Com o objetivo de reduzir os óbitos maternos e infantis agravados na pandemia, o Brasil contará com acréscimo de R$ 624 milhões ao financiamento da rede de saúde. O aprimoramento da assistência terá o fortalecimento das maternidades e a criação dos ambulatórios de assistência a gestantes com alto risco para complicações, além dos ambulatórios de seguimento de recém-nascidos e crianças egressas de UTI neonatal.
Com esse montante, o Ministério da Saúde pretende reestruturar o modelo da rede de saúde materna e infantil, para fortalecer a integralidade da assistência e o combate à mortalidade materna e na infância.
Às vésperas do Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna e Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher, comemorado neste sábado (28), o Ministério da Saúde apontou uma inversão nos motivos dos falecimentos.
Nova edição da Caderneta da Gestante terá 3 milhões de exemplares em 2022
LEITE HUMANO: Saúde lança campanha para aumentar em 5% número de doações
CÂNCER: Exame de mama deve ser realizado a partir dos 40 anos, recomenda SBM
Entre 2017 e 2019, as mortes diretamente ligadas a causas obstétricas, como hipertensão e hemorragias, predominavam. Os dados preliminares de 2021 apontam que causas indiretas, como doenças do sistema respiratório e circulatório, ultrapassaram, somando 1.625 óbitos. Segundo a diretora do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas (DAPES), ginecologista e obstetra Lana de Lourdes Aguiar, com a pandemia, as fragilidades da Rede de Atenção à Saúde foram expostas de Norte a Sul do país.
“Tanto barreiras de acesso quanto a falta de detecção precoce ocasionaram demoras para a realização do diagnóstico e o tratamento oportuno de gestantes e puérperas que eram acometidas pela Covid-19”, afirmou.
A morte materna ocorre durante a gravidez ou dentro de um período de 42 dias seguintes ao parto independentemente da duração, devido a qualquer causa relacionada ou agravada pela gestação e seu tratamento.
Para além das estatísticas, fica o vazio das crianças que sequer têm a chance de conhecer quem as trouxe ao mundo. A estudante brasiliense Bianca Amorim, de 21 anos, perdeu a mãe em 2007, em decorrência de problemas no parto da irmã. "A minha mãe teve uma gestação bem complicada. Ela ficou de repouso, fez pré-natal, exames, tomava muitos remédios. Mas teve uma hemorragia durante o parto, que resultou em uma trombose pulmonar e ela não resistiu”, contou.
Com apenas seis anos à época, sem entender bem o que havia acontecido, foi extremamente difícil compreender o fato de que a mãe, que havia saído de casa para dar à luz sua irmãzinha tão esperada, não voltaria mais do hospital.
“E pra mim ficou o vazio da dor, que vai sempre me acompanhar, que a gente só aprende a conviver com ela. Mas o que aquece o meu coração é saber que cada pedaço meu tem um pedacinho dela.”
Óbitos maternos notificados ao Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM)
- 2019: 1.576 óbitos
- 2020: 1965 óbitos
- 2021*: 2.768 óbitos (Dados preliminares)
O painel do Ministério da Saúde mostra que o país vinha registrando uma queda nos óbitos de gestantes e puérperas entre 2017 e 2019. No entanto, em 2020, com o início da disseminação do coronavírus, a situação mudou.
Região
Apesar de atingir todas as Unidades de Federação, segundo o DAPES, os óbitos maternos concentram-se mais nas regiões Norte e Nordeste, dadas as dificuldades acentuadas pelos vazios assistenciais. Apesar disso, com a pandemia, observou-se um aumento representativo da mortalidade materna em estados como Santa Catarina, Paraná e Distrito Federal.
Razão de Mortalidade Materna (RMM). Brasil, Regiões e Unidades da Federação, 2010 a 2020.
Região/Unidade da Federação |
2010 |
2011 |
2012 |
2013 |
2014 |
2015 |
2016 |
2017 |
2018 |
2019 |
2020 |
Norte |
78,4 |
74,7 |
73,2 |
83,8 |
93,6 |
76 |
84,5 |
88,9 |
80,8 |
82,5 |
98,9 |
Rondônia |
83,2 |
58,3 |
64,1 |
94,2 |
87,7 |
57,7 |
56,4 |
87,3 |
47,8 |
59,6 |
78,1 |
Acre |
48,8 |
33,7 |
53,9 |
58,6 |
46,7 |
58,9 |
69,7 |
48,9 |
54,4 |
49,1 |
33 |
Amazonas |
119,5 |
84,6 |
85 |
81,6 |
120,8 |
78,8 |
84,7 |
75,6 |
108,4 |
84,8 |
101,8 |
Roraima |
13,8 |
67,5 |
38 |
74,5 |
60,4 |
96,4 |
52,7 |
59,6 |
100,6 |
91,9 |
146,4 |
Pará |
69,7 |
73,8 |
78,9 |
86,7 |
96,4 |
72,9 |
86,4 |
107,4 |
81,4 |
96,1 |
107,1 |
Amapá |
26,8 |
53,3 |
54,1 |
119,7 |
66 |
110,8 |
141,7 |
45,5 |
88,3 |
32,6 |
102,5 |
Tocantins |
76,8 |
112,6 |
53,3 |
61,2 |
60,1 |
85,6 |
92,2 |
96,3 |
31,6 |
71,4 |
79,2 |
Nordeste |
83,3 |
77,9 |
72,7 |
82,4 |
77,9 |
75,3 |
78 |
73,2 |
67,1 |
63,6 |
91,8 |
Maranhão |
133,7 |
109,8 |
96,1 |
123,8 |
100,9 |
116,5 |
122,2 |
101,8 |
90,6 |
80,6 |
108,9 |
Piauí |
125 |
107,1 |
126 |
130,2 |
86,8 |
103,6 |
108,5 |
88,6 |
105,8 |
98,1 |
101 |
Ceará |
70,6 |
68,4 |
69,4 |
74,5 |
65,3 |
49,1 |
63,4 |
65,7 |
68,4 |
58,1 |
97,6 |
Rio Grande do Norte |
36,6 |
68,6 |
66 |
54,5 |
74,8 |
68,4 |
77,2 |
77,9 |
58,6 |
70,4 |
78,1 |
Paraíba |
61,8 |
61,7 |
61,5 |
70,9 |
63 |
81,8 |
99,9 |
67,8 |
53,2 |
62,8 |
97,7 |
Pernambuco |
61,9 |
57,5 |
56 |
64,3 |
63,4 |
67,6 |
58,1 |
63,3 |
59,2 |
48 |
70,8 |
Alagoas |
74,4 |
66,8 |
56,3 |
71,6 |
104,1 |
59,1 |
51,9 |
37,7 |
49,5 |
58,2 |
82,7 |
Sergipe |
71,1 |
83 |
70,4 |
67,2 |
66,9 |
51,6 |
55,9 |
56,1 |
58,8 |
36,7 |
97,5 |
Bahia |
87,3 |
80,6 |
70 |
80,6 |
81 |
75,4 |
72,6 |
76,9 |
60,8 |
64 |
93,1 |
Sudeste |
56 |
48,7 |
46,5 |
50,1 |
53,9 |
54,3 |
55,8 |
62,3 |
53,2 |
53,5 |
65,1 |
Minas Gerais |
50,5 |
40,3 |
36,6 |
47,6 |
49 |
47 |
46,9 |
45,2 |
51,2 |
44,4 |
51 |
Espírito Santo |
65,6 |
60,8 |
64,4 |
59,6 |
109,2 |
73,1 |
48,7 |
71,6 |
63,9 |
56,2 |
68,8 |
Rio de Janeiro |
83,6 |
74,3 |
80,8 |
80,3 |
71,9 |
67,1 |
71,6 |
84,7 |
61,7 |
74,5 |
95,4 |
São Paulo |
47,6 |
42 |
36,8 |
39,3 |
44,2 |
50,8 |
54,4 |
60,6 |
50 |
49,7 |
60,1 |
Sul |
62,8 |
50,4 |
54,5 |
36,6 |
41,7 |
43,7 |
44,2 |
38,5 |
38,2 |
38,3 |
45,6 |
Paraná |
65,4 |
52,7 |
38,4 |
41,7 |
41,3 |
51,7 |
50,3 |
31,7 |
38,4 |
45,5 |
52,6 |
Santa Catarina |
38,1 |
30,7 |
45,4 |
31,4 |
30,2 |
30,9 |
31,5 |
40,7 |
35,1 |
30,6 |
31,7 |
Rio Grande do Sul |
75,6 |
60,5 |
78,3 |
34,2 |
49,7 |
43,4 |
46 |
44,5 |
40,3 |
39,9 |
48,3 |
Centro-Oeste |
77,2 |
68,2 |
64,3 |
62,5 |
60,2 |
65,9 |
67,3 |
56,9 |
64,9 |
59 |
77 |
Mato Grosso do Sul |
113,8 |
92,4 |
73,1 |
66,7 |
79,3 |
88,2 |
80,1 |
60,3 |
84,9 |
64,5 |
48,8 |
Mato Grosso |
76,9 |
83,9 |
58,5 |
71,6 |
63,7 |
82,9 |
78,5 |
61,1 |
58 |
64,6 |
91,8 |
Goiás |
69,1 |
50,9 |
70,5 |
56,7 |
53,8 |
56,6 |
56,5 |
56,4 |
64,7 |
69,7 |
90,5 |
Distrito Federal |
60,7 |
61,8 |
49,4 |
60,3 |
51 |
43,7 |
64,6 |
49,4 |
54,3 |
21,2 |
53,4 |
Brasil |
68,9 |
61,8 |
59,3 |
62,1 |
63,8 |
62 |
64,4 |
64,5 |
59,1 |
57,9 |
74,7 |
Segundo a médica Lana de Lourdes Aguiar, diretora do DAPES, até a pandemia, a mortalidade materna fazia parte de um indicador de desigualdade social, cenário que passou a não ter mais precedentes. “Ao observar os estados com trajetória positiva na rede de atenção materna e infantil, e com Índices de Desenvolvimento Humano superiores a muitos estados brasileiros, estes performaram insatisfatoriamente no atendimento ágil e oportuno de gestantes e puérperas com Covid.”
Ações para redução da mortalidade materna
Dos óbitos que ocorrem durante a gravidez ou por complicações durante o parto, 90% das causas são consideradas evitáveis, com atenção à saúde precoce e de qualidade.
As ações, de acordo com o DAPES, serão voltadas à atenção a gestantes, parturientes, puérperas e bebês com a criação da Rede de Atenção Materna e Infantil (Rami). “Estamos mantendo todos os serviços da antiga Rede Cegonha e agora trabalhando para ampliar, fortalecer esses componentes que já eram propostos no passado e oferecer um cuidado mais integral com a Rami”, destacou Aguiar.
O aprimoramento da assistência contará com o fortalecimento das maternidades e a criação dos ambulatórios de assistência a gestantes com alto risco para complicações.
Segundo o secretário de Atenção Primária à Saúde, Raphael Parente, a análise desses dados é um indicador importante para medir a qualidade dos serviços de saúde e direcionar melhor ações e recursos. “Os processos de vigilância e análise contínua de dados, e ter acesso a informações oportunas de qualidade, facilitam e favorecem uma resposta adequada a essas situações e agravos de saúde.”