Safra

16/03/2023 04:30h

Resultado é o maior da série em 34 anos. Produtividade e preços agrícolas puxam o crescimento

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O campo deverá injetar R$1,249 trilhão em 2023 na economia brasileira - o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) é o maior em 34 anos. Os dados do Ministério da Agricultura e Pecuária estimam que com uma superssafra as lavouras devem crescer 8,9% no volume, podendo atingir até R$ 888 bilhões. Já a pecuária, devido à queda nos preços dos bovinos, terá o terceiro ano consecutivo de perda de receitas. O resultado financeiro dentro da porteira será de R$ 362 bilhões, queda de 3,4% em relação a 2022.

O VBP,  calculado com base nas informações de safras de fevereiro, é organizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).  Apesar de atingirem um patamar recorde, as receitas de 2023 previstas neste mês ainda são inferiores às projetadas em fevereiro.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reajustou para baixo a produção de alguns itens importantes para a safra deste ano. Um deles foi a soja, cuja produção foi impactada pela estiagem no Rio Grande do Sul, e teve a produção revisada para 151,4 milhões de toneladas. A estimativa anterior era de 152,9 milhões. Com isso, o Mapa revisou para baixo a previsão de receitas dos produtores da oleaginosa para R$387 bilhões, inferior aos R$ 401 bilhões previstos no mês passado.

Mesmo assim, o movimento financeiro dos sojicultores com as vendas deste ano vai superar em 14% o de 2022. Segundo o ministério, os preços atuais da soja estão menores do que os de há um ano, mas o volume produzido compensa essa queda. José Garcia Gasques, responsável pelos dados apurados pelo Mapa, afirma que dois pontos são importantes para o VBP deste ano. Um deles são os preços, que, apesar da redução em alguns casos, ainda se mantêm acima da média histórica. Gasques destaca, ainda, o aumento da produtividade média, próximo de 10% neste ano, o que, mesmo quando há redução de área, garante boa produção.

Os preços acima da média de anos anteriores e expectativas de boa safra em 2023 trazem contribuições positivas para um grupo amplo de lavouras, com destaque para laranja, cana-de-açúcar, milho e soja. No caso do café, algodão e trigo, o comportamento dos preços e os níveis de produção obtidos reduziram o faturamento desse importante grupo de produtos. Os resultados favoráveis principalmente de soja e milho têm contribuído para os ganhos não apenas nos principais estados produtores como os do Centro-oeste e Sul, mas também em vários estados do Nordeste e Norte que também se beneficiam de bons períodos de chuvas.


Redução de áreas de plantio e secas têm promovido importantes alterações no ranking do VBP. Entre os estados, Mato Grosso segue líder, seguido de Paraná e de São Paulo. No Rio Grande do Sul, devido aos impactos dos efeitos climáticos adversos na região, perdeu força e está em quinto lugar no ranking nacional. Os gaúchos perderam terreno em lavouras importantes, como as de soja, milho e arroz. Soja e milho continuam como preferência dos produtores do estado, mas o clima não tem cooperado com a produção.

Já o arroz perde espaço para outras culturas. Se confirmado os dados previstos para este ano, a produção do cereal será a menor dos últimos 25 anos. O estado gaúcho é o principal produtor nacional. A produção menor e preços estáveis em R$ 85 por saca fizeram o arroz perder lugar no ranking de importância nacional, obtendo receitas inferiores até às da mandioca. 

A produção agrícola brasileira se deslocou rapidamente para o Centro-oeste, região que deve acumular R$ 387 bilhões em receitas neste ano. A seguir vêm a região Sul, com R$ 331 bilhões, e a Sudeste, com R$ 298 bilhões. Milho e soja representam 62% do VBP das lavouras, e têm participação decisiva nesses resultados. Se acrescida a cana-de-açúcar, a participação dos três sobe para 73%.

As estimativas de receitas das lavouras estão baseadas em uma safra recorde de 310 milhões de toneladas. Esse volume, no entanto, ainda poderá sofrer grandes alterações, principalmente devido a efeitos climáticos. A definição dos preços internos, que servem de base para formação do VBP, depende também dos preços externos. 

Valor da Pecuária 

Na pecuária, bovinos e frangos superaram 68% da receita total do setor. A retração nesses dois segmentos afeta todo o setor neste ano. A pecuária, que passa o terceiro ano com taxas de crescimento negativas, ainda enfrenta ajustes originados durante a pandemia do Covid-19 e por redução dos preços internos. Segundo o Mapa, esses seriam os motivos da redução no VBP da carne bovina e de frango, especialmente.

O consultor técnico da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Amado Oliveira, pontua os fatores que o custo de produção tem preocupado o pecuarista. “O custo de produção em dezembro de 2022 estava muito acima do Valor Bruto da Produção. Então isso é um desconforto muito grande. A gente tem tentado através de estudos propor ao governo algumas alternativas, mas são muito difíceis”. O consultor da Acrimat explicou ainda que o pecuarista espera que o cenário vá melhorar, em especial quando a China voltar a comprar carne brasileira. 
 

Mato Grosso é o destaque dentro da produção agropecuária. No estado, a agropecuária tem participação relevante no PIB. Amado Oliveira, explica os fatores que levam o estado a se destacar no cenário nacional da pecuária brasileira. “O Mato Grosso pelas suas características geográficas ele já é um grande estado. Nós tivemos em 2022 um PIB do Valor Bruto da Produção (VBP)  na ordem de R$ 202 bilhões de reais e para esse ano, nós vamos aproximar de R$ 216 bilhões. É claro, que fatores locais nos obrigam a ter uma escala maior que os outros estados”. 

O que é o VBP?

O VBP mostra a evolução do desempenho das lavouras e da pecuária ao longo do ano e corresponde ao faturamento bruto dentro do estabelecimento.  O VBP é calculado com base na produção da safra agrícola e da pecuária, e nos preços recebidos pelos produtores nas principais regiões do país, dos 26 maiores produtos agropecuários do Brasil.  O valor real da produção, descontada da inflação, é obtido pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) da Fundação Getúlio Vargas. A periodicidade é mensal.
 

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14/03/2023 03:30h

Os embarques de café verde do Brasil ficaram em 2,3 milhões de sacas, queda de 33,3% em volume, segundo Cecafé

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Dados apresentados pelo Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé) apontam que as exportações brasileiras de café seguem em ritmo mais lento nos primeiros meses de 2023. Embora os produtores tenham melhorado as negociações, eles têm se mantido mais retraídos nas vendas, esperando por preços mais altos do produto, o que refle diretamente nos embarques. 

Segundo o presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, a baixa nos embarques se justifica pelo período de entressafra, após duas colheitas menores, impactadas por adversidades climáticas em importantes regiões produtoras.

O consultor de Safras & Mercado Gil Barabach explica como esses fatores têm refletido no volume dos embarques. “A safra que foi colhida no ano passado é uma safra abaixo do potencial, então você tem menos café. Você tem também uma postura mais retraída por parte do produtor. Então tudo isso refletiu no volume de embarque. Já era até esperado essa queda ao longo da segunda metade da temporada, que justamente é o primeiro semestre do ano".

Barabach explica ainda que a queda também foi influenciada pela baixa produção. "Está em linha com a queda da produção mesmo, você tem você tem menos café disponível em 2022. Isso fatalmente se refletirá em queda do volume exportado”, complementou. 

Ao todo, as exportações de café verde do Brasil ficaram em 2,3 milhões de sacas de 60 quilos em fevereiro. O que representa uma receita cambial de US$ 505,9 milhões. Uma diminuição de 33,3% em volume e de 38,5% em faturamento. 

No acumulado dos oito primeiros meses do ano safra 2022/2023, o Brasil exportou 24,6 milhões de sacas, volume 7,7% inferior ao embarcado de julho de 2021 a fevereiro de 2022. Já em receita, o resultado ainda é positivo, em 13% na mesma comparação, com rendimento chegando a US$ 5,704 bilhões, com o cenário refletindo os elevados preços do produto. 

Em janeiro e fevereiro deste ano, as exportações brasileiras de café apresentaram queda de 25,4%, saindo de 7,008 milhões, no primeiro bimestre de 2022, para os atuais 5,226 milhões de sacas. A receita segue caminho similar ao somar US$ 1,117 bilhão, ou queda de 28,8% em relação ao intervalo anterior.

Comercialização

A comercialização da safra brasileira de café de 2022/2023 até o último dia 8 de março alcançou 83% da produção, contra 78% do mês anterior. Os dados do levantamento mensal de Safras & Mercado apontam ainda que o percentual de vendas é bem inferior a igual período do ano passado, quando girava em torno de 89% da safra. O fluxo de vendas também está abaixo dos últimos anos na média para o período, que é de 86%.

Segundo a consultoria, já foram negociadas 49,16 milhões de sacas de uma produção estimada em 2022/2023 de 58,9 milhões de sacas. 

Para o consultor Gil Barabach, o fluxo de vendas segue bastante cadenciado, mesmo com a recente valorização dos preços. “Até houve um pouco mais de negócios, mas de forma muito escalonada e sem gerar grande pressão do lado da oferta. A percepção de que havia mais café disponível resultou em um maior interesse por parte do vendedor, que não se traduziu em um fluxo contínuo e linear, mas acabou melhorando o volume total de negócios”.

A percepção de mais café disponível, por conta do ajuste no fluxo, levou  a consultoria a revisar para cima o seu número para a safra brasileira 2022/23, que passou a 58,90 milhões de sacas, contra 57,30 milhões de sacas anteriormente. A produção é dividida entre 35,95 milhões de sacas de arábica e 22,95 milhões de sacas de conilon.

Mas o mercado segue monitorando a lavoura da safra 2023/2024 e vê com bons olhos a colheita. “A cabeça do mercado já é na safra de 2023, que daqui a pouco já começa a ser colhida, começa pelo conilon. O conilon já está aí na boca da da safra, depois vem o arábica. Então quer dizer a gente já tá com cara de safra nova no mercado. A expectativa é que venha uma safra boa de arábica, que  foi frustrado nos últimos anos, por conta da seca, por conta da geada, mas esse ano está esperando uma safra cheia. Então existe uma expectativa positiva em relação à safra”.

As vendas antecipadas da safra brasileira de café 2023/24, que será colhida a partir de abril/maio, estão em apenas 19% do total esperado a ser produzido. Segundo a Safras & Mercado, houve avanço de somente dois pontos percentuais no comparativo com um mês atrás. O percentual de vendas é muito inferior a igual período do ano passado, quando estava em cerca de 28% da safra.​​

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12/03/2023 04:00h

Mesmo com esses impactos a estatal estima uma produção recorde de 309,9 milhões de toneladas para a Safra 2022/2023

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A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reduziu sua estimativa para a produção brasileira de grãos e fibras em 2022/2023, de 310,6 milhões para 309,9 milhões de toneladas. Segundo a estatal, a redução se deve ao impacto da estiagem no Rio Grande do Sul. Ainda assim, se confirmada, será uma colheita recorde e 13,8% superior à safra 2021/2022.

Quase metade desse volume de produção será de soja, com 151,4 milhões de toneladas, 20,6% a mais que no ciclo passado, mas um pouco menos que as 152,9 milhões de toneladas estimadas em fevereiro.

"A atual estimativa de produção da oleaginosa cresceu se comparada com o ciclo passado, mas representa uma variação negativa de 1% em relação ao último anúncio da Conab devido à intensificação, em fevereiro, dos danos causados pela estiagem no Rio Grande do Sul. No entanto, essas perdas foram compensadas, em parte, pelos ganhos observados em Tocantins, São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul”, explicou o presidente da Companhia, Guilherme Ribeiro.

Entretanto, a colheita da oleaginosa tem avançado de forma mais lenta nas regiões produtoras, com percentuais bem abaixo quando comparados com a safra 2021/2022. De acordo com a Conab, esse ritmo mais lento se deve, em parte, ao excesso de chuvas, que tem dificultado o tráfego de máquinas nas lavouras. 

Milho

Esse atraso na colheita da oleaginosa traz impactos na semeadura do milho de segunda safra, que chegou a 63,6% da área prevista para 2022/23, segundo a Conab. “É importante destacar que semear o milho fora da janela ideal pode aumentar os riscos durante o desenvolvimento das lavouras, e não há garantia de como a cultura irá se desenvolver em condições climáticas adversas.”, reforçou a superintendente de Informações da Agropecuária da Conab, Candice Romero Santos.

Ainda assim, a estimativa é de um crescimento na produção de 11,3%, com 95,6 milhões de toneladas no inverno. Ao todo, a colheita total de milho foi estimada em 124,67 milhões de toneladas, acima da previsão de 123,7 milhões de toneladas divulgada em fevereiro, com ajustes positivos na expectativa de colheitas de verão e inverno, uma estimativa  recorde.

Algodão

O algodão já foi completamente semeado, com expectativa de colheita da pluma em 2,78 milhões de toneladas, pouco menos que as 3 milhões previstas no mês passado, mas 9% acima de 2021/22.

Arroz

No caso do arroz, a Conab reduziu sua estimativa de colheita de 10,2 milhões para 9,9 milhões de toneladas, 8,4% inferior ao volume produzido na safra passada. A redução de área de cultivo, aliada às condições climáticas adversas no Rio Grande do Sul, foram apontadas pela Conab como motivo para a redução.

Feijão

No caso do feijão, a Conab manteve a estimativa de produção em 2,9 milhões de toneladas, somando as três safras, 2,4% menos que em 2021/22.

Trigo

Por fim, com a distância do plantio, a Companhia manteve a projeção para a colheita de trigo em 10,5 milhões de toneladas.

Exportações 

Com uma expectativa de aumento da safra de milho, a Conab projeta exportações recordes do cereal de 48 milhões de toneladas, 1 milhão acima da projeção de fevereiro e também um crescimento na comparação com a safra anterior, de 46,6 milhões de toneladas. No caso da soja, com uma safra menor do que a esperada, a estatal reduziu a estimativa de exportação para 92,99 milhões de toneladas, em relação aos 93,9 milhões de toneladas na projeção de fevereiro.

Para o algodão, a Conab manteve a expectativa de exportação em 1,98 milhão de toneladas. “O início de ano se mostra lento para as vendas ao mercado externo da pluma, ainda assim, o setor continua confiante e vem trabalhando para ampliar as exportações, as quais devem chegar próximas de 2 milhões de toneladas”, explica o gerente de Acompanhamento de Safras da estatal, Rafael Fogaça. Isso seria um crescimento na comparação com o volume de 1,8 milhão de toneladas de algodão exportado na temporada passada.

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