Brasil registrou 709 casos em 2024, uma média de 40 a 50 novas infecções por mês
O Brasil registrou 709 casos confirmados ou prováveis de Mpox em 2024, uma média de 40 a 50 novas infecções por mês, segundo o Ministério da Saúde. Em agosto de 2022, quando o país teve um pico da doença, foram contabilizadas mais de 40 mil notificações. Um ano depois, em agosto do ano passado, o número caiu para pouco mais de 400.
Nesta quarta-feira (14), a Organização Mundial da Saúde chegou a declarar o surto de Mpox em curso na África como emergência de saúde global. A entidade convocou o comitê de emergência sobre a doença em meio ao receio de que uma cepa mais perigosa do vírus, o clado Ib, tivesse atingido quatro províncias da África anteriormente não afetadas.
Durante o webinário "Situação Epidemiológica e Resposta à Mpox no Brasil", realizado nesta terça-feira (13) pela pasta, o diretor do Departamento de Emergências em Saúde Pública do Ministério da Saúde, Márcio Garcia, reforçou que o Brasil não está em situação de emergência de saúde pública, mas recomenda que estados e municípios façam a vigilância local dos casos.
“Precisamos estar atentos para fortalecer a nossa vigilância, nossas estratégias de detecção, para que a gente possa ter uma detecção oportuna, caso o cenário epidemiológico no Brasil venha a sofrer alguma alteração. Mas destacar principalmente a importância das vigilâncias em nível local, nos municípios e nos estados. Cada local se organiza de uma forma. No Ministério da Saúde, a vigilância de Mpox está no Departamento de HIV, Aids, Tuberculose e Hepatites. Então, a gente respeita muito a autonomia de municípios e estados.”
As amostras biológicas colhidas pelos municípios podem ser encaminhadas para um dos 27 Laboratórios Centrais de Saúde Pública (LACENs) ou um dos três laboratórios de referência nacional que realizam exame diagnóstico para Mpox. Segundo o Ministério da Saúde, todo o país está abastecido com insumos para a testagem.
A Mpox é uma doença zoonótica viral, ou seja, a transmissão pode acontecer tanto pelo contato com pessoas e materiais contaminados com o vírus quanto com animais silvestres infectados.
Os principais sintomas são:
A infectologista Joana D’arc Gonçalves detalha os sintomas:
“No início, são sintomas inespecíficos, como febre, mal-estar, dor de cabeça, dor no corpo. Depois de alguns dias, a febre vai diminuindo e começam a aparecer algumas manchas no corpo, que acabam evoluindo para algumas bolhas. E essas bolhas evoluem para uma crosta que, com os dias, caem. Geralmente as feridas são muito comuns na palma das mãos, planta dos pés. Mas alguns indivíduos podem ter lesões no corpo inteiro, na mucosa oral, vaginal, órgãos genitais. E os sintomas podem ser desde leves até graves e algumas pessoas podem até vir a óbito.”
O tratamento é feito com medidas de suporte clínico para aliviar os sintomas e prevenir complicações e sequelas. “O tratamento para quem está infectado de forma grave, severa, com muitas lesões disseminadas pelo corpo, alguns hospitais têm utilizado antivirais como tecovirimat e outros como uma tentativa de controle da disseminação da doença. Mas muita coisa está em estudo ainda para ver a questão de eficácia e de segurança”, explica a infectologista.
Uma vez que a transmissão do vírus Mpox ocorre por contato com gotículas e outras secreções respiratórias, a principal recomendação é que as pessoas doentes fiquem em casa.
“Para a pessoa que está doente, [a recomendação é] para que ela fique em casa pelo menos até que as crostas caiam, até que as feridas sequem. Depois também evitar tocar em objetos, cobrir a lesão, para não contaminar o ambiente. E caso [precisar] sair e ter em contato com outras pessoas, o ideal é usar máscara para evitar a disseminação das gotículas infectantes”, orienta.
Para quem não está infectado, a doutora Joana D’arc recomenda a vacinação. Atualmente, o imunizante contra a Mpox está disponível gratuitamente no SUS para pessoas com maior risco de evolução para as formas graves da doença, como:
Saiba mais no site do Ministério da Saúde.
As farmácias autorizadas a realizar testes de HIV, sífilis, hepatites virais e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) devem ficar atentas à nota técnica publicada pelo Ministério da Saúde (MS). Segundo o documento, elas precisam atender aos requisitos previstos na resolução da Anvisa (RDC Nº 786/2023), que exige local e profissionais legalmente habilitados para realizar os exames.
Além disso, diferentemente das farmácias comuns, esses estabelecimentos devem estar integrados à rede de diagnóstico, assistência à saúde e vigilância.
A professora do curso de Farmácia da Universidade de Brasília (UnB) Micheline Marie Meiners destaca o papel das farmácias na prestação de serviços de saúde à comunidade.
“A farmácia é considerada um estabelecimento de saúde que vai prestar serviços à comunidade, tanto na dispensação e venda dos medicamentos, como de outros serviços farmacêuticos, entre eles, a realização dos testes rápidos, a aplicação de vacinas, de injetáveis, a consulta farmacêutica, entre outras coisas.”
A professora Micheline Meiners reforça a importância das farmácias terem um profissional bem capacitado para realizar os exames rápidos de ISTs. “No caso, o farmacêutico com capacitação e habilitação na área pode realizar o teste em uma farmácia que tenha recebido licenciamento sanitário para realizar essa atividade”.
“É muito importante que os profissionais estejam capacitados, até para que os resultados não sejam comprometidos. Hoje, durante a formação do farmacêutico, tanto os testes rápidos como a aferição de alguns outros parâmetros — como pressão arterial, glicemia capilar, oximetria — já são abordados em disciplinas no curso”, recomenda.
A especialista também detalha os cuidados antes da realização dos testes.
“Dentro da farmácia tem que ter um local para a realização desses testes. Nesse local, o profissional deve se paramentar, ou seja, colocar os equipamentos de proteção individual para realizar os procedimentos: luvas, máscara e jaleco. Todos os materiais que vão ser usados devem ser descartáveis e ser mostrados à pessoa que vai realizar o teste para mostrar que todo o material é descartável e está adequado.”
Os testes rápidos para detecção de ISTs geralmente são feitos por meio de punção digital, ou seja, uma pequena gota de sangue extraída da ponta do dedo do paciente. Micheline Meiners reforça a importância da higienização para a coleta do material.
“O local onde vai ser feita a punção digital deve ser higienizado com álcool 70%. Essa punção deve ser realizada com uma lancetadora descartável e todo o material utilizado deve ser descartado corretamente. Após a realização do teste rápido, o farmacêutico deverá entregar à pessoa uma declaração de serviço farmacêutico com o resultado do teste realizado. O resultado pode ser reagente, não reagente, ou o teste foi inválido por algum motivo.”
Em nota ao portal Brasil 61, o Ministério da Saúde informou que o teste rápido tem a finalidade de triagem, sem fins confirmatórios, já que “a conclusão do diagnóstico permanece sendo feita apenas pelo serviço de saúde”.
A nota técnica do Ministério da Saúde traz ainda orientações para a realização dos testes rápidos de ISTs em crianças e adolescentes. De acordo com o documento, quando se tratar de:
O Ministério da Saúde informa ainda que os exames realizados em farmácias autorizadas que positivarem para HIV não deverão ser notificados. No entanto, a pasta recomenda que o estabelecimento crie um fluxo com as vigilâncias epidemiológicas locais para informação e encaminhamento dos casos reagentes identificados.
Farmácia Popular: Veja lista com novos medicamentos ofertados
Em 2022 foram registrados 36.753 casos de aids no Brasil, de acordo com dados mais recentes do Ministério da Saúde. O número representa um aumento de 20% quando comparado com 2020. Mesmo com todo o avanço na ciência e no tratamento, em 2022 foram 10.994 mortes tendo o HIV ou aids como causa básica. Por isso o assunto ainda é problema de saúde pública no país.
Para o tratamento, 5,6 milhões de novos medicamentos de dose única diária foram distribuídos aos estados pelo Ministério da Saúde. Eles são uma combinação inédita de dois medicamentos: os antirretrovirais dolutegravir 50mg + lamivudina 300mg. Antes esse tratamento era feito com combinações de várias medicações.
Inicialmente, o paciente precisa atender a alguns critérios para mudar a medicação, como ter a partir de 50 anos de idade; adesão regular ao tratamento; carga viral menor que 50 cópias no último exame — e ter iniciado a terapia até 30 de novembro de 2023.
Além dos cuidados com a saúde em geral, como manter a vacinação em dia, alimentação equilibrada e fazer atividade física, a infectologista Ana Carolina D'Ettorres fala sobre o maior cuidado que a pessoa que vive com o vírus deve ter.
“É justamente tomar a medicação adequada e contínua. São raríssimas as situações em que é suspensa a medicação hoje em dia e isso deve ser acompanhado de perto por um infectologista, mas se você inicia um tratamento de forma regular, contínua, com acompanhamento de um profissional de saúde, a pessoa que convive com o HIV vai ter uma qualidade de vida melhor ou igual às pessoas que não vivem com o HIV”, comenta.
O ativista Christiano Ramos, de 56 anos, fundador da ONG Amigos da Vida, teve o diagnóstico do HIV em 1988, aos 18 anos.
“No ano de 1994 eu fui um doente terminal de aids e consegui sair do quadro porque naquele ano tinha surgido as primeiras medicações do HIV. O que eu diria é que viver com aids é possível — e que não é mais uma sentença de morte, é apenas uma limitação de vida, mas é uma doença crônica tratável como qualquer outra”, relata.
Em 2023, o Ministério da Saúde investiu mais de R$ 1,8 bilhão em medicamentos contra o vírus, como parte da estratégia da pasta para eliminar o HIV como problema de saúde pública.
Em Minas Gerais, 12 municípios localizados nas regiões Central, Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, Sul e Zona da Mata, atingiram a meta de eliminação da transmissão de HIV e/ou sífilis como problema de saúde pública. Os Selos de eliminação e de boas práticas, foram divididos em ouro, prata e bronze. As entregas ocorreram na última sexta-feira (8).
Rodrigo Molina, infectologista, salienta a importância de medidas preventivas na redução das infecções pelo HIV. O infectologista ressalta que o governo desempenha um papel crucial na prevenção do aumento de casos.
“A prevenção deve envolver uma combinação de métodos recomendados, além do uso de preservativos, que não só protegem contra o HIV, mas também contra outras infecções sexualmente transmissíveis, como sífilis, herpes e gonorreia. Outra opção é a profilaxia pré-exposição, um medicamento oferecido pelo SUS. Isso significa que a pessoa pode considerar essa alternativa para se proteger contra o HIV e Aids”, avalia
O infectologista enfatiza a importância do diagnóstico precoce do HIV, pois pode prevenir o avanço da doença e reduzir o risco de contágio para outras pessoas. Ele acrescenta que, com tratamento adequado, o risco de transmissão é praticamente eliminado.
“O diagnóstico precoce é crucial para iniciar o tratamento o mais rápido possível. Quanto mais rápido o diagnóstico, mais cedo podemos iniciar o tratamento, permitindo à pessoa em tratamento minimizar danos, evitando a progressão para estágios avançados da doença. Sabemos que pessoas em tratamento podem alcançar níveis indetectáveis de vírus no sangue. Atualmente, para quem tem carga viral indetectável, o risco de transmissão é praticamente zero”, explica.
O médico também destaca o papel do Sistema Único de Saúde (SUS) no fornecimento de preservativos masculinos e femininos, bem como na realização de exames e no acompanhamento contínuo da população.
De acordo com os Indicadores e Dados Básicos do HIV/AIDS nos Municípios Brasileiros, ao todo, em 2023, foram contabilizados 1.029 casos de Aids em Minas Gerais. Sendo 763 homens, 266 mulheres, 1 criança menor de 5 anos e 116 jovens de 15 a 24 anos de idade.
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Quatro estados e 73 municípios brasileiros apresentaram boas práticas para erradicar as doenças
Quatro estados e 73 municípios receberam certificados e selos de boas práticas por se empenharem na eliminação da transmissão vertical de HIV e/ou sífilis. O aumento foi de 70% com relação ao ano passado. De 43 em 2022, o número passou para 73 em 2023. Do total, 45 receberam algum tipo de certificação para o HIV; três deles, algum tipo de certificação para sífilis; e 25 receberam certificado ou selo duplo para HIV e sífilis. Ao todo, 90 municípios e quatro estados solicitaram a certificação. Os estados de São Paulo e Paraná alcançaram a eliminação da transmissão vertical de HIV e o Selo Bronze em Sífilis. Distrito Federal e Sergipe recebem o Selo Prata para HIV.
A infectologista do Centro Especializado em Doenças Infecciosas (CEDIN) do Distrito Federal (DF), Joana D’arc Gonçalves da Silva, explica que essas são doenças tratáveis, mas que precisam de mais suporte do poder público para diminuir o número de casos e continuar garantindo mais certificados.
“Nós sabemos que as questões relacionadas à saúde são um desafio para a sociedade, para o governo, para todos nós. Então, cada um tem que fazer a sua parte. Mas o poder público tem que investir mais no que existe de infraestrutura para garantir que o indivíduo consiga ter acesso às consultas, ao tratamento de uma forma facilitada”, observa.
Mesmo com o resultado, o médico infectologista, Francisco Job, diz que ainda nao é hora de comemorar.
“É um objetivo mais ou menos modesto, o ideal seria que nós tivéssemos 100% de pessoas tratadas e com carga viral zero, mas é um objetivo que nós no Brasil ainda não alcançamos. É uma grande quantidade de infecções todos os anos, em especial em populações tremendamente vulneráveis”. Para ele, é preciso mais participação do poder público. “Com um pouquinho mais de investimento, é possível que nós consigamos erradicar a incidência do HIV nas próximas décadas”, acredita.
O médico infectologista, Hemerson Luz, aposta no tratamento precoce como a melhor maneira de controlar a doença. “Dentre as medidas de enfrentamento, certamente, facilitar o acesso da população aos testes diagnósticos, aos serviços básicos de saúde, tem uma importância muito grande, pois quanto mais precoce o diagnóstico, mais fácil é de fazer o enfrentamento e o tratamento. E considerando que a sífilis, pode ser congênita, é uma complicação que ainda pode causar muitos problemas para a criança”, lamenta.
A médica do Centro Especializado em Doenças Infecciosas (CEDIN) do Distrito Federal (DF), Joana D’arc Gonçalves da Silva, concorda: “As testagens são fundamentais, porque se as pessoas testam, a gente tem como saber como está a nossa população, quantos infectados, quantos precisam de tratamento, os riscos associados às complicações, em que fase da doença as pessoas estão. E aí o governo pode se organizar para liberação de recursos, para planejamento”, desabafa.
Na opinião da especialista, o medo e a vergonha ainda impedem o tratamento precoce. “Cada cidadão tem que ter essa consciência. Não tenha medo. Hoje você pode comprar numa farmácia, você pode ir nos centros de testagem, que traz tudo isso de forma gratuita, você não vai ter custo. Geralmente nesses locais as pessoas são bem qualificadas, elas são treinadas para te receber, para acolher. E a testagem faz parte dessa prevenção”, salienta.
O médico Francisco Job acrescenta uma outra preocupação. Segundo o especialista, é possível fazer a prevenção desde que todos os testes e cuidados sejam realizados criteriosamente durante o pré-natal. Para ele, quanto mais oportuno o pré-natal, maior é a probabilidade de sucesso para evitar a transmissão vertical durante a gestação, o parto ou o aleitamento.
“Dependendo do empenho que cada município tenha em identificar as mulheres que estão gestantes em um pré-natal de boa qualidade e principalmente conseguir que essas mulheres permaneçam no pré-natal fazendo todas as consultas e fazendo todos os exame, é possível melhorar esse quadro”, avalia.
Segundo informações do Ministério da Saúde, a certificação de eliminação é feita seguindo os critérios e etapas estabelecidos no Guia para Certificação da Eliminação de Transmissão Vertical de HIV e/ou Sífilis. Para isso, municípios devem ter, no mínimo, 100 mil habitantes e assim como os estados, devem manter critérios básicos e alcançar as metas de eliminação a partir dos indicadores de impacto e de processo.
O Selo de Boas Práticas Rumo à Eliminação da Transmissão Vertical de HIV e/ou Sífilis nas categorias bronze, prata ou ouro são aplicados de acordo com as localidades que alcançarem indicadores próximos da eliminação.
A pasta ainda informa que o SUS fornece insumos para prevenção, diagnóstico e tratamento, como preservativos, testes rápidos e laboratoriais, fórmula láctea, antibióticos e antirretrovirais.
Confira a lista dos municípios:
Hospital espera um público de 500 pessoas para as testagens
Na próxima quarta-feira (13), o Hospital Estadual de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad (HDT), em Goiânia, vai promover uma ação de conscientização alusiva ao Dezembro Vermelho, mês de combate ao HIV. São esperadas aproximadamente 500 pessoas para as testagens. Karine Medeiros, diretora técnica do HDT, destaca como será feita a ação.
“Para participar, o público tem que se dirigir ao HDT, onde estaremos com uma tenda na área externa do estacionamento, próximo ao setor do ambulatório. Então é só se dirigir a essa tenda no dia 13 de dezembro, das 8h às 17h, para fazer a testagem do teste rápido de HIV”, explica.
O resultado sai em torno de 30 a 40 minutos. Pessoas com resultado positivo no teste receberão orientação de médicos, psicólogos e enfermeiros, com total sigilo, sobre o tratamento adequado. Além disso, serão distribuídos preservativos, materiais educativos e mini palestras sobre Profilaxia Pós-Exposição (PEP) e Profilaxia Pré-Exposição (PrEP).
Para participar, os interessados devem apenas comparecer ao local indicado portando um documento de identificação com foto. Até o momento em 2023, Goiás apresentou uma taxa de incidência de cerca de 23 casos de HIV e 6 casos de Aids por 100 mil habitantes, totalizando 1.599 novos casos de HIV e 425 casos de Aids no estado.
De acordo com o boletim de ISTs da Secretaria de Saúde de Goiás, de 2018 a 2023 o estado registrou 1.718 mortes relacionadas à Aids, sendo a maioria em jovens do sexo masculino. Durante esse período, foram notificados 9.850 casos de HIV, com cerca de 8 mil casos concentrados em homens de 20 a 49 anos.
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Goiás registra cerca de 23 casos de HIV e 6 casos de Aids por 100 mil habitantes em 2023
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No Rio Grande do Sul, o aumento das infecções por HIV e Aids continua sendo um desafio de saúde pública. De 2020 a 2022, houve um crescimento de 3% nos casos de infecção pelo HIV, passando de 2.836 notificações para 2.920 no ano passado. De acordo com o Boletim Epidemiológico do HIV e da Aids 2023, o estado está na sexta posição de maior índice no país, com 23,9 casos por 100 mil habitantes.
Em relação ao índice de mortalidade, o Rio Grande do Sul lidera com 7,3 mortes por 100 mil habitantes, superando a média nacional de 4,1. Em 2022, o estado registrou 1.130 mortes com a Aids como causa básica notificada. Os dados do boletim vão até o dia 30 de junho de 2023, cobrindo assim apenas o primeiro semestre do ano.
De acordo com a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul, a situação epidemiológica do HIV/Aids está ligada a desigualdades sociais e a permanência de estigmas e preconceitos a respeito da doença. O médico infectologista Hemerson Luz também atribui a desinformação de como o HIV é transmitido, quais os primeiros sintomas e locais de testagem ao aumento das transmissões.
“Além do próprio preconceito e esses acessos que podem ter uma relação direta com as condições sociais, sabemos que as pessoas em estado de vulnerabilidade, ou mesmo que estejam com menor acesso ao poder aquisitivo têm uma menor possibilidade de alcançar esses fatores preventivos”, avalia.
De acordo com os Indicadores e Dados Básicos do HIV/AIDS nos Municípios Brasileiros, ao todo, em 2023, foram contabilizados 1.206 casos de Aids no estado. Sendo 706 homens, 500 mulheres, 10 em crianças menores de 5 anos e 91 jovens de 15 a 24 anos de idade.
Porto Alegre é a capital que registrou o maior índice em um levantamento entre os dados de 2018 a 2022, que leva em consideração as taxas de detecção na população geral, mortalidade e registros em menores de cinco anos de idade.
Em relação aos 100 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes, com base no mesmo índice composto para o período (2018-2022), o Rio Grande do Sul tem seis cidades representadas: Canoas na 2ª posição, Gravataí em 7º, Novo Hamburgo em 33º, Bagé em 44º, Pelotas em 64º e Passo Fundo em 81º.
As principais ações de combate ao HIV no Rio Grande do Sul incluem:
Além disso, o estado implementa estratégias como o Projeto Geração Consciente, uma iniciativa colaborativa focada na educação sexual e reprodutiva de jovens estudantes, em parceria com a Secretaria da Saúde, a Secretaria da Educação, Unesco, Unaids e o programa RS Seguro.
Este ano, a Secretaria de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul lançou uma campanha de prevenção e diagnóstico do HIV/Aids para redes sociais e rádios. A iniciativa destaca a importância da testagem regular, do uso de preservativos e gel lubrificante, além de encorajar o acesso às profilaxias disponíveis.
A campanha enfatiza a necessidade de diagnósticos precoces e tratamento imediato, visando preservar a vida e alcançar carga viral indetectável para evitar a transmissão do vírus e faz parte do Dezembro Vermelho, uma mobilização nacional na luta contra o HIV, Aids e outras ISTs, instituída no Dia Mundial de Luta Contra a Aids, em 1º de dezembro.
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Goiás registra cerca de 23 casos de HIV e 6 casos de Aids por 100 mil habitantes em 2023
Em 2023, Goiás registrou uma incidência de aproximadamente 23 casos de HIV e 6 casos de Aids por 100 mil habitantes até o momento. Polyanna Guerreiro, coordenadora de Controle de IST/Aids, Sífilis e Hepatites, afirma que foram registrados 1.599 novos casos de HIV e 425 casos de Aids no estado.
A coordenadora destacou a importância da campanha Dezembro Vermelho em Goiás, uma iniciativa iniciada em 2017, focada na luta contra o HIV, Aids e outras ISTs. A campanha tem como objetivo aumentar a conscientização sobre prevenção, assistência e proteção dos direitos das pessoas infectadas pelo HIV.
“O estado de Goiás oferece o serviço para combater a doença, nós temos os testes rápidos, eles são distribuídos em todas as unidades de saúde do Estado, assim como nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTAs), que no estado de Goiás ao todo são 20. Também temos o serviço de assistência especializada no estado, nós temos 17. Onde ocorre o tratamento da infecção pelo vírus”, informa.
Guerreiro esclarece que o uso do preservativo é a forma mais eficaz de prevenção disponível atualmente, pois não apenas protege contra o HIV, mas também contra outras infecções sexualmente transmissíveis.
Porém há outros métodos de prevenção, como a profilaxia pré-exposição à infecção do HIV, que consiste no uso preventivo de medicamentos, antes da exposição ao vírus e reduz a probabilidade da infecção.
A profilaxia pós-exposição, que envolve o uso de medicamentos por pessoas que já foram expostas ao risco, como após uma relação sexual desprotegida ou em casos de rompimento do preservativo.
“Hoje em dia nós sabemos que o HIV tem tratamento eficaz, então quanto mais precoce o diagnóstico, mais o tratamento vai se tornar eficaz e a gente evita o avanço para desenvolver a Aids”, explica a coordenadora.
De acordo com o boletim de ISTs da Secretaria de Saúde de Goiás, entre 2018 e 2023, foram registradas 1.718 mortes por Aids no estado, sendo mais da metade entre jovens do sexo masculino. Nesse mesmo período, houve 9.850 notificações de HIV, com aproximadamente 8 mil casos em homens de 20 a 49 anos.
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Um milhão de pessoas vivem com HIV no Brasil. As mulheres apresentam piores desfechos em todas as etapas de cuidado. A estimativa é do Ministério da Saúde, segundo dados do Relatório de Monitoramento Clínico do HIV. Enquanto 92% dos homens estão diagnosticados, apenas 86% das mulheres possuem diagnóstico; 82% dos homens recebem tratamento antirretroviral, mas 79% das mulheres estão em tratamento; e 96% dos homens estão com a carga viral suprimida – quando o risco de transmitir o vírus é igual a zero – mas o número fica em 94% entre as mulheres.
O diretor do Instituto Luiz Gama, Júlio César Silva Santos, acredita que o fato de as mulheres estarem cada vez mais subjugadas no campo da sexualidade, da proteção e das informações, acaba tornando-a o público mais vulnerável.
“A gente vem observando cada vez mais meninas com 12, 11, 10 anos engravidando. Existe uma cultura que a maior preocupação é ter filhos — e não a possibilidade de contrair uma doença venérea, no caso HIV também. Então é preciso superar a barreira da ignorância para que tenhamos um menor grau de infecção entre as pessoas negras — e consecutivamente também da mortalidade”, destaca.
O levantamento mostra que, além das mulheres, as pessoas negras também fazem parte do público mais afetado pela doença. Conforme o novo Boletim Epidemiológico sobre HIV/aids apresentado pelo Ministério da Saúde, do total de 61,7% das mortes, a maior parcela é de pessoas negras (47% em pardos e 14,7% em pretos), enquanto 35,6% são brancos. Cerca de 30 pessoas faleceram de aids por dia no ano passado.
Para o médico infectologista Hemerson Luz houve sim uma mudança significativa da população afetada pela doença. “Um índice maior de infecções e mortes ocorre entre negros e negras. Isso pode ser explicado pelo maior número de barreiras para essa população alcançar os serviços de saúde e ter informações seguras sobre a doença”, explica.
Além disso, o especialista acredita que o acesso da população em geral aos métodos diagnósticos, preventivos e ao tratamento, contribuem para esse resultado. “Isso tem um impacto muito grande na mortalidade em geral, como observamos na última década”, conta.
Na opinião do diretor do Instituto Luiz Gama, Júlio César Silva Santos, por conta das limitações sociais as pessoas negras têm menos acesso à informação. “Como nós temos nas grandes periferias uma concentração maior de pessoas negras e com pessoas que cada vez mais têm um acesso menor à informação, então a incidência dessas pessoas ficarem sujeitas a contrair o HIV é maior e com o sistema imunológico menos protegido, a tendência dos problemas eles são maiores ainda”, esclarece.
O médico infectologista Francisco Jo, diz que o Brasil parou de investir nos programas voltados para certas doenças como a aids/HIV. Segundo o especialista, o governo deixou de lado estratégias importantes como a Busca Ativa — visitas de rotina nos diferentes setores que compõem os serviços de saúde, com o objetivo de identificar e investigar doenças e agravos de notificação compulsória.
“Ela era mais frequente numa época em que nós tínhamos um maior contato do programa com a atenção primária e a atenção primária fazia a Busca Ativa por ter uma maior capilaridade. Com o empobrecimento da população e a desestruturação tanto do programa quanto da atenção primária em diversos lugares do país, nós estamos fazendo muito menos diagnósticos, principalmente entre os mais pobres, onde a população negra é a grande maioria”, lamenta.
A enfermeira e Mestre em Saúde Coletiva, Epidemiologista, especialista em política, planejamento e Gestão em Saúde pública, Aline Almeida da Silva, acrescenta um outro fator: “Às vezes tem questões também de estigma, discriminação e racismo que precisam ser combatidos nos estabelecimentos de saúde para que a gente consiga captar as pessoas pretas e pardas”, pontua.
Para o médico infectologista Hemerson Luz, as políticas públicas precisam acompanhar a evolução da doença. “Isso reflete uma necessidade do Ministério da Saúde adaptar campanhas e facilitar o acesso de forma democrática a essa população mais vulnerável, levando métodos diagnósticos, preventivos, profilaxia pré-exposição e tratamento para todos, derrubando barreiras que podem ser sociais ou mesmo um racismo nessas situações”, aponta.
Ele ainda acrescenta: “Ao dar prioridade para testagem entre as classes D e E, nós teremos a possibilidade de fazer diagnóstico precoce, tratamento precoce e, portanto, diminuir a transmissão”, esclarece.
Não menos importante, a enfermeira e Mestre em Saude Coletiva, Epidemiologista, especialista em política, planejamento e Gestão em Saúde pública, Aline Almeida da Silva, lembra da importância prevenção através da educação.
“A forma de diminuição dos casos perpassa pela educação, educação e saúde, que deve ser trabalhada em vários níveis pensando também nessa integração com as universidades, com as organizações civis, da organização civil, trabalhar com os profissionais de saúde para que se amplie a capacidade para a execução de ações de promoção, a integração com as escolas”, salienta.
A Organização das Nações Unidas (ONU) definiu metas globais: ter 95% das pessoas vivendo com HIV diagnosticadas; ter 95% dessas pessoas em tratamento antirretroviral; e, dessas em tratamento, ter 95% com carga viral controlada. O Brasil possui, respectivamente, 90%, 81% e 95% de alcance. O Ministério da Saúde informa que todos os estados brasileiros contam com serviços de saúde ofertando a PrEP — uma das formas de prevenção que consiste em tomar comprimidos antes da relação sexual, que permitem ao organismo estar preparado para enfrentar um possível contato com o HIV.
De janeiro a novembro deste ano, as autoridades de saúde de Minas Gerais notificaram mais de três mil casos de HIV/Aids no estado. Segundo a Secretaria de Saúde do estado, mais de 55 mil pessoas estão em tratamento.
O médico infectologista Rodrigo Molina enfatiza que medidas preventivas são essenciais para a redução do número de infecções pelo HIV. Diante desse contexto, ele destaca que o poder público tem um papel fundamental para evitar aumento de casos.
“A prevenção deve envolver uma combinação de métodos recomendados, além do uso de preservativos, que não só protegem contra o HIV, mas também contra outras infecções sexualmente transmissíveis, como sífilis, herpes e gonorreia. Outra opção é a profilaxia pré-exposição, um medicamento oferecido pelo SUS. Isso significa que a pessoa pode considerar essa alternativa para se proteger contra o HIV e Aids”, explica o médico.
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O infectologista explica que o diagnóstico precoce pode ser um dos caminhos para que a doença não chegue a um estado avançado, além de poder impedir que outras pessoas possam ser infectadas por conta da não identificação da doença. Segundo o especialista, com o tratamento adequado, o risco de transmissão passa a ser praticamente nulo.
“O diagnóstico precoce é crucial para iniciar o tratamento o mais rápido possível. Quanto mais rápido o diagnóstico, mais cedo podemos iniciar o tratamento, permitindo à pessoa em tratamento minimizar danos, evitando a progressão para estágios avançados da doença. Sabemos que pessoas em tratamento podem alcançar níveis indetectáveis de vírus no sangue. Atualmente, para quem tem carga viral indetectável, o risco de transmissão é praticamente zero. Portanto, quando a carga viral é indetectável, a pessoa não transmite o HIV”, explica o especialista.
Além disso, o médico explica que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem fornecido camisinhas femininas e masculinas. Realização de exames e acompanhamento também tem sido um apoio para a população. “O SUS oferece suporte integral para todas as formas de diagnóstico, realização de exames, tratamento e acompanhamento. Isso abrange tanto pacientes vivendo com HIV quanto aqueles que buscam prevenção”, diz Molina.
O mês de dezembro é dedicado à prevenção do HIV, Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis, conhecido como Dezembro Vermelho, conforme estabelecido pela Lei nacional nº 13.504/2017. De acordo com o governo de Minas Gerais, o estado tem reforçado ações de conscientização para o tratamento e tem buscado formas de reduzir o estigma associado às pessoas soropositivas.