Preconceito

13/01/2024 04:30h

Lei sancionada no fim do ano passado garante que filhos de pessoas com hanseníase recebam pensão vitalícia

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A hanseníase sempre foi uma doença rodeada de estigmas. E esse é um dos aspectos que dificulta o acesso ao diagnóstico e, consequentemente, ao tratamento. De janeiro a novembro de 2023, houve um aumento de 5% no número de casos, em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com o Ministério da Saúde. 

Foram 19.219 casos de hanseníase. Destes dados preliminares, quase 20% (3.927) estão no estado do Mato Grosso — que registrou aumento de 76% quando comparado com 2022. Acredita-se que esse aumento expressivo seja explicado pela diminuição da subnotificação. 

A hanseníase é uma doença infecciosa, causada pela bactéria Mycobacterium leprae e é considerada uma das mais antigas doenças do mundo — antes conhecida como lepra. Ela atinge a pele, mucosas e o sistema nervoso periférico.

O Janeiro Roxo, mês de conscientização e combate à hanseníase, alerta para o diagnóstico da doença, que não é simples, como explica o infectologista Fernando Chagas. 

“Ela tem como característica se alojar nos nervos, especialmente nos nervos periféricos, aqueles que saem da coluna para as pernas e braços. É um microrganismo que se divide muito lentamente, por isso é de difícil diagnóstico inicial. Ela não se desenvolve tão rapidamente e não se desenvolve em todo mundo, depende da imunidade de cada pessoa”, explica.

Os primeiros sinais são as manchas hipocrômicas — de cor diferente da cor da sua pele —, geralmente com perda da sensibilidade no local, além das dores nos nervos e fraqueza nas mãos. Qualquer um desses sintomas deve ser um sinal de alerta para buscar atendimento médico imediato. Embora tenha cura, a falta de tratamento da doença pode causar lesões irreversíveis. 

Pessoas com o sistema imunológico fragilizado e idosos têm mais chances de se infectar pela bactéria. A prevenção é manter as medidas de higiene e em caso de contato com algum paciente procurar atendimento para realizar o exame físico geral, dermatológico e neurológico. 

Tratamento e preconceito

O tratamento é à base de antibióticos e pode levar até dois anos. O paciente deve tomar a primeira dose mensal supervisionada pelo profissional de saúde, sendo as demais, auto administradas. Esse tratamento é disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Associado a isso, a fisioterapeuta dermatofuncional Adriana Hernandez ajuda com a retomada dos movimentos.

“Atuamos principalmente na perda dessa força muscular e na diminuição da sensibilidade, que em muitos casos não é possível recuperar totalmente, então nós entramos justamente trabalhando na diminuição dessas perdas”, explica. 

Por causa dos efeitos da hanseníase, ainda hoje existe um grande preconceito com os pacientes, como relata o infectologista.

“É um estigma muito pesado muito associado à história da doença por ser muito antiga. E outra coisa, quando o microrganismo começa a destruir os nervos, começa a prejudicar o movimento do membro, começa a destruir o tecido e pode causar deformidades, e isso também contribui para o preconceito”, comenta Chagas. 

Nova lei

Entre as décadas de 1920 e 1970, a política do país era capturar os infectados pela hanseníase e interná-los à força em hospitais-colônias, deixando-os isolados e sem contato com os familiares. Por isso, em novembro do ano passado foi sancionada a Lei nº 14.736/2023 que concede pensão vitalícia aos filhos dos pacientes, por terem sido separados dos pais durante essa internação. O valor é de um salário mínimo. 

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Saúde
25/06/2022 04:30h

Caracterizada por manchas brancas ou esbranquiçadas na pele, o vitiligo não causa problemas físicos, mas especialistas destacam que o preconceito e a discriminação podem levar a efeitos psicológicos nos pacientes

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É celebrado neste sábado, dia 25 de junho, o Dia Mundial do Vitiligo, data criada para conscientizar as pessoas sobre a doença. Apesar de afetar uma pequena parcela da população mundial - cerca de apenas 1% em todo o mundo -, e não ser contagiosa, o dia se destaca pela preocupação em combater o preconceito e a discriminação contra os pacientes que têm a doença. 

A principal característica do vitiligo são as manchas que surgem na pele, originadas pela perda do pigmento. Isso acontece por causa da destruição de células que compõem a substância que dá cor à pele, chamada melanina. A principal preocupação com esses pacientes são os efeitos e transtornos psicológicos que o preconceito pode causar.

O dermatologista Caio Cesar Silva de Castro, assessor do departamento de Biologia molecular genética e imunologia da Sociedade Brasileira de Dermatologia, acrescenta que não há sintomas mais graves, mas a qualidade de vida do paciente pode ter uma queda muito grande, especialmente com a diminuição da autoestima.

Ele aponta também que o mais importante no processo de conscientização e combate ao preconceito contra o vitiligo é ressaltar que a doença não é transmissível. “O principal é ficar batendo na tecla de que é não é uma doença contagiosa. E isso eu acho que é o mais importante, porque isso afeta bastante as pessoas. Porque eles ficam sendo olhados com desdém, as pessoas ficam com medo de pegar a doença. Então, acho que bater na tecla que não é contagiosa é o principal”, assinala.

Causas e tratamento

De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia, ainda não se sabe o que pode causar a doença nos pacientes, mas ela não pode ser transmitida de uma pessoa para a outra. O surgimento das manchas, entretanto, pode ser desencadeado ou até mesmo agravado por fatores como alterações autoimunes (quando o sistema imunológico ataca o próprio corpo), exposição solar ou condições de estresse e trauma emocional. 

Castro explica que o vitiligo pode se manifestar de duas formas em geral, que são o segmentar, que atinge apenas um lado ou uma parte do corpo e o não-segmentar, que é mais generalizado, se espalhando por toda a extensão da pele. “O vitiligo segmentar geralmente acontece em crianças ou adolescentes, ou seja, pessoas mais jovens. E ele começa de repente, ele tem um um aparecimento explosivo do dia pra noite, mas ele não tem uma tendência a aumentar. Já tem o vitiligo não-segmentar, é aquele vitiligo que pode dar no corpo inteiro, e esse é um vitiligo mais instável”, apontou. 

Por ser uma doença que não apresenta sintomas prévios, não existem formas de prevenção, por isso recomenda-se ficar atento ao aparecimento de manchas na pele. A recomendação é reforçada para aqueles que têm histórico na família, uma vez que cerca de 30% das pessoas afetadas têm parentes com a condição. O tratamento do vitiligo é feito de maneira individual, uma vez que algumas pessoas podem ter mais sensibilidade na área afetada.

O Dia Mundial do Vitiligo foi criado em 2011, um ano após a morte do cantor Michael Jackson, que sofreu uma parada cardíaca após ter uma overdose causada por remédios. O Rei do Pop, como é conhecido até hoje, tinha vitiligo e faleceu no dia 25 de junho de 2010. 
 

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