Foto: Ingrid Anne/Prefeitura de Manaus
Foto: Ingrid Anne/Prefeitura de Manaus

Faltam sedativos para intubação de pacientes em 25 estados e no DF

Levantamento do Conass aponta que alguns medicamentos já acabaram em sete estados no último dia 24; Ministério da Saúde abriu licitação emergencial

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Além do número insuficiente de respiradores e leitos, hospitais pelo país também enfrentam outra dificuldade: a falta de pré-anestésicos, anestésicos, sedativos e relaxantes musculares usados em pacientes com sintomas graves da covid-19 que precisam ser entubados. Um levantamento do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) mostra que em 26 das 27 unidades da federação há falta ou estoque limitado desses medicamentos. Nos estados do Amapá, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte e Tocantins, mais da metade dos sedativos recomendados para entubação já haviam acabado em 24 de junho, quando o estudo foi publicado. Somente em Alagoas a Secretaria Estadual de Saúde relatou haver bom estoque de todos os 22 medicamentos pesquisados.

Segundo o consultor de Assistência Farmacêutica do Conass, Heber Dobis Bernarde, o problema começou a se intensificar em maio e o aumento da demanda pelas drogas resultou na escassez dos remédios no mercado. “Não é falta de recursos financeiros. As secretarias estão preparadas para comprar, tem intenção de comprar, porém há alguns problemas apontados pelas secretarias. Dentre eles, o fracasso e licitações desertas, a falta dos produtos no mercados e a alta dos valores”, explicou o técnico em audiência pública na Câmara dos Deputados.

De acordo com o órgão, das 27 Secretarias Estaduais de Saúde, 20 estão habilitadas para fazer a compra direta dos medicamentos e todas tentaram comprar nos últimos meses, algumas mais de uma vez. No total, 18 processos de compra abertos estão com atraso na entrega. Sete ainda estão em andamento. Outros 13 processos de compra fracassaram por nenhuma empresa ter se apresentado como fornecedora.

Arte: Sabrine Cruz

Para tentar sanar esse problema, empresas farmacêuticas se comprometeram a fazer um levantamento do que existe em estoque e realizar a venda a estados e municípios. “Os anestésicos eram usados para cirurgias. Então, eles ficaram três a quatro horas sendo utilizados por um paciente. Hoje, o paciente usa 24 horas o anestésico quando está entubado. Nas reuniões entre as empresas e Anvisa ficou determinado que há como fazer uma adequação de fornecimento”, explicou Nelson Mussolini, presidente do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos. Esse levantamento já permitiu a distribuição de 185 mil unidades de medicamentos para dez estados, segundo o Ministério da Saúde.  

Riscos 

O medicamento que mais está em falta é o Bensilato de Cisatracúrio, um bloqueador neuromuscular que evita que o paciente se mexa durante o processo de intubação. Sem esse e outros remédios, esse processo se torna, muitas vezes, inviável. Em casos mais graves, não ligar o paciente ao suporte respiratório pode até levar à morte, como explica o presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal, Gutemberg Fialho.

“A falta dessa medicação faz com que a intubação seja um procedimento doloroso e que estimule reflexos no paciente, como vômito, aspirações que podem levar a pneumonia. Isso deixa o paciente agitado e ele pode fazer a extubação, que é retirar o tubo, ficando sem respiração e tendo um grave risco de óbito”, alerta.

Depois que o Conass levou a demanda ao Ministério da Saúde, a pasta anunciou a abertura de uma licitação para adquirir os medicamentos. “Isso vai possibilitar que estados e municípios sejam coparticipantes, para comprarem por um valor reduzido pela compra em escala. Os medicamentos serão entregues no depósito do Ministério da Saúde em Guarulhos e depois nós assumimos a logística para transportar para estados e municípios que aderirem”, explicou o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, em coletiva na última segunda-feira (29). O processo de compra está sendo feito com prioridade, mas a pasta não divulgou um prazo para que os remédios cheguem aos hospitais.
 
Além disso, o governo mantém contato com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), que analisa quais países possuem capacidade de produção dos medicamentos, para que sejam importados pelo Brasil.

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