Agência Brasil
Agência Brasil

Centro-Oeste: número de casos da Covid-19 mais do que triplica nos últimos 30 dias

Sistema de saúde privado em Mato Grosso chegou ao colapso; situação dos leitos de UTI é preocupante em Goiânia e nos hospitais particulares do Distrito Federal

SalvarSalvar imagemTextoTexto para rádio

A região Centro-Oeste do país vê a Covid-19 avançar nas últimas semanas. Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul viram o número de casos do novo coronavírus mais do que triplicar em 30 dias, o que fez a taxa de ocupação de leitos de UTI se aproximar de 100% em Goiânia, por exemplo, e provocou falta de vagas nos hospitais matogrossenses.

Recentemente, o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Correia de Medeiros, afirmou que a pasta tem preocupação especial com a propagação da doença no Centro-Oeste e também no Sul do Brasil. Para te ajudar a entender o cenário, o Brasil 61 fez um levantamento dos principais indicadores sobre a Covid-19 no DF e nos três estados e buscou explicações para o aumento.

Segundo o infectologista Hemerson Luz, está claro que a região Centro-Oeste atravessa o momento mais difícil no enfrentamento à pandemia desde março. “Analisando os gráficos de crescimento da Covid-19 no Centro-Oeste, percebemos que estamos em pleno pico, como era previsto para meados de julho. É bem provável que a tendência de crescimento persista por algum tempo até começar a decair o número de casos”, avalia.

Covid-19 avança sobre estados da Região Sul

Pico da pandemia no Brasil deve ocorrer em agosto, segundo a OMS

Tratamentos experimentais contra covid-19 ganham força no Brasil

Distrito Federal

No último domingo (12), o secretário de Saúde do DF, Francisco Araújo Filho, afirmou que a capital federal está “atravessando o pico” da curva de casos do novo coronavírus. Isso é refletido, sobretudo, na taxa de ocupação de leitos da rede de saúde particular do DF, que está em 95%. Apenas 12 vagas estão disponíveis para pacientes com a Covid-19 nos hospitais privados. Na rede pública, a situação é melhor. De acordo com a Sala de Situação do GDF, a taxa de ocupação é de 76%, com 144 leitos livres. De acordo com os dados mais recentes, o DF tem 73.654 casos confirmados e 960 óbitos pela doença.

No fim de junho, o governador do DF, Ibaneis Rocha, declarou estado de calamidade pública devido à pandemia da Covid-19. Apesar disso, o chefe do executivo local permitiu a volta de salões de beleza, barbearias e academias, desde a última semana. De acordo com o cronograma, bares e restaurantes podem funcionar já a partir desta quarta-feira (15). As aulas presenciais nas escolas públicas e privadas devem voltar apenas em agosto mas sem data confirmada.

Apesar da retomada em boa parte do DF, Ceilândia, Sol Nascente e Pôr do Sol tiveram que fechar novamente o comércio não essencial na última quarta-feira (8). As atividades nessas regiões não têm data para voltar, segundo Ibaneis. O motivo seria a desobediência ao distanciamento social e o crescimento do número de casos. “Mesmo dentro do DF, nós temos vários tipos de curva. Por isso que vivemos hoje uma abertura praticamente em todo o distrito, mas com algumas localidades vivendo quase um lockdown”, analisa Hemerson Luz.

O governador acredita que a curva de contaminação deve se estabilizar em breve, atingido o chamado “platô” antes de começar a desacelerar. “A população tem de segurar as pontas. O brasiliense é disciplinado e precisa continuar a usar a máscara, se proteger com o álcool em gel, evitar as aglomerações”, afirmou em entrevista na última semana.

Goiás

De acordo com a última atualização da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), são 38.299 casos confirmados e 910 mortes pelo novo coronavírus. Há um mês, eram pouco menos de oito mil ocorrências, o que aponta para um crescimento de 365% no período.

Estudos mostram que o estado enfrenta o momento mais crítico da pandemia, superando os mil casos diários. Dos leitos de UTI dos hospitais estaduais destinados para tratamento de pacientes com o vírus, 85% estão ocupados. A situação na capital, Goiânia, é crítica. De acordo com o último boletim epidemiológico, apenas seis leitos estão disponíveis. A taxa de ocupação é de 96%. Há a previsão de 38 novas vagas, que estão em implantação, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES-GO). 

Para tentar frear a curva de contaminação, o governador Ronaldo Caiado decretou, em 30 junho, uma quarentena diferente da adotada por outros estados e países: o isolamento intermitente. A estratégia é um sistema de revezamento das atividades econômicas, intercalando 14 dias de suspensão e 14 dias de funcionamento. Nesta terça-feira (13), após duas semanas de restrições, o governador liberou a abertura do comércio em geral, bares, academias, eventos esportivos e atividades religiosas.

O prefeito de Goiânia, Iris Rezende, seguiu a mesma linha do decreto estadual e flexibilizou o funcionamento das atividades não essenciais. Ele afirmou que pode voltar atrás na decisão. "Nós não teremos dificuldade em modificar itens desse decreto caso a aplicação do mesmo possa nos mostrar que tenhamos cometido excesso ou falhas."

Mato Grosso

Em Mato Grosso, os casos confirmados do novo coronavírus aumentaram mais de 400% no último mês. Entre 13 de junho e 14 de julho, o número saltou de 5,7 mil casos para 29,2 mil casos. No mesmo período, o número de óbitos saltou de 199 para 1.105, um crescimento de 455%.

A propagação da pandemia no estado colapsou o sistema de saúde. Na última semana, a ocupação dos leitos chegou a 97%. Boa parte dos hospitais da rede privada e alguns da rede pública não têm mais leitos e os pacientes estão sendo transferidos para estados vizinhos, como Mato Grosso e Goiás.

O infectologista Hemerson Luz acredita que o melhor parâmetro para evitar o colapso do sistema de saúde é o acompanhamento da taxa de ocupação dos leitos de UTI. Por esse critério, a volta das atividades não essenciais em muitos locais da região é precipitada, conclui. “Se estiver acima de 70%, corre-se o risco de ocorrer o colapso do sistema de saúde e o aumento da taxa de letalidade, pois muitos pacientes poderão ficar aguardando, contribuindo para um desfecho desfavorável, incluindo o óbito.”

Diante da situação, a justiça local decretou no fim de junho quarentena obrigatória. Todos os serviços e atividades não essenciais na capital Cuiabá e em Várzea Grande, ficaram proibidos de funcionar. As restrições têm duração mínima de 15 dias, mas podem ser prorrogadas a critério dos gestores municipais. No primeiro estado a instituir o uso obrigatório de máscaras, outras medidas restritivas continuam valendo, como o distanciamento social de 1,5 metro entre as pessoas e a disposição de álcool gel para higienização das mãos nos comércios.

Mato Grosso do Sul

Estado onde nasceu o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o Mato Grosso do Sul tem o menor número de casos da Covid-19 no país. Os dados mais recentes das autoridades em saúde sul-mato-grossenses apontam ocorrências. Ao todo, são 177 óbitos. A taxa de ocupação dos leitos de UTI para pacientes com o novo coronavírus é de 48%. Apesar disso, a pandemia deu sinais de aceleração no estado no último mês, a exemplo do que ocorre nos estados vizinhos. Em 30 dias, cresceu 316% a quantidade de casos confirmados.

Desde o fim do mês passado, o estado implantou o Programa de Saúde e Segurança da Economia (Prosseguir). O projeto classifica cada macrorregião de saúde em uma escala de risco — por cores — que considera critérios de saúde e econômicos. De acordo com a classificação, são definidas as medidas de flexibilização ou restrição do comércio em cada município.

Receba nossos conteúdos em primeira mão.