Produção agrícola

12/04/2024 16:58h

Menores custos logísticos, intermodalidade de transportes e investimentos levaram portos do Norte e Nordeste a quase quintuplicar participação nas exportações brasileiras dos principais grãos

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Os portos do chamado Arco Norte foram responsáveis por exportar 33,5% da soja e do milho — os dois principais produtos agrícolas brasileiros – no primeiro trimestre de 2024. O resultado reforça movimento observado nos últimos anos, em que os terminais portuários localizados acima do Paralelo 16, nas regiões Norte e Nordeste, cresceram em importância para o escoamento da produção agropecuária do Brasil. 

O fenômeno começou no início da última década. Em 2010, a participação dos portos do Arco Norte nas exportações de soja e milho era de cerca de 8%, número que foi quase cinco vezes maior no ano passado — apontam dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). 

Ao Brasil 61 especialistas disseram que vários fatores explicam o maior escoamento dos grãos em direção aos portos de Barcarena (PA), Itaqui (MA), Santarém (PA), Itacoatiara (AM), Santana (AP) e Salvador (BA). 

Larry Carvalho, advogado especialista em logística e agronegócio, diz que a redução dos custos de frete e de transporte é um dos fatores principais. "Especula-se um custo logístico  30% inferior do que nos corredores do Sul-Sudeste", compara. 

Superintendente de Logística Operacional da Conab, Thomé Guth diz que há maior proximidade desses portos com os produtores do centro e norte de Mato Grosso e do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) — região de forte expansão agrícola — em comparação aos terminais do Sudeste e Sul do país. 

"O que for daquela região da BR-163 e da BR-164, que vão pegar Tangará da Serra, Campo Novo dos Parecis, Campos de Júlio, Sapezal, Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso, Sinop, o foco é a exportação pelo Arco Norte", exemplifica. O mesmo ocorre com a produção do Matopiba, que escoa preferencialmente por Salvador ou Itaqui, completa. 

Distância mais curta é igual a economia, afirma Guth. "O transporte de Sorriso para Miritituba (PA) é, em média, R$ 100 mais barato por tonelada movimentada do que de Sorriso para Santos. Imagina o que é isso no decorrer do ano, em termos de volume de exportação? Tem momentos do ano em que a diferença é até um pouco maior", pontua. 

Ministério dos Transportes anuncia que vai investir R$ 4,7 bi em rodovias e ferrovias que vão escoar safra 23/24

Intermodalidade

Pesa a favor do Arco Norte a chamada intermodalidade no transporte. Ou seja, o escoamento até os portos ocorre por mais de um modal, seja por rodovias e depois hidrovias, seja por rodovias-ferrovias-hidrovias. 

"Os corredores do Norte fizeram integração de modais muito bem feitas. Você faz uma parte de transporte rodoviário, faz outra parte de águas interiores, e depois já faz a carga no porto, ou para o Maranhão também você tem um ferroviário aliado ao rodoviário. E esse mix de vários modais é o que permite uma redução do custo logístico. É o grande atrativo da região", assegura Larry. 

Investimentos

Thomé Guth destaca que a publicação da Lei dos Portos em 2013 foi determinante para o aumento dos investimentos privados na melhoria da infraestrutura portuária, o que se estendeu para os terminais do Norte e Nordeste do Brasil. 

Ele conta que o crescimento da produção agropecuária do país e da demanda externa pelos produtos brasileiros elevou a pressão por investimentos que melhorassem as rotas de escoamento até os portos do Arco Norte. "Tinha estrada de terra na BR-163 na região do Pará. Hoje o fluxo de caminhão está tranquilo por lá. Para o porto de Itaqui, por exemplo, tem a ferrovia Norte-Sul que já pega um bom pedaço", ilustra.

Larry Carvalho cita que as perspectivas quanto à melhoria da infraestrutura de transporte são positivas. "Tem a Ferrogrão, que está com julgamento pendente no STF [Supremo Tribunal Federal]; estamos vendo um movimento do Ministério dos Transportes na parte de arrendamento ou parceria público-privada para as hidrovias, como no Rio Madeira." 

Competitividade

Em um país de dimensões continentais como o Brasil, ter mais de uma rota por onde escoar a produção é vantajoso para produtores, transportadores e demais atores envolvidos, diz Guth. 

"O que é de Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais ainda vai pela região Sul, Sudeste do país, que é o caminho viável, o que é muito vantajoso, porque ao mesmo tempo em que você diversifica essa exportação, você consegue diminuir o estrangulamento do sistema logístico no país em relação aos portos do Sul e Sudeste". 

Até por isso, as filas de caminhões parados nos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR) — os dois principais do eixo Sul-Sudeste em movimentação — pertencem ao passado, lembraram os especialistas. 
 

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02/04/2024 00:02h

Fenômenos como El Nino impactaram na produção do agronegócio em 2023. O trigo perdeu 40% da produção por conta do aumento no volume de chuvas no Sul

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O sucesso de uma safra depende diretamente dos fatores climáticos. Isso vale para pequenos, médios ou grandes produtores rurais, em qualquer parte do mundo. Em 2023, o clima teve um impacto importante na agricultura brasileira. Produtores de soja e milho — sobretudo os do Centro-Oeste brasileiro — perderam parte de suas safras por conta do excesso de chuva.

Já os estados do Sul, que produzem grande parte do trigo brasileiro, foram os que mais sofreram na última safra, cerca de 40% do que seria produzido, acabou indo por água abaixo. O presidente-executivo da Abitrigo, Rubens Barbosa, explica que o impacto do que aconteceu no ano passado está sendo sentido este ano. “Com a necessidade de compras no exterior maiores do que normalmente a gente faz”, avalia o executivo.

O Brasil se tornou autossuficiente na produção do cereal nos últimos anos, mas a chuva em excesso, obrigou o país a importar para evitar o desabastecimento. Apesar das perdas, Rubens Barbosa explica que a cultura do trigo vem mudando e se expandindo no país, o que tem sido muito positivo. “O trigo está passando por essa mudança de direção, não está concentrado apenas no Sul, mas também em São Paulo, Mato Grosso, Bahia e até no sul do Ceará e do Piauí.”

“A chuva teve um efeito dos estados que são tradicionais produtores — Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul — mas não nos outros. Então compensou uma coisa por outra.” avalia Barbosa.

Brasil apresenta queda de 2,9% no PIB do agronegócio

IBGE prevê safra de 300 milhões de toneladas para 2024

Previsão para 2024 

Mesmo com as intempéries do tempo, a previsão é de crescimento. Segundo dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) de fevereiro, o crescimento na produção do trigo deve chegar a 24,2% com relação a 2023, e a produção deve alcançar 9,6 milhões de toneladas este ano. 

Menos otimistas estão os produtores de soja e milho — que devem ter queda na produção em 2024, segundo a mesma pesquisa do IBGE. Em fevereiro, a redução estimada da produção de soja para o ano é de 1,8% e a do milho de 10,8%. O IBGE estima ainda que a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas em 2024 seja de 300,7 milhões de toneladas — 4,7% a menos do que em 2023, quando o país produziu 315,4 milhões de toneladas dos produtos. 

Influência do clima 

O aumento no volume de chuvas em 2023 foi consequência do fenômeno El Nino, que aumentou em cerca de 0,5º C a temperatura da água do oceano Pacifico. O auge foi em novembro passado, quando as temperaturas aumentaram além do previsto e as chuvas caíram em maior quantidade. 

Maytê Coutinho, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), explica que o El Nino já começa a perder força para dar lugar a um outro fenômeno igualmente potente, mas com efeitos opostos. 

“Hoje estamos com o fenômeno El Niño moderado, mas com os próximos meses com a tendência de ficar fraco e a possibilidade de formação da La Nina neste segundo semestre. Há uma probabilidade de 62% de chances, mas ainda está distante. e temos que acompanhar como serão os próximos meses para ver como vai ficar, de fato, a atualização dos nossos modelos.” 

Maytê explica que a La Nina esfria a temperatura do oceano Pacifico, também em 0,5º C e causa aumento de chuvas nas regiões Norte e Nordeste, e seca na região Sul. 
 

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15/03/2024 00:03h

Em fevereiro, IBGE prevê crescimento de 24,2% na produção do cereal, que recebe investimentos em tecnologia e pesquisa

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Pães, macarrão, bolo. O trigo é a matéria-prima básica e fundamental para a produção de alimentos que compõem a mesa dos brasileiros todos os dias. O consumo das famílias se reflete na produção do campo. O Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) prevê o crescimento de 24,2% na produção do cereal com relação a 2023. A pesquisa de fevereiro indica que a produção deve alcançar 9,6 milhões de toneladas.

Campeões de produção nacional, os estados do Rio Grande do Sul e Paraná, juntos, representam mais de 80% de todo o trigo produzido no Brasil. Neste contexto, destaque para a cidade gaúcha de Cruz Alta, que é a segunda maior produtora do país — em 2023, segundo o IBGE, produziu 128,7 mil toneladas. 

Em 2023, houve quebra de safra do cereal nos principais estados produtores, que segundo o presidente-executivo da Abitrigo, Rubens Barbosa, chegou a 40%. Mas para este ano, a expectativa é melhor. Barbosa ressalta que o cenário internacional favoreceu a produção nacional do trigo. 

"O preço no exterior passou a ser remunerativo, sobretudo depois da guerra da Ucrânia. Aqui aumentou a área plantada — no lugar do milho em alguns lugares — e o mercado vê o trigo como um grão com grandes possibilidades de expansão".

Com investimento em pesquisa e tecnologia, o apoio da Embrapa tem sido fundamental, segundo o presidente da Abitrigo. "A empresa projeta uma expansão grande do trigo em território nacional até o final da década", destaca Barbosa.

IBGE prevê safra de 300 milhões de toneladas para 2024

Expansão em produção e em área colhida 

A área a ser colhida entre cereais, leguminosas e oleaginosas é de 78 milhões de hectares. O que representa um crescimento de 0,2% em relação ao ano passado — o que representa um aumento de 160,5 mil hectares. Com relação a janeiro, o acréscimo foi de 0,5% — 383,1 mil hectares.

O economista César Bergo atribui esse aumento à expansão da fronteira agrícola, que tende a crescer ainda mais ao longo dos próximos anos. Com relação à produção do trigo, o crescimento pode ser atribuído a melhora da qualidade das sementes, aumento das pesquisas no setor e da tecnologia empregada.  

"Não tenha dúvidas de que o crédito agrícola também contribui para que aumento dessa demanda interna seja atendido pela produção, não só do trigo — que tem uma cadeia muito longa de derivados e impacto direto na economia. O que faz dele um produto muito importante e que acaba contribuindo para a produção do grão nacional".

Aveia e Cevada em destaque

A pesquisa de fevereiro do IBGE mostra ainda que a produção da aveia deve chegar a 1,2 milhão de toneladas, o que representa queda de 6,2% em relação a janeiro – mas crescimento expressivo de 29,5% em relação a 2023. Depois de ter as lavouras prejudicadas pelo clima ruim em 2023, a cultura mostra recuperação. No Rio Grande do Sul, o IBGE prevê crescimento de 45,2% na produção com relação ao que foi colhido no ano passado.

Já a cevada em grão tem a produção estimada em 411,9 mil toneladas. Também com aumento de 8,6% em relação à produção do ano passado. Os maiores produtores de cevada são o Paraná — com 278,0 mil toneladas — e o Rio Grande do Sul, com 110,5 mil toneladas. Estados que devem ser responsáveis por 94,3% da produção brasileira de cevada em 2024. 

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13/03/2024 00:01h

Apesar de alto, o número é 4,7% menor que de 2023, quando o Brasil produziu 315,4 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas


Os protagonistas da produção agrícola brasileira — soja e milho — devem ter queda na produção este ano, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em fevereiro, a redução estimada da produção de soja para o ano é de 1,8% e a do milho de 10,8%. O IBGE estima ainda que a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas em 2024 seja de 300,7 milhões de toneladas — 4,7% a menos do que em 2023, quando o país produziu 315,4 milhões de toneladas dos produtos.

O maior vilão dessa redução foi o clima, como explica o economista César Bergo. “ Vários fatores podem influenciar a safra de grãos, mas a principal, sem dúvida, foram as questões climáticas adversas, como secas em hora errada, inundações.”

O resultado apresentado pelo IBGE vem alinhado com a última pesquisa da Companhia Nacional de Abastecimento, a Conab, que também apresentou redução da safra de grãos com relação a 2023, com queda de 7,6%. 

Quem vive o dia a dia da lavoura

Para Leonardo Boaretto, que é produtor de soja, milho e feijão em Niquelândia, Goiás, é importante que as previsões sejam o mais próximas possíveis da realidade, pois são essas estimativas de safra que interferem no preço dos alimentos. 

O produtor explica que nas previsões de dezembro e janeiro já havia uma quebra concretizada da safra nacional, por conta da irregularidade climática.

“A falta de chuva e a temperaturas muito altas já tinham causado danos irreversíveis nas lavouras. E quando eles jogaram essas estimativas lá em cima, o mercado despencou. O mercado está voltando um pouco agora, mas ainda muito abaixo do que era de se esperar,” lamenta Boaretto.

Para Leonardo, já havia a expectativa de quebra de safra, mas não foi anunciada pela Conab. O que fez com que os preços das commodities despencassem, prejudicando o produtor brasileiro. 

“Quem precisava vender para fazer caixa foi prejudicado, pois teve que vender no pior momento, com os preços pressionados para baixo. E quem está com a produção na mão também vai sofrer, pois se os preços reagirem, vão reagir pouco.” 


Quebra de safra e queda da produtividade

Quem também reforça a importância das previsões serem próximas da realidade do campo é o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), Antônio Galvan. A estimativa de fevereiro do IBGE para a soja foi de 149,3 milhões de toneladas, e vem sofrendo quedas sucessivas nos últimos meses, até que se chegasse a esse resultado. 

“O ajuste é normal. Nós temos ainda mais de 40% da soja brasileira no campo, para ser colhida, e temos ainda as regiões com bastante problemas. Menos problemas climáticos nesse momento, mas com problemas de doenças.” 

Com destaque para os estados da região Sul — que ainda têm muita soja para colher e estão sofrendo muito com as doenças. Galvan cita a Ferrugem Asiática, que pode encolher as expectativas de colheita e reduzir a produção do grão nesta safra. 

Ferrugem asiática

A ferrugem asiática é um fungo que atinge as lavouras de soja desde 2001, principalmente no Sul do país. Os produtores se preocupam com a doença pelo seu alto poder destrutivo — já que, quando não controlada, pode provocar perdas de até 90% do rendimento de grãos, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). 

A ferrugem asiática da soja causa lesões nas folhas que costumam ficar amarelas e causar sua queda, resultando em redução do ciclo. 
 

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13/03/2024 00:01h

Apesar de alto, o número é 4,7% menor que de 2023, quando o Brasil produziu 315,4 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas

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Os protagonistas da produção agrícola brasileira — soja e milho — devem ter queda na produção este ano, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em fevereiro, a redução estimada da produção de soja para o ano é de 1,8% e a do milho de 10,8%. O IBGE estima ainda que a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas em 2024 seja de 300,7 milhões de toneladas — 4,7% a menos do que em 2023, quando o país produziu 315,4 milhões de toneladas dos produtos.

O maior vilão dessa redução foi o clima, como explica o economista César Bergo. “ Vários fatores podem influenciar a safra de grãos, mas a principal, sem dúvida, foram as questões climáticas adversas, como secas em hora errada, inundações.”

O resultado apresentado pelo IBGE vem alinhado com a última pesquisa da Companhia Nacional de Abastecimento, a Conab, que também apresentou redução da safra de grãos com relação a 2023, com queda de 7,6%. 

Quem vive o dia a dia da lavoura

Para Leonardo Boaretto, que é produtor de soja, milho e feijão em Niquelândia, Goiás, é importante que as previsões sejam o mais próximas possíveis da realidade, pois são essas estimativas de safra que interferem no preço dos alimentos. 

O produtor explica que nas previsões de dezembro e janeiro já havia uma quebra concretizada da safra nacional, por conta da irregularidade climática.

“A falta de chuva e a temperaturas muito altas já tinham causado danos irreversíveis nas lavouras. E quando eles jogaram essas estimativas lá em cima, o mercado despencou. O mercado está voltando um pouco agora, mas ainda muito abaixo do que era de se esperar,” lamenta Boaretto.

Para Leonardo, já havia a expectativa de quebra de safra, mas não foi anunciada pela Conab. O que fez com que os preços das commodities despencassem, prejudicando o produtor brasileiro. 

“Quem precisava vender para fazer caixa foi prejudicado, pois teve que vender no pior momento, com os preços pressionados para baixo. E quem está com a produção na mão também vai sofrer, pois se os preços reagirem, vão reagir pouco.” 


Quebra de safra e queda da produtividade

Quem também reforça a importância das previsões serem próximas da realidade do campo é o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), Antônio Galvan. A estimativa de fevereiro do IBGE para a soja foi de 149,3 milhões de toneladas, e vem sofrendo quedas sucessivas nos últimos meses, até que se chegasse a esse resultado. 

“O ajuste é normal. Nós temos ainda mais de 40% da soja brasileira no campo, para ser colhida, e temos ainda as regiões com bastante problemas. Menos problemas climáticos nesse momento, mas com problemas de doenças.” 

Com destaque para os estados da região Sul — que ainda têm muita soja para colher e estão sofrendo muito com as doenças. Galvan cita a Ferrugem Asiática, que pode encolher as expectativas de colheita e reduzir a produção do grão nesta safra. 

Ferrugem asiática

A ferrugem asiática é um fungo que atinge as lavouras de soja desde 2001, principalmente no Sul do país. Os produtores se preocupam com a doença pelo seu alto poder destrutivo — já que, quando não controlada, pode provocar perdas de até 90% do rendimento de grãos, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). 

A ferrugem asiática da soja causa lesões nas folhas que costumam ficar amarelas e causar sua queda, resultando em redução do ciclo. 
 

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18/02/2024 19:45h

Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Paraná e São Paulo são estados mais afetados

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Com a economia baseada na agricultura, principalmente na produção de soja, o Mato Grosso foi o estado que mais sentiu o impacto das condições climáticas, que resultaram em dificuldades no último ano para os produtores e as perspectivas não são as melhores para esta safra. 

De acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), os estados com situação mais crítica, em 2023, foram Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Paraná e São Paulo, respectivamente.  

Em Sorriso, município de Mato Grosso e um dos principais produtores de soja do país, a saca de 60 kg chegou a custar R$ 90 — valor que não cobre nem os custos da produção, segundo o presidente da Aprosoja, Antônio Galvan. 

“Quem colheu dentro normalidade, entre 50 e 60 sacas de soja, já teve dificuldade de pagar os custos da produção nesses preços.  Agora imagina aquele produtor atingido que está colhendo entre 20 e 30 sacas de soja por hectare, como ele vai fazer para cumprir com os compromissos? Quando falamos de custos de produção ainda tem os investimentos, porque não tem ninguém que não tenha sempre de 5% a 10% do seu faturamento de investimento na propriedade", ressalta. Ele lembra também os investimentos necessários para melhorar a produção, por meio de máquinas e armazenagem, por exemplo.

Projeções

A gerente administrativa do Grupo Spekken e especialista em comercialização de soja e milho, Cris Spekken, diz que este é um momento dramático para o produtor — e que algo precisa acontecer para mudar o cenário.

“Vai passar esse primeiro trimestre que tem características de ser um trimestre mais pressionado, porque é um momento de colheita, é um momento em que o produtor tem que vender produto, tem que pagar conta — e isso acaba pressionando o mercado, porque ele sabe que o produtor vai ter que ofertar o produto”, analisa. 

A especialista ainda completa: “Quem sabe a China não surpreende com uma demanda forte no mercado e necessidade de compra. Porque realmente a China está coberta praticamente até março”, ressalta. 

Para o engenheiro agrônomo Charles Dayler, a situação deve melhorar no segundo semestre deste ano, mas os efeitos ainda devem ser sentidos por mais tempo. 

“Pode ter problema de replantio, que vai atrapalhar o cronograma e isso vai afetar diretamente o preço. Pode ter perdas de insumos, as possibilidades são grandes. E para esse ano, o resultado infelizmente é negativo, porque as commodities agrícolas pesam bastante na balança comercial brasileira, então vai haver sim um impacto negativo pensando na safra deste ano. No ano que vem a tendência é que a gente tenha uma recuperação, mas vai ser um ano ainda com algum desafio”, avalia. 

As projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontavam para uma colheita 149,4 milhões de toneladas, o que representa queda de 3,4% se comparada com o volume obtido no ciclo 2022/23.  

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14/02/2024 04:00h

Centro-Oeste teve perda de 11% e é a região mais afetada

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O cenário da produção de soja no Brasil não é um dos melhores no início de 2024. O ano começou com perdas expressivas, principalmente no Centro-Oeste, maior região produtora do grão do país. O calor e as chuvas irregulares prejudicaram as lavouras nas fases de plantio e desenvolvimento. 

Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que, em relação à safra anterior, a perda no Centro-Oeste foi de 11%; no Sudeste, 8%; no Nordeste; 7% e no Norte, 5%. O Sul foi a única região que teve melhoria no potencial produtivo (+20).

As projeções da Conab apontavam para uma colheita no país de 162 milhões de toneladas — quando considerada a expectativa inicial desta temporada —, mas o número foi revisado para baixo. A expectativa agora é de que a produção seja de 149,4 milhões de toneladas, o que representa queda de 3,4% se comparado com o volume obtido no ciclo 2022/23.  

O advogado Evandro Grili, especialista em Direito Ambiental e Sustentabilidade, explica alguns dos fatores que levaram a esses resultados.

“Nós passamos pelo El Niño muito forte nesse ano que passou, que teve uma das temperaturas mais elevadas, isso muda toda a estrutura de chuvas. A questão climática é cada vez mais um desafio gigante para o agronegócio. E as questões jurídicas, porque o mundo cada vez mais se cerca de maior controle ambiental possível, vai criando barreiras para que os produtos que venham de regiões que não respeitam o meio ambiente tenham dificuldade para ser comercializados”, analisa. 

Alerta 

Os efeitos climáticos mais intensos do El Niño começam a perder força a partir de fevereiro, mas o fenômeno pode influenciar o clima até o mês de junho no país. Além disso, já existe a previsão de La Niña no segundo semestre deste ano, quando as regiões Norte e Nordeste do Brasil recebem mais chuvas.

Por isso, a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) recomenda aos produtores de soja que redobrem os cuidados antes de fechar negócios nos próximos meses. A entidade pede que não realizem vendas imediatas e futuras e não adiantem compras. 

De acordo com a análise da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), no Mato Grosso — maior estado produtor de soja — por exemplo, as dificuldades no plantio, necessidade de replantio e a falta de chuvas geraram essas perdas de produtividade. E em meio à queda dos preços, os resultados econômicos para o produtor ainda podem piorar.

O advogado reforça a importância do agronegócio para a situação econômica do país.

“Se o agro estivesse em alta como estava há alguns anos, por uma conjunção de fatores essa recuperação da economia brasileira seria muito mais rápida e muito mais forte. Somos um país que tem no agro um dos principais players (se não o principal na esfera econômica), e quando ele não repete performances positivas a economia acaba patinando e demorando mais a se recuperar”, avalia. 

A análise da CNA foi publicada na edição de janeiro do boletim mensal de inteligência de mercado, divulgado na última quarta-feira (7). 

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09/02/2024 00:05h

Indústria de transformação e comércio são os que mais crescem e oferecem oportunidades

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Se tem um lugar da casa onde é difícil cortar do orçamento é a cozinha. E se a comida movimenta o mercado, estimula a economia, ela também gera emprego. Segundo o informativo da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Emprego no Campo, em dezembro de 2023 464 postos de trabalho foram gerados no setor de Comércio Atacadista de Frutas, verduras, hortaliças e legumes frescos. 

O produtor rural Rafael Corsino é dono de fazendas no DF e em Goiás — que produzem alho, cebola e cenoura. Ele conta que a diversidade de formas de plantio e mão de obra variam muito de acordo com cada região no país. Ele dá o exemplo da região Sul, que planta a cebola em maio e junho. “E colhe no final do ano. Então a contratação deles é no final do ano. Novembro, dezembro é a época de contratação  —e eles começam a vender no primeiro semestre.” 

Tanto no Sul quanto no Nordeste, a mão de obra costuma ser mais vasta, já que a maioria são pequenos e médios produtores que usam menos máquinas e tecnologia. 

A variação do fator clima

 Clima. Imprevisível e incontrolável, esse fator é um dos que mais influenciam o agronegócio no mundo. E no Brasil, o ano de 2023 teve fenômenos atmosféricos que se impuseram: La Niña e El Niño. Eles influenciaram não só na produção, como na empregabilidade do setor, como explica Corsino.

“O clima, que saiu da La Nina para o El Niño, e vai continuar até setembro, teve uma influência direta na produção, na produtividade, nas perdas — que foram muitas — contratações e nas dispensas em função do clima.”

A carne é o ouro do Brasil 

Brasil. O maior exportador de carne bovina do mundo também demanda mão de obra para o processamento do produto. Segundo o levantamento da CNM, foram criados 11.856 postos de trabalho em 2023 dentro de frigoríficos, com o abate de bovinos. 

A cidade de Assis Chateaubriand, no Oeste do Paraná, com 36,8 mil habitantes, teve um salto gigantesco na geração de empregos depois da instalação do maior frigorífico da América Latina, no final de 2022. O crescimento foi de 769% — passando de 284 postos de trabalho em 2022 para 2.464 em 2023 — levando a cidade para a oitava colocação no ranking de empregabilidade do estado.

No estado vizinho, Santa Catarina, onde a produção de aves e suínos é o forte, 2023 fechou com US$ 3,2 bilhões em exportações. Para o diretor-executivo do Sindicarne-SC, Jorge Luiz de Lima, o aumento nos postos de trabalho no setor são reflexo dos investimentos que as agroindústrias vêm fazendo no setor ao longo dos últimos cinco anos.

“As principais agroindústrias do setor — não importa o porte, se são pequenas, médias ou grandes — todas elas têm investido de maneira a ampliar seu parque fabril, a agregar tecnologia e a trazer novos e diferentes sistemas dentro do processo produtivo.” 

Segundo o diretor, isso agrega conhecimento, qualificação de pessoal, não só garantindo as vagas de trabalho existentes, mas agregando outras. Ele ainda ressalta que “para cada vaga direta de emprego criada, outros oito postos de trabalho indireto são criados.” 
 

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07/02/2024 15:15h

Número é puxado pelo encerramento de contratos — o que tradicionalmente ocorre no fim do ano. Mas 2023 fecha positivo na geração de empregos, com 119 mil vagas no setor

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Puxado pelo encerramento de contratos nas lavouras de grande parte do país, o mês de dezembro fechou negativo com relação ao número de postos de trabalho no agronegócio: foram menos 88.566 no último mês de 2023. O informativo “Emprego no Campo” — divulgado mensalmente pela Confederação Nacional de Municípios —  mostra ainda que o que acontece no campo também é visto na cidade. Dezembro também terminou com queda no número de postos de trabalho nacional, foram menos 427 mil postos de trabalho, segundo o levantamento.

Os desligamentos são atribuídos ao encerramento da maioria dos vínculos temporários neste período do ano. Mas apesar do mês ruim, os números de 2023 foram positivos. O ano passado fechou com a criação de 119 mil vagas no campo, o que corresponde a 8,0% das vagas totais geradas no país — e um pouco maior do número de 2022, quando o aumento foi de 7,9%.

O economista César Bergo explica que essa sazonalidade faz parte da natureza do setor, já que quando acaba uma colheita, os contratos se encerram. Por isso, um outro aspecto do levantamento reforça o posicionamento de Bergo. 

“Quando a cidade é maior esse trabalhador acaba sendo absorvido pelo comércio. O que observamos nesses números é que os municípios menores acabaram sofrendo mais, porque não tem como aproveitar essa mão de obra que sai do campo.” 

A pesquisa mostra que os pequenos municípios foram responsáveis por 56% do saldo negativo (-50 mil vagas), enquanto as grandes cidades, geram mais empregos no comércio, apresentaram redução de 7 mil empregos. 

Onde o agro cresceu mais

No Brasil, 82% das cidades têm movimentação no mercado de trabalho do agro, são 4.571 municípios. Mas um deles se destacou na geração de empregos em 2023, o município de Lençóis Paulista, SP (foto). Com 75 mil habitantes, a cidade gerou 2.562 postos de trabalho no ano passado, em diversas áreas. O secretário de desenvolvimento Econômico, Paulo Cesar Ferrari, atribui à logística e às políticas públicas o sucesso na geração de empregos. 

“Aqui nós temos as rodovias, ferrovias e estamos na beira do Tietê — o que nos permite fazer o transporte através da hidrovia também. A cidade de Lençóis sempre teve muito cuidado com as políticas públicas, uma cidade de 75 mil habitantes onde temos 100% de saneamento básico e luzes LED.” 

Segundo o secretário, a saúde pública e a segurança funcionam bem, o que atrai mais pessoas para o municípios — assim como investidores. 

Lençóis Paulista ficou à frente até mesmo da capital São Paulo na geração de empregos, no ano passado. “Nós temos o agro, que é forte, o comércio, serviço, construção e indústria.” A previsão de investimentos na cidade em 2024, estima Ferrari, “é de R$ 4,8 bilhões em variados setores da indústria”.   

Desafios para 2024

O economista César Bergo divide em três partes os maiores desafios que o país — que é o maior exportador de grãos do mundo — enfrenta. 

Infraestrutura:  faltam ferrovias, a estrutura dos portos não é adequada e as rodovias encarem o custo do transporte e nem sempre são de boa qualidade;

Crise internacional dos fertilizantes: a escassez dos produtos no mercado externo fez com que os preços das commodities subiram e os insumos para alimentação dos rebanhos acabou ficando mais alta;

Clima: eventos extremos como seca, calor excessivo, chuvas e alagamentos também deixam o produtor dependente desses fatores para obter ou não sucesso com a safra.

“Do ponto de vista de safra, a expectativa é que este ano seja menor que em 2023. Por outro lado, esperamos uma melhoria dos preços internacionais das commodities para efeito de se ter um ciclo positivo no país. Isso deve fazer os preços dos alimentos caírem”, ressalta o economista. 

Mas a política e os planos de governo devem ser favoráveis para a agricultura, avalia. 
 

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27/01/2024 18:10h

A CNA prevê que a produção de leite no Brasil em 2024 deve ficar estável, com um volume de 34,1 bilhões de litros

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Após um 2023 marcado por quedas consecutivas nos preços do leite pago ao produtor, o setor de lácteos projeta um cenário equilibrado para 2024. Conforme a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), no ano passado, a produção de leite no campo atingiu 34,1 bilhões de litros. Com isso, houve queda de 1,4% em 2023 ante 2022, quando foram produzidos 34,6 bilhões de litros.

De acordo com a pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) Ana Paula Negri, diversos fatores contribuíram para a crise do setor. Entre eles, a queda de preço durante o período de entressafra – abril a agosto.

“Geralmente, no período da entressafra, os preços aumentam. Então, até outubro, há desvalorização do leite, que estava atrelada ao excesso da oferta devido ao aumento da produção doméstica e também das importações crescentes. As importações estiveram em alta de janeiro a novembro do ano passado e o volume foi 71,7% maior do que o registrado em 2022. Outro fator foi a queda nos preços dos derivados, porque o consumo em 2023 estava enfraquecido”, explica.

Segundo balanço do Cepea, em 2023, o Brasil importou 2,26 bilhões de litros de leite, o maior volume para o período de toda a série histórica. O número representa um aumento de 68,8% em relação a 2022. 

As importações brasileiras, provenientes basicamente de países do Mercosul - Argentina e Uruguai -  se deram em função da TEC (Tarifa Externa Comum) de 28% sobre os lácteos provenientes de outras origens. Com a TEC, esses países conseguem produzir a custos mais baixos que o nacional e diminuir a competitividade no mercado brasileiro. 

Conforme a Embrapa Gado de Leite, no ano passado, pequenos produtores de vários estados chegaram a receber menos de R$ 1,80 por litro de leite. Em contrapartida, o custo de produção aumentou 50% entre o início de 2020 e outubro de 2023.

De acordo com o balanço da CNA, de janeiro a outubro, a queda do leite para os produtores reduziram cerca de 26%. Já a queda para o leite UHT no atacado foi de 15%. No varejo, os preços ao consumidor registraram queda de apenas 1,98%.

Cenário para 2024 

A CNA prevê que as margens negativas da atividade no ano passado, a baixa capacidade de investimento e problemas climáticos devem impedir uma recuperação mais expressiva na produção de leite em 2024. A produção nacional de leite deve manter a estabilidade em torno de 34,1 bilhões de litros. 

Na avaliação da pesquisadora do Cepea, 2024 pode ser um ano ainda de desafios para o setor. “A expectativa dos agentes de mercado é que os preços registrem entre estabilidade e alta, ainda influenciado pela produção limitada no campo. Porém, a continuidade desse movimento de alta nos próximos meses vai depender muito da reação do consumo e dos volumes de lácteos importados. 2024 pode ser um ano ainda de desafios para o setor, com crescimento na produção mais lento. As importações podem continuar sendo uma peça importante para o setor”, destaca.

Com a pressão do setor produtivo, o Ministério da Agricultura divulgou, em outubro de 2023, um decreto 11.732/2023 para tentar frear as importações de leite. A medida visa auxiliar o produtor rural e equilibrar toda a cadeia produtiva, garantindo incentivos fiscais. A medida passa a valer em 1º de fevereiro de 2024.

Cadeia Produtiva do Leite no Brasil

Segundo o Cepea, o Brasil é o quinto maior produtor de leite do mundo em termos de valor. O país ocupa a sexta posição dentre todos os produtos analisados na agropecuária nacional no valor bruto da produção total no Brasil. Ao todo, o setor tem mais de 1,17 milhões de propriedade produtores de leite e 42 milhões de pessoas empregadas na indústria de laticínios. Os maiores produtores são os estados de Minas Gerais, seguido por Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.  

Incentivo à produção nacional de leite: governo aprova medidas para beneficiar setor

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