O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, avaliou positivamente as medidas anunciadas pelo governo no âmbito do Plano Brasil Soberano, para enfrentar o aumento de até 50% nas tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Alban destacou que o plano contempla diversas demandas da indústria, prioriza a continuidade das negociações com os EUA e mantém a abertura para novas ações, caso necessário.
“Recebemos positivamente, não só pelas medidas estarem contemplando muitas das nossas demandas que foram feitas pelas indústrias, pelas federações e pelas associações setoriais, mas principalmente porque ela englobou dois conceitos básicos, que seria continuar negociando como prioridade, e o segundo, que se novas medidas forem necessárias, elas serão tomadas”, avalia Alban.
O presidente da CNI participou da solenidade de anúncio do Plano Brasil Soberano, na quarta-feira (13), no Palácio do Planalto, em Brasília, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva; o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin; os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann; e os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre.
A decisão dos Estados Unidos de elevar tarifas para até 50% sobre produtos brasileiros, incluindo setores como carne, café e têxteis, gerou preocupação entre os exportadores. Analistas afirmam que o impacto imediato pode ser amenizado por exceções a quase 700 produtos, mas setores como o agronegócio e a indústria de base teriam perdas significativas. Diversificação de mercados, especialmente com a China, fortalece a resiliência brasileira.
O pacote aprovado inclui:
Alban ressaltou que, além do alívio imediato às empresas, é preciso garantir que as medidas cheguem aos setores mais impactados e sejam acompanhadas de ações estruturais para ampliar a competitividade do país e diversificar mercados de exportação.
“O que nós temos que ter o cuidado é que as medidas atinjam a quem precisa, para que a gente possa ter esse movimento contínuo e que dure o menos possível. Todo o fator que também deixou claro é que temos que exacerbar ao máximo possível novos acordos bilaterais, de preferência com o Mercosul, para que nós possamos ter essa abertura de mercado, podemos continuar trabalhando no Custo Brasil, podemos trabalhar na realidade dos nossos juros que não permitem a competitividade e tantos outros itens”, pontuou o presidente da CNI.
A Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) também classificou o pacote de medidas anunciado pelo presidente Lula como positivo. Para a entidade, o Plano Brasil Soberano preserva a competitividade e empregos, ao oferecer crédito, ajustes tributários e prorrogação de prazos no regime de drawback, além de medidas de proteção ao trabalho e possibilidade de compras governamentais.
“A Abiquim reconhece o esforço do governo em viabilizar emergencialmente um pacote robusto e abrangente de medidas de apoio aos exportadores impactados com o tarifaço norte-americano. Além desse pacote de contingência e uma abordagem mais setorial, apoiamos uma firme e resolutiva retomada das negociações entre as autoridades comerciais e diplomáticas dos dois países, tendo já sinalizado claramente que existe espaço para mais exclusões de produtos químicos do tarifaço, e reforçamos que outras medidas seriam muito bem-vindas para auxiliar o setor nesse momento”, afirma o gerente de Comércio Exterior da Abiquim, Eder da Silva.
O setor químico exporta cerca de US$ 2,5 bilhões anuais em insumos para uso industrial aos EUA, e teme não apenas perdas diretas, mas também prejuízos indiretos para segmentos que dependem desses produtos, como plásticos, calçados, alimentos e vestuário. A Abiquim, em parceria com o American Chemistry Council (ACC), destaca que Brasil e Estados Unidos mantêm uma relação econômica historicamente complementar, sustentada por cadeias produtivas integradas e pela presença de mais de 20 empresas químicas de capital norte-americano, no país.
Segundo a associação, dos 700 itens inicialmente sujeitos à tarifa, cinco já foram retirados da lista, representando cerca de US$ 1 bilhão em exportações preservadas. A entidade identificou ainda 90 outros códigos NCM, equivalentes a aproximadamente US$ 500 milhões anuais, e projeta que as exclusões possam alcançar US$ 1,5 bilhão. No entanto, a ampliação desse montante depende de avanços nas negociações diretas entre Brasil e Estados Unidos.
O governo federal anunciou nesta quarta-feira (13) uma medida provisória, batizada de Brasil Soberano, que pretende reduzir os efeitos da taxação de 50% imposta pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros. O texto cria uma linha de crédito de R$ 30 bilhões para as empresas que tiveram prejuízo com as medidas norte-americanas. O plano de socorro ao setor produtivo também inclui as compras governamentais. Nesta modalidade, o governo adquire produtos que seriam exportados, em especial alimentos, para aproveitá-los em programas sociais.
Ao citar a Índia, o presidente Lula garantiu que outro foco da equipe econômica é a abertura de novos mercados pelo mundo para os produtos nacionais. “A gente vai tentar fazer o que estiver ao nosso alcance para minimizar o problema. Agora, a verdade é que não é possível imaginar que um governo não vai substituir os parceiros comerciais. Nós vamos procurar outros parceiros. Da minha parte, somos vendedores de qualquer coisa. Se os Estados Unidos não querem comprar, nós vamos procurar outro país. Em vez de ficar chorando por aquilo que nós perdemos, vamos procurar ganhar em outro lugar. O mundo é grande e está ávido a fazer negociação com o Brasil”, afirmou.
Na semana passada, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) havia apresentado uma lista de oito medidas prioritárias com propostas para atenuar os efeitos das tarifas sobre o setor. A relação foi entregue ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin.
A entidade também aponta que três em cada quatro produtos das exportações brasileiras aos Estados Unidos estão sujeitos a sobretaxas, principalmente vestuário e acessórios, máquinas e equipamentos, produtos têxteis, alimentos, químicos e couro e calçados.
As exportações do agronegócio brasileiro atingiram US$ 15,6 bilhões em julho de 2025, estabelecendo um novo recorde histórico para o mês. O resultado representa crescimento de 1,5% em relação a julho de 2024, impulsionado tanto pelo aumento no volume embarcado quanto pela valorização dos preços das commodities.
O setor registrou ainda um superávit comercial de US$ 14 bilhões, refletindo a robustez das exportações frente às importações e contribuindo de forma significativa para o equilíbrio da balança comercial brasileira.
As exportações de carne bovina in natura somaram US$ 1,726 bilhão, alta de 48,4% em relação a julho de 2024. O volume embarcado chegou a 366.920 toneladas, aumento de 27,4% e recorde histórico para um único mês. Em relação à celulose, as exportações atingiram quase 1,91 milhão de toneladas, estabelecendo recorde para o mês de julho. A demanda crescente nos mercados internacionais impulsionou os embarques, contribuindo significativamente para o superávit do setor.
O Brasil exportou 2,733 milhões de sacas de 60 kg de café em julho, o que representa uma queda de 27,6% no volume em comparação ao mesmo mês de 2024. Apesar disso, a receita cambial alcançou US$ 1,033 bilhão, um crescimento de 10,4% em relação ao ano anterior, devido à valorização dos preços internacionais.
A alta nos preços foi influenciada pela menor oferta de café em outros países produtores, forte demanda global e a busca por qualidade nas variedades brasileiras, especialmente por mercados exigentes como Estados Unidos, Europa e Japão. Esse cenário garantiu que o café permanecesse como uma das principais commodities de exportação do país, mesmo com menor quantidade embarcada.
Mesmo diante de desafios como tarifas comerciais, as exportações brasileiras para os Estados Unidos somaram US$ 23,7 bilhões entre janeiro e julho de 2025, um crescimento de 4,2% em relação ao mesmo período de 2024. O desempenho reforça a diversificação e a competitividade do agronegócio brasileiro no mercado global.
O setor agropecuário brasileiro demonstra resiliência frente a desafios globais. A valorização das commodities e a diversificação de mercados são fatores estratégicos para manter o crescimento sustentável das exportações nos próximos meses.
Levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que a maior parte das exportações brasileiras aos Estados Unidos — principal mercado da indústria de transformação nacional — está sujeita a tarifas adicionais, fruto de medidas protecionistas adotadas pelo presidente Donald Trump.
Segundo o estudo, 77,8% da pauta exportadora brasileira para os EUA enfrentam algum tipo de taxação extra, incluindo tarifas de 10%, 40% e as previstas na Seção 232 do Trade Expansion Act, que impõe alíquotas de 25% e 50%. Essas sobretaxas afetam especialmente produtos como aço, alumínio, cobre, veículos e autopeças.
“Os setores com maior número de produtos exportados afetados pela sobretaxa combinada de 50% seriam: vestuário e acessórios (14,6%), máquinas e equipamentos (11,2%), produtos têxteis (10,4%), alimentos (9,0%), químicos (8,7%) e couro e calçados (5,7%)”, aponta a entidade.
A gerente de Comércio e Integração Internacional da CNI, Constanza Negri, estima que a cobrança por parte dos norte-americanos poderá ter um impacto negativo na economia brasileira. “Em um cenário de aumento de alíquota de 50% adicional para as exportações brasileiras, estamos falando de um impacto negativo no PIB brasileiro de R$ 20 bilhões e nos empregos para a indústria em torno de 30 mil”, afirma.
A análise foi feita com base em dados da United States International Trade Commission (USITC), usando o código tarifário norte-americano em nível detalhado (10 dígitos), o que permitiu identificar com precisão os itens afetados pelas diferentes ordens executivas emitidas nos últimos anos.
Plano de contingência
Para José Velloso, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o plano de contingência que está sendo elaborado pelo governo brasileiro para dar sobrevida às empresas é tão importante quanto as medidas adotadas durante a pandemia de covid-19.
“As medidas em desenvolvimento pelo governo brasileiro são cruciais para dar fôlego às empresas, abrangendo aspectos como capital de giro, crédito e questões tributárias e trabalhistas”, ressalta. O segmento representa 20% do total de US$ 18 bilhões em produtos brasileiros impactados pela medida americana.
Constanza Negri acrescenta que no caso do setor de máquinas e equipamentos, embora vários produtos apareçam na lista de isenções, a não tributação só se dará no caso em que os produtos sejam utilizados para o setor de aviação civil.
“O setor de máquinas e equipamentos é um dos principais na nossa pauta de exportação para os Estados Unidos, que ainda está sujeito a alíquota de 50%, em alguns casos, se a gente for lembrar que o Brasil já é sujeito a uma alíquota de 10% na medida que foi anunciada [pelos EUA] em abril”, pondera.
Lista de propostas
Na tentativa de amenizar os prejuízos, a CNI apresentou uma lista com oito propostas à equipe econômica do governo, entre elas linhas de crédito subsidiadas, aumento do prazo para liquidação de contratos de câmbio, aplicação do direito provisório de exportar produtos a preços inferiores ao valor justo de mercado (dumping), adiamento no prazo de pagamento de tributos federais e a reativação do Programa Seguro-Emprego (PSE).
“Buscamos, com isso, mitigar os efeitos econômicos adversos aos setores afetados pelas barreiras, preservar a capacidade exportadora das empresas brasileiras e garantir a continuidade das operações internacionais em um cenário de alta imprevisibilidade”, defende o presidente da CNI, Ricardo Alban.
O vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou que o governo pretende anunciar até terça-feira (12) o plano de contingência para auxiliar os setores impactados pelas tarifas de 50% sobre produtos brasileiros impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Alckmin explicou que o plano de socorro foi apresentado ao presidente Lula na quarta-feira (6) e aguarda o chefe de Estado “bater o martelo” para divulgá-lo.
“Ele foi apresentado ao presidente Lula, que terminou ontem tarde da noite o trabalho. O presidente vai bater o martelo e aí vai ser anunciado. Se não for amanhã, provavelmente na segunda ou terça-feira”, declarou o vice-presidente em entrevista na quinta-feira (7), no estacionamento do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).
De acordo com Alckmin, o plano de contingência terá como foco o apoio aos segmentos mais afetados pelo tarifaço, com base no volume de transações comerciais com os Estados Unidos. A proposta também prevê uma escala de avaliação para medir a variação das exportações dentro de um mesmo setor.
O economista-chefe da Análise Econômica de São Paulo, André Galhardo, avalia os efeitos das tarifas sobre a indústria da fruticultura.
“Alguns produtos cujo remanejamento das exportações é mais difícil, por questões sanitárias ou logísticas — como frutas — podem apresentar uma sobreoferta no mercado interno. Se não exportarmos mais ou reduzirmos significativamente o volume enviado aos Estados Unidos, dificilmente encontraremos outro mercado disposto a comprar esse excedente em tempo hábil, antes que esses produtos estraguem”, explica Galhardo.
O plano pretende diferenciar os produtos conforme o grau de exposição ao mercado norte-americano, a fim de implementar ações direcionadas para mitigar os impactos econômicos e evitar prejuízos aos produtores.
Com informações da Agência Brasil
As tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entraram em vigor nesta quarta-feira (6). A medida atinge 35,9% das mercadorias enviadas ao mercado norte-americano, o equivalente a cerca de 4% das exportações totais do Brasil.
Entre os produtos que passam a pagar a sobretaxa estão café, frutas e carnes. Por outro lado, aproximadamente 700 itens ficaram de fora do tarifaço, como suco e polpa de laranja, combustíveis, minérios, fertilizantes, aeronaves civis (motores, peças e componentes), polpa de madeira, celulose, metais preciosos, energia e produtos energéticos.
O economista-chefe da Análise Econômica de São Paulo, André Galhardo, avalia que os principais efeitos da medida já começam a ser sentidos no curto prazo, com possíveis consequências inflacionárias ou desinflacionárias no país.
“Alguns produtos cujo remanejamento das exportações é mais difícil, por questões sanitárias ou logísticas — como frutas — podem apresentar uma sobreoferta no mercado interno. Se não exportarmos mais ou reduzirmos significativamente o volume enviado aos Estados Unidos, dificilmente encontraremos outro mercado disposto a comprar esse excedente em tempo hábil, antes que esses produtos estraguem”, explica Galhardo.
Segundo ele, essa sobreoferta pode pressionar os preços para baixo e, assim, contribuir para uma desaceleração da inflação no Brasil. “Acho que os primeiros impactos de curto prazo são esses: uma diminuição, ainda que temporária, da inflação”, afirma.
O tarifaço pode afetar diretamente o bolso do consumidor brasileiro. Com mais produtos disponíveis no mercado interno, os preços tendem a cair. No entanto, Galhardo alerta que essa relação não é automática.
“Alguns exportadores de carne bovina, por exemplo, deixaram de abater animais para equilibrar a oferta e a demanda, já que agora exportam menos para os Estados Unidos. No caso das frutas, se não houver nenhum movimento para ‘queimar’ os estoques, certamente haverá maior oferta ao consumidor brasileiro, o que pode contribuir para a desaceleração da inflação, atualmente acima do teto da meta”, conclui.
O economista também destaca que os impactos vão além dos setores diretamente atingidos, como o café e a carne bovina. De acordo com ele, é inadequado relativizar os efeitos da medida neste momento.
“Claro que os produtores de café e os frigoríficos serão afetados, mas não apenas eles. Existem efeitos indiretos que podem se propagar pela economia. Embora represente uma fração do Produto Interno Bruto, o aumento das tarifas pode ter impacto no câmbio e provocar uma redução no nível de atividade econômica de forma indireta, por meio de um efeito transbordamento”, observa.
Galhardo ainda avalia que “o processo de valorização da moeda brasileira pode ser suavizado ou até mesmo revertido ao longo das próximas semanas”, devido às barreiras tarifárias.
Com menos exportações, há uma redução na entrada de dólares no país, o que pode afetar o fortalecimento do real observado desde o início de 2025.
A decisão do governo dos Estados Unidos de impor tarifas adicionais sobre uma ampla gama de produtos brasileiros reacendeu o alerta no setor produtivo nacional. A medida, que começa a valer em 6 de agosto, impõe alíquotas de até 40% sobre boa parte das exportações — em alguns casos, somadas a uma tarifa de 10% já vigente desde abril. O impacto é especialmente preocupante para setores como carnes, café, frutas secas, máquinas e equipamentos e produtos químicos, que já enfrentam desafios de competitividade internacional.
Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o cenário ameaça o fluxo de exportações para um dos principais parceiros comerciais do Brasil, colocando em risco cadeias produtivas integradas, empregos e investimentos bilaterais. Em entrevista, a gerente de Comércio e Integração Internacional da entidade, Constanza Negri, avaliou que, apesar de exceções pontuais na nova política tarifária, mais da metade das exportações brasileiras aos Estados Unidos ainda será afetada pelas alíquotas elevadas.
“Mais de 50% das nossas exportações seguirão sujeitas às novas tarifas. No caso do setor de proteínas, por exemplo, a alíquota pode ultrapassar 70%, o que é praticamente proibitivo. Estamos falando de um impacto direto em setores fundamentais como carnes, café e frutas secas, que devem ser prioridade nas negociações entre os governos”, afirma Constanza.
A especialista lembra que o setor de máquinas e equipamentos, relevante na pauta industrial brasileira com os EUA, teve parte dos produtos isentados, mas com uma limitação significativa: a isenção só vale para equipamentos destinados à aviação civil.
Estudo citado por Constanza e conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) projeta que um cenário generalizado de aumento tarifário — como o que começa a se consolidar — pode provocar perdas de até R$ 20 bilhões no PIB brasileiro, além de impactar diretamente cerca de 70 mil empregos, sendo 30 mil na indústria e 40 mil no agronegócio.
“Mesmo com as exceções anunciadas, esse estudo dá um norte do tamanho do prejuízo. O mercado americano é o principal destino das exportações industriais brasileiras. Cada bilhão de dólares exportado para lá gera, em média, 24 mil empregos diretos no Brasil”, ressalta a gerente da CNI.
Entre os setores mais atingidos pela nova rodada tarifária está a indústria química, que vê ameaçada uma relação de décadas com os Estados Unidos. Segundo a Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), os EUA aplicaram uma tarifa adicional de 40% sobre a maioria dos produtos químicos brasileiros, o que, somado à alíquota de abril, resulta numa carga tarifária de 50%.
O impacto é direto sobre US$ 1,7 bilhão em exportações, que representam cerca de 70% do total vendido pelo setor químico brasileiro aos EUA em 2024. Apenas cinco produtos, entre 50 itens principais, ficaram isentos da nova tarifa. Éder da Silva, gerente de Comércio Exterior da Abiquim, explica que Brasil e Estados Unidos mantêm uma relação estratégica de investimentos, baseada em uma forte integração produtiva.
“Por isso, a Abiquim espera a ampliação da lista de exclusões, com o objetivo de mitigar tanto os impactos diretos quanto os indiretos — especialmente sobre produtos químicos adquiridos no Brasil para o processamento industrial de bens de diversas cadeias produtivas que também exportam para os Estados Unidos, como móveis, têxteis, couros e borracha.”
Além das exportações diretas, a associação já identificou efeitos indiretos em setores dependentes de insumos químicos, como móveis, têxteis e artefatos de borracha, que começaram a sofrer cancelamentos de pedidos de compradores norte-americanos.
A CNI e a Abiquim vêm atuando junto ao governo brasileiro para buscar soluções por meio do diálogo diplomático. Constanza afirma que a entidade seguirá subsidiando as autoridades brasileiras com dados técnicos e apoio aos setores afetados, atuando também como interlocutora com o setor privado americano.
“Sem dúvida, a nossa grande preocupação é em relação aos efeitos negativos na economia brasileira e continuaremos colocando esforços, como CNI, como indústria brasileira, juntos aos setores e às empresas para ser um facilitador junto ao governo americano e ao governo brasileiro e as nossas contrapartes para demonstrar o quão injustificada é essa medida em relação ao Brasil”, reforça a gerente da CNI.
A Abiquim, por sua vez, propõe medidas emergenciais, como a ampliação do Reintegra para 7%, devolução imediata de créditos de ICMS e novas linhas de financiamento à exportação, além de ações conjuntas com a entidade americana do setor, o American Chemistry Council (ACC), para reverter os efeitos das tarifas.
A expectativa das entidades é de que as negociações avancem com base em critérios técnicos e econômicos, e não em decisões unilaterais ou geopolíticas. Para a indústria brasileira, a prioridade no momento é preservar o acesso ao mercado americano em condições justas e evitar retrocessos em uma relação comercial construída ao longo de décadas.
“Não podemos permitir que medidas como essa comprometam os avanços já conquistados. O momento é de união entre governo, indústria e parceiros internacionais para proteger empregos, investimentos e a competitividade do Brasil no cenário global”, conclui Constanza.
Até a última sexta-feira (1º), a Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) reuniu, junto às suas entidades filiadas, informações que poderão subsidiar medidas do Governo Federal para enfrentar o chamado tarifaço, imposto pelos Estados Unidos.
A consulta foi realizada com as Associações Comerciais e Empresariais (ACEs) que integram o G50+, um conselho estratégico formado por líderes do sistema associativista com forte atuação institucional. O grupo tem como objetivo fortalecer as relações institucionais da CACB e promover um ambiente privilegiado de networking e articulação de alto nível.
As contribuições recebidas serão encaminhadas ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), que convidou formalmente a Confederação a apresentar propostas que possam subsidiar as ações governamentais diante da nova política tarifária norte-americana.
A nova tarifa de 50% sobre parte dos produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos está prevista para entrar em vigor em 6 de agosto e preocupa especialmente a CACB, pelos seus efeitos nas micro e pequenas empresas (MPEs). Embora cerca de 40% dos produtos exportados tenham sido poupados da sobretaxa — já havia sido anunciado um acréscimo inicial de 10% para todos os setores — a medida atinge em cheio as empresas de menor porte.
A lista de exceções inclui 694 itens de setores como o aeronáutico, automotivo, agronegócio, mineração, energia e eletrônicos, além de mercadorias em trânsito ou que serão devolvidas aos EUA.
Mesmo sem estar diretamente na lista dos produtos sobretaxados, muitas micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) integram a cadeia produtiva das exportadoras afetadas. Para a CACB, essas empresas devem ser prioridade nas ações de apoio do governo.
“A pequena empresa não tem condição de buscar um mercado alternativo da noite para o dia. Elas não vão conseguir sobreviver com uma taxação de 50%. Isso pode causar desemprego, porque muitas dessas empresas vão fechar as portas”, alerta o presidente da CACB, Alfredo Cotait.
Embora representem apenas 1,2% do volume total exportado pelo Brasil aos EUA, as micro e pequenas empresas cumprem um papel essencial na geração de empregos e no desenvolvimento local. Cotait reforça:
“O problema dos pequenos é muito mais ligado à subsistência e à empregabilidade.”
Embora gigantes como a Embraer já tenham conseguido derrubar a sobretaxa norte-americana, diversos outros setores produtivos brasileiros permanecem sujeitos à tarifa de 50% (aumento de 40% nas tarifas já existentes, de 10%). Oficializada na última quarta-feira (30), por decreto do presidente Donald Trump, a medida passa a valer em 6 de agosto.
Levantamento preliminar da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Secex/MDIC) aponta que tarifa adicional de 50% incidirá sobre 35,9% das exportações brasileiras para os Estados Unidos. Essa fatia correspondeu a US$ 14,5 bilhões em 2024.
Preocupada com o impacto desproporcional sobre os negócios de menor porte, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) enviou ao governo federal um pacote de oito medidas emergenciais para amortecer o efeito do “tarifaço”. A entidade defende que o momento exige negociação diplomática e políticas internas de apoio às empresas, “e não retaliação”.
“Não há justificativa técnica ou econômica para o aumento das tarifas. Acreditamos que essa medida é uma relação de perde-perde para os dois países”, afirmou o presidente da CNI, Ricardo Alban.
As medidas entregues ao ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, visam garantir fôlego financeiro e preservar a capacidade exportadora dos negócios afetados:
● Linha emergencial de crédito do BNDES com juros entre 1% e 4% ao ano;
● Prorrogação e flexibilização de contratos de câmbio de exportação;
● Adiamento de tributos federais por 120 dias, com parcelamento posterior sem multa ou juros;
● Pagamento imediato de créditos acumulados de PIS/Cofins e IPI;
● Ampliação do Reintegra para 3%;
● Reativação do Programa Seguro-Emprego;
● Ações contra práticas de dumping e reforço à defesa comercial.
Segundo a CNI, cerca de 700 produtos brasileiros serão isentos da tarifa de 50%. Entretanto, os setores importantes para a exportação brasileira ficaram de fora da lista de exceções. Entre os mais atingidos, estão:
● Proteína animal, café e etanol;
● Máquinas e equipamentos industriais;
● Produtos manufaturados e de alto valor agregado.
Os Estados Unidos são o principal destino das exportações da indústria de transformação brasileira, com destaque para pequenas e médias empresas. Segundo a CNI:
● Cada R$ 1 bilhão exportado em 2024 gerou 24,3 mil empregos e R$ 3,2 bilhões em produção nacional;
● O Brasil tem quase 3 mil empresas atuando nos EUA;
● Os investimentos brasileiros no país somam US$ 22,1 bilhões.
Para a CNI, o momento exige pressão coordenada entre setor produtivo e diplomacia governamental para evitar perdas duradouras. Como resposta diplomática, a CNI prepara uma missão empresarial aos Estados Unidos para sensibilizar o setor privado norte-americano. A intenção é mostrar que a tarifa afeta ambos os lados da relação comercial, com prejuízos diretos para cadeias produtivas e empregos.
"O nosso objetivo é abrir a conversa entre empresas brasileiras e americanas que sejam fornecedores ou clientes e vice-versa umas das outras. Nosso papel da CNI é ser um facilitador e um coordenador", reforçou Alban.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, destacou que a missão empresarial que a instituição está organizando aos Estados Unidos busca aproximar empresas brasileiras e americanas que mantêm relações comerciais. “Nosso papel, da CNI, é ser um facilitador – um coordenador –, assim como nossa parceira, a U.S. Chamber of Commerce, nos Estados Unidos, também seja uma facilitadora. E o nosso objetivo não é fazer lobby, é fazer a sensibilização lá, para que as empresas americanas tenham sensibilização para o governo e vice-versa”, explicou Alban, nesta terça-feira (29).
A declaração ocorre em meio à expectativa pela entrada em vigor da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros no mercado norte-americano, prevista para esta sexta-feira, 1º de agosto. Ricardo Alban defende que o diálogo entre empresas dos dois países pode criar pontes e contribuir para uma solução negociada, ainda que a decisão final dependa exclusivamente dos governos.
“Temos que aguardar o que vai acontecer de fato no dia 1º – se teremos a tão desejada suspensão ou a prorrogação [das medidas tarifárias] para que a gente possa ter um tom mais adequado dessas conversas”, acrescentou o dirigente.
A comitiva deve se reunir nas próximas semanas com empresas brasileiras que atuam no mercado norte-americano e com companhias dos EUA que mantêm relações comerciais com o Brasil. O objetivo é promover a sensibilização mútua sobre os impactos negativos do tarifaço e ampliar canais de interlocução, sem interferir diretamente nas negociações governamentais.
Alban destacou que, embora os Estados Unidos representem uma parcela menor das exportações brasileiras, o mercado americano é relevante para o setor industrial nacional, especialmente para pequenas e médias empresas, que não têm margem de manobra para enfrentar barreiras abruptas.
"Queremos encontrar bom senso. Não é simples, não é fácil, mas é possível, se focarmos no que converge”, concluiu.
Impactos esperados: empregos e PIB em risco
Durante reunião da diretoria da CNI na terça-feira, em Brasília, os representantes das federações industriais estaduais demonstraram forte preocupação com os efeitos da tarifa sobre cadeias produtivas locais. A Confederação estima que a medida pode causar:
● Perda de 110 mil empregos no Brasil;
● Redução de 0,16% no PIB nacional;
● Queda de 0,12% na economia global;
● Retração de 2,1% no comércio mundial, o equivalente a US$ 483 bilhões.
O aumento das tarifas de importação anunciado pelos Estados Unidos, com previsão de entrar em vigor em 1º de agosto, pode provocar perdas superiores a R$ 19 bilhões para os estados brasileiros, revela levantamento da CNI, com base no Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
O estudo mostra ainda os impactos nos estados com as maiores dependências do mercado norte-americano. Em 2024, os Estados Unidos representaram 44,9% das exportações do Ceará. No Espírito Santo, a participação foi de 28,6%. Em outros estados, como Paraíba (21,6%), São Paulo (19,0%) e Sergipe (17,1%), a dependência também é significativa.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), Ricardo Cavalcante, afirmou que o estado poderá perder até 8 mil empregos com o tarifaço. Setores como aço, pescado, cera de carnaúba, castanha de caju e calçados estão entre os mais afetados.
“Temos mais de 6 mil barcos pescando no Ceará, cada um com 3 ou 4 tripulantes. Para cada pessoa no mar, há mais cinco em terra. Mais de 90% dos peixes vermelhos do estado vão para os EUA. Essa cadeia representa mais de 40 mil pessoas”, alertou Cavalcante, após reunião com o ministro Geraldo Alckmin e o governador Elmano de Freitas.
Outro levantamento da confederação mostra que há 2,9 mil empresas brasileiras com investimentos nos EUA, com destaque para JBS, Omega Energia, CSN, Bauducco e Embraer. Entre 2020 e 2025, 70 empresas brasileiras anunciaram novos projetos em território americano, somando US$ 3,3 bilhões.
O estoque de investimentos do Brasil nos EUA chegou a US$ 22,1 bilhões em 2024, crescimento de 52,3% em uma década. Em contrapartida, os investimentos dos EUA no Brasil somaram US$ 357,8 bilhões no mesmo ano, com 3,6 mil empresas americanas atuando no país.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quarta-feira (30) que o governo americano não fechou a porta para uma nova rodada de conversas. Segundo Haddad, a equipe do secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, pediu paciência até o retorno do secretário de viagem à Europa.
“Tenho tentado contato com ele. A assessoria dele sinalizou que há espaço para novo diálogo quando ele voltar”, disse Haddad.
Embora o clima ainda seja de incerteza, a expectativa é que o cenário possa mudar com pressão do setor produtivo e articulação política bilateral. A CNI mantém a posição de que a saída deve vir do diálogo — e não de medidas de confronto.