Brasil saudável

02/07/2024 00:04h

Em entrevista ao Brasil 61, Alexander Vargas, coordenador de Eliminação da Malária do Ministério da Saúde, fala sobre o combate à doença, as populações mais afetadas, as ações do Governo Federal para eliminar a doença e as novidades no tratamento

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No ano de 2023, o Brasil notificou mais de 140 mil casos de malária. Os estados amazônicos concentram quase a totalidade dos casos. E é nas áreas rurais, territórios indígenas, assentamentos e nos garimpos onde essa doença – determinada socialmente – se concentra. 

Diante desse contexto, o governo brasileiro, lançou uma ação conjunta de 14 ministérios – o Programa Brasil Saudável –, para eliminar como problema de saúde pública a malária e outras 10 doenças e cinco infecções determinadas socialmente.

O Brasil 61 conversou com o médico veterinário e coordenador de Eliminação da Malária do Ministério da Saúde, Alexander Vargas, que falou sobre os esforços interministeriais previstos pelo Brasil Saudável, as frentes de trabalho e os avanços no diagnóstico e tratamento da malária. 

Brasil 61: O que é a Malária?

Alexander Vargas: “Malária é uma doença causada por um protozoário (plasmódio) e transmitida por um mosquito — Anopheles — e quem transmite a malária é a fêmea do mosquito Anopheles, que está nesse ambiente de mata, de selva, mais periurbano ou na área rural. Causa febre, dores de cabeça, dor no corpo, pode dar calafrios — a pessoa sente muitos tremores — e apresenta uma produção aumentada de suor”. 

Brasil 61: Quais são as características sócio-econômicas que favorecem a maior incidência da malária? 

Alexander Vargas: “A malária é uma doença que ocorre basicamente nos estados da Amazônia do Brasil e está muito relacionada com as questões socioeconômicas, ou seja, são áreas indígenas, rurais, de assentamentos novos, de garimpo e locais onde tem pessoas mais vulneráveis”.

Brasil 61: Quais locais estão mais vulneráveis? 

Alexander Vargas: “Na área indígena, a gente sabe das questões de difícil acesso, de desnutrição, de outras doenças que, concomitante com a malária, podem levar a um desfecho de óbito dessas pessoas. Assim como nas áreas de garimpo, em decorrência das alterações do meio ambiente, formam-se criadouros do mosquito que propiciam a proliferação da malária”. 

Brasil 61: Como é feito o tratamento da malária? 

Alexander Vargas: “O tratamento da malária deve começar por uma unidade básica de saúde e, dependendo do lugar que você estiver, seja em área indígena, em áreas mais afastadas, buscando o atendimento desses profissionais de saúde — microscopistas, agentes de endemia, agentes comunitários de saúde — eles são treinados para fazer o diagnóstico bem rapidamente. Basta apenas coletar uma gotinha de sangue. Pode ser feito por um microscópio. Há também testes rápidos de malária que, em 15 ou 20 minutos, já se tem o resultado do exame”.
 
Brasil 61: o que o Brasil tem de novidade no tratamento da malária? 

Alexander Vargas: “Estamos implementando uma droga nova e inovadora no Brasil chamada Tafenoquina. A vantagem é que ela é feita [administrada] num único dia — juntamente com a cloroquina, que vai ser feita durante três dias — e a Tafenoquina fica até 28 dias no organismo evitando recaídas e aumentando a adesão das pessoas ao tratamento da malária”.

Brasil 61: Quais podem ser as consequências de não tratar a malária?

Alexander Vargas: “Se você não for tratado, você continua transmitindo a malária, porque os mosquitos vão se alimentar do seu sangue e vão transmitir. A malária falciparum é preocupante, porque tem uma letalidade maior que a vivax. Então, em caso de febre nessas regiões amazônicas, é preciso buscar o atendimento para saber se é malária ou outra doença”. 

Brasil 61: Grande parte dos casos de malária atinge povos indígenas e trabalhadores do garimpo.  Por que essas populações estão mais vulneráveis à doença? 

Alexander Vargas: “O garimpo hoje representa 14% dos nossos casos de malária, mas o que tem maior carga da doença é a área indígena e [a população indígena] é a mais vulnerável. Para a gente ter toda uma logística de chegar, de se tratar. Mas é o que estamos atuando nos últimos anos, fortalecendo, principalmente, as áreas indígenas mais distantes — onde só se chega com o avião ou com embarcação”.

Brasil 61: Como o Programa Brasil Saudável está atuando para eliminar a malária como problema de saúde pública no país? 

Alexander Vargas: “A gente tem que atuar em várias frentes. O mais importante é diagnosticar e tratar. Assim se diminui a carga global da doença e, conjuntamente com isso, nós trabalhamos com a utilização de mosquiteiros, de inseticidas, na educação em saúde, repelentes, telas nas casas. Mas o mais importante é diagnosticar e tratar”. 

Mais informações sobre a malária e sobre o Programa Brasil Saudável, acesse www.gov.br/saude. Você também pode ligar para o Disque Saúde 136. O serviço funciona 24 horas e a ligação é gratuita.
 

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01/07/2024 00:01h

O Programa Brasil Saudável – uma ação conjunta de 14 ministérios – prevê a eliminação da doença e o fim das mortes até 2030

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Uma doença endêmica que ainda é considerada um problema de saúde pública no Brasil. A malária é caracterizada por febre, calafrios, tremores, suor excessivo e dores de cabeça e no corpo. Em 2023, o país registrou mais de 140 mil casos de malária, mais de 99% deles ocorreram em estados da região amazônica (Amazonas, Roraima, Pará, Rondônia, Acre, Amapá, Mato Grosso, Maranhão e Tocantins). Neste mesmo ano, foram registradas 73 mortes pela doença no país. Os dados são do Ministério da Saúde.

Foi em Manaus (AM) que Érico Oliveira contraiu malária seis vezes, ao longo de 43 anos de vida. O advogado tem uma casa no Tarumã, na área rural da capital. Ele acredita ter contraído todas as infecções nesta propriedade. “É uma região com preservação florestal, próxima ao Rio Negro e com muita incidência do mosquito que transmite a doença”. 

Estar em meio à floresta favorece, de fato, a proliferação do mosquito Anopheles. Quando infectado pelo parasito Plasmodium, o vetor transmite a doença através da sua picada. A gerente de Malária e outros Hemoparasitas da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM), Myrna Barata, explica que estar dentro da floresta e viver ao lado do vetor favorece o alto número de casos. Mas a questão não se resume a isso: “Também temos uma população muito flutuante, principalmente indígenas, caçadores, garimpeiros, que acabam saindo de áreas endêmicas para áreas não endêmicas. Como essa pessoa já vem doente de uma outra área, ela acaba infectando o mosquito e esse mosquito, daqui a pouco, começa a transmitir para outras pessoas, causando esses surtos de malária que temos todos os anos na Amazônia”. 

Malária: concentração 

O advogado Érico, do começo da reportagem, contraiu malária numa área rural. Em 2023, essas áreas concentraram 33,68% dos casos da doença. Mas a maior parte das infecções acontecem em territórios indígenas — 40,23%. Garimpos, assentamentos e áreas urbanas representam a menor parcela de locais de adoecimento por malária, como mostra o gráfico abaixo.

O fator socioambiental tem relação direta com o número de casos. É o que explica o médico veterinário e coordenador de Eliminação da Malária do Ministério da Saúde, Alexander Vargas.

“Na área indígena, sabemos das questões de difícil acesso, desnutrição e outras doenças que, concomitante com a malária, podem levar a um desfecho de óbito. Assim como nas áreas de garimpo, em decorrência das alterações do meio ambiente, formam-se criadouros do mosquito que propiciam a proliferação da malária”, explica o gestor do Ministério.

Malária: Programa Brasil Saudável e as metas de eliminação 

A malária é uma doença evitável e, se tratada adequadamente, tem cura, segundo o Ministério da Saúde. Mas os determinantes sociais têm forte influência na perpetuação dela enquanto problema de saúde pública. Para combater a malária e outras 10 doenças e cinco infecções, em fevereiro o governo criou o programa Brasil Saudável, que reúne 14 ministérios. 

Sob coordenação do Ministério da Saúde, desenvolvem ações frente às populações e em territórios prioritários para o enfrentamento da fome e da pobreza, promoção da proteção social e dos direitos humanos, capacitação de agentes sociais, estímulo à ciência, tecnologia e inovação e expansão de iniciativas em infraestrutura, saneamento e meio ambiente. 

“A gente tem que atuar em várias frentes. Assim se diminui a carga global da doença e, conjuntamente com isso, nós trabalhamos com a utilização de mosquiteiros, de inseticidas, na educação em saúde, repelentes, telas nas casas. Mas o mais importante é diagnosticar e tratar ", acrescenta o coordenador de eliminação da malária.

A meta do programa é eliminar a transmissão da doença e zerar as mortes até 2030.

Leia mais: 

TIRA-DÚVIDAS: "É possível eliminar", afirma coordenador do programa Brasil Saudável – Unir para cuidar, do Governo Federal, que coordena ações de 14 ministérios para eliminar 11 doenças e 5 infecções

Malária: detecção e tratamento 

Assim como outras doenças, o tratamento da malária é mais efetivo quando iniciado rapidamente — para que o parasita seja eliminado o quanto antes da corrente sanguínea e evitar complicações. Se feito da forma correta e no tempo adequado, o tratamento garante a cura da doença.
Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a recomendação da Organização Mundial da Saúde é que o tratamento seja feito com combinações terapêuticas à base de artemisinina (ACTs) para o tratamento da malária causada pelo Plasmodium falciparum. Já as infecções pelo Plasmodium vivax devem ser tratadas com cloroquina. Nos dois casos o paciente recebe o tratamento em regime ambulatorial, com comprimidos que são fornecidos gratuitamente pelo SUS. 

As unidades da Atenção Primária à Saúde do SUS, como as unidades básicas de saúde, estão preparadas para diagnosticar e tratar a malária. O diagnóstico pode ser realizado tanto por exame microscópico, conhecido como gota espessa ou por teste rápido com resultado em poucos minutos. “Para ambos os métodos de diagnóstico, basta coletar apenas uma gotinha de sangue”, complementa o gestor do Ministério da Saúde. Em áreas mais afastadas e de difícil acesso — como terras indígenas — microscopistas, agentes de endemia, agentes comunitários de saúde — estão treinados e aptos a fazer o diagnóstico rapidamente assim como realizar o tratamento contra a doença. 

O mais moderno, simples e eficaz começou a ser usado este ano. O Brasil é pioneiro no uso do medicamento e isso pode contribuir decisivamente para a eliminação da malária em nosso país, como explica Vargas. “Estamos implementando uma droga nova e inovadora no Brasil chamada tafenoquina. A vantagem é que ela é feita [administrada] num único dia — juntamente com a cloroquina, que vai ser feita durante três dias — e a tafenoquina fica até 28 dias no organismo evitando recaídas e aumentando a adesão das pessoas ao tratamento da malária”.

Malária: prevenção

Existem formas individuais e coletivas de se proteger da doença e ajudar nas metas de eliminação, são elas: 
•    uso de mosquiteiros e telas em portas e janelas;
•    roupas que protejam pernas e braços;
•    uso de repelentes;
•    borrifação Residual Intradomiciliar
•    drenagem e aterro de criadouros;
•    pequenas obras de saneamento para eliminação de criadouros do vetor;
•    limpeza das margens dos criadouros;
•    modificação do fluxo da água;
•    controle da vegetação aquática;
•    melhoramento da moradia e das condições de trabalho.

Para mais informações sobre a malária e sobre o Programa Brasil Saudável, acesse www.gov.br/saude. Você também pode ligar para o Disque Saúde 136. O serviço funciona 24 horas e a ligação é gratuita.
 

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24/06/2024 03:00h

A coordenadora-geral de Vigilância da Tuberculose, Micoses Endêmicas e Micobactérias não Tuberculosas do Ministro da Saúde, Fernanda Dockhorn, explica como as populações em situação de pobreza podem ser mais atingidas pela doença.

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A tuberculose matou 5,8 mil pessoas em 2022, no Brasil — apesar de ter prevenção, diagnóstico e tratamento disponíveis nas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS). Pobreza, dificuldade de acesso a serviços de saúde, insegurança alimentar  e más condições de moradia são considerados determinantes sociais que influenciam  a perpetuação da doença no país. 

Nesta entrevista, a coordenadora-geral de Vigilância da Tuberculose, Micoses Endêmicas e Micobactérias não Tuberculosas do Ministro da Saúde, Fernanda Dockhorn, tira as principais dúvidas sobre a doença, , seu diagnóstico e tratamento. “É importante dizer que, com tratamento, a maioria das pessoas já não transmite a doença em 15 dias”, destaca. 

A gestora fala ainda sobre o Programa Brasil Saudável. Coordenada pelo Ministério da Saúde, a iniciativa reúne esforços deste e de outros 13 ministérios para eliminar como problema de saúde pública um grupo de doenças e infecções determinadas socialmente até 2030. 

Brasil 61: O que é a tuberculose? 
Fernanda Dockhorn:
“A tuberculose é uma doença infecciosa, de transmissão de ser humano para ser humano, aérea. Quando uma pessoa tem a tuberculose no pulmão ou na laringe, ela transmite essa doença pela tosse, fala ou espirro. Não é uma doença transmitida pelo beijo, talheres ou roupa. Você pode conviver muito bem com uma pessoa que tem tuberculose, mas ela tem que ser diagnosticada e tratada”. 

Brasil 61: Quais são os principais sintomas da doença? 
Fernanda Dockhorn:
“O principal sintoma é a tosse. Se a pessoa não tem outra comorbidade que cause imunodeficiência, uma tosse por três semanas ou mais pode ser tuberculose — a gente chama de tosse prolongada, que não é uma tosse de 24 horas apenas. Mas a pessoa pode ter associado febre — geralmente vespertina —, sudorese noturna e emagrecimento. Então, se [você] tem emagrecimento sem outra causa, se tem tosse [prolongada], busque um serviço [unidade de saúde do SUS] — pode ser tuberculose”.  

Brasil 61: Quem possui alguma comorbidade, tem mais chances de desenvolver tuberculose? 
Fernanda Dockhorn:
“A transmissão da tuberculose é muito do ambiente: eu tenho mais risco quando estou nos aglomerados urbanos, num grande centro, numa região metropolitana. O risco é maior. Se vivo com muita gente na minha casa, na minha região também. Para quem vive HIV, há mais chances de ficar doente depois de se infectar. Vale lembrar que a pessoa pode se infectar com tuberculose e nunca desenvolver a doença. Mas, se há algum fator de risco — como crianças, pessoas vivendo com HIV, idosos, pessoas com doenças reumatológicas e renais —, acaba reduzindo a imunidade e desenvolvendo a tuberculose”. 

Brasil 61: Como é o tratamento da tuberculose? 
Fernanda Dockhorn:
“Depois do diagnóstico, o tratamento é disponível no sistema público de saúde e feito com quatro antibióticos numa primeira fase, que dura dois meses. Esses quatro antibióticos estão disponíveis no mesmo comprimido — dose fixa combinada. Passou essa fase mais aguda, que a pessoa fica mais doente e se sente mal, ela passa para uma segunda fase. Nessa segunda fase, são dois remédios e completa o tratamento em seis meses”.  

Brasil 61: Em que momento do tratamento a pessoa deixa de transmitir a tuberculose? 
Fernanda Dockhorn:
“É importante dizer que, com tratamento, a maioria das pessoas já não transmite a doença em 15 dias. Então, não precisa ficar preocupado com a família, pois, com 15 dias de tratamento, já não ocorre transmissão da doença”.

Brasil 61: Qual é a porta de entrada do SUS para o tratamento da tuberculose?
Fernanda Dockhorn:
“No principal diagnóstico, a porta de entrada da tuberculose é a Atenção Primária à Saúde. Então mesmo em um município pequeno, a Atenção Primária à Saúde é sensível, tem que perceber quando tem suspeita ou não da doença, se a pessoa tem tosse prolongada ou se faz parte de uma dessas populações mais vulneráveis à tuberculose e apresenta maior risco. O importante é já solicitar o exame, pois mesmo se não tiver o teste rápido molecular para tuberculose, tem a baciloscopia para o diagnóstico. E o medicamento está disponível também nesta mesma (unidade da) Atenção Primária para começar o tratamento”. 

Brasil 61: Por que a tuberculose é uma doença considerada determinada socialmente? 
Fernanda Dockhorn:
“Porque é gerada por esse ambiente com muita carência, muita pobreza, e perpetua essa pobreza. Por que não deixa a pessoa ter renda suficiente para conseguir sobreviver. No Brasil, há pesquisas locais que mostraram que 48% das famílias têm ‘custo catastrófico’ pela tuberculose. Quer dizer que a família perde mais de 20% da sua renda devido àquela pessoa que está tratando com tuberculose”. 

Brasil 61: Que determinantes sociais favorecem o desenvolvimento da doença? 
Fernanda Dockhorn:
“A tuberculose está ligada muito ao ambiente onde a pessoa vive, às condições de vida da população. Então, as populações (que vivem) onde há muita pobreza, têm muitos aglomerados, dificuldade de ambiente, o ar não circula tão bem e a tuberculose está presente ali. As pessoas em situação de vulnerabilidade, muitas vezes, têm dificuldade de acesso a serviços, e (o) diagnóstico (acaba sendo) tardio. E tem uma coisa muito importante que é a segurança alimentar. A tuberculose está ligada à desnutrição. Se a pessoa tem problemas de alimentação, está com dificuldades na alimentação, ela acaba tendo maior risco de ter tuberculose depois de uma infecção”.

Brasil 61: Quais são os grupos populacionais aos quais a doença está ligada? 
Fernanda Dockhorn
: “Pessoas vivendo com HIV/aids, indígenas, imigrantes e também a população em situação de rua e privada de liberdade. As maiores cargas hoje, além das pessoas com HIV/aids, são as pessoas privadas de liberdade. É muito importante a estratégia do Brasil Saudável no sentido das ações interministeriais. A gente trabalha muito próximo do Ministério da Justiça para ter acesso a essas unidades prisionais e conseguir fazer um trabalho de saúde lá dentro”. 

Brasil 61: Como o trabalho conjunto com outros ministérios pode prevenir a doença? 
Fernanda Dockhorn
: “É muito importante essa estratégia de trabalho junto ao Ministério da Justiça, voltada ao diagnóstico precoce, ao tratamento. E a gente tem que fazer a prevenção. A tuberculose é uma doença prevenível. Se a gente sabe que aquela pessoa está infectada pelo bacilo da tuberculose e é um contato de alguém, a gente pode fazer o tratamento preventivo da TB – que é um tratamento encurtado, com 12 doses uma vez por semana — e você consegue prevenir”.

Brasil 61: A meta do Brasil Saudável é eliminar a doença como problema de saúde pública até 2030, isso é possível? 
Fernanda Dockhorn:
“O Brasil está no caminho. Temos o Brasil Saudável nessa tentativa de ampliar as ações interministeriais para dar uma proteção social para as pessoas, para dar atendimento adequado para quem é privado de liberdade, por exemplo”. 

Para saber mais sobre tuberculose e sobre o Programa Brasil Saudável, acesse: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/brasil-saudavel.

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24/06/2024 03:00h

Média de mortes pela doença em 2022 chegou a 5,1 por grupo de 100 mil habitantes, o dobro do índice nacional que é de 2,7/100 mil. Tosse persistente, febre e cansaço podem indicar uma infecção, que se tratada da maneira correta, tem cura

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O Amazonas é o estado com o maior coeficiente de mortalidade por tuberculose no país: em 2022, foram 5,1 mortes/100 mil habitantes, segundo o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde. Quase o dobro da média nacional, que foi de 2,72 mortes/100 mil. O estudo indica que o estado teve 3.548 novos casos da doença em 2023 e 218 mortes pela doença em 2022. Além disso, em 2023 a incidência da tuberculose no estado foi segunda maior do país, — 81,6 casos/100 mil habitantes — atrás apenas de Roraima.

Os altos números são explicados pelas condições de vida da população, associadas a um cenário de pós-pandemia. “No período de pandemia as pessoas ficaram em casa e houve interrupção de diversas ações de controle da TB, quando houve a retomada dos serviços, aumentou a identificação desses casos de tuberculose, que acabaram — mais tardiamente — evoluindo para a morte”, explica Lara Bezerra, coordenadora do Programa Estadual de Controle da Tuberculose no Amazonas.

A gestora ainda acrescenta que “não podemos deixar de falar que a tuberculose também está associada a questões socioeconômicas, de desigualdade, onde a moradia muitas vezes é pequena, sem janela, o que contribui para novas infecções e adoecimento”.  
 

Tuberculose: contágio e vulnerabilidade  

A principal forma de contágio da doença é aérea — quando uma pessoa doente, sem tratamento,   tosse, espirra ou fala. O principal sintoma ainda é a tosse persistente, chamada tosse prolongada, que costuma durar três semanas ou mais. E as condições sociais ainda são fatores que perpetuam a existência da tuberculose no país, como explica a coordenadora-geral de Vigilância da Tuberculose, Micoses Endêmicas e Micobactérias não Tuberculosas do Ministro da Saúde, Fernanda Dockhorn. 

“A tuberculose está ligada muito ao ambiente onde a pessoa vive, às condições de vida da população. Então, as populações (que vivem) onde há muita pobreza, (onde) têm muitos aglomerados, o ar não circula tão bem e a tuberculose está presente ali. As pessoas em situação de vulnerabilidade, muitas vezes, têm dificuldade de acesso a serviços e (o) diagnóstico (acaba sendo) tardio”.

E foi na policlínica Cardoso Fontes — referência no atendimento a de pessoas com tuberculose em tratamentos especiais no estado —, em Manaus (AM), que a assistente social Marklise Siqueira, de 40 anos, recebeu o diagnóstico da infecção latente pelo bacilo causador da tuberculose. O exame, realizada em todos os funcionários, é importante para o seguimento dos profissionais de saúde, que possuem um risco maior de se expor ao bacilo, e adoecer. A infecção latente não causa  sintomas e não transmite o bacilo. Uma pessoa com infecção latente pelo Mycobacterium tuberculosis tem o bacilo “adormecido” no pulmão, mas não tem a doença (que ocorre quando a imunidade não consegue manter o bacilo nessa forma latente, e o bacilo fica ativo, se multiplica, e a doença se instala).

A assistente social  se surpreendeu ao receber o resultado positivo.  Para não desenvolver a tuberculose, ela teria que manter a imunidade alta. Mas em 2020, durante a pandemia de Covid-19, as coisas mudaram. “Comecei a emagrecer muito — eu perdi 5 quilos, em 6 dias — daí, fiz um exame de escarro e um raio-x e meu exame deu positivo”, conta a assistente social. A doença apareceu por conta da baixa na imunidade. O tratamento durou seis meses e ela ficou curada. 

Tuberculose: Atenção Primária, a porta de entrada para o tratamento

No Amazonas e em todo o país, a Atenção Primária à Saúde é a porta de entrada para o tratamento da tuberculose, como explica Fernanda Dockhorn. “Mesmo em um município pequeno, a Atenção Primária à Saúde é sensível, tem que perceber quando tem suspeita ou não da doença. Todo medicamento é fornecido pelo SUS, de forma gratuita”. A adesão total ao tratamento — com duração de seis meses — é fundamental para que a pessoa fique curada. 


Tuberculose: atuação do Programa Brasil Saudável nos grupos mais vulneráveis 

Criado em fevereiro como um programa de governo, o Brasil Saudável é uma estratégia coordenada pelo Ministério da Saúde com a participação de outros 13 ministérios. Juntos, desenvolvem ações frente às populações e territórios prioritários – tanto para combater a  tuberculose quanto para outras 10 doenças e cinco infecções consideradas problemas de saúde pública. 

As diretrizes do programa estão voltadas para o enfrentamento à fome e à pobreza, a promoção da proteção social e dos direitos humanos, o fortalecimento da capacitação de agentes sociais, o estímulo à ciência, tecnologia e inovação e a expansão de iniciativas em infraestrutura, saneamento e meio ambiente. 

A meta do programa é reduzir a incidência para menos de 10 casos por 100 mil habitantes e fazer cair o número de mortes pela doença para menos de  230 por ano, até 2030. O que para a coordenadora Fernanda Dockhorn, é uma meta possível, mas depende de um esforço coletivo. “O Brasil está no caminho, a gente tem o Brasil Saudável nessa tentativa de ampliar as ações interministeriais para dar uma proteção social para as pessoas, para dar atendimento adequado para quem é privado de liberdade, por exemplo”.

Para saber mais sobre a tuberculose e sobre o programa Brasil Saudável, acesse: www.gov.br/saude.
 

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19/06/2024 00:10h

Enquanto no Brasil a incidência é de 37 casos por 100 mil habitantes, no estado fluminense o número chega a 70 casos/100 mil. Tosse persistente, febre e cansaço podem indicar uma infecção, que se tratada da maneira correta, tem cura.

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A tuberculose ainda é um problema de saúde pública no Rio de Janeiro. Boletim epidemiológico do Ministério da Saúde aponta que o estado registrou, em 2022, a segunda maior taxa de mortalidade pela doença: 4,7 mortes por grupo de 100 mil habitantes. Só ficou atrás do Amazonas, que registrou 5,1 mortes/100 mil. 

Além disso, o estado fluminense teve a terceira maior incidência da doença no Brasil, em 2023: foram 70,7 casos/100 mil habitantes, segundo o estudo do Ministério. Isso representa o dobro da média nacional, de 37 casos/100 mil hab. No mesmo ano, ainda de acordo com o levantamento, foram 12.080 novos casos da doença em 2023 e 806 mortes em 2022 pela doença no estado. 

A coordenadora-geral de Vigilância da Tuberculose, Micoses Endêmicas e Micobactérias não Tuberculosas do Ministro da Saúde, Fernanda Dockhorn, explica os fatores que favorecem a alta incidência da doença no estado, principalmente na capital fluminense.

“Manaus (AM) e o Rio de Janeiro (RJ) são grandes centros urbanos, com muitas comunidades que têm sua determinação social. Muitas pessoas vivenciado situações precárias de vida, com insegurança alimentar, e isso favorece a tuberculose e a perpetuação dela naquele ambiente”.

Tuberculose: contágio e vulnerabilidade  

A principal forma de contágio da doença é aérea — quando uma pessoa doente sem tratamento tosse, espirra ou fala. O principal sintoma ainda é a tosse persistente, chamada tosse prolongada, que costuma durar três semanas ou mais. E os determinantes sociais ainda são fatores que perpetuam a existência da tuberculose no país, como explica a coordenadora-geral de Vigilância da Tuberculose, Micoses Endêmicas e Micobactérias não Tuberculosas do Ministro da Saúde, Fernanda Dockhorn. 

“A tuberculose está ligada muito ao ambiente onde a pessoa vive, às condições de vida da população. Então, as populações (que vivem) onde há muita pobreza, (onde) têm muitos aglomerados, o ar não circula tão bem e a tuberculose está presente ali. As pessoas  em situação de vullnerabilidade, muitas vezes, têm dificuldade de acesso a serviços e (o) diagnóstico (acaba sendo) tardio”.

Tuberculose: Atenção Primária, a porta de entrada para o tratamento

A professora Nathália Raposo, 24 anos, teve a doença quando morava em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no ano de 2018. Os primeiros sintomas foram febre, seguida de suor excessivo na madrugada, e muita tosse. Mas só foi buscar um serviço de saúde quando começou a sentir dores para respirar. 

“Fui ao posto de saúde e lá relatei os sintomas. E me orientaram sobre como fazer o exame. Fiz, aguardei o resultado. Com o resultado em mãos, neste mesmo posto médico, tive a primeira consulta, já iniciei o tratamento e lá mesmo tive acesso ao medicamento”, relata. 

Foram seis meses de antibióticos e visitas mensais ao posto de saúde até que Nathalia ficasse curada. O pai, que acompanhava a professora nessas consultas, também foi diagnosticado com tuberculose. Juntos, se trataram e ficaram curados, e sem nenhuma sequela da doença. A avaliação dos contatos é uma atividade importante no cuidado das pessoas com tuberculose. É importante identificar se familiares, parceiros, e outros que convivem com a pessoa com tuberculose tem sintomas da doença e realizar exames para o diagnóstico e o tratamento, se a doença for confirmada. Também é possível realizar o tratamento preventivo da tuberculose para os contatos que foram infectados pelo bacilo, mas que não adoeceram. 

No Rio de Janeiro e em todo o país, a Atenção Primária à Saúde é a porta de entrada para o tratamento da tuberculose, como explica Fernanda Dockhorn. “Mesmo em um município pequeno, a Atenção Primária à Saúde deve ser sensível, tem que perceber quando tem suspeita ou não da doença. Todo medicamento é fornecido pelo SUS, de forma gratuita”. A adesão total ao tratamento — com duração mínima de seis meses — é fundamental para que a pessoa fique curada. 

Além dos serviços da Atenção Primária de Saúde, na região metropolitana do Rio, existem duas unidades de referência no tratamento de pessoas com tuberculose: o Instituto Estadual de Doenças do Tórax Ary Parreiras (Ietap), em Niterói, e o Hospital Estadual Santa Maria (HESM), na capital. Essas unidades de referência atendem casos mais graves e de tuberculose resistente.
 

Tuberculose: atuação do Programa Brasil Saudável nos grupos mais vulneráveis 

Criado em fevereiro como um programa de governo, o Brasil Saudável é uma estratégia coordenada pelo Ministério da Saúde com a participação de outros 13 ministérios. Juntos, desenvolvem ações frente às populações e territórios prioritários – tanto para combater a tuberculose quanto para outras 10 doenças e cinco infecções consideradas problemas de saúde pública. 

As diretrizes do programa estão voltadas para o enfrentamento à fome e à pobreza, a promoção da proteção social e dos direitos humanos, o fortalecimento da capacitação de agentes sociais, o estímulo à ciência, tecnologia e inovação e a expansão de iniciativas em infraestrutura, saneamento e meio ambiente. 

A meta do programa é reduzir a incidência para menos de 10 casos por 100 mil habitantes e fazer cair o número de mortes pela doença para menos de  230 por ano,  até 2030. O que para a coordenadora Fernanda Dockhorn, é uma meta possível, mas depende de um esforço coletivo. “O Brasil está no caminho, a gente tem o Brasil Saudável nessa tentativa de ampliar as ações interministeriais para garantir maior proteção social para as pessoas, e atendimento adequado para quem é privado de liberdade, por exemplo”.

Para saber mais sobre a tuberculose e sobre o programa Brasil Saudável, acesse: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/brasil-saudavel.
 

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18/06/2024 00:04h

Enquanto no Brasil a incidência é de 37 casos/100 mil habitantes, no estado, o número saltou para 85 casos/100 mil. Tosse persistente, febre e cansaço podem indicar uma infecção, que se tratada da maneira correta, tem cura.

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A doença que até meados dos anos 40 não tinha cura e levava pacientes ao isolamento, hoje é prevenível, tratada e curável. Mas, ao contrário do que se imaginava no século passado — que seria eliminada no século XXI —, a tuberculose ainda circula no Brasil e no mundo — e segue fazendo vítimas. A eliminação como problema de saúde pública é uma das metas do Programa Brasil Saudável, que reúne 14 ministérios para a eliminar — como problema de saúde pública — 11 doenças e 5 infecções determinadas socialmente. 

Roraima é um dos estado com maior incidência da tuberculose no país: são 85,7 casos por 100 mil habitantes, segundo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde. Quase três vezes maior que a média nacional, que é de 37 casos/100 mil. No estado, o boletim aponta ainda que foram confirmadas 482 novos casos da doença em 2023, e 18 mortes pela doença em 2022. O que para a médica infectologista de referência de tuberculose da Secretaria de Saúde estadual, Nayara Melo dos Santos, tem algumas razões. 

“Muitos casos ficaram sem diagnóstico durante a pandemia [da Covid-19]. Então, do ponto de vista de panorama, já era esperado, mas não tão gritante. Aqui, em Roraima, temos uma particularidade muito grande, de ser o estado com uma grande população indígena — que é uma população que está sob risco aumentado — e a população também de imigrantes vindos de países vizinhos, principalmente da Venezuela”.

De acordo com a médica, as condições de moradia, alimentação e falta de acesso aos serviços de saúde favorecem o desenvolvimento da doença nessas populações.

“São pessoas que vêm andando do país vizinho, que não têm acesso à uma alimentação adequada – e toda a questão da desnutrição é fator de risco para o desenvolvimento da tuberculose — são pessoas que chegam, não conseguem vaga em abrigos e ficam em situação de rua. Ou mesmo a questão [da aglomeração] dos abrigos, por reunirem muitas pessoas num só lugar”, completa a gestora.

Tuberculose: contágio e vulnerabilidade  

A principal forma de contágio da doença é aérea — quando uma pessoa doente sem tratamento com o bacilo tosse, espirra ou fala. O principal sintoma ainda é a tosse persistente, chamada tosse prolongada, que costuma durar três semanas ou mais. E os determinantes sociais ainda são fatores que perpetuam a existência da tuberculose no país, como explica a coordenadora-geral de Vigilância da Tuberculose, Micoses Endêmicas e Micobactérias não Tuberculosas do Ministro da Saúde, Fernanda Dockhorn. 

“A tuberculose está ligada muito ao ambiente, onde a pessoa vive, às condições de vida da população. Então, as populações (que vivem) onde há muita pobreza, (onde) têm muitos aglomerados, o ar não circula tão bem e a tuberculose está presente ali. As pessoas em situação de maior vulnerabilidade social, muitas vezes, têm dificuldade de acesso a serviços e (o) diagnóstico (acaba sendo) tardio”.

Tuberculose: Atenção Primária, a porta de entrada para o tratamento

Adelton Abreu de Souza, de 46 anos, é agente de portaria de um shopping em Boa Vista (RR), um local que recebe milhares de pessoas diariamente. Depois de uma sequência de gripe, sinusite e outras síndromes respiratórias, a tuberculose se manifestou. Cansaço, febre e crises de tosse foram os primeiros sintomas. O diagnóstico assustou o agente, que questionou o médico sobre a forma de transmissão.

“‘Doutor, como foi que eu peguei isso?’ Ele falou que, como eu estava com a imunidade baixa — um mês de sinusite e um mês gripado —, a doença se manifestou. ‘Pode ter sido alguém doente, sem tratamento, que passou por você, tossiu e você inalou. Como estava com a imunidade baixa, pode ser que você tenha se infectado e adoecido’”. 

O tratamento de Adelton já começou no mesmo dia em que foi diagnosticado. Nos primeiros dias, tomou cuidados em casa, usou máscara para não contaminar os familiares. Em 15 dias, já não transmitia mais a doença. Hoje, curado da tuberculose, ainda sente cansaço e entende a importância de ter seguido à risca o tratamento de seis meses. 

Em Roraima e em todo o país, a Atenção Primária à Saúde é a porta de entrada para o tratamento da tuberculose, como explica Fernanda Dockhorn. “Mesmo em um município pequeno, a Atenção Primária à Saúde deve ser sensível, tem que perceber quando tem suspeita ou não da doença. Todo medicamento é fornecido pelo SUS, de forma gratuita”. A adesão total ao tratamento — com duração de seis meses — é fundamental para que a pessoa fique curada. 

Em casos mais graves e de tuberculose resistente aos medicamentos, a unidade de referência no estado é o Hospital Coronel Mota, em Boa Vista. 

Tuberculose: atuação do Programa Brasil Saudável nos grupos mais vulneráveis 

Criado em fevereiro como um programa de governo, o Brasil Saudável é uma estratégia coordenada pelo Ministério da Saúde com a participação de outros 13 ministérios. Juntos, desenvolvem ações frente às populações e territórios prioritários – tanto para combater a tuberculose quanto para outras 10 doenças e cinco infecções consideradas problemas de saúde pública. 

As diretrizes do programa estão voltadas para o enfrentamento à fome e à pobreza, a promoção da proteção social e dos direitos humanos, o fortalecimento da capacitação de agentes sociais, o estímulo à ciência, tecnologia e inovação e a expansão de iniciativas em infraestrutura, saneamento e meio ambiente. 

A meta do programa de eliminação da TB como problema de saúde pública é reduzir a incidência para menos de 10 casos por 100 mil habitantes e fazer cair o número de mortes pela doença para  menos de  230 por ano, até 2030. O que para a coordenadora Fernanda Dockhorn, é uma meta possível, mas depende de um esforço coletivo. “O Brasil está no caminho, a gente tem o Brasil Saudável como ferramenta para ampliar as ações interministeriais e garantir proteção social para as pessoas com TB, atendimento adequado para quem é privado de liberdade, por exemplo”.

Para saber mais sobre a tuberculose e sobre o programa Brasil Saudável, acesse: www.gov.br/saude.
 

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17/06/2024 03:00h

Insegurança alimentar, moradias inadequadas, com muitas pessoas e pouca circulação de ar — os determinantes sociais ainda são decisivos para alta incidência da doença nas populações mais vulneráveis. A tuberculose é uma das 11 doenças e 5 infecções socialmente determinadas que o programa Brasil Saudável, do Governo Federal, pretende eliminar ou controlar, até 2030, com redução da incidência e do número de mortes.

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Em 2013, quando o cantor Thiaguinho foi diagnosticado com tuberculose, muita gente se surpreendeu com o fato da doença ainda estar em circulação no país. Não só está presente, como foi diagnosticada, em 2023, em mais de 81 mil brasileiros. Em 2022, matou 5,8 mil pessoas no país, segundo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde. 

A principal forma de contágio da doença é aérea — quando uma pessoa infectada com o bacilo tosse, espirra ou fala. O principal sintoma ainda é a tosse persistente, chamada tosse prolongada, que costuma durar três semanas ou mais. E os determinantes sociais ainda são fatores que perpetuam a existência da tuberculose no país, como explica a coordenadora-geral de Vigilância da Tuberculose, Micoses Endêmicas e Micobactérias não Tuberculosas do Ministro da Saúde, Fernanda Dockhorn. 

“A tuberculose está ligada muito às condições de vida da população. Então, as populações que vivem em uma situação de empobrecimento, em ambientes aglomerados, onde o ar não circula tão bem, estão mais sujeitos ao adoecimento . Além disso, as pessoas em situação de vulnerabilidade social, muitas vezes, vivenciam mais dificuldades de acesso a serviços e diagnóstico tardio”.

A coordenadora ainda levanta outro determinante: a insegurança alimentar, já que a tuberculose está ligada à desnutrição. “Se uma pessoa vivencia problemas em relação à segurança alimentar, está com dificuldades de ter acesso a uma alimentação adequada, ela acaba tendo maior risco de ter tuberculose depois de uma infecção”.

Tuberculose: incidência no Brasil

Em 2023, aponta o boletim do Ministério da Saúde, foram notificados 80.012 casos novos de tuberculose no Brasil. Isso corresponde a uma incidência de 37,3 casos por casos por 100 mil habitantes. Dois dos estados com a maior incidência da doença — são o Rio de Janeiro (70,7 casos/100 mil) e Amazonas (81,6 casos/100 mil). 

Mas o estado onde o problema também é grave, Roraima (85,7 casos/100 mil), tem outras determinações sociais. “Manaus (AM) e o Rio de Janeiro (RJ) possuem muitas comunidades que apresentam uma determinação social específica relacionada aos grandes centros urbanos. Muitas pessoas em situações precárias de vida, vivenciando situações de insegurança alimentar, entre outros fatores que favorecem a tuberculose e a perpetuação dela naquele ambiente. Roraima tem uma situação muito específica, já que é um estado pequeno, mas que recebe muitos imigrantes e tem uma população indígena importante em seu território. Essas populações possuem necessidades específicas, podem vivenciar barreiras de acesso aos cuidados em saúde por questões culturais, geográficas e podem também estar sujeitas a uma situações de desnutrição que favorece o adoecimento por tuberculose”.

A médica infectologista de referência de tuberculose da Secretaria de Saúde de Roraima, Nayara Melo dos Santos, relata as condições de vulnerabilidade: “são pessoas que vivenciam um alto risco social: existem casos de imigrantes que vêm andando do país vizinho, que vivenciam inúmeras dificuldades para ter acesso a uma alimentação adequada, para terem acesso a um abrigo. São pessoas que chegam, não conseguem vaga no abrigo, ficam em situação de rua e precisam de uma atenção específica”.
 

Tuberculose: diagnóstico e tratamento 

A professora Nathália Raposo, 24 anos, adoeceu de tuberculose quando morava em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, em 2018. Os primeiros sintomas foram febre, seguida de suor excessivo na madrugada, e muita tosse. Mas só foi buscar um serviço de saúde quando começou a sentir dores para respirar. 

“Fui ao posto de saúde e lá relatei os sintomas. E me orientaram sobre como fazer o exame. Fiz, aguardei o resultado. Com o resultado em mãos, neste mesmo posto médico, tive a primeira consulta, já iniciei o tratamento e lá mesmo tive acesso ao medicamento”, relata. 

O tratamento da Nathália foi feito via oral, com antibióticos. São seis meses de tratamento, feito em casa, com acompanhamento mensal nas unidades de atenção primária à saúde. E segundo Fernanda Dockhorn, “com tratamento, a maioria das pessoas já não transmite a doença em 15 dias.”

A coordenadora do Ministério orienta: para se ter acesso ao diagnóstico, a porta de entrada preferencial deve ser a Atenção Primária à Saúde. “Mesmo em um município pequeno, a Atenção Primária à Saúde deve ser sensível, tem que perceber quando tem suspeita ou não da doença. Todo o medicamento é fornecido pelo SUS, de forma gratuita”. A adesão total ao tratamento — com duração mínima de seis meses — é fundamental para que a pessoa fique curada. 

Tuberculose: atuação do Programa Brasil Saudável nos grupos mais vulneráveis 

O boletim do Ministério da Saúde revela que, a partir de 2021, houve elevação do número de casos de tuberculose em populações em situação de vulnerabilidade, com destaque para a população em situação de rua”. Além deste grupo, também estão mais vulneráveis a desenvolver a tuberculose as pessoas vivendo com HIV/aids, indígenas, imigrantes e população privada de liberdade. 

“As maiores cargas hoje, além das pessoas com HIV/aids, são as pessoas privadas de liberdade”, revela Fernanda Dockhorn. “Para quem vive com HIV ou aids, há mais chances de ficar doente depois de se infectar [com tuberculose]”. E o estudo do Ministério evidencia essa realidade: a coinfecção entre tuberculose e HIV passou de 8,6%, em 2022, para 9,3%, em 2023.

Criado em fevereiro como um programa de governo, o Brasil Saudável é uma estratégia coordenada pelo Ministério da Saúde que inclui outros 13 ministérios. Juntos, desenvolvem ações frente às populações e territórios prioritários – tanto para combater a tuberculose quanto para outras 10 doenças e cinco infecções consideradas problemas de saúde pública. 

As diretrizes  do programa estão voltadas para o enfrentamento à fome e à pobreza, a promoção da proteção social e dos direitos humanos, o fortalecimento da capacitação de agentes sociais, o estímulo à ciência, tecnologia e inovação e a expansão de iniciativas em infraestrutura, saneamento e meio ambiente. 

A meta do programa em relação à eliminação da TB como problema de saúde pública é reduzir a incidência para menos de 10 casos por 100 mil habitantes e fazer cair o número de mortes pela doença para menos de  230 por ano,  até 2030. O que para a coordenadora Fernanda Dockhorn, é uma meta possível, mas depende de um esforço coletivo. “O Brasil está no caminho, a gente tem o Brasil Saudável como uma ferramenta para ampliar as ações interministeriais, a proteção social para as pessoas com TB, e o atendimento adequado para quem é privado de liberdade, por exemplo”.

Para saber mais sobre a tuberculose e sobre o programa Brasil Saudável, acesse: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/brasil-saudavel.
 

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24/05/2024 00:15h

Na fase aguda, provoca febre, dores de cabeça e cansaço. Mas sem tratamento, pode evoluir e afetar órgãos como o coração, intestino e o esôfago. Mas a rede pública oferece diagnóstico e tratamento para a doença de Chagas, uma das 11 doenças determinadas socialmente, que o programa Brasil Saudável, do Governo Federal, pretende eliminar até 2030

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Os primeiros sintomas são comuns a várias doenças: febre, cansaço, dor de cabeça. Mas a doença de Chagas, ainda endêmica na região Norte, pode impactar esôfago, intestino e coração, e levar à morte. O Amapá é o segundo estado com maior incidência da doença no Brasil, atrás apenas do Pará. Segundo o Ministério da Saúde, em 2023, foram 31 infecções pela doença. 

Multissistêmica, a doença de Chagas é caracterizada por uma fase aguda — que pode durar semanas ou meses —, apresentando sintomas leves ou até assintomática. Também existe a fase crônica, como explica o coordenador-geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial do Ministério da Saúde, Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior.

“Uma vez persistindo, a infecção vai desenvolver uma forma aguda, que pode ser subclínica ou manifestar sinais — como febre. Depois disso, [a infecção] entra numa forma que chamamos de ‘indeterminada’, que não consegue ser identificada — não tem sintomas clássicos. E, após algum tempo, que pode durar anos, pode desenvolver a forma crônica. E essa é uma forma que pode ser tanto cardíaca — que afeta o coração — como digestiva, podendo afetar o esôfago e o intestino. Se a pessoa tratar, tanto na fase aguda como na forma indeterminada, ela pode, sim, eliminar o Trypanossoma cruzi e não desenvolver essa forma crônica”.

Doença de Chagas: transmissão no Amapá

Uma das principais formas de transmissão no Amapá é a oral, no consumo de alimentos contaminados por barbeiro com o Trypanosoma cruzi — devido à falta de higiene e de cuidados no momento do processamento. Em 2023, pelo menos quatro mortes pela doença foram causadas depois da ingestão de açaí natural contaminado com o barbeiro, segundo a Secretaria de Saúde do Amapá. Um problema comum, como explica Rackel Barroso, gerente do Núcleo de Vigilância Ambiental estadual.

“A contaminação na nossa região acontece, na maioria das vezes, por conta de alguma falha no processamento do açaí natural — que é um alimento muito consumido aqui, na região. No momento que o fruto é processado, às vezes de forma muito artesanal, pode haver uma contaminação pelo vetor”. 

Foi justamente dessa forma que a analista administrativa Valéria Lima, de 39 anos, de Macapá, contraiu Chagas. Ela, a filha pequena, o marido e outras 14 pessoas. Todos participavam de uma festa no interior do estado. Comeram açaí artesanal e, poucos dias depois, os sintomas apareceram. 

A primeira a sentir os sinais foi a própria Valéria: febre alta por mais de 10 dias seguidos. O resultado do exame demorou e só no décimo oitavo dia, já internada e tomando soro, que veio o diagnóstico. Mas assim que o tratamento começou, os sintomas cederam. “No terceiro dia de medicação, já sumiu a febre, sumiram as manchas”, relata.

“Como foi descoberta logo no começo, a medicação já começa a fazer efeito. Tive nada e só precisei fazer check-up anual. Hoje, faço a cada dois anos. Tenho uma vida normal”. 

A gerente da Vigilância Ambiental Rackel Barroso explica como a população pode se prevenir contra essa forma de transmissão da doença de Chagas.  

“Primeiro, evitar essa maneira [de consumir o produto] que não passa por todas as etapas de processamento, inclusive o branqueamento — que é um choque térmico que o fruto passa no momento do preparo. E também pela catação, que é uma esteira de tratamento onde se põe o fruto e embaixo caem todas as sujidades, ou seja, aquilo que a gente não quer que esteja no alimento”, orienta a gerente. 
 
A gestora ainda indica que a população procure locais de processamento do fruto que tenham licença de Vigilância Sanitária e cumpram todas as etapas de cuidado e certificação do preparo do açaí. 

Além da transmissão oral, há também a vetorial, pela picada do barbeiro infectado, permitindo a entrada do parasita Trypanosoma cruzi na corrente sanguínea. Há uma terceira forma de transmissão, a vertical, quando a gestante infectada por Trypanosoma cruzi pode passar para o bebê durante a gestação ou no parto. 
Para evitar que o barbeiro entre em casa e forme colônias, o Ministério da Saúde recomenda o uso de mosquiteiros ou telas metálicas em janelas e a aplicação de inseticidas residuais realizada por equipe técnica habilitada. Também preconiza o uso de repelentes, roupas de mangas longas, durante atividades noturnas em áreas de mata.

Doença de Chagas: referência e tratamento no Amapá

No Amapá, o atendimento começa sempre na Atenção Primária, ou seja, em uma das Unidades Básicas de Saúde (UBS) dos municípios. O médico pede um exame específico que deve ser realizado no Laboratório Central de Saúde Pública do Amapá (Lacen).  Com o resultado em mãos, a pessoa retorna ao médico na UBS. Caso positivo, o encaminhamento é feito a três unidades de referência da doença, em Macapá (AP), para dar início ao tratamento e acompanhamento com especialista. São elas: Hospital de Clínicas Alberto Lima (Hcal), Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Zona Norte e UBS Rubin Aronovitch, onde há um médico infectologista para o atendimento às pessoas com a doença.

O tratamento para as fases aguda e indeterminada da doença dura cerca de 60 dias, feito com Benznidazol em comprimidos, produzido por um laboratório público brasileiro — fornecido exclusivamente pelo SUS. Segundo Francisco Edilson de Lima Júnior, coordenador-geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial do Ministério da Saúde, quanto antes a pessoa começa a se tratar, maiores as chances de sucesso. 

“O tratamento tem maior eficácia quanto antes for feito. Na forma aguda, tem uma alta eficácia e, também, na forma indeterminada. Na forma crônica, dependendo do estágio que a doença tiver, o tratamento já não vai ter tanto efeito. Os tratamentos para a forma crônica são muito mais úteis para os sintomas”, explica o gestor.

A doença de Chagas é a infecção parasitária que mais mata no Brasil. Autoridades de saúde estimam que a doença de Chagas atinge de um a três milhões de brasileiros atualmente. Boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, publicado em abril deste ano, sobre notificações da doença de Chagas, mostra que entre janeiro de 2023 e janeiro de 2024, foram registrados 5,4 mil casos de doença de Chagas, em 710 municípios.

Doença de Chagas: eliminação da doença é um dos objetivos do programa Brasil Saudável

O Ministério da Saúde, por meio do programa Brasil Saudável — que tem como meta a eliminação de 11 doenças socialmente determinadas, entre elas a doença de Chagas—, listou 175 municípios onde o combate aos determinantes sociais relacionados a essas doenças é prioridade. De acordo com as diretrizes do programa, são localidades que possuem altas cargas de duas ou mais doenças ou infecções. A estratégia do programa busca “catalisar e potencializar as ações já existentes e/ou as capacidades de cada Ministério no atendimento às necessidades de populações e territórios mais afetados pelas doenças determinadas socialmente ou sob maior risco”.

“Escolhemos 11, pois são as prevalentes no Brasil. A doença de Chagas, esquistossomose, filariose linfática, geo-helmintíase, malária, oncocercose e tracoma — essas sete são doenças que vamos eliminar — e não ter mais no Brasil, com transmissão igual a zero”, explica o coordenador-executivo do Brasil Saudável e diretor do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, Draurio Barreira. O gestor completa: “E outras quatro, que não vamos eliminar até 2030 de ter transmissão igual a zero, mas vamos atingir as metas da OMS, que são: tuberculose, aids, hepatites virais e hanseníase”.

Macapá e Serra do Navio são as duas cidades amapaenses prioritárias no Brasil Saudável. A capital possui altas cargas de doença de Chagas, sífilis congênita, HIV/aids, hanseníase e tuberculose. Já o município de Serra do Navio tem cargas elevadas de malária e geo-helmintíases.

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24/05/2024 00:14h

Na fase aguda, provoca febre, dores de cabeça e cansaço. Mas sem tratamento, pode evoluir e afetar órgãos como o coração, intestino e o esôfago. É uma das 11 doenças e infecções socialmente determinadas a terem cargas de transmissão e mortalidade reduzidas, num esforço conjunto de 14 ministérios, o programa Brasil Saudável.

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Os primeiros sintomas são comuns a várias doenças: febre, cansaço, dor de cabeça. Mas a doença de Chagas, ainda endêmica na região Norte, pode impactar esôfago, intestino e coração, e levar à morte. O Amazonas é o terceiro estado com maior incidência da doença no Brasil, atrás apenas do Pará e do Amapá. Segundo o Ministério da Saúde, em 2023, foram 11 infecções pela doença.

Multissistêmica, a doença de Chagas é caracterizada por uma fase aguda — que pode durar semanas ou meses —, apresentando sintomas leves ou até assintomática. Também existe a fase crônica, como explica o coordenador-geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial do Ministério da Saúde, Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior.

“Uma vez persistindo, a infecção vai desenvolver uma forma aguda, que pode ser subclínica ou manifestar sinais — como febre. Depois disso, [a infecção] entra numa forma que chamamos de ‘indeterminada’, que não consegue ser identificada — não tem sintomas clássicos. E, após algum tempo, que pode durar anos, pode desenvolver a forma crônica. E essa é uma forma que pode ser tanto cardíaca — que afeta o coração — como digestiva, podendo afetar o esôfago e o intestino. Se a pessoa tratar, tanto na fase aguda como na forma indeterminada, ela pode sim eliminar o Trypanossoma cruzi e não desenvolver essa forma crônica”.

Doença de Chagas: transmissão no Amazonas

Uma das principais formas de transmissão no Amazonas é a oral, no consumo de alimentos contaminados por barbeiro com o Trypanosoma cruzi — devido à falta de higiene e de cuidados no momento do processamento. 

Um problema comum, como explica Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior.
“Hoje, temos, em média, notificados cerca de 300 a 400 casos novos agudos no país [por ano]. E imaginamos que pode haver uma subestimativa desse valor por haver alguns pacientes que não diagnosticam e, principalmente, pela forma de transmissão oral — que é ingerindo alimentos que contenham o Trypanosoma cruzi vindo do barbeiro. Ou seja, ou o barbeiro foi triturado junto com o alimento ou que tinha fezes do barbeiro naquele alimento que não foi bem higienizado. Então a contaminação acontece pela forma oral, especialmente na região Norte”.

A pensionista Delma Maria Santos, de 66 anos, tinha o hábito de consumir açaí natural e caldo de cana, sem se preocupar com a procedência desses alimentos. A moradora de Manaus (AM) suspeita que foi desta forma que contraiu Chagas. Ela relata que a forma aguda da doença de Chagas não se manifestou, tampouco teve sintomas. Só descobriu anos mais tarde, durante um exame de rotina. Logo após o diagnóstico, começou o tratamento.

“Tomei o medicamento por 60 dias — um comprimido. Quando terminei, voltei novamente com a doutora e pronto: estava curada e não tomei mais o medicamento. Mas, até hoje, faço acompanhamento, com três exames do coração todo ano. E está tudo bem”, conta a pensionista. 

No caso da transmissão oral, a principal forma de prevenção é a boa higienização dos alimentos, como orienta Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior. “Pois, em geral, isso acontece quando o barbeiro é moído junto com o fruto ou com algo [outro alimento] e a pessoa não viu. Como se trata de um inseto relativamente grande [para identificar] e que se o alimento for bem higienizado, eliminamos grande probabilidade disso [contaminação do alimento] ocorrer”.

Além da transmissão oral, há também a vetorial, pela picada do barbeiro infectado, permitindo a entrada do parasita Trypanosoma cruzi na corrente sanguínea. Há uma terceira forma de transmissão, a vertical, quando a gestante infectada por Trypanosoma cruzi pode passar para o bebê durante a gestação ou no parto.

Para evitar que o barbeiro entre em casa e forme colônias, o Ministério da Saúde recomenda o uso de mosquiteiros ou telas metálicas em janelas e a aplicação de inseticidas residuais realizada por equipe técnica habilitada. Também preconiza o uso de repelentes, roupas de mangas longas, durante atividades noturnas em áreas de mata.

Doença de Chagas: referência e tratamento no Amazonas

No Amazonas, o atendimento referência para doenças tropicais — que inclui a doença de Chagas — é feito na Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), em Manaus. Mas toda a atenção primária — que inclui Unidades Básicas de Saúde — presente nos municípios brasileiros, está preparada para diagnosticar e tratar a doença. 

O tratamento para as fases aguda e indeterminada da doença dura cerca de 60 dias, feito com Benzimidazol em comprimidos, produzido por um laboratório público brasileiro — fornecido exclusivamente pelo SUS. Segundo Francisco Edilson de Lima Júnior, coordenador-geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial do Ministério da Saúde, quanto antes o paciente começa a se tratar, maiores as chances de sucesso.

“O tratamento tem maior eficácia quanto antes for feito. Na forma aguda, tem uma alta eficácia e, também, na forma indeterminada. Na forma crônica, dependendo do estágio que a doença tiver, o tratamento já não vai ter tanto efeito. Os tratamentos para a forma crônica são muito mais úteis para os sintomas”, explica o gestor.
A doença de Chagas é a infecção parasitária que mais mata no Brasil. Autoridades de saúde estimam que a doença atinge de um a três milhões de brasileiros atualmente. Boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, publicado em abril deste ano, sobre notificações da doença de Chagas, mostra que entre janeiro de 2023 e janeiro de 2024, foram registrados 5,4 mil casos de doença de Chagas, distribuídos em 710 municípios.

Doença de Chagas: doença é um dos alvos do programa Brasil Saudável

O Ministério da Saúde, por meio do programa Brasil Saudável — que tem como meta a erradicação de 11 doenças socialmente determinadas, entre elas a doença de Chagas—, listou 175 municípios onde o combate aos determinantes sociais relacionados a essas doenças é prioridade. De acordo com as diretrizes do programa, são localidades que possuem altas cargas de duas ou mais doenças ou infecções. A estratégia do programa busca “catalisar e potencializar as ações já existentes e/ou as capacidades de cada Ministério no atendimento às necessidades de populações e territórios mais afetados pelas doenças determinadas socialmente ou sob maior risco”.

“Escolhemos 11, pois são as prevalentes no Brasil. A doença de Chagas, esquistossomose, filariose linfática, geo-helmintíase, malária, oncocercose e tracoma — essas sete são doenças que vamos eliminar — e não ter mais no Brasil, com transmissão igual a zero”, explica o coordenador-executivo do Brasil Saudável e diretor do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, Draurio Barreira. O gestor completa: “E outras quatro, que não vamos eliminar até 2030 de ter transmissão igual a zero, mas vamos atingir as metas da OMS, que são: tuberculose, aids, hepatites virais e hanseníase”.

Barcelos, Lábrea, Uarini, Ipixuna e a capital Manaus são as cinco cidades amazonenses prioritárias no Brasil Saudável. A capital possui altas cargas de doença de Chagas, Sífilis Congênita, Hepatites virais, HIV/Aids, Hanseníase e Tuberculose. Já os outros municípios do estado têm cargas elevadas de Malária e Hanseníase.
 

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24/05/2024 00:02h

Na fase aguda, provoca febre, dores de cabeça e cansaço. Mas sem tratamento, pode evoluir e afetar órgãos como o coração, intestino e o esôfago. É uma das 11 doenças e infecções socialmente determinadas a terem cargas de transmissão e mortalidade reduzidas, num esforço conjunto de 14 ministérios, o programa Brasil Saudável

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Os primeiros sintomas são comuns a várias doenças: febre, cansaço, dor de cabeça. Mas a doença de Chagas, ainda endêmica na região Norte, pode impactar esôfago, intestino e coração, e levar à morte. O Pará é o estado com maior incidência da doença no Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, em 2023, foram 408 infecções pela doença.

Multissistêmica, a doença de Chagas é caracterizada por uma fase aguda — que pode durar semanas ou meses —, apresentando sintomas leves ou até assintomática. Também existe a fase crônica, como explica o coordenador-geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial do Ministério da Saúde, Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior.

“Uma vez persistindo, a infecção vai desenvolver uma forma aguda, que pode ser subclínica ou manifestar sinais — como febre. Depois disso, [a infecção] entra numa forma que chamamos de ‘indeterminada’, que não consegue ser identificada — não tem sintomas clássicos. E, após algum tempo, que pode durar anos, pode desenvolver a forma crônica. E essa é uma forma que pode ser tanto cardíaca — que afeta o coração — como digestiva, podendo afetar o esôfago e o intestino. Se a pessoa tratar, tanto na fase aguda como na forma indeterminada, ela pode, sim, eliminar o Trypanossoma cruzi e não desenvolver essa forma crônica”.

Doença de Chagas: transmissão no Pará

Uma das principais formas de transmissão no Pará é a oral, no consumo de alimentos contaminados por barbeiro com o Trypanosoma cruzi — devido à falta de higiene e de cuidados no momento do processamento. Um problema comum, como explica Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior.

“Hoje, temos, em média, notificados cerca de 300 a 400 casos novos agudos no país [por ano]. E imaginamos que pode haver uma subestimativa desse valor por haver alguns pacientes que não diagnosticam e, principalmente, pela forma de transmissão oral — que é ingerindo alimentos que contenham o Trypanosoma cruzi vindo do barbeiro. Ou seja, ou o barbeiro foi triturado junto com o alimento ou que tinha fezes do barbeiro naquele alimento que não foi bem higienizado. Então a contaminação acontece pela forma oral, especialmente na região Norte”.

Foi depois de um almoço em família que a terapeuta ocupacional Lorena Fortuna, de 28 anos, moradora de Belém, se infectou com Chagas. Ela mesma não teve sintoma. Mas o pai, que também comeu açaí natural naquele dia, desenvolveu a forma aguda — com febre alta persistente. Assim que saiu o resultado dele, todos da família passaram por exames e testaram positivo para a doença. Depois de 12 anos da infecção, Lorena conta que os cuidados continuam.

“O tratamento inicial durou dois meses, com um comprimidos diários”, conta Lorena. Lá se vão 12 anos desde a infecção. “Faço acompanhamento até hoje. Eu levei uns anos para ter alta do Instituto Evandro Chagas e continuam os acompanhamentos cardiológicos. Então, uma vez no ano, repito a sorologia do Chagas e faço todos os check ups cardiológicos para ver se não tenho sequela no coração”. 

No caso da transmissão oral, a principal forma de prevenção é a boa higienização dos alimentos, como orienta Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior. “Pois, em geral, isso acontece quando o barbeiro é moído junto com o fruto ou com algo [outro alimento] e a pessoa não viu. Como se trata de um inseto relativamente grande [para identificar] e que se o alimento for bem higienizado, eliminamos grande probabilidade disso [contaminação do alimento] ocorrer”.

Além da transmissão oral, há também a vetorial, pela picada do barbeiro infectado, permitindo a entrada do parasita Trypanosoma cruzi na corrente sanguínea. Há uma terceira forma de transmissão, a vertical, quando a gestante infectada por Trypanosoma cruzi pode passar para o bebê durante a gestação ou no parto. 

Para evitar que o barbeiro entre em casa e forme colônias, o Ministério da Saúde recomenda o uso de mosquiteiros ou telas metálicas em janelas e a aplicação de inseticidas residuais realizada por equipe técnica habilitada. Também preconiza o uso de repelentes, roupas de mangas longas, durante atividades noturnas em áreas de mata.

Doença de Chagas: referência e tratamento no Pará

Em Belém, o Hospital Universitário João de Barros Barreto, o Hospital das Clínicas Gaspar Viana e a Santa Casa são referências no tratamento da doença de Chagas. Mas toda a Atenção Primária — que inclui Unidades Básicas de Saúde — presente nos municípios brasileiros, está preparada para diagnosticar e tratar a doença, esclarece a Secretaria de Saúde do Estado do Pará. 

O tratamento para as fases aguda e indeterminada da doença dura cerca de 60 dias, feito com Benzimidazol em comprimidos, produzido por um laboratório público brasileiro — fornecido exclusivamente pelo SUS. Segundo Francisco Edilson de Lima Júnior, quanto antes o paciente começa a se tratar, maiores as chances de sucesso.

“O tratamento tem maior eficácia quanto antes for feito. Na forma aguda, tem uma alta eficácia e, também, na forma indeterminada. Na forma crônica, dependendo do estágio que a doença tiver, o tratamento já não vai ter tanto efeito. Os tratamentos para a forma crônica são muito mais úteis para os sintomas”, explica o gestor.

A doença de Chagas é a infecção parasitária que mais mata no Brasil. Autoridades de saúde estimam que a doença de Chagas atinge de um a três milhões de brasileiros atualmente. Boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, publicado em abril deste ano, sobre notificações da doença de Chagas, mostra que entre janeiro de 2023 e janeiro de 2024, foram registrados 5,4 mil casos de doença de Chagas, distribuídos em 710 municípios.
Doença de Chagas: doença é um dos alvos do programa Brasil Saudável

O Ministério da Saúde, por meio do programa Brasil Saudável — que tem como meta a erradicação de 11 doenças e infecções socialmente determinadas, entre elas a doença de Chagas—, listou 175 municípios onde o combate aos determinantes sociais relacionados a essas doenças é prioridade. De acordo com as diretrizes do programa, são localidades que possuem altas cargas de duas ou mais doenças ou infecções. A estratégia do programa busca “catalisar e potencializar as ações já existentes e/ou as capacidades de cada Ministério no atendimento às necessidades de populações e territórios mais afetados pelas doenças determinadas socialmente ou sob maior risco”.

“Escolhemos 11, pois são as prevalentes no Brasil. A doença de Chagas, esquistossomose, filariose linfática, geo-helmintíase, malária, oncocercose e tracoma — essas sete são doenças que vamos eliminar — e não ter mais no Brasil, com transmissão igual a zero”, explica o coordenador-executivo do Brasil Saudável e diretor do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, Draurio Barreira. O gestor completa: “E outras quatro, que não vamos eliminar até 2030 de ter transmissão igual a zero, mas vamos atingir as metas da OMS, que são: tuberculose, aids, hepatites virais e hanseníase”.

Afuá, Anajás, Breves, Cametá, Conceição do Araguaia, Gurupá, Igarapé-Miri, Melgaço, Moju, Paragominas e a capital Belém são as onze cidades paraenses prioritárias no Brasil Saudável. A capital possui altas cargas de doença de Chagas, Sífilis Congênita, Hepatites virais, HIV/Aids, Hanseníase e Tuberculose. Já os outros municípios do estado têm cargas elevadas de Malária e Hanseníase.
 

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