Data de publicação: 31 de Janeiro de 2021, 23:00h, atualizado em 29 de Janeiro de 2021, 20:34h
LOC.: A pandemia do coronavírus agravou a situação de insegurança alimentar no Brasil. Segundo a pesquisa “Impactos Primários e Secundários da Covid-19 em Crianças e Adolescentes”, elaborada em duas rodadas pelo UNICEF e pelo Ibope Inteligência, a porcentagem de respondentes que declararam que deixaram de comer aumentou significativamente. Em julho de 2020, 6% dos entrevistados afirmaram que deixaram de comer porque a comida acabou e não havia dinheiro para comprar mais, o correspondente a 9 milhões de brasileiros. Já em novembro, este número aumentou para 13% dos respondentes, representando mais de 20 milhões de brasileiros. Desses, cerca de 5,5 milhões eram de lares com crianças e adolescentes.
A nutricionista e membro do Núcleo Rio de Janeiro da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável Kelly Alves explica que esse aumento no número de famílias em situação de insegurança alimentar reflete o retrocesso de políticas públicas no Brasil e uma combinação da recessão com estagnação econômica, que atinge os mais vulneráveis.
TEC./SONORA: Kelly Alves, nutricionista e membro da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável
“Importante ressaltar que essa insegurança alimentar está relacionada também às questões de raça e gênero. Domicílios chefiados por mulheres ou por pessoas pretas e pardas são os que mais apresentam insegurança alimentar. A pandemia do novo coronavírus trouxe à tona a desigualdade social já existente no País e tem contribuído para piorar ainda mais as condições de vida das pessoas mais vulneráveis, entre elas os moradores das periferias das grandes cidades, como as favelas cariocas.”
LOC.: A pandemia também agravou mais um cenário: o do aumento no consumo de alimentos industrializados. Segundo a pesquisa do UNICEF e do Ibope, 29% dos lares brasileiros consumiam alimentos industrializados. Esse aumento ficou mais evidente em lares com crianças e adolescentes, sendo de 36%.
Vanessa Lonziero Coelho, moradora do bairro Estácio, no Rio, relata a insegurança que tem vivido em meio à pandemia. Atualmente desempregada e mãe de filhos gêmeos de três anos de idade, Vanessa conta um pouco da rotina alimentar em casa.
TEC./SONORA: Vanessa Lonziero Coelho, moradora do RJ
“Nós ingerimos alimentos industrializados. Às vezes por comodidade, outras vezes por necessidade, por falta de tempo mesmo. Como meus filhos são gêmeos, a gente acaba tendo pouco tempo ou eles ficam muito agitados, aí optamos por comidas mais rápidas. Temos acesso a feira, porém os alimentos naturais muitas vezes são mais caros. Antes, você fazia feira com R$ 50 e hoje com esse valor você não leva nada.”
LOC.: Stephanie Amaral, nutricionista e oficial de Saúde do UNICEF no Brasil, explica esse fenômeno.
TEC./SONORA: Stephanie Amaral, nutricionista e oficial de Saúde do UNICEF
“São alimentos cheio de aditivos, que viciam o nosso paladar e que são considerados gostosos. Tem todos esses fatores que são principalmente voltados para crianças e adolescentes.”
LOC.: A Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, do RJ, disponibilizou uma cartilha com objetivo de divulgar informações sobre alimentação adequada e saudável e apoiar as pessoas a fazerem melhores escolhas durante a pandemia. O documento está disponível em alimentacaosaudavel.org.br ou em unicef.org.
Reportagem, Jalila Arabi.