Conforme previu a maioria dos analistas do mercado econômico, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil anunciou nesta quarta-feira (20) um corte na taxa Selic de 0,5%, a taxa básica de juros — reduzindo, assim, o percentual para 12,75% ao ano. A decisão foi anunciada por volta das 18h30.
Para o economista Renan Silva, um dos especialistas que “previram” o corte, a notícia é boa porque traz, como consequência, a possibilidade de crescimento para o país. “Nós entendemos que o custo do capital para as empresas sofra uma redução. Também o crédito ao consumidor deve ficar mais barato, o que se traduz em maior consumo, melhor atividade econômica e, consequentemente, melhoria do emprego e renda”, prevê o professor de Economia do Ibmec Brasilia. “O que leva a crer que realmente esse ano o país deve crescer bem além das expectativas projetadas no início de 2023, que era em torno de 0,5%”, avalia.
Segundo o especialista, atualmente os mesmos agentes de mercado que haviam previsto um crescimento para o Brasil de apenas 0,5% “acreditam que o país possa crescer algo em torno de 3,2% ao ano, na medida que a redução da taxa Selic até o final do ano se concretize”. Ele explica que, mesmo com as incertezas relacionadas ao comportamento da taxa de juros nos Estados Unidos, e apesar da pressão inflacionária advinda dos países da zona do euro, “é consenso entre os agentes do mercado financeiro de que o Copom deveria promover o corte [de meio por cento] na taxa Selic”, enfatiza..
O Comitê de Política Monetária (Copom) é o órgão do Banco Central responsável por definir os juros básicos (Selic). As reuniões do órgão são sempre esperadas com muita expectativa pelo mercado financeiro. O colegiado se reúne a cada 45 dias, quando os integrantes do grupo decidem se vão diminuir, aumentar ou manter a Selic — que é a o principal instrumento de política monetária utilizado pelo Banco Central para controlar a inflação.
Portanto, a taxa de juros Selic influencia todas as taxas de juros do país, como as dos empréstimos bancários, dos financiamentos de produtos comprados pelos consumidores e, também, as taxas de juros executadas nas aplicações financeiras.
O mercado financeiro subiu as expectativas de inflação, medidas pelo Índice de Preço ao Consumidor (IPCA). De acordo com dados do Boletim Focus, a projeção é de 4,92% para 2023.
O IPCA é considerado o índice oficial que mensura a inflação brasileira.
Para 2023, a meta de inflação, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é de 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,5 pontos percentuais (p.p), para cima, ou para baixo. Portanto, a expectativa de inflação ainda permanece acima da meta.
No PIB, a projeção apresentou alta e se encontra a 4,92% para 2023.
Já a projeção do dólar em relação ao real manteve-se estável em relação à semana anterior. A moeda é cotada a R$ 4,98 para 2023.
A projeção da taxa de juros básica da economia, a Selic, manteve-se em 11,75%, pela quarta semana consecutiva. Para 2024, a projeção é de 9,00% e, 2025, 8,50%.
De maneira conjunta, as projeções de IPCA, PIB e Câmbio divulgados nesta semana indicam um cenário positivo da economia brasileira em 2023.
O IGP-M, principal índice para reajuste de aluguel do país, projeta variação negativa de 3,56%, e representa deflação. Este indicador apresentou uma sequência de dezoito quedas semanais desde o início de abril de 2023.
O IPCA Administrados, que representa serviços e produtos com reajustes definidos por contratos ou regulados pelo setor público, teve sua sexta alta consecutiva. O índice se encontra no patamar de 10,02%.
As informações foram divulgadas pelo Banco Central nesta semana. Segundo o Banco: “As informações são provenientes do Relatório Focus e resumem as estatísticas calculadas considerando as expectativas de mercado coletadas até a sexta-feira anterior à sua divulgação. Ele é divulgado toda segunda-feira. O relatório traz a evolução gráfica e o comportamento semanal das projeções para índices de preços, atividade econômica, câmbio, taxa Selic, entre outros indicadores. As projeções são do mercado, não do Banco Central.”
A guerra na Ucrânia continua sendo o maior fator de incerteza no quadro da economia internacional
O quadro atual da economia mundial é de inflação em queda, porém ainda elevada.
A queda é influenciada, principalmente, às reduções nos preços de energia e alimentos.
Em relação à atividade global, há revisão do crescimento do PIB de 2023 para cima. Já para 2024 não houve revisão e a taxa é a mesma que a esperada para 2023. Desta maneira, há um cenário de desaquecimento ou estagnação da atividade.
O crescimento da China para este ano e para o próximo não sofreu revisão. O país ainda poderia ter queda do crescimento em vista de problemas enfrentados pelo setor imobiliário.
O crescimento da economia dos Estados Unidos também foi revisado para baixo em 2024.
A Fitch Ratings, uma das três principais agências de rating do mundo, rebaixou a classificação da dívida norte-americana da mais alta, AAA, para AA+, a segunda mais alta. A justificativa se deve à piora da situação fiscal dos Estados Unidos, que apresenta dívida crescente, além da demora para solucionar a questão do teto da dívida.
Na Área do Euro, a inflação ainda é elevada. Em julho de 2023, o Banco Central Europeu (BCE) afirma que a inflação “continua a cair, mas ainda se espera que permaneça excessivamente alta por bastante tempo”.
Dessa forma, há um desequilíbrio do crescimento mundial para o lado negativo. A inflação elevada pode requerer um maior aperto monetário, o que significa maiores taxas de juros. Há aumento da taxa de juros em países desenvolvidos, o que significa, para o caso do Brasil, possível saída de dólares para mercados mais atrativos que o nacional.
O elevado endividamento de muitos governos também é um ponto de atenção.
Além disso, a guerra da Ucrânia permanece como um dos principais entraves internacionais.
As informações foram divulgadas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o IPEA.
Muita movimentação no Congresso Nacional nesta semana. Reuniões, sessões e audiências públicas devem acontecer nos próximos dias no Senado e na Câmara dos Deputados. Confira alguns dos eventos previstos.
Na terça-feira (15), está prevista na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, a CPMI do 8 de janeiro, a oitiva de Adriano Machado, fotógrafo da agência Reuters que participou da cobertura dos atos de vandalismo e depredação em Brasília no início do ano. Também na terça-feira outra Comissão Parlamentar de Inquérito, a CPI do MST, terá depoimento. Será a participação do líder do Trabalhadores Rurais Sem Terra, João Pedro Stédile, sobre as ocupações promovidas pelo Movimento.
Ainda na terça, a Comissão de Indústria, Comércio e Serviços realiza audiência pública sobre taxas de juros e impacto da inflação para as micro e pequenas empresas. Entre os convidados para o debate estão o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), Aloizio Mercadante, e o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, além de outros representantes do setor bancário e também das micro e pequenas empresas.
A importância das micro e pequenas empresas para a geração de postos de trabalho é destacada pelo economista Newton Marques, que comenta a realização da audiência pública. “Como todos sabemos, a micro e pequena empresa é a que mais emprega mão de obra no país, e a taxa de juros e o impacto da inflação acaba corroendo os negócios no faturamento da micro e pequena empresa, por isso que é muito importante essa discussão, para ter políticas públicas”, ressaltou.
Já na quarta-feira (16), uma audiência pública da Comissão de Minas e Energia vai apresentar e discutir as ações da Petrobras em relação à energia eólica offshore e à transição energética. O presidente da Petrobras, Jean Paul Terra Prates, foi convidado para a reunião.
Para quinta-feira (17), está prevista uma sessão de debates temáticos no plenário do Senado Federal sobre a descriminalização do portes de drogas para consumo pessoal.
Foram 3 anos de aumentos ou estabilidade na taxa Selic, sem nenhuma redução. Mas, no começo de agosto, veio a primeira queda, de 0,5 ponto percentual. A taxa básica de juros da economia caiu de 13,75% ao ano para 13,25%. Uma pequena diferença que já é encarada com otimismo por estudiosos do mercado.
“Em um curtíssimo prazo houve um alívio das expectativas por parte do governo, e de alguns setores da economia que esperavam ansiosamente por essa queda da taxa de juros. Cair os juros, de fato, propicia um ambiente mais calmo para os negócios, uma expectativa mais tranquila com relação à economia brasileira, porque baixar os juros possibilita maior consumo por parte das famílias, maior facilidade de financiamento da dívida por parte do governo", avalia o economista Luigi Mauri.
Em diversos setores da economia há mais facilidades financeiras quando há queda na taxa de juros, porque os empréstimos ficam mais acessíveis. Toda a cadeia produtiva que depende de financiamentos sente o impacto: indústria, agro e o empreendedor, que ganha mais confiança, segundo explica o economista.
O impacto da redução foi sentido logo nos primeiros dias do anúncio. Bancos públicos, como a Caixa e o Banco do Brasil, mexeram nas taxas. A Caixa reduziu de 1,74% para a partir de 1,70% ao mês as taxas de juros do crédito consignado para beneficiários e pensionistas do INSS. Já o Banco do Brasil reduziu taxas nas linhas de crédito consignado e automático.
A exemplo da Caixa, o BB reduziu os juros do consignado do INSS. Nesse caso, taxa caiu de 1,81% ao mês para 1,77% ao mês, na faixa mínima, e de 1,95% para 1,89% ao mês, no patamar máximo.
Para quem precisa de crédito ou quer investir em algo maior, o cenário começa a melhorar. Há 4 anos o empresário Ricardo Guedes procura um imóvel para comprar, mas ainda não conseguiu tirar a ideia do papel.
“O meu maior impedimento sempre foram as altas taxas de juros e, principalmente, a insistência do mercado. O mercado imobiliário usa o índice do IGP-M e o Brasil, com essa falta de estabilidade, a gente fica com medo de comprar num contrato a longo prazo.”
O empresário diz que vai esperar mais tempo para ver como o mercado vai reagir e acompanhar as mudanças na taxa de juros para criar mais confiança e entrar num financiamento. “A gente tem que saber como as taxas vão ficar para que a gente tenha uma estabilidade jurídica nos contratos a longo prazo.”
O pensamento do empresário Ricardo Guedes faz sentido e é ratificado pelo economista, que lembra que a avaliação sobre a queda na taxa Selic foi feita a curto prazo, e ainda é cedo para tirar conclusões.
“É necessário aguardar algum tempo para ver, de fato, qual vai ser esse efeito positivo para a economia para além dos efeitos de acalmar as expectativas dos principais agentes da economia”.
Para tentar reduzir a inadimplência, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, anunciou na última quinta-feira (10) que deve acabar com o crédito rotativo do cartão. Durante uma sessão no Senado, Campos Neto disse que dentro de 90 dias o BC deve apresentar uma solução para o assunto.
“A solução que está se encaminhando é que não tenha mais o rotativo. Que o crédito vá direto para o parcelamento e que seja uma taxa ao redor de 9%. Quem não paga o cartão vai direto para o parcelamento”, declarou.
Essa tarifa de 9% seria para “desestimular” o parcelamento prolongado. Em junho, os juros do rotativo do cartão de crédito atingiram 437,3% ao ano, uma das taxas de juros mais altas praticadas no mercado.
No último dia 2 de agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, por 5 votos a 4, reduzir os juros básicos para 13,25% ao ano. O voto que sacramentou a redução de 0,5 ponto percentual foi dado pelo presidente do Bacen, Roberto Campos Neto.
Foi a primeira queda da Selic em 3 anos. A taxa básica de juros é o principal instrumento para controlar a inflação. Foram 12 reuniões do Copom com aumentos sucessivos da taxa de juros, que pulou de 2% em agosto de 2020 para 13,75% em junho de 2023.
O Copom indicou que a Selic deve continuar a cair, amparada pela redução da inflação. Segundo comunicado do comitê, estão previstos cortes de 0,5 ponto percental nas próximas reuniões, que acontecem a cada 45 dias. A próxima está marcada para 19 e 20 de setembro.
Após o anúncio pelo Banco Central da queda na taxa de juros, especialistas acreditam na melhoria da economia e o reflexo na qualidade de vida das pessoas. Para o assessor de investimentos Dilmer Cordeiro, taxas de juros mais baixas acabam deixando os investimentos com valores mais atrativos.
“Juro mais baixo torna mais fácil para empresas abrirem negócios, expandirem negócios, para captarem recursos no mercado, para conseguirem crédito, porque o custo do dinheiro, o custo do crédito fica menor, — e fica mais fácil para termos novas empresas, novos negócios, para aumentar investimentos e gerar mais empregos, mais poder de compra. Isso tudo traz um impacto mais real no dia a dia das pessoas e na economia como um todo”, avalia.
O Comitê de Política Monetária é o órgão do Banco Central que define, a cada 45 dias, a taxa básica de juros da economia, a Selic. Na última reunião, o Copom decidiu reduzir a taxa Selic de 13,75% para 13,25% ao ano. Existe ainda a expectativa de cortes de 0,5 ponto percentual, nas próximas reuniões.
Na opinião do professor de economia Riezo Almeida, nesse primeiro momento os benefícios da queda dos juros podem não ser sentidos pelo consumidor. Mas, se confirmando a expectativa de redução da Selic a cada reunião, isso vai trazer benefícios para a população que podem impactar direto no bolso.
“Com a taxa de juros em queda, vai ter mais oferta de dinheiro pelos bancos e juros mais atrativos a curto e médio prazo, então os bancos, a partir de agora, vão começar internamente a mudar os valores ofertados das taxas de juros e vão ter novos produtos ofertados para a população. Com isso, a população consegue ser beneficiada”, salienta.
De acordo com a consultora de economia da BMJ Consultores Associados Bruna Rizzolo, ainda que tenha sido uma redução maior do que o inicialmente previsto pelo mercado, o principal indicativo dado pelo Copom, na reunião, e que deve ser tomado como referência é que as autoridades monetárias reconhecem a melhora na tendência econômica do Brasil e que os cortes nos juros serão contínuos até o fim do ano.
“Para que a Selic atinja os 12% esperados pelo mercado ainda em 2023, conforme apresentado no relatório Focus do Banco Central, o comitê vai precisar reduzir os juros em meio ponto percentual em todas as reuniões até o fim do ano”, reforça.
Para Bruna Rizzolo, já existe um indício de que os investimentos produtivos devem ser ampliados. “A gente tem com o Banco Central essa demonstração de reconhecimento da melhora nas nossas tendências econômicas e expectativa de criação de mais credibilidade e confiança na tomada de empréstimos com taxas mais fixadas — o que pode então ampliar essas tomada de crédito. E a tendência de redução de juros também tende a aliviar a dívida do governo que está vinculada à Selic.”, salienta.
O professor de economia Riezo Almeida explica como a redução da dívida do governo afeta a população: “As contas do governo também vão ser beneficiadas porque grande parte da dívida do governo federal está atrelada a bancos brasileiros que também têm como referência a taxa Selic, então pagaremos menos juros reais porque nós, consumidores, também pagamos os nossos impostos e o governo pagando menos vai sobrar mais dinheiro para investir em outras áreas”, lembra.
Segundo o professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Ellery, também é importante lembrar do mercado imobiliário. “As pessoas podem esperar ainda uma queda nos juros dos financiamentos. Não é de imediato nem deve ser muito grande, mas, mantida a tendência de queda, deve acontecer. Essa é uma das razões para o varejo estar pressionando pela queda dos juros.”
Dilmer Cordeiro reforça que, no mercado imobiliário, a tendência é de facilitar o financiamento com juros menores. “O mercado imobiliário é um setor que acaba sendo mais beneficiado porque é um setor que é muito fomentado pelo crédito, pelo financiamento, então no cenário de juros elevados, os financiamentos, os créditos imobiliários acabam ficando com os juros mais elevados e isso mitiga a disposição das pessoas em adquirirem imóveis. Com juros mais baixos, acaba que se tem mais disposição porque o custo do dinheiro acaba ficando mais atratativo”, ressalta.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central diminuiu a taxa básica de juros da economia de 13,75% para 13,25%, nesta quarta-feira (2). A decisão de cortar os juros em 0,5% interrompe o período de um ano da Selic no mesmo patamar.
Em nota, o Banco Central afirmou que a redução da inflação nos últimos meses — em parte consequência dos efeitos defasados da própria taxa de juros —, aliada à queda das expectativas de alta dos preços no longo prazo, permitiram ao Copom acumular confiança para iniciar um ciclo gradual de queda da Selic.
Carla Beni, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), afirma que o Comitê manifestou cautela quanto ao cenário econômico internacional, mas que o panorama interno permitiu o começo do afrouxo nos juros.
"No seu comunicado, informou que persistem ainda algumas dúvidas com relação ao cenário externo. Afirmou a queda da inflação não só para 2023, como 2024 e 2025 e manteve um certo compromisso em reduções a 0,5% para as próximas reuniões, caso o cenário se mantenha dentro da ancoragem prevista", avalia. "Ou seja, há uma sinalização muito importante de que foi iniciado o ciclo de queda da taxa de juros no Brasil", completa.
Durante a reunião, o Copom cogitou um corte menor na taxa básica de juros, de apenas 0,25%, mas entendeu ser mais apropriado um ritmo de queda de meio ponto percentual. O Comitê ressaltou que se o cenário futuro para a economia se confirmar, as próximas reuniões devem trazer novas reduções de 0,5%.
O Copom fará mais três reuniões este ano. Com base no comunicado da autoridade monetária, a tendência é que a Selic caia mais 1,5% até lá, finalizando 2023 em 11,75%.
Todos os nove membros votaram pela queda da taxa Selic, mas o tamanho da redução foi definido por um placar apertado. Cinco integrantes, incluindo o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e os dois recém-indicados pelo governo Lula para a diretoria, decidiram pelo corte de 0,5%. Quatro membros votaram por diminuição de 0,25%.
Desde a primeira reunião do Copom em 2023, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Economia, Fernando Haddad, e outros integrantes do governo subiram o tom das críticas ao Banco Central, em especial ao presidente Roberto Campos Neto. Para o governo, a instituição errou ao manter os juros em 13,75% e segurar a queda da taxa Selic.
Ao Brasil 61, Rodrigo Leite, professor de Finanças e Controle Gerencial do Instituto Coppead da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destacou que as decisões do Copom sobre o rumo da taxa de juros não são tomadas apenas por Campos Neto. "Essa decisão não é uma decisão individual. Ela é uma decisão coletiva, quase como se fosse uma eleição."
Ele destaca que, embora tenha a responsabilidade de conduzir as reuniões e de comunicar as decisões do colegiado, o presidente do Banco Central tem o mesmo peso que os demais integrantes. "É um voto como outro. Ele pode guiar a discussão, mas se a discussão acabar indo para uma outra decisão, não tem como agir sozinho", afirma o professor.
O economista destaca que o Copom analisa diversos fatores econômicos, tanto do Brasil, quanto de outros países, antes de decidir o que fazer com a taxa de juros. "Eles levam em conta pressões inflacionárias, expectativas de inflação, as taxas de juros em outros países, o PIB do país, desemprego, tudo isso", lembra.
Leite diz que as resoluções do Comitê não são guiadas por interesses políticos, mas, sim, por critérios técnicos. "O Banco Central americano tomou a mesma decisão que o Banco Central brasileiro quando a inflação começou a cair: aumentou a taxa de juros. Por que só no Brasil é uma decisão política? Não. Tem uma pressão grande também nos Estados Unidos, que está com uma produção menor, problema de crédito. São as mesmas questões que tem no Brasil. E os Estados Unidos tomou a mesma decisão que se tomou no Brasil. É um sinal que a decisão no Brasil não foi tomada por decisões políticas, mas por motivos econômicos", conclui.
O Copom volta a se reunir daqui a 40 dias, entre 19 e 20 de setembro.
Em julho, todos os índices de expectativas da indústria subiram. É o que mostra a mais recente Sondagem Industrial, divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) na terça-feira (18).
Há maior otimismo dos empresários industriais com relação à demanda, à compra de matérias-primas, ao número de empregados e à quantidade de bens exportados, para os próximos seis meses. Já o indicador que mede a intenção de investimento cresceu 0,1 ponto, para 54,1. Ele está acima da média histórica para o mês.
Entretanto, o desempenho da indústria piorou na passagem de maio para junho de 2023. A Sondagem Industrial aponta que houve queda na produção e no emprego no setor. Os estoques também ficaram acima do planejado pelas empresas e a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) se manteve estável.
Paula Verlangeiro, analista de Políticas e Indústria da CNI, comenta os resultados do levantamento. "Em junho de 2023, a gente observou uma piora no desempenho da indústria. Isso veio por meio dos indicadores de produção e de emprego industrial. Os dois apresentaram queda. Em maio, teve um crescimento da produção, mas isso foi revertido em junho. E, para o emprego industrial, há nove meses esse indicador vem em tendência de queda. Em junho ele teve uma leve melhora, mas continua um patamar que sinaliza queda do emprego."
Otimismo dos industriais é reflexo de cenário mais positivo, diz economista
Segundo a pesquisa, o índice que mede a produção da indústria caiu 5,3 pontos, de 51,6 para 46,3. Por estar abaixo da linha divisória dos 50 pontos, o indicador mostra tendência de queda na produção. Já o índice de evolução do número de empregados passou de 48,4, em maio, para 48,6, em junho. Apesar da leve alta de 0,2 ponto, o indicador continua abaixo da linha de divisão — o que aponta a manutenção do ciclo de queda.
Outro importante indicador para entender o desempenho da indústria, a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) permaneceu em 69%. A UCI mostra qual o nível de atividade produtiva no momento, em relação ao seu potencial máximo de produção. Em junho de 2021, a UCI estava em 71%. No ano passado, em 72%. Ou seja, esse é o patamar mais baixo para o mês nos últimos três anos.
Os estoques mantiveram-se no mesmo patamar: 51,3 pontos. Por estar acima da linha divisória dos 50 pontos, o resultado mostra que o armazenamento cresceu, o que é reflexo do consumo menor.
A Sondagem Industrial também elencou os principais problemas enfrentados pela indústria no segundo trimestre de 2023. A demanda interna insuficiente foi apontada como o maior desafio do setor entre maio e junho, por 37% dos empresários.
Em segundo lugar, escolheram a elevada carga tributária. Ao longo da série histórica, esse problema normalmente se encontra nas primeiras posições do ranking. Os juros elevados fecham a lista dos três principais problemas para os empresários. Paula Verlangeiro afirma que a indústria está estagnada em 2023 — o que se reflete no ranking das principais dificuldades.
"O primeiro lugar ficou para a demanda interna insuficiente, o que mostra a baixa procura por bens industriais. Isso está muito ligado ao desaquecimento da economia, como um todo. As taxas de juros elevadas também registraram aumento e foi o maior aumento de toda a série, desde 2015. Esse problema está sendo sentido demais pelos empresários. E essa questão afeta uma série de decisões importantíssimas para o empresário, como de investir, comprar maquinário", explica.
Apesar disso, há boas notícias, de acordo com o levantamento. O indicador que mede o quão satisfeitos os industriais estão com o lucro operacional de suas companhias saltou 0,6%. Ainda sim, permanece abaixo da linha divisória. Ou seja, há mais insatisfação do que satisfação.
Quando o assunto é o contentamento com a situação financeira da empresa, houve aumento de 1,1 ponto no indicador respectivo. A alta foi suficiente para o índice ultrapassar os 50 pontos, o que aponta para satisfação com a situação financeira no período.
Apesar da taxa de juros básica estar em 13,75%, o acesso ao crédito melhorou na visão dos empresários da indústria. No entanto, a alta de 2,8% não foi o bastante para mudar a dificuldade em obter crédito, de modo geral — dizem os entrevistados.
Já o preço das matérias-primas recuou 6,4 pontos, ficando abaixo da linha dos 50 pontos, o que significa que um dos grandes gargalos enfrentados pelo setor nos últimos meses deixou de ser crítico, aponta o estudo.
Indústria é essencial para alavancar o desenvolvimento econômico do país, afirma economista
Projeção da inflação se mantém e é acompanhada de aumento da projeção da inflação
O mercado financeiro manteve as expectativas de inflação, medidas pelo Índice de Preço ao Consumidor (IPCA). De acordo com dados do Boletim Focus, a projeção é de 4,95% para 2023, o que representa uma manutenção na comparação com o índice divulgado há uma semana. A manutenção ocorre após oito quedas consecutivas de expectativas de inflação.
O IPCA é considerado o índice oficial que mede a inflação brasileira.
Para 2023, a meta de inflação, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,5 pontos percentuais (p.p), para cima ou para baixo. Portanto, a expectativa de inflação ainda permanece acima da meta.
No PIB, a projeção cresceu desde a semana anterior. A projeção de crescimento do PIB para 2023 é de 2,24%. As expectativas seguidas de crescimento do PIB ocorreram em vista da divulgação do resultado do Produto Interno Bruto do primeiro trimestre de 2023 acima do esperado, em alta de 1,9%.
Já a projeção do dólar se mantém estável desde a última semana, principalmente pela melhora da avaliação de risco-país, divulgada pela S&P. Esta é a quarta semana consecutiva de estabilidade do câmbio. A moeda é cotada a R$5,00 para 2023.
Ainda que a expectativa de inflação supere seu teto de meta, pode-se dizer que, conjuntamente, os índices de IPCA, PIB e Câmbio divulgados na segunda-feira (17) indicam melhora da economia brasileira em 2023.
Já a projeção da taxa de juros básica da economia, a Selic, permanece a 12% para 2023. Para 2024, a projeção é de 9,50% e, em 2025, 9%. Esta é a segunda semana consecutiva de estabilidade de projeção da taxa de juros. Porém, as semanas anteriores haviam sido de queda da taxa básica de juros da economia, a Selic.
O IGP-M, principal índice de reajuste de aluguel do país, teve variação negativa de 2,69% e apresenta deflação, em uma sequência de quedas semanais desde o início de abril de 2023. Esta é a décima quarta semana seguida de queda do IGP-M. Da mesma forma, o IPCA Administrados, que representa serviços e produtos com reajustes definidos por contratos ou regulados pelo setor público, teve queda pela décima primeira semana consecutiva e se encontra no patamar de 8,95%.
As informações foram divulgadas pelo Banco Central na segunda-feira (17). Segundo o Banco: “as informações são provenientes do Relatório Focus e resumem as estatísticas calculadas considerando as expectativas de mercado coletadas até a sexta-feira anterior à sua divulgação. Ele é divulgado toda segunda-feira. O relatório traz a evolução gráfica e o comportamento semanal das projeções para índices de preços, atividade econômica, câmbio, taxa Selic, entre outros indicadores. As projeções são do mercado, não do Banco Central.”
Os dados são do boletim Focus referente à semana de 17/07/2023.
A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou nesta quarta-feira (5) o PL 4.188/2021, conhecido como Marco Legal das Garantias. A proposta, vista com bons olhos pelo atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem o objetivo de aumentr a oferta de crédito e diminuir os custos e juros de financiamentos para empresas e consumidores.
Para isso, a nova regulamentação pretende ampliar a eficiência das garantias bancárias, ao reduzir o risco de inadimplência e a insegurança jurídica percebida pelo setor financeiro. Na prática, significa executar as garantias de forma ágil e barata no casos dos bancos, quando houver casos de calote por quem tomou o crédito.
O texto havia sido aprovado na Câmara dos Deputados há quase um ano, mas o senador Weverton Rocha (PDT-MA), relator da matéria na CAE, apresentou uma nova versão. O substitutivo mantém a possibilidade de os bens móveis, como veículos, serem alvo de cobrança extrajudicial em caso de inadimplência pelo devedor. Hoje, quando um veículo é dado como garantia e o tomador de crédito deixa de pagar o empréstimo, os bancos precisam do aval da justiça para apreender o bem. Com a mudança, as instituições financeiras poderão executar a garantia sem ir à justiça, o que já é possível para bens imóveis, a exemplo de casas e apartamentos.
Segundo Rocha, essa medida no momento da recuperação das garantias para bens móveis vai ajudar a diminuir os juros cobrados pelos bancos.
"Os juros são altos, porque o risco Brasil também é muito alto. O Brasil é o país do mundo que menos recupera [garantias]. Como você recupera pouco, o banco diz: 'vou te emprestar dinheiro, você vai comprar o carro, mas você pode não me pagar e eu posso demorar a recuperar ele na justiça. Com isso, vai ter que pagar advogado, vai depreciar o bem. Quando ele tiver acesso a esse bem, for leiloar, já não vale nem a dívida. Então, o risco para quem está dando esse dinheiro é muito alto", exemplifica.
"Com esse projeto, você desjudicializa. Eu tenho meu contrato, pago ele em dia, os juros vão ser muito mais baratos, porque lá eu autorizo quem me emprestou a dizer que, caso eu não cumpra, ele pode, de forma simplificada, recuperar esse bem e leiloar", enfatiza.
O Marco Legal das Garantias também passa a permitir que um mesmo imóvel seja dado como garantia em diferentes operações de financiamento, o que não é possível atualmente. Com as mudanças, a tendência é que os juros de empréstimos e financiamentos acabem caindo graças a uma maior segurança conferida às instituições financeiras.
O senador Weverton Rocha retirou o artigo que criava as Instituições Gestoras de Garantias (IGGs). Elas seriam responsáveis por fazer a ponte entre os bancos e as empresas — e cidadãos que buscam crédito. As IGGs iriam avaliar as garantias reais e pessoais; registrá-las em cartório e executar a dívida em caso de inadimplência do tomador do financiamento. Os senadores também excluíram do texto aprovado pelos deputados a possibilidade de o único imóvel da família ser penhorado. A proposta segue para o plenário do Senado. Se aprovada, volta para a Câmara dos Deputados, onde passará por nova análise por ter sofrido alterações.
Fazenda pede urgência na votação do marco legal das garantias de empréstimo