma maior circulação de indivíduos o que, concomitantemente, aumentam as violências, os homicídios, os assaltos, tanto que durante o contexto da Covid-19, as violências se davam mais no âmbito doméstico, no espaço privado”, enfatiza.
Dados da Secretaria da Segurança Pública da Bahia mostram que, de janeiro a junho de 2023, foram apreendidos 36 fuzis — número maior que o encontrado em todo o ano de 2022, quando foram localizados 22. Em uma das ocorrências, no bairro de Narandiba, de Salvador, por exemplo, a polícia localizou 13 fuzis, número recorde em apenas um dia. No mesmo período, cerca de 2.570 armas de fogo foram localizadas no estado.
O especialista em segurança pública, Elias Miller, acredita que os índices de violência urbana no Brasil cresceram consideravelmente a partir da segunda metade do século XX. E a sua ocorrência é registrada em cidades de todas as regiões do país. “A violência urbana é um fenômeno social que ocorre nas cidades e tem como causas problemas de ordem estrutural, como as desigualdades socioeconômicas, a segregação urbana e a falta de oportunidades para a garantia de uma vida digna no espaço urbano — aliado a fatores de ordem moral”, salienta.
O advogado criminalista e professor de direito penal, Carlos Fernando Maggiolo, diz que, hoje, se vive um momento em que a escalada da criminalidade se dá em razão da benevolência de todos. “Vieram argumentos de antigamente que fizeram efeito na legislação, de que não se pode fazer justiça social com o direito penal e tudo mais — e o Direito Penal foi se tornando cada vez mais benevolente”, acredita.
Para o analista, a casa legislativa também foi se tornando mais benevolente com os autores dos crimes, sobretudo os crimes violentos.
“Hoje a recomendação é que seja recolhido à prisão apenas os autores de crimes com violência cuja pena seja acima de 4 anos. Então o crime de furto, que é um crime que a pena é de 1 a 4 anos, ele nunca vai ter o agente criminoso detido porque a própria lei já diz que ele não pode ser recolhido”. O advogado acrescenta que esses autores acabam saindo impunes pela porta da frente da delegacia. “A gente está vivendo um momento realmente de descalabro no Brasil”, adverte.
Na opinião da socióloga Camila Galetti, a violência urbana no Brasil está relacionada ásas crises econômicas. “Quando os aluguéis ficam caros, as pessoas vão para as ruas, e quando as pessoas vão para as ruas, há um aumento de criminalidade, de furtos, enfim. É toda uma cadeia estrutural que vai inflando essas violências nas cidades”, destaca.
O professor Carlos Maggiolo acredita que os problemas não são visíveis para a população e muitos estão relacionados à superpopulação carcerária. “Existe uma falência do sistema penitenciário brasileiro. Hoje, não se tem vagas para os presos. Daí a política pública de soltar presos — com os presos até quatro anos —, é por conta de falta de vaga no sistema”, salienta.
Segundo Maggiolo, é preciso construir mais presídios. “No lugar de soltar, você tem que construir presídios. E não se investe, porque preso não traz voto diretamente. Então acho que o sistema carcerário é meio que órfão, não tem um político para adotar o sistema carcerário”, lamenta.
E ainda ressalta: “Existem mil alternativas para isso. Você pode privatizar e aí o caráter educativo da pena se sobressai porque o preso, o acautelado, ele acaba recebendo uma formação técnica enquanto encarcerado; sai dali com diploma, com perspectiva de trabalho. Enfim, você reverteria esse quadro”.
Já para a socióloga Camila Galetti, faltam incentivos e investimentos na ressocialização dos indivíduos que cometem crimes. “Essas pessoas cometem crimes, são presas, aí aumenta o senso de punitivismo entre os indivíduos na sociedade, mas essas pessoas não têm condições cabíveis para serem ressocializadas e reinseridas na sociedade em condições melhores”, observa.
Dados de 482 municípios gaúchos, representando 96,9% do total de 497, revelaram carências em estruturas de segurança: apenas 59 municípios têm Conselhos Municipais de Segurança, 46 possuem Secretarias de Segurança Pública — e apenas 34 têm guardas municipais. Os dados foram divulgados pelo mapeamento sobre segurança municipal do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS) no último dia 1°.
Marcos Rolim, vice-diretor da escola de Gestão e Controle do TCE-RS e coordenador técnico do estudo do TCE, afirma que municípios pequenos geralmente não precisam de secretarias específicas de segurança ou de guardas municipais, seja porque suas realidades administrativas são enxutas, seja porque a realidade local de violência e criminalidade é bem menos grave.
“Isso não significa que esses municípios não precisem desenvolver uma política de segurança. Para isso, seria fundamental a formação do Conselho Municipal de Segurança (Conseg) e a definição de uma coordenação de segurança pública vinculada ao Gabinete do/a prefeito/a, com uma pessoa capaz de propor iniciativas de prevenção com focos determinados em fatores de risco para o crime e a violência”, explica.
Dos municípios pesquisados, 116 têm iniciativas contra a violência doméstica, 58 contra o bullying escolar, 82 promovem igualdade racial, 19 têm projetos de justiça restaurativa, 26 apoiam ex-detentos — e 14 possuem políticas de prevenção à violência contra a comunidade LGBTQIA+.
Rolim afirma que um bom plano é baseado em um diagnóstico bem feito, considerando os fatores de risco, planejado de acordo com a área geográfica e levando em conta as informações científica. E, nesses casos, os gestores monitoram a aplicação da política e avaliam seus resultados empregando metodologia científica para tanto.
“Há planos ruins, todavia, que costumam agravar os problemas ao invés de superá-los. Esses planos são, normalmente, alicerçados em opiniões, não em evidências, não são monitorados e seus resultados nunca são avaliados”, avalia.
Até junho deste ano, o Rio Grande do Sul registrou 1.040 vítimas de mortes violentas intencionais, 17.276 roubos, 61.744 furtos, 874 vítimas de homicídio doloso e 11 vítimas de lesões corporais seguidas de morte. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública do estado.
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