O número de famílias que declaram ter dívidas a vencer (cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa) permaneceu estável em abril, alcançando 78,3% das famílias brasileiras. Os dados são da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Entre essas famílias 17,3% estariam "muito endividadas”, índice que voltou a crescer após duas quedas no cenário de juros elevados.
O economista Ricardo Teixeira, coordenador do MBA de Gestão Financeira da Fundação Getúlio Vargas (FGV-IBRE), explica os motivos que levam ao endividamento.
“A principal causa do endividamento é, sem dúvida nenhuma, a falta de planejamento.Quando uma pessoa, por exemplo, vai fazer uma compra parcelada em 12 vezes, ela sempre pensa se aquela parcela que ela vai está pagando cabe no orçamento mensal, mas esquece daquelas despesas que são sazonais que acontecem uma vez por ano”, destaca.
O endividamento dos consumidores caiu em outubro de 2022, mas cresceu entre janeiro e fevereiro de 2023 com orçamentos apertados pelas despesas típicas do início do ano e se manteve estável em março e abril. A estimativa da CNC é de que a proporção de endividados volte a crescer em julho deste ano.
Para Teixeira. à medida em que as pessoas ficam mais endividadas, sobra menos dinheiro para que elas possam fazer até mesmo as compras no dia a dia. Nesste contexto, ele ressalta quais são os impactos que o cenário de endividamento pode causar nos setores de comércio e serviço.
"Quando a gente tem uma sociedade muito endividada, a gente começa a perceber que até as compras mensais das famílias começam a ser reduzidas para que elas não entrem no vermelho e não tenham o seu nome colocado em cadastro de maus devedores. Então, sempre que existe um alto nível de endividamento por parte da sociedade, a gente também vê atividade econômica, de certa forma, ser reduzida por conta de uma demanda menor e uma demanda menor porque as pessoas estão endividadas” destaca
Ainda de acordo com o levantamento da CNC, a melhoria da renda disponível com a evolução do mercado de trabalho e o alívio da inflação ajudaram a diminuir a quantidade de consumidores que atrasaram suas dívidas em abril. O indicador caiu pelo quarto mês consecutivo, com uma redução de 4 pontos percentuais, correspondendo a 29,4% do total de famílias, abaixo da média trimestral (29,7%).
A taxa de juros média em todas as operações de crédito com recursos livres às pessoas físicas atingiu 58,3% ao ano em março, ou seja, 8,7 pontos maior do que no mesmo mês do ano passado, de acordo com os dados do Banco Central.
O número de mulheres inadimplentes chegou ao patamar de 30,3%, em fevereiro de 2023. É o que revela a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Já os homens, nessa mesma categoria, correspondem a 29,1% dos inadimplentes.
O estudo também evidencia que 79,5% das mulheres estavam com alguma dívida em fevereiro, o que representa uma alta de 1,1 ponto percentual em comparação com janeiro. No sentido oposto, os homens tiveram uma queda de 0,1% no endividamento, em relação ao mesmo período. O levantamento aponta que a informalidade empregatícia está entre os fatores responsáveis pelo quadro de maior endividamento das mulheres, o que ocasiona a vulnerabilidade de renda.
O especialista em relações institucionais, governamentais e gestão pública da Fundação da Liberdade Econômica, Eduardo Fayet, explica que outros fatores do contexto brasileiro também contribuem para o aumento da inadimplência nesse período, como a elevação da inflação e, consequentemente, a perda de renda.
“O segundo fator que tem influenciado bastante é o aumento de juros. Quando a pessoa se endivida, com os juros altos, ela obviamente precisa pagar mais caro pelo dinheiro que precisa tomar para que consiga pagar as suas contas. Outro fator importante é a relação emprego/renda”, afirma Fayet.
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Entre as modalidades de curto prazo que têm concentrado o endividamento do público feminino está o cartão de crédito (86,5%). Em seguida está o endividamento em carnês de lojas (19%), e o crédito consignado (5,9%). Nas outras modalidades, como cheque especial, crédito pessoal, cheque pré-datado, financiamento de casa, de carro e outras dívidas, os homens superam a proporção de endividados.
De acordo com o levantamento feito pela CNC, apesar de as mulheres serem o grupo com mais endividamento no país, elas são as que mais procuram pagar suas dívidas o mais rápido possível. Enquanto as mulheres ficaram em média 62 dias sem quitar seus débitos, os homens passaram, em média, 65,3 dias.
Outro indicador que cresceu em fevereiro foi o endividamento das famílias, chegando a 78,3%, puxado, principalmente, pelo endividamento das mulheres, segundo o estudo da CNC. Nessa categoria, houve um aumento de 0,3% das famílias que relataram ter dívidas a vencer. Desse total, 17,1% revelaram estar muito endividadas, indicador que também apresentou crescimento após quedas desde novembro do ano passado.
De acordo com Fayet, as perspectivas para os próximos meses são de que as instituições promovam medidas para melhorar questões relacionadas à renda, à redução de juros, com a tentativa de controle da inflação. “As instituições, o Estado brasileiro, o governo, o Banco Central e, de uma certa forma, até o mercado têm olhado isso com bastante cuidado para que as famílias brasileiras possam passar a trabalhar uma equalização da sua renda e melhorar o nível de renda, o poder de compra das famílias”, indica.
Segundo a pesquisa, a cada 100 consumidores inadimplentes, 44 chegaram em fevereiro com dívidas atrasadas por mais de 90 dias. O tempo médio de atraso dos pagamentos foi de 62,7 dias, o que representa o maior índice desde janeiro de 2021.
Entre os grupos de inadimplentes, a ocorrência foi maior entre pessoas que ganham de três a cinco salários mínimos por mês. No grupo mais pobre houve uma queda de 0,9 ponto percentual em fevereiro.
O endividamento dos brasileiros alcançou o maior nível histórico já registrado: 77,9% da população, segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O último levantamento do Serasa mostrou que 69,43 milhões de pessoas entraram 2023 com nome restrito. Além disso, um estudo da Deep Center mostrou que a chance de o brasileiro recuperar uma dívida ou parcela em atraso em até 30 dias após o vencimento é de quase 68%, contudo, essa probabilidade cai para menos de 5% em uma dívida acima de seis meses. Mas porque tantas famílias têm passado por isso? E como sair dessa situação?
Ainda segundo o estudo, o perfil dos inadimplentes é composto por pessoas entre 26 e 40 anos, que representam 34,8% dos endividados. Em média, o valor da dívida do brasileiro é de R$ 4.493,90. O Chief Operating Officer da Deep Center, Laércio Guimarães, comenta os resultados do levantamento: “Tivemos um crescimento de 7 pontos percentuais em relação a 2021, com dados de 2022, chegando a um dos maiores níveis de endividamento do país, com 77,9% dos brasileiros endividados, segundo levantamento da própria CNC, que é a Confederação Nacional de Comércio, Bens, Serviços e Turismo”.
Guimarães também explica como é medido o percentual: “A gente considera endividamento pessoas que tem valores a vencer contratados com instituições financeiras, a exemplo de produtos contratados temos cartão de crédito, cheque especial e financiamento de veículos, acreditamos que é um período de muita transição em relação ao mercado financeiro, onde existem várias oportunidades para empresas que trabalham com essa frente de recuperação de crédito”, elucidou.
A estudante de gestão de turismo Letícia Machado, 20 anos, é uma das pessoas que tem produtos financeiros a quitar. A dificuldade em conciliar trabalho e faculdade faz com que em alguns meses as despesas superem o valor conquistado. “Os meus maiores gastos hoje são com aluguel, compras de comida, gasolina e mensalidade da faculdade, esses são os gastos fixos, fora os gastos que acontecem durante o mês e são imprevisíveis, tipo saídas ou às vezes um remédio, uma coisa assim. Não ganho um salário fixo porque é muito difícil encontrar um emprego fixo fichado que dê para conciliar com minha faculdade, então eu faço frelancer normalmente, que não cobre nem metade dessas dívidas”, lamenta Letícia.
O cartão de crédito, inclusive, é um dos impulsionadores da situação, com 86,6% das dívidas apuradas na pesquisa. Outro ponto que Letícia tem em comum com grande parte das pessoas na mesma situação que ela é a falta de trabalho de carteira assinada: segundo dados do IBGE, no 4º trimestre de 2022 o número de desempregados era de 8,6 milhões de pessoas, o que corresponde a 79% da população.
O COO da Deep Center, Laércio Guimarães, enumera algumas dicas para manter as contas no azul:
Segundo dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 78% das famílias brasileiras possuem dívidas, sejam elas em atraso ou não. O número é levemente maior do que o de janeiro de 2022, quando era de 76,1%.
Entre as famílias que recebem até três salários mínimos, os endividados são 79,2%. Já aqueles que ganham mais de dez salários são 74,4%. Segundo o economista Guini Nunes os baixos salários influenciam nos índices de endividamento.
“Teve uma queda na renda, então as famílias estão sem folga. Muitos fizeram readequação, se organizaram, mas grande parte dos brasileiros tem uma renda de até R$ 2 mil por mês, então não é uma renda folgada. Essa combinação de juros altos e renda baixa gerou esse quadro de endividados”, explica.
A pesquisa também aponta que as famílias com dívidas em atraso - aquelas famílias que têm renda, não estão no Serasa, mas que estão no limite - somam 29,9% do total, abaixo dos 30% de dezembro, mas acima dos 26,4% de janeiro do ano passado. Entre aquelas com renda de até três salários mínimos, 38,7% estão inadimplentes. Já entre os que ganham mais de dez salários, a inadimplência atinge 13,5%.
Além disso, 11,6% das famílias não terão condições de pagar suas dívidas, ou seja, famílias que estão muito endividadas. O percentual é maior do que o registrado em dezembro e janeiro do ano passado.
Para o economista, o endividamento dos brasileiros impacta diretamente a demanda no comércio. Nunes também alerta que as famílias devem esperar para renegociar suas dívidas.
“O impacto é a dificuldade de o comércio vender. Em novembro, por exemplo, teve uma queda no comércio. A renda está relativamente baixa. Então, mesmo aquele brasileiro que tem renda, às vezes, está inseguro para sair gastando. Agora as famílias vão ter que esperar para renegociar. Ela tem que olhar suas dívidas, ter uma noção de sua renda, o que é que sua renda pode pagar dessas dívidas e, na medida que aparecer a oportunidade, renegociar prazos e condições”, diz.
O governo federal em parceria com a Caixa está desenvolvendo um novo programa de renegociação de dívidas. O foco é abranger famílias de baixa renda e deve ser operacionalizado com fundo garantidor, com recursos públicos, para renegociação de dívidas de quem recebe até dois salários mínimos (R$ 2.604). O lançamento do programa está previsto para até o fim de fevereiro.
A Dívida Pública Federal fechou 2022 em R$ 5,951 trilhões, segundo a Secretaria do Tesouro Nacional, do Ministério da Fazenda. A quantia - que inclui o endividamento externo e interno do país - foi 6,02% maior do que em 2021 (R$ 5,614 trilhões). Comparado ao mês de novembro, que contava com dívida de R$ 5,871 trilhões, o valor cresceu 1,47%.
Apesar do crescimento da dívida pública, o valor ficou abaixo do estabelecido no Plano Anual de Financiamento (PAF) de 2022, que previa que os gastos poderiam fechar entre R$ 6 trilhões e R$ 6,4 trilhões no ano passado. De acordo com o economista e professor César Bergo, a arrecadação de impostos foi alta em 2022, mas não o suficiente para “fazer frente ao custeio e aos investimentos do governo”.
“Então ele [o governo] teve que recorrer ao mercado para completar o seus gastos e investimentos e emitir os títulos públicos, além de contratos com entidades internacionais, como o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento… Ou seja, ele buscou esses recursos para complementar todos os seus gastos e investimentos”, explica o economista.
César Bergo observa que o que mais preocupa é o perfil da dívida pública pela redução dos prazos de pagamento da dívida e as taxas flutuantes. “Preocupa porque acaba implicando uma velocidade maior de endividamento.” Segundo o economista, para 2023, o governo pretende reduzir a taxa por meio da adoção de taxa prefixada e alongar os prazos de pagamentos.
A dívida pública no mercado interno, conhecida como Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi), teve o estoque ampliado em 1,48% em dezembro, de R$ 5,616 trilhões para R$ 5,699 trilhões. Segundo o Tesouro Nacional, esse crescimento da dívida ocorreu devido à apropriação positiva de juros, em R$ 56,3 bilhões - que é quando os juros da dívida são incorporados ao total a cada mês -, e também pela emissão líquida mensal de R$ 26,61 bilhões - isso ocorre quando o Tesouro emite mais títulos do que resgata.
Já o estoque da Dívida Pública Federal Externa (DPFe), atraída do mercado internacional, caiu 0,89% em dezembro, fechando o ano em R$ 252,45 bilhões. A queda de 0,7% do dólar no mês passado foi o motivo principal.
Em coletiva virtual realizada no último dia 26, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, disse que a expectativa para 2023 é ter um avanço importante tanto na Reforma Tributária quanto no novo arcabouço fiscal junto a outras medidas que possam melhorar o ambiente de negócios e gerar novos investimentos.
“A expectativa é que tenhamos, a partir do segundo semestre, um ambiente econômico mais favorável para voltarmos a trilhar o objetivo de médio e longo prazo para a gestão da dívida pública e a melhoria dessa composição. Então é melhor não forçar uma colocação que não é adequada. Tem que fazer o balanço da eficiência entre o curto, médio e longo prazo.”, afirmou o secretário do Tesouro Nacional.
É por meio da dívida pública que o Tesouro Nacional emite títulos públicos. Funciona da seguinte forma: o governo pega emprestado dinheiro dos investidores para honrar compromissos financeiros. Em troca desse empréstimo, o governo se compromete a devolver esses valores após alguns anos, de acordo com o vencimento do papel, junto a rendimentos. A correção desses valores pode ser feita pela Selic - que é a taxa de juros básica da economia -, a inflação, o câmbio ou de forma prefixada - ou seja, definida com antecedência.
Nesta segunda-feira (30), a Serasa Experian divulgou a pesquisa do Indicador de Recuperação de Crédito, realizada em outubro de 2022. Segundo os dados, sete em cada dez dívidas de consumidores endividados foram pagas no setor de Bancos e Cartões em até 60 dias de negativação a partir do mês de referência.
De acordo com Luiz Rabi, economista-chefe da Serasa Experian, o Indicador de Recuperação de Crédito foi calculado em duas etapas, com a primeira levantando todas as dívidas negativadas, ou seja, que não foram pagas no período determinado e foram incluídas na base do Serasa. Após isso, a equipe olha o que aconteceu com essas dívidas no prazo de até 60 dias após a negativação.
“Ou seja, se o consumidor, negativado nessa dívida, em 60 dias conseguiu resolvê-la, conseguiu pagar ou renegociar essa dívida, ela sai da lista de inadimplência. Então quando nós olhamos o indicador de recuperação de crédito, nós estamos olhando para as dívidas que foram negativadas em outubro e que foram pagas até o final do mês de dezembro”, explica Rabi.
A pesquisa aponta que a área priorizada foi a de bancos e cartões, com 71,2% de débitos pagos. Em seguida, o Utilities, que inclui contas de água, luz e gás, marcando 66,5%. Somando todos os setores, 59,4% dos débitos foram recuperados.
Para Luiz Rabi, esses são dois segmentos em que as pessoas conseguem pagar as dívidas de uma forma mais rápida por serem setores essenciais para a vida financeira dos cidadãos. “As pessoas quando ficam negativadas no banco ou nos cartões de crédito, elas praticamente perdem o crédito e qualquer acesso a outro tipo de financiamento. E no setor de utilities, é muito difícil imaginar alguém viver sem energia elétrica ou sem fornecimento de água”, aponta.
A região que apresentou a maior concentração de dívidas pagas foi o Sul, com o percentual de 62,5%, seguida pelo Nordeste com 61,2% e Sudeste marcando 59,5%. Em quarto e quinto lugar temos o Centro-Oeste (57,8%) e Norte (50,3%).
Foco em manter o nome limpo
O educador e consultor financeiro, Jônatas Bueno, explica que o primeiro passo para manter o nome limpo é entender o que é considerado uma dívida. “As pessoas têm ideia de que dívidas são, necessariamente, quando elas estão em atraso. Mas qualquer compromisso do passado, qualquer parcela, mesmo de compras ordinárias, mas que foram feitas parcelando, isso constitui dívida. Então, mesmo que esteja conseguindo pagar seus compromissos em dia, essa também é uma pessoa endividada”, informa.
Por isso, o educador financeiro afirma que é necessário encarar o parcelamento de compras do dia a dia como algo ruim. “Elas engessam muito a capacidade de manobra frente a um imprevisto, uma situação não detectada. Por isso, a pessoa acaba precisando optar em deixar de pagar uma conta do cotidiano, como internet ou água, para conseguir quitar uma dívida considerada mais urgente”.
Bueno indica que os cidadãos mantenham os gastos abaixo do valor que recebem. “Então se uma pessoa precisa comprar um bem como smartphone, ou quer fazer uma viagem, o ideal é que ela pense se ela realmente tem condição. Se ela não está conseguindo pagar com o valor do salário, já é um indício que deveria pensar em não comprar aquele bem, não fazer aquele compromisso”, afirma. Caso o gasto seja inadiável, o educador indica que deve ser feito na menor quantidade de parcelas possíveis, para não engessar o orçamento em um imprevisto futuro.
“Aquela pessoa que gasta mais, não poupa, está mais envolvida em viver o presente, muitas vezes, ela está em uma situação financeira ruim. Por uma questão social de influência, a gente acaba imitando esse comportamento e também gastando mais do que deveria”, alerta Bueno. Segundo ele, controlar esses gastos pode gerar um desconforto social, mas é necessário se planejar financeiramente considerando as próprias condições, indiferentemente do que os outros decidem.
O doutor em economia e professor na Universidade Mackenzie, Hugo Garbe, também dá algumas dicas para que os cidadãos consigam manter o nome limpo. De acordo com ele, o consumidor precisa guardar uma parte da renda como reserva de emergência. “Quando acontece alguma coisa na vida das pessoas, você precisa de um dinheiro imediato, problema de saúde, etc, você consegue utilizar essa reserva de emergência e não precisa se endividar”, explica.
Outros pontos levantados pelo economista são: evitar o empréstimo pessoal no banco e utilizar cartão de crédito, além de não atrasar as faturas do mesmo, devido aos juros altos. O professor recomenda ainda que as pessoas adquiram o hábito de poupar, sempre que possível. Diz ainda que é importante reduzir o consumo por impulso, como compras desnecessárias em shoppings.
Motivo para o número negativo foi Black Friday fraca e aumento no preço dos combustíveis
Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta semana, revelam que as vendas do comércio varejista caíram 0,6% em novembro do ano passado. O resultado veio após uma sequência de alta por três meses consecutivos. Apesar de baixo, ainda trata-se de um número positivo em relação ao mesmo período de 2021.
No comparativo do IBGE entre as atividades pesquisadas, outubro e novembro obtiveram um resultado negativo. Apenas móveis, remédios, perfumarias e eletrodomésticos apresentaram uma pequena alta nas vendas.
O economista Cesar Lima explica quais motivos podem ter contribuído para o resultado. “Entre os fatores que contribuíram para essa queda de novembro, está a Black Friday que foi fraca, pelo endividamento das famílias brasileiras, e também pelo aumento no preço dos combustíveis”, considera.
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Ainda segundo Lima, em 2023 os varejistas devem enfrentar um cenário desafiador. “Os motivos são os mesmos de 2022. Temos uma perspectiva de alta taxa de juros devido à manutenção dos índices da Selic em um patamar elevado, o que dificulta o crédito. Além disso, o alto nível de endividamento das famílias faz com que elas pensem diversas vezes antes de contrair um empréstimo. Da mesma forma, nós temos acontecimentos externos que farão com que as pessoas se intimidem na hora de realizar gastos”, pontua.
Dos 27 estados do país, 14 tiveram um desempenho negativo nas vendas de comércios varejistas.
No episódio desta semana (30), o podcast Giro Brasil 61 traz informações sobre a bomba instalada em Brasília. Prévia do Censo. E fala sobre empreendedorismo feminino, inadimplência e outros assuntos que marcaram esta semana.
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Limite para descontos em folha dos empréstimos nesta modalidade saltou de 35% para 45%
Servidores públicos federais vão entrar 2023 com mais crédito no mercado. O presidente Jair Bolsonaro (PL) sancionou lei que aumenta o limite para descontos em folha dos empréstimos consignados dos servidores públicos federais para 45% para quem contratar essa modalidade.
A nova norma, publicada na edição desta quarta-feira (28) do Diário Oficial da União, originalmente era uma medida provisória publicada pelo próprio chefe da nação, em agosto. Em novembro, o aumento da margem do crédito foi confirmado pelo Congresso.
De acordo com a norma, dos 45%, 5% ficarão reservados exclusivamente para amortização de despesas ou saques de cartão de crédito. Antes, o limite era de 35%, sendo 30% para empréstimos com desconto em folha e 5% para o cartão de crédito.
O presidente, no entanto, vetou o trecho que reservava, dentre os 45%, 5% para amortização de saques e dívidas contraídas com uso de cartão de crédito consignado de benefício. Esse tipo de modalidade afeta, principalmente, aposentados e pensionistas.
No entendimento de Bolsonaro, era um ponto que contrariava o interesse público, pois o limite de 5% para pagamento de dívidas com cartão consignado de benefício “promoveria distorções na alocação de crédito na economia nacional, com potencial para aumentar o custo de crédito de operações com livre destinação de recursos”.
O crédito consignado é um produto dos bancos públicos e privados, descontado automaticamente do contracheque do trabalhador, diminuindo o risco de inadimplência. Por isso, as taxas dessa linha são mais baixas do que de outros tipos de empréstimos e financiamentos.
Especialista em Orçamentos Públicos e Finanças, o economista César Lima explica que a elasticidade da margem de crédito consignado pode ajudar os favorecidos se o dinheiro for usado com prudência. Segundo Lima, a medida pode aquecer o mercado brasileiro.
“Pode ter uma vantagem para quem se utiliza desse tipo de crédito por ser mais barato. Se o servidor está com dívidas no cheque especial, no cartão de crédito, pode fazer a troca dessas dívidas por outra de mais longo prazo e custo menor”, avalia. “O aumento do consumo pode vir de maneira direta, com a utilização dos empréstimos ou indiretamente com a renovação da capacidade de compras por parte daqueles que resolveram quitar dívidas”, prevê.
*Visão dos servidores*
Para o presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estados - associação civil integrada, exclusivamente, por entidades nacionais associativas e sindicais em todos os Poderes -, Rudinei Marques, a medida visa atender o sistema financeiro e é desvantajosa para as categorias que não têm reajuste há cinco anos.
“Por que os servidores estão se endividando? Porque a grande maioria, desde 2017, está sem reajustes”, observa. “Então o servidor perde duas vezes, perde por não ter o reajuste salarial necessário e perde tendo que tomar empréstimos bancários e arcar com altas taxas de juros. O que precisamos urgentemente é de reajuste salarial para evitar que o servidor se encha de dívidas”, avalia.
Servidor aposentado da Controladoria Geral da União, a CGU, José Marcos dos Santos explica que sempre recorreu aos empréstimos consignados. Na opinião do ex-funcionário público, aumentar o limite para descontos em folha dos empréstimos para 45% é um risco para eles.
“Não acho bom, não acho que vai resolver o problema do servidor público. Por que o servidor público pega consignado? Porque ele tem uma baixa remuneração”, constata. “Então acho que aumentar a margem do consignado só vai aumentar a dívida do servidor público”, pondera
Pesquisa aponta que 34,1% dos consumidores mais pobres atrasaram dívidas em novembro
Pagar as contas atrasadas e sair da inadimplência é um dos objetivos da lista de metas de ano novo de muitos brasileiros. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada em dezembro, houve recorde entre os mais pobres. Os dados, referentes ao mês de novembro, apontam que 34,1% dos consumidores com renda de até 10 salários mínimos atrasaram dívidas. É o maior número desde o início da série histórica em 2010. A pesquisa é feita mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Apesar disso, o levantamento aponta um recuo de 0,3% em relação a outubro. Segundo a pesquisa, essa desaceleração na proporção de endividados é explicada pela evolução positiva do mercado de trabalho, pelas políticas de transferência de renda mais robustas e pela queda da inflação nos últimos meses. Esse conjunto de fatores significou um aumento da renda disponível. Ainda assim, a combinação de endividamento e juros altos está deixando os consumidores mais cautelosos, conforme a Peic.
A economista da CNC, responsável pela Peic, Izis Ferreira, alerta para a importância de se organizar para não cair em armadilhas e, assim, afastar o fantasma da inadimplência em 2023. Ela afirma que as despesas aumentam no primeiro trimestre do ano e, por isso, evitar gastos desnecessários faz toda a diferença.
“São tributos, rematrícula de escola, material escolar, então é importante que o consumidor se programe para o pagamento dessas despesas, que vão apertar o orçamento no início de 2023, além de toda incerteza em relação ao desempenho da economia que vamos ter nos próximos meses. Então, é evitar o gasto com supérfluo, fazer a conta, pesquisar preço, guardar o cartão de crédito se puder. E se ganhou uma receita extra, procurar usar em favor da família evitando o gasto do salário”, afirma.
Segundo a gerente da Serasa, Camila Cruz, o consumidor precisa de um controle simples para começar o ano colocando as contas em dia. Ela afirma que anotar as despesas e o orçamento mensal é fundamental para que os gastos não ultrapassem os ganhos. Camila Cruz também alerta para os riscos do cartão de crédito.
“É possível começar pelo básico, com papel e caneta e todo mês consultar esse caderninho para ver o que você está gastando a mais e o que está gastando a menos. E ter muito cuidado com os gastos do cartão de crédito, ou seja, os parcelamentos do cartão de crédito podem também onerar o seu orçamento mensal, e os juros são muito altos, caso você venha a atrasar uma fatura. Então é um ponto realmente de atenção”, destaca.
De acordo com o levantamento mais recente da Serasa no segundo semestre de 2022, 69 milhões de brasileiros têm restrição no nome, o que corresponde a 42,6% da população adulta do Brasil.
Impactos do endividamento na saúde
A Pesquisa “Perfil e Comportamento do Endividamento Brasileiro”, encomendada pela Serasa, mostra o impacto do endividamento na saúde mental da população. A pesquisa ouviu 5.225 pessoas de todas as regiões do país e constatou que 83% dos inadimplentes sofrem de insônia causada pelas dívidas. Além disso, 74% afirmam ter dificuldade de se concentrar nas tarefas do dia a dia e 61% viveram ou vivem sensação de crise de ansiedade.
A psicóloga Thamires Ferreira explica que o endividamento pode gerar uma série de pensamentos negativos e levar, inclusive, ao fim de relacionamentos. Ela alerta para a importância de as pessoas com dívidas buscarem educação financeira, além da psicoterapia para aprender a lidar com a situação e as emoções.
“Crises de pensamentos negativos, que geram sentimentos como vergonha, angústia, tristeza, medo, culpa, altos níveis de estresse, dificuldade de concentração. Começa a atrapalhar os relacionamentos, com amigos, familiares e parceiros, nesse caso, os casamentos acabam sendo muito afetados. E tudo isso é um ciclo vicioso, todos esses pensamentos negativos geram mais comportamentos de gastos. A insônia é um fator bem comum, as pessoas não conseguem dormir pensando nessa situação financeira.”
Pesquisa Perfil e Comportamento do Endividamento Brasileiro: