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Desde o início da pandemia, em março de 2020, mais de 20,7 milhões de brasileiros deixaram de comer porque não havia dinheiro para comprar mais comida. Esse é o drama vivido por famílias que sofrem com a insegurança alimentar. Os dados constam em pesquisa do Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF). Ainda de acordo com o levantamento, 5,5 milhões de brasileiros que moram com crianças ou adolescentes deixaram de comer por dificuldade financeira.
Segundo a especialista do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição da Universidade de Brasília (UnB), Elisabetta Recine, o grau de insegurança alimentar varia de leve a grave, quando se observa o quadro desde o temor de faltar alimento para os próximos dias, até a situação real de que a pessoa deixou de realizar uma refeição.
“A insegurança alimentar grave é quando as pessoas em geral tiveram que pular refeição, não comeram o suficiente, enfim, passaram fome, inclusive as crianças. Esse é o grau mais elevado de insegurança alimentar. Logicamente, quando você tem um impacto no peso e na altura, principalmente de crianças, é porque elas sofreram situações agudas ou crônicas de insuficiência alimentar”, pontua.
Maria Lindalva Rocha, de 44 anos, mora no Distrito Federal, na região administrativa do Sol Nascente, considerada uma das maiores favelas do Brasil. Atualmente desempregada, ela conta que vive apenas com o dinheiro do marido e esse precisa ser suficiente para alimentar o casal e os quatro filhos, com idades entre 11 e 19 anos.
“Quando eu e meu marido trabalhávamos fichados, comprávamos tudo o que precisava para uma casa. Mas, hoje não dá mais para fazer isso. Ele trabalha como ajudante de pedreiro e não recebe muito dinheiro. A diária em torno de R$ 70. Além disso, tem dias que trabalha, assim como tem dias que não aparece serviço”, relata.
A chefe de Saúde do UNICEF no Brasil, Cristina Albuquerque entende que esse panorama preocupa ainda mais pelo fato de atingir, principalmente, famílias com menor poder aquisitivo, que dependem de programas do governo para conseguir colocar um prato de comida na mesa.
“Isso refletiu, principalmente nas classes D e E, nas famílias mais vulneráveis, com crianças e adolescentes. Nesse caso, a gente passa a ter um alerta vermelho para dois problemas: o consumo de alimentos industrializados e não saudáveis, além de acender um sinal vermelho para a questão da desnutrição”, avalia.
A mesma pesquisa do UNICEF apresenta dados sobre como a renda familiar caiu durante a pandemia. Nesse sentido, cerca de 86 milhões de brasileiros afirmaram que o rendimento de seus domicílios diminuiu desde o início da crise causada pelo avanço da Covid-19. Dos entrevistados no levantamento, 30% disseram que não estavam trabalhando antes da pandemia e continuam sem ocupação, e 14% estavam com emprego, mas atualmente estão desempregados.
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“Quando a pandemia chega, de maneira brusca, rápida e intensa, ela faz com que essas pessoas tenham, por exemplo, a renda drasticamente diminuída, as escolas fecham e as crianças não têm acesso à alimentação escolar, as pessoas que estavam no trabalho informal tiveram a sua renda absolutamente cortada”, pontua a especialista do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição da Universidade de Brasília (UnB), Elisabetta Recine.
Entre as pessoas que residem com crianças ou adolescentes e tiveram redução da renda, 64% informaram que o motivo foi a diminuição do salário de alguém da família. Além disso, de acordo com as pessoas que moram com crianças ou adolescentes que estudam em escola pública, menos da metade recebeu alimentação da escola durante o período de fechamento por causa da Covid-19.
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