
LOC.: O gasto com pessoal voltou a crescer no governo federal e acende mais um alerta sobre a qualidade do gasto público no Brasil. Enquanto o orçamento segue pressionado por despesas obrigatórias, como salários e aposentadorias, o espaço para investimento encolhe ano após ano — e a conta acaba sendo compensada com mais impostos.
Dados da plataforma Gasto Brasil mostram que, em 2024, as despesas com pessoal — ativo e inativo da União — e encargos sociais superou os R$ 362 bilhões, enquanto o investimento ficou em pouco mais de R$ 60 bi no mesmo período. Ou seja, o gasto com pessoal é seis vezes maior do que com investimentos.
O contraste escancara um problema estrutural: o Brasil gasta muito com a máquina pública e pouco com políticas que geram crescimento. Para Claudio Queiroz, criador da plataforma Gasto Brasil e Consultor da CACB, a Confederação das Associações Comerciais e Empresarias do Brasil, a distorção compromete o desenvolvimento do país e reduz a capacidade de resposta do Estado a demandas da população.
TEC/SONORA: Claudio Queiroz, criador da plataforma Gasto Brasil e Consultor da CACB, Confederação das Associações Comerciais e Empresarias do Brasil
“O Gasto Brasil surgiu com o intuito de trazer mais transparência sobre as despesas gerais da máquina, do governo, e não de forma fragmentada”
LOC.: Segundo a plataforma, as despesas do Governo Federal são classificadas em mais de 60 itens, agrupados em 28 categorias. Dentre essas, 11 categorias representam aproximadamente 96% do total das despesas. As duas maiores destas — Previdência e Despesas com Pessoal e Encargos Sociais — correspondem a cerca de 60% do total.
Para buscar novas fontes de receita, o governo editou a Medida Provisória que acaba com a isenção de Imposto de Renda de títulos incentivados, como LCA e LCI, que, a partir do ano que vem, serão tributados em 5%.
A expectativa da Fazenda é arrecadar mais de R$ 31 bilhões entre 2025 e 2026, segundo o Ministério da Fazenda, valor que deve ajudar a cobrir despesas como o reajuste dos servidores públicos.
O economista Ricardo Amorim usou as redes sociais para escancarar o problema. Segundo o especialista, a troca da tributação do IOF pelas letras de crédito, não muda o impacto final, que acaba recaindo sobre o contribuinte.
TEC/SONORA: Ricardo Amorim, economista
“O que significa nos dois casos, é crédito mais caro. No caso do IOF é crédito mais caro para todo mundo. Se for especificamente em cima dos títulos — hoje isentos, emitidos para o setor imobiliário ou para o setor do agro — o que vai acontecer é que vai ficar mais caro crédito para comprar imóvel, ou seja, vai ficar mais difícil que o brasileiro possa ter uma casa própria. Ou vai ficar mais cara a produção do agro, o que vai significar alimentos mais caros no supermercado, pagos obviamente, por todos os brasileiros.”
LOC.: A busca por receitas adicionais ocorre em meio à tentativa do governo de cumprir as metas do novo arcabouço fiscal, que prevê déficit zero em 2025. Para isso, será necessário controlar despesas obrigatórias e aumentar a arrecadação — sem sufocar a economia.
Reportagem, Livia Braz