LOC.: Quando o assunto é insegurança alimentar, a situação no Nordeste do País está entre as mais graves. Uma pesquisa do UNICEF revela que, desde o início da crise provocada pela Covid-19, 12% das famílias que vivem na região passaram por algum momento em que deixaram de comer porque a comida acabou e não havia dinheiro para comprar mais.
Mãe de dois filhos, a trabalhadora autônoma Karla Daniele Araújo, de 35 anos, se encontra nessa circunstância de insegurança alimentar. A moradora de São Luís, no Maranhão, conta que depende da ajuda de outros familiares para conseguir por comida na mesa, já que o emprego de revendedora de cosméticos não tem gerado renda suficiente para comprar mantimentos.
TEC./SONORA: Karla Daniele Araújo, trabalhadora autônoma.
“As vendas caíram muito devido a pandemia. Eu tive dificuldade para receber o auxílio emergencial. Se não fosse minha família, estaria passando fome, porque sou mãe solteira, crio meus filhos sozinha, e só tenho minha mãe que trabalha, e também está sendo muito difícil para ela me ajudar.”
LOC.: Segundo a especialista do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição da UnB, Elisabetta Recine, quando envolve família com crianças ou adolescentes em casa a situação é mais complicada, devido a maior necessidade que esse grupo tem de consumir alimentos na quantidade e qualidade ideal para uma boa formação física e mental.
TEC./SONORA: Elisabetta Recine, especialista do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição da UnB.
“Pensando para crianças pequenas, é importantíssimo que haja a maior variedade possível de alimentos naturais, preparados em casa, por exemplo, para que você consiga basicamente duas coisas: primeiro, um aporte nutricional em termos de quantidade de alimentos suficientes para o crescimento, mas também uma variedade de alimentos. Porque é nesse período que os hábitos alimentares vão se formando.”
LOC.: Nesse sentido, a oficial de Saúde do Unicef no Brasil, Stephanie Amaral, destaca que esse contexto chama a atenção para o desenvolvimento de políticas públicas capazes de melhorar as condições alimentares das famílias mais pobres do País.
TEC.SONORA: Stephanie Amaral, oficial de Saúde do Unicef.
“Uma pergunta que tem sido feita há muito tempo é: como melhorar a alimentação das populações, principalmente as mais vulneráveis? Entre os exemplos de políticas públicas que podemos pensar estão subsídios para alimentos mais saudáveis, para que se tornem mais baratos; melhorar o acesso para que esses alimentos se façam presentes nos locais mais vulneráveis. É trazer informação de qualidade para que as pessoas saibam o que estão consumindo e o que deveriam consumir.”
LOC.: De acordo com a pesquisa, em todo o País, entre as pessoas que residem com crianças ou adolescentes e tiveram diminuição da renda, 64% informaram que o motivo foi a redução do salário de alguém da família.
Reportagem, Marquezan Araújo