O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou nesta quinta-feira (25) uma série de medidas voltadas para a indústria. O banco vai disponibilizar cerca de R$ 20 bilhões para o financiamento em inovação pelo setor, além de R$ 2 bilhões para que empresas exportadoras da indústria de transformação possam investir em máquinas e equipamentos ou em capital de giro.
A entidade também prevê diminuir em até 60% o spread cobrado de micros, pequenas e médias empresas (MPMEs) no âmbito do programa BNDES Exim Pré-Embarque. O pacote foi apresentado pelo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, durante evento que comemorou o Dia da Indústria.
Na avaliação da CNI, entidade que representa o setor industrial brasileiro, "as linhas de crédito chegam em um momento importante para o país, que precisa urgentemente desenhar sua política industrial". Para Robson Braga de Andrade, investimento, exportação e inovação são eixos essenciais para o desenho de uma nova política industrial, cujas bases foram lançadas no Plano de Retomada da Indústria, entregue ao governo.
Presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade elogiou a iniciativa. “A indústria brasileira precisa de recursos para, cada vez mais, apostar em digitalização, tecnologia e inovação. O custo elevado é apontado como principal barreira interna à adoção de novas tecnologias. Por isso, atualmente, mais da metade das empresas industriais não usa qualquer ou usa poucas tecnologias digitais. Só com a digitalização vamos superar a baixa produtividade e competitividade da estrutura produtiva para elevar o crescimento do Brasil, com mais empregos e mais renda”, disse.
Segundo o economista Cesar Bergo, o pacote de apoio à indústria anunciado nesta quinta-feira (25) não é algo isolado, mas reflete uma mudança de posicionamento do BNDES. "Desde o primeiro momento em que houve essa mudança de equipe do BNDES, ficou claro o desejo de fazer maiores investimentos, sobretudo na parte da indústria. Me parece que há uma vontade do governo de incrementar os investimentos diretos e apresentar uma diversificação, priorizando aqueles setores que o próprio governo coloca como prioritários, inclusive visando a retomada da industrialização do país".
Durante o evento, Mercadante sugeriu que a indústria brasileira precisa de incentivos semelhantes ao que o agronegócio recebe com o Plano Safra. “Precisamos, sim, de um plano safra para a indústria. Não me venham falar que subsídio é jabuticaba. Jabuticaba é ter a maior taxa de juros com uma das menores inflações do planeta, que é o que temos hoje. Subsídio não é jabuticaba quando é transparente, bem aplicado e direcionado para setores estratégicos.”
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As exportações brasileiras registraram alta nesses primeiros meses do ano. Até a terceira semana de maio, a média diária foi 9,6% superior à registrada no mesmo período do ano passado. Em relação às importações, houve queda de 9,1% na mesma comparação entre as médias até a terceira semana (US$ 1,020 bilhão) com a do mês de maio de 2022 (US$ 1,122 bilhão). Esses dados foram divulgados no site da Balança Comercial. Na terceira semana, a balança comercial registrou superávit de US$ 2,268 bilhões.
Para o economista Alessandro Azzoni, todos os resultados não foram tão positivos para o setor, mas foram positivos para a economia do país. O economista explica que deve haver uma melhoria nos resultados no decorrer dos próximos meses. “Nós temos que levar em consideração principalmente no que diz a soja e os grãos. Nós tivemos atraso na colheita, janeiro e fevereiro ficaram represadas as exportações, então alavancaram muito março, abril e maio. Então os resultados foram muito maiores nesse sentido, mas que devem se regularizar mais nos próximos meses”
No acumulado até a terceira semana do mês comparando com a média de igual mês do ano anterior, os setores que mais apresentaram maior desempenho foram: a agropecuária; em seguida indústria extrativa e, na sequência, o acumulado mostra produtos da indústria de transformação.
A combinação destes resultados levou a um aumento das exportações, puxado, principalmente, pelo crescimento de 20,8% nos embarques de soja; e também de animais vivos (+ 256,7%); frutas e nozes não oleaginosas, frescas ou secas (+81,7%); arroz com casca, Paddy ou em bruto (+305%). Óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos, crus (+ 18,6%); minérios de alumínio e seus concentrados (+ 36,3%).
Já nas importações, até a terceira semana, se comparadas com a média diária do mês de maio de 2022, os setores que mais apresentaram queda foram agropecuária, indústria extrativa e em produtos da indústria de transformação.
Aprovado pela Câmara dos Deputados na última terça-feira (16), o Acordo para a Proteção Mútua das Indicações Geográficas dos Países do Mercosul vai ao Senado. O principal objetivo é garantir que os produtos ou serviços que tenham características ligadas, fundamentalmente, à origem geográfica – como o queijo produzido na Serra da Canastra ou o vinho Malbec feito em Mendoza, na Argentina – recebam a mesma proteção em todos os países membros do bloco econômico.
Doutora em administração pela Universidade de São Paulo (USP), Virgínia Castro, que tem pós-doutorado em indicações geográficas (IGs), explica que uma IG é um tipo de propriedade intelectual.
"Trata-se de um produto que tem uma reputação, notoriedade, característica única que só pode ser produzida daquela forma, naquele lugar, naquele clima, ou que as pessoas dali têm uma cultura própria e desenvolveram a técnica para fazer aquele produto, possuem um saber fazer que não pode ser copiado, que não pode ser feito em outro lugar. Então, tem essa característica de algo único ligado a um território, a um povo ou uma cultura".
Castro diz que cada país tem normas próprias para proteger suas indicações geográficas. No Brasil, o registro de uma IG é conferido pelo Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI). O vinho produzido no Vale dos Vinhedos (RS), o café da região do Cerrado Mineiro (MG), os calçados de Franca (SP) e a cachaça de Paraty (RJ) são alguns exemplos de indicações protegidas pelo INPI.
A IG funciona como um selo que atesta que determinado produto ou serviço só pode ter sido feito em determinado local. Dessa forma, confere aos produtores ou prestadores de serviços daquela região o uso exclusivo da indicação geográfica. Por mais óbvio que pareça, um queijo da Canastra não pode receber esse nome se não foi produzido naquela região e sob aquelas condições registradas junto ao INPI.
Além disso, a IG garante a reputação e qualidades associadas à sua origem e protege os consumidores de falsificações.
O acordo para a Proteção Mútua das Indicações Geográficas Originárias nos Territórios dos Estados Partes do Mercosul foi fechado em 2019, em Bento Gonçalves (RS), por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Como o próprio nome indica, a ideia é a proteção recíproca das IGs que têm origem nesses quatro países.
Segundo o texto, cada país terá que conferir proteção efetiva às indicações geográficas dos demais como se fossem suas. Para que tenha reconhecida e protegida uma IG, o país membro do Mercosul deverá enviar uma ficha técnica com dados daquele produto ou serviço.
Depois de o pedido ser submetido a mecanismos de publicidade e transparência, quem estiver interessado naquele processo pode se manifestar para contribuir com o parecer técnico sobre a IG, que é de responsabilidade do órgão nacional responsável pelo seu reconhecimento (no caso do Brasil, o INPI). Concluído o parecer, os países do Mercosul decidem pelo reconhecimento da indicação geográfica.
O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) foi o relator do PDL que aprovou o acordo, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CREDN), da Câmara dos Deputados. Segundo o parlamentar, o tratado servirá para agregar valor aos produtos e serviços reconhecidos, além de proteger contra a utilização indevida como marca, a concorrência desleal ou a indução do consumidor a erro.
"O acordo traz regras para que as indicações geográficas protegidas no Brasil sejam reconhecidas e protegidas junto aos demais sócios do Mercosul. O mesmo se aplica aos outros membros. Trata-se de importante medida para ampliar a integração do bloco também no campo da propriedade intelectual, promovendo a expansão de produtos típicos do Mercosul e do nosso mercado. Representa, portanto, um ganho recíproco para as nossas economias".
Para Virgínia Castro, o acordo é positivo para o Brasil porque dá visibilidade às IGs brasileiras junto aos consumidores dos países vizinhos e, portanto, pode ampliar o comércio.
O acordo tramita no Congresso Nacional sob a forma do projeto de decreto legislativo (PDL) 165/2022.
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O acordo comercial entre Mercosul e União Europeia é uma oportunidade para o Brasil diversificar a sua pauta de exportações e dar competitividade à indústria nacional, disse ao Brasil 61 o ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral, presidente do Instituto Brasileiro de Comércio Internacional e Investimentos (IBCI).
"O acordo com a União Europeia seria o mais importante que o Mercosul poderia fazer. Primeiro, pela oportunidade de atração de investimentos. Ao atrair investimentos, você tem um efeito muito interessante, que é o comércio intrafirma, de partes e peças, montagem de produtos. Isso poderia ajudar muito na industrialização da região. Em segundo lugar, porque a União Europeia é um mercado exigente, que tem muitos requisitos técnicos e sanitários, onde você aperfeiçoa a competitividade da indústria brasileira", avalia.
As commodities agrícolas e minerais têm ganhado cada vez mais espaço na pauta de exportações brasileira. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), soja, óleos brutos e minério de ferro representaram 35,7% das exportações do país em 2022. Isto quer dizer que apenas três itens foram responsáveis por mais de um terço das vendas externas do Brasil.
Ainda no ano passado, as exportações brasileiras para os 27 países da União Europeia totalizaram US$ 50,9 bilhões. Quase 50% de tudo o que os europeus importaram do Brasil teve origem na indústria de transformação brasileira. A título de comparação, apenas 22% das vendas do Brasil para a China – maior parceira comercial do país – corresponderam a itens produzidos pela indústria de transformação.
Diferentemente do que ocorre na relação com os chineses, as vendas do Brasil para a UE têm expressiva participação da indústria. A expectativa é que, uma vez que se facilitem as trocas comerciais entre brasileiros e europeus, os bens industriais continuem em destaque, o que será positivo para o setor nacional.
Essa é uma aposta da própria Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo o presidente da entidade, Robson Braga de Andrade, a entrada em vigor do acordo com a União Europeia "será uma contribuição importante para a reindustrialização do país, sem a qual nossa economia continuará indefinidamente num ciclo de estagnação ou baixo crescimento".
Levantamento da CNI mostra que o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia deve beneficiar cerca de 2.800 produtos industriais vendidos pelo Brasil para os países europeus. Uma vez que a parceria entre em vigor, quatro em cada dez bens industriais exportados pelo país teriam as tarifas zeradas ao entrar na Europa.
O senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão do Senado sobre Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul, ressalta que, ao contrário do que se propaga, o agronegócio brasileiro não será o único a sair ganhando caso as negociações entre europeus e sul-americanos cheguem a um final feliz.
"Eu penso que sim [é uma maneira de diversificar nossas exportações], porque forma-se uma cadeia virtuosa a partir do momento em que você estimula a questão do agronegócio e a questão da indústria. Um puxa o outro. Vejo um horizonte muito positivo para que a gente possa promover de uma vez por todas o desenvolvimento social com geração de emprego e renda", pontua.
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O saldo da balança comercial de abril deste ano foi de U$ 8,2 bilhões, igualando-se com o número de abril do ano passado, segundo divulgou a Fundação Getúlio Vargas no Indicador de Comércio Exterior (Icomex). Na comparação entre os anos, o valor exportado recuou 5,5%, puxado pela queda de 9,5% nos preços, visto que o volume aumentou em 4,1%. Já a variação nas importações também foi negativa, com uma queda de 7,7%, explicada pela queda de 10,6% nos preços, pois o volume aumentou 3,2%.
No acumulado do ano até abril, o valor exportado cresceu 1,6%, com aumento de 4,4% no volume e queda de 2,3% nos preços. Já as importações no mesmo período tiveram recuo de 1,2% nos preços, 1,3% no volume e 2,3% no valor.
As exportações de commodities correspondem a 68,3% das exportações totais e recuaram, na comparação mensal do mês de abril, em 7,4%. A queda dos preços em 10,4% explica esse recuo, pois o volume aumentou em 3%. As variações dos preços, volume e valor para as não commodities foi negativa. No acumulado do ano, a participação das commodities foi de 66,8% nas exportações totais.
Já no quesito importações, as não commodities responderam por 89,5% em abril, um aumento de 2,8% de volume e queda de 8,2% nos preços. Já as commodities tiveram um recuo de 27,7% nos preços e crescimento de 7,1% no volume.
O setor da agropecuária foi o único setor que registrou variação positiva no valor exportado, de 10,6%, na comparação mensal do mês de abril, explicada pelo aumento de 20,1% no volume exportado, já que os preços recuaram 8,2%. As exportações do setor responderam por 32% do valor total de exportações brasileiras em abril deste ano. Em abril do ano passado, esse percentual era de 27%.
Entre as 23 principais commodities exportadas pelo Brasil, a participação da soja em grão foi de 41,6% no grupo de commodities e 28,3% no total das exportações brasileiras.
O analista da Safras e Mercado Luiz Fernando Gutierrez Roque explica sobre a situação da soja neste ano. “De uma forma geral indica uma recuperação brasileira nesta temporada frente ao ano passado, principalmente no caso da soja, que ano passado a gente teve uma quebra muito grande na produção por conta do La Niña, que afetou a região Sul e parte do Mato Grosso do Sul. Nesse ano a gente está confirmando a colheita de uma supersafra, uma safra recorde de soja, porque todos os estados do Brasil estão colhendo muito bem, com exceção do Rio Grande do Sul, que de novo teve alguns a problemas”, relatou.
A agropecuária é a principal fonte de dinamismo das exportações brasileiras até o momento, liderada pelo aumento do volume. A soja lidera no primeiro semestre do ano, e a continuação desse papel central depende das outras exportações agrícolas no segundo semestre.
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O déficit do país na balança comercial de produtos químicos atingiu US$ 15,5 bilhões até abril. Isso representa uma retração de 10,3% na comparação com igual período de 2022. O montante chegou a US$ 61,2 bilhões nos últimos 12 meses, com redução de US$ 1,8 bilhão frente ao recorde de US$ 63 bilhões em 2022. Os dados são da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).
Para a diretora de Economia e Estatística da Abiquim, Fátima Giovanna Coviello Ferreira, é importante ter uma uma política de Estado de longo prazo, que faça frente aos desafios estruturais da competitividade e que viabilize a atração de investimentos produtivos ancorados em sustentabilidade. Ela também reforça a necessidade de ações imediatas e de alto impacto em termos de política comercial no contexto do agravamento do cenário conjuntural.
“Continuamos defendendo uma agenda estruturante e inovadora, com projeto de desenvolvimento industrial de médio e longo prazos, mas entendemos ser indispensável e urgente uma política comercial pragmática que priorize a retomada imediata dos níveis tarifários regulares, e que combata sistematicamente os surtos de importação restabelecendo um ambiente de negócios seguro, leal e que traga benefícios a todos os brasileiros”, avalia.
As importações de produtos químicos tiveram um recuo de 6,6% em comparação com o mesmo período do ano passado. Nos quatro primeiros meses do ano, o setor movimentou praticamente 16 milhões de toneladas. Os números se concentraram nas retrações de aquisições de 7,9% em produtos inorgânicos e de 10,1% em produtos orgânicos, grupos mais representativos em termos de quantidades adquiridas.
No entanto, no primeiro quadrimestre de 2023 foram registrados aumentos significativos dos volumes importados de resinas termoplásticas (29,9%), de fibras sintéticas (16,1%) e de aditivos de uso industrial (2,4%), em grande medida adquiridos de origens asiáticas com preços expressivamente inferiores àqueles praticados em igual período do ano anterior.
Segundo a diretora da Abiquim, esse fato preocupa demasiadamente, uma vez que esses surtos de importação ocorrem em grupos estratégicos de produtos químicos, materializando os danos na balança comercial, decorrentes da aceleração da deterioração das condições de competitividade. Esse fato também é verificado na elevação do grau de ociosidade do uso da capacidade instalada das plantas nacionais, aponta a representante.
Em termos monetários, até abril, registrou-se uma diminuição de 10,1% no valor importado (de US$ 22,8 bi para US$ 20,5 bi), sendo que os produtos para o agronegócio (fertilizantes e seus intermediários - US$ 4,8 bi; e defensivos agrícolas - US$ 1,7 bi) e farmacêuticos (US$ 5,8 bi) representaram 59,7% da pauta de importação. Em bases mensais, as importações se estabilizaram no patamar de US$ 5 bi e as exportações em US$ 1,1 bilhão.
A indústria química brasileira tem um regime diferenciado de tributação, o Regime Especial da Indústria Química (Reiq). Ele foi criado com o objetivo de equilibrar a competitividade do setor químico brasileiro. O presidente da Frente Parlamentar Mista pela Competitividade da Cadeia Produtiva do Setor Químico, Petroquímico e de Plástico e da Química Fina, o deputado Afonso Motta (PDT-RS), diz que a manutenção do Reiq é importante para que o setor consiga ter mais condições de competir com o mercado.
“A indústria química brasileira não tem condições de competir com a indústria química global, não só com relação a essa questão do Reiq, mas também com relação à competitividade mostrando a diferença entre a indústria brasileira e a indústria global. Por isso, vamos continuar trabalhando para assegurar a valorização de um setor que é responsável por mais de 2 milhões de empregos diretos e indiretos no nosso país, com um faturamento superior a US$ 200 bilhões por ano", ressalta.
Em 2022, o Congresso Nacional derrubou o veto que revogava a manutenção do Regime Especial da Indústria Química (Reiq) até 2027. Com a derrubada do veto, o texto, que já tinha sido aprovado pelo Congresso, foi restabelecido e o setor terá uma redução gradual do regime.
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O acordo comercial Mercosul-União Europeia pode acrescentar entre US$ 85 bilhões e US$ 125 bilhões à economia brasileira em 15 anos. Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior. Os investimentos no país nesse mesmo período podem alcançar US$ 113 bilhões.
O acordo comercial entre o grupo de sul-americanos e o bloco europeu foi fechado em junho de 2019, depois de 20 anos de negociações. O texto prevê que, em um intervalo de até 15 anos, mais de 90% do comércio de produtos entre os países que integram os dois blocos econômicos terão os impostos de importação zerados.
Alguns detalhes, como questões ligadas à pauta ambiental, ainda estão em discussão. Segundo o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, no fim de abril os europeus enviaram um documento adicional como requisito para a realização do acordo. A proposta foi considerada "dura" e "difícil" pelo chanceler, que pretende discutir os termos com os demais parceiros do Mercosul.
O ministro Mauro Vieira afirmou que o governo brasileiro está comprometido com a conclusão do acordo no último dia 10, durante o lançamento da Frente Parlamentar Mista do Comércio Internacional e do Investimento (FrenComex), no Palácio do Itamaraty. "Estamos engajados com a finalização das negociações do acordo entre Mercosul e União Europeia, buscando assegurar o equilíbrio do instrumento."
Para o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão do Senado sobre Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul, é normal que as conversas para a conclusão do acordo não sejam tão rápidas quanto poderiam ser, por causa da quantidade de países envolvidos nas negociações.
"Não é fácil um acordo entre dois países. É moroso. Imagine um acordo entre dois grupos de países. Há que se ter uma tolerância, uma paciência justificável para que se possa tramitar nos parlamentos de cada país envolvido, a fim de que essa questão possa ser devidamente exaurida", afirma.
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A União Europeia é composta por 27 países. Eles compartilham uma moeda única comum, o euro, e os cidadãos e mercadorias dos 27 países podem circular livremente entre os membros do bloco. Mas a parceria se estende para além da economia. No campo das decisões políticas, destaca-se o Parlamento Europeu, o órgão legislativo da União Europeia.
Já o Mercosul é formado agora por quatro países membros: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. A Venezuela, que também era país membro do bloco, foi suspensa em 2017 pelos demais países por "ruptura da ordem democrática".
De janeiro a abril, as exportações brasileiras do agronegócio alcançaram recorde de U$50,6 bilhões, o que mostra um crescimento de 4,3% na comparação com o mesmo período de 2022, quando as vendas foram de US$48,53 bilhões.
O economista e pesquisador da Unicamp Felipe Queiroz explica que o aumento da exportação se deve também ao aumento da produção, provocado por condições climáticas propícias no período. “Tivemos chuvas abundantes nesse início de ano, que favoreceu parte do agronegócio, as chuvas especialmente na região Centro-Oeste, Sul e Sudeste, isso favoreceu muito a produção agrícola”, elucidou.
Segundo análise da Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária, além do aumento da quantidade exportada, que foi de 2,3%, a expansão também se deve ao índice de preço dos produtos, que subiu 1,9%.
Assim, o agronegócio representou quase metade das vendas externas totais do Brasil em 2023, com participação de 49%. No ano anterior, a participação do agronegócio na exportação do país foi de 47,7%. O total de exportações brasileiras registrou um crescimento de 1,6%, puxado pelo agronegócio, uma vez que os outros setores tiveram queda de 0,8% no período.
“Então, neste ano, nós temos já projeção de safra recorde pelo IBGE, os dados já indicam isso, tivemos um aumento tanto na quantidade, e o resultado veio aí, principalmente no saldo da balança comercial do setor”, contextualizou o economista Felipe Queiroz.
As exportações do complexo soja (grão, farelo e óleo), carne de frango e suína, milho, celulose e etanol foram recordes no quadrimestre.
A soja em grãos registrou exportações de 14,34 milhões de toneladas em abril, um aumento de 25%. O preço médio de exportação, contudo, caiu 8,3% em relação a abril do ano passado. A queda no valor acontece pela perspectiva de oferta da oleaginosa nesta safra, que apresenta o maior nível de produção mundial da história, com boas perspectivas para Estados Unidos, China, Índia e recorde histórico no Brasil. A China é a principal importadora do Brasil, adquirindo 70% do volume exportado da oleaginosa.
Já as carnes bovina, suína e de frango devem ter ganhos importantes ao longo do ano. Apesar da redução mensal das exportações de carne bovina em abril, as exportações de carne de frango subiram 3,2% em relação ao mesmo período do ano passado, tendo somado neste mês de abril U$826 milhões. A carne suína teve um aumento de 16,4% na quantidade exportada e de 12,1% no preço médio da exportação, somando embarques de U$249,40 milhões.
As carnes de frango e suína produzidas no Brasil se beneficiam de limitações de oferta na Ásia por problemas sanitários locais, principalmente a Peste Suína Africana e a Influenza Aviária.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que o governo brasileiro está engajado na conclusão de um acordo equilibrado entre Mercosul e União Europeia. A declaração do chanceler ocorreu nessa quarta-feira (10), durante o lançamento da Frente Parlamentar Mista do Comércio Internacional e do Investimento (FrenComex), no Palácio do Itamaraty.
"Estamos engajados com a finalização das negociações do acordo entre Mercosul e União Europeia, buscando assegurar o equilíbrio do instrumento", afirmou Mauro Vieira.
O acordo comercial entre sul-americanos e europeus foi fechado em junho de 2019, depois de 20 anos de negociações. O texto prevê que, em um intervalo de até 15 anos, mais de 90% do comércio de produtos entre os países que integram os dois blocos econômicos terão os impostos de importação zerados.
Alguns detalhes, como questões ligadas à pauta ambiental, ainda estão em discussão pelos dois blocos econômicos. O objetivo do governo brasileiro, segundo o presidente Lula, é finalizar as tratativas até o meio deste ano.
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior, o acordo pode incrementar um valor entre US$ 85 bilhões e US$ 125 bilhões à economia brasileira em 15 anos. Os investimentos no país nesse mesmo período podem alcançar US$ 113 bilhões.
Em seu discurso de posse como presidente da FrenComex, o deputado federal Da Vitória (PP–ES) destacou que os integrantes do Mercosul aguardam com expectativa a conclusão do acordo e que a parceria com a União Europeia será positiva para a economia brasileira.
"O acordo de livre comércio com a União Europeia é um tema de grande interesse não só para o Brasil, mas para nossos vizinhos. Trata-se de parceria com potencial de grande impacto para a economia dos nossos países e oportunidade ímpar para abertura de novos mercados aos produtos brasileiros e ainda poderá contribuir para o incremento da competitividade do Brasil."
O senador Nelsinho Trad (PSD-MS) afirmou que, além de buscar a conclusão de acordos comerciais com outros países, a FrenComex tem o objetivo de promover políticas públicas para fortalecer o comércio exterior, dando competitividade às empresas brasileiras no cenário internacional.
Segundo o ex-secretário do Comércio Exterior Welber Barral, presidente do Instituto Brasileiro de Comércio Internacional e Investimentos (IBCI), é preciso destacar a relação crescente entre comércio e meio ambiente. "As políticas públicas que aparecem para o Brasil como oportunidades, mas também como riscos, envolvem mercado de carbono, mercado de hidrogênio, emissões, barreiras de carbono no exterior, redirecionamento de investimentos em razões de riscos e oportunidades ambientais."
Barral ressaltou que o país precisa solucionar dois entraves para as empresas brasileiras que atuam no comércio exterior. O primeiro deles é o baixo financiamento para as exportações. "O financiamento à exportação brasileira está praticamente imobilizado nos últimos 5 anos e o Brasil vem perdendo mercado não só na vizinhança, mas na África e em outros destinos, pela falta de uma estrutura mais ativa que deve ser implementada no que se refere ao financiamento à exportação", disse.
O segundo entrave é o sistema tributário brasileiro, que ele classificou como o "pior do mundo". Para Barral, o país tem a chance de promover uma reforma tributária que atenda, também, às demandas dos exportadores nacionais, como a acumulação de crédito e a tributação da cadeia produtiva.
Durante o evento, os participantes também destacaram que o Brasil não pode ficar de fora das discussões em torno do desenvolvimento econômico sustentável. Eles criticaram o chamado "protecionismo verde", estratégia pela qual um país se vale da pauta ambiental como disfarce para adotar medidas protecionistas no comércio.
O PIB da cadeia produtiva da soja e do biodiesel registrou R$ 673,7 bilhões de reais no ano passado, cerca de 27% de todo o agronegócio nacional. Além disso, no mesmo período, a cadeia registrou 10,8% dos empregos, com mais de 2 milhões de pessoas empregadas, e 38% das exportações do agronegócio brasileiro, num total de US$61,3 bilhões.
Esses dados foram apresentados num levantamento inédito feito numa parceria entre o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE).
O presidente da ABIOVE, André Nassar, explicou como surgiu o estudo e a importância de se traçar um panorama geral da soja e do biodiesel. “Esse projeto começou principalmente por conta do debate sobre o biodiesel, mas depois a gente entendeu que era necessário não olhar apenas a etapa do biodiesel, mas olhar a cadeia da soja como um todo, olhar a parte do processamento da soja. A ideia com esse trabalho é gerar informação de qualidade, informação boa, feita com gente boa, de uma cadeia super importante para o Brasil”, elucidou.
Na comparação entre 2010 e 2022, a cadeia da soja e do biodiesel cresceu 58%, enquanto o agronegócio teve uma alta de 8% e a economia brasileira de 12%. Esses dados mostram o aumento consistente da disponibilização de produtos ao consumidor final.
O diretor de economia e assuntos regulatórios da ABIOVE, Daniel Furlan, comentou sobre como os dados da pesquisa são uma visão geral da cadeia de soja e de biodiesel, abrindo assim novas oportunidades para o setor. “O quanto a gente pode fazer muito mais observando o tamanho que a gente tem da safra de soja, o quanto a gente pode gerar de mais produtos, mais PIB e mais empregos. Aumentar a nossa capacidade de exportações de farelo, de óleo e quem sabe até de biodiesel”, contou Furlan.
O estudo mostrou que, nos últimos 10 anos, entre 2012 e 2022, o número de pessoas ocupadas na cadeia de soja e biodiesel cresceu mais de 80%. Com isso, a participação como geradora de empregos no agronegócio cresceu de 5,8% para 10,8%.
A professora e pesquisadora do Cepea Nicole Rennó, uma das coordenadoras do estudo, contextualizou outro aspecto importante apresentado pela pesquisa: a relação entre o crescimento da produção rural e a exportação. “A produção no campo tem crescido de forma mais acelerada do que o processamento, e uma forma de a gente enxergar isso, que utilizamos, é esse crescimento e participação das exportações no total da produção de soja. E essa participação foi crescente ao longo do período”, explicou.
A maior parte do material exportado é soja em grãos, que corresponde a 78% do peso exportado em 2022. Apesar da redução na participação, devido às importações crescentes do Sudeste Asiático, África e Oriente Médio, a China ainda é o país que mais importa, com 52,61% do total exportado da cadeia.