Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil
Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

Bioeconomia: o que é e como pode alavancar investimentos para o Brasil

País tem uma das maiores biodiversidades do planeta e a bioeconomia tem despontado como alternativa para o desenvolvimento sustentável


Você já ouviu falar em bioeconomia? Desde o advento da revolução industrial no Brasil, ainda no século passado, o País vem discutindo como produzir e desenvolver de forma mais sustentável. Isso quer dizer que, de maneira organizada e pensada, é possível atender às necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprirem suas próprias necessidades. E aí pode entrar a bioeconomia. 

Bioeconomia é conhecida como um modelo de produção industrial baseado no uso de recursos biológicos. A ideia é oferecer soluções para a sustentabilidade dos sistemas de produção com vistas à substituição de recursos fósseis e não renováveis. 

“O Brasil possui mais florestas do que qualquer outro país e um terço das florestas tropicais do mundo estão aqui. O País tem grandes diferenciais que nos colocam no centro do debate internacional de bioeconomia”, avalia Rodrigo Agostinho (PSB-SP), membro da Frente Parlamentar Mista de Bioeconomia. 

Ele lembra que a nação verde e amarela tem 20% de toda a biodiversidade do mundo. “Isso facilita muito a prospecção de produtos da floresta, para a indústria de cosméticos, farmacêutica, alimentícia. São várias situações que nos projetam de maneira diferenciada e nos dão destaque internacional”, frisa Agostinho. 

O assunto também despertou interesse no Governo Federal. O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Marcos Pontes, ressaltou, em reunião virtual, a importância de o Brasil se desenvolver nesse setor, mostrando que outros países com menos recursos naturais estão mais à frente que o nosso. “Veja o que esses países não têm e o que eles são. Agora, veja o Brasil. Veja o que nós temos e o que nós não somos”, refletiu.

O presidente da Associação Brasileira de Bioinovações (ABBI), Thiago Falda, defende a construção de políticas públicas nesse campo da bioeconomia. “Os investimentos no País e as políticas públicas precisam ser direcionados para os elementos que o País tem vocação. Temos a maior biodiversidade do mundo, a maior quantidade de biomassa e a um preço mais acessível no mundo, temos uma agricultura altamente sustentável que permite a geração dessa biomassa. Então, temos uma experiência muito grande em bioeconomia”, reforça. 

Desequilíbrio 
Segundo dados compilados pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), acredita-se que, até 2030, a população global cresça 16%, passando de 7,3 bilhões, em 2015, para 8,5 bilhões daqui a dez anos. Os pesquisadores acreditam que um dos maiores desafios esteja na transformação do atual modelo econômico de desenvolvimento, baseado tanto na utilização de fontes fósseis, como petróleo, gás e carvão, quanto na degradação do meio ambiente. 

O centro de Sustentabilidade do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) endossa esses dados. Com o aumento da população, segundo levantamento da entidade, os recursos podem começar a faltar – como água potável, alimentos e energia. Em uma publicação, em que classifica a bioeconomia como uma das dez tendências que estão mudando o mundo dos negócios, o Sebrae acredita que é preciso “voltar a economia para o que é vivo.” 

A bioeconomia, segundo o Sebrae, é indicada como conceito que pode apresentar respostas e soluções de grandes desafios, como a produção sustentável de alimentos, alternativas energéticas limpas e uso da engenharia genérica para criar produtos para a saúde. O setor de bioeconomia já movimenta cerca de dois trilhões de euros no mercado mundial e gera em torno de 22 milhões de empregos. 

“O Brasil tem que investir muito mais em biotecnologia, biorefinarias, bioinsumos, biocombustíveis, porque isso tende a ser a economia do futuro e com crescimento exponencial, como na captura do carbono. Dessa forma, investiremos no que é o futuro da economia mundial. Produtos e insumos de origem fóssil tendem a diminuir”, projeta o deputado federal Alexis Fonteyne (Novo-SP). 

“Quando falamos em bioeconomia, falamos em economia circular, em que sempre teremos o reaproveitamento do carbono, sem desperdícios, e um impacto ambiental muito menor”, ressalta o parlamentar. 

Bioeconomia na pandemia 
Um estudo organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra como a indústria vem se adaptando a uma realidade cada vez mais presente no mercado. O conceito de bioeconomia, que não é novo, teve mais destaque após a crise global na saúde e na economia, causada pela pandemia do novo coronavírus. 

“Entre os principais desafios, está a construção de uma governança para a bioeconomia, que deve ser liderada pelo Governo Federal envolvendo diversos ministérios, indústrias, universidades e instituições de pesquisa”, afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.

Em 2016, segundo dados do estudo, o valor das vendas atribuíveis à bioeconomia brasileira foi de US$ 326,1 bilhões, considerando-se o setor agropecuário e a produção tradicional. “Contudo, a quantidade de tecnologia gerada no país para suportar essa produção foi muito pequena, tendo sido esse um valor capturado por empresas especializadas que fazem o desenvolvimento em outros países”, afirma o documento. 

E continua: “investimentos qualificados nessa área têm grande potencial de retorno, além de reduzir a dependência e aumentar a segurança econômica do País. Portanto, atuar na industrialização da biologia para o desenvolvimento de uma bioeconomia avançada, com maior margem para os produtos da pauta, é fundamental.” 

Na opinião do deputado Rodrigo Agostinho, é preciso investir, sim, na bioeconomia, mas acredita que ainda há entraves que impedem que o Brasil avance no pleito. 

“Precisamos investir mais na economia da floresta, das energias limpas, dos combustíveis renováveis. Mas o grande desafio que ainda temos é tirar as amarras e entraves. Precisamos de uma série de cenários internos favoráveis, precisamos de marco regulatório, de segurança jurídica, de incentivos tributários. Precisamos tirar as amarras fiscais e criar um cenário onde o Brasil possa voltar a se industrializar em uma perspectiva mais concreta e sólida, onde a bioeconomia possa se apoiar de forma sustentável ao longo do tempo”, conclui.  

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LOC: Você já ouviu falar em bioeconomia? Ela é conhecida como um modelo de produção industrial baseado no uso de recursos biológicos. A ideia é oferecer soluções para a sustentabilidade dos sistemas de produção com vistas à substituição de recursos fósseis e não renováveis. 

O Brasil sai na frente porque conta com uma das maiores biodiversidades do planeta, abrigando 20% de todas as espécies do mundo, como comenta o membro da Frente Parlamentar Mista de Bioeconomia Rodrigo Agostinho (PSB-SP). 
 

TÉC./SONORA: Rodrigo Agostinho (PSB-SP) 
“O Brasil possui mais florestas do que qualquer outro País e um terço das florestas tropicais do mundo estão aqui. O País tem grandes diferenciais que nos colocam no centro do debate internacional de bioeconomia. Isso facilita muito a prospecção de produtos da floresta, para a indústria de cosméticos, farmacêutica, alimentícia. São várias situações que nos projetam de maneira diferenciada e nos dão destaque internacional.”
 


LOC.: O presidente da Associação Brasileira de Bioinovações (ABBI), Thiago Falda, defende a construção de políticas públicas nesse campo da bioeconomia. 

TÉC./SONORA: Thiago Falda, presidente da ABBI
“Os investimentos no País e as políticas públicas precisam ser direcionados para os elementos que o País tem vocação. Temos a maior biodiversidade do mundo, a maior quantidade de biomassa e a um preço mais acessível no mundo, temos uma agricultura altamente sustentável que permite a geração dessa biomassa. Então, temos uma experiência muito grande em bioeconomia.”
 


LOC.: Até 2030, a população deve chegar a 8,5 bilhões, um bilhão a mais que a população registrada em 2015, segundo dados compilados pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Com o aumento acelerado da população, a projeção é que comecem a faltar recursos naturais, como água e alimentos. 

Para o deputado federal Alexis Fonteyne (Novo-SP), a bioeconomia é uma tendência que veio para ficar e o Brasil deve investir cada vez mais no setor. 
 

TÉC./SONORA: Alexis Fonteyne (Novo-SP)
“O Brasil tem que investir muito mais em biotecnologia, biorefinarias, bioinsumos, biocombustíveis, porque isso tende a ser a economia do futuro e com crescimento exponencial, como na captura do carbono. Dessa forma, investiremos no que é o futuro da economia mundial. Produtos e insumos de origem fóssil tendem a diminuir. Quando falamos em bioeconomia, falamos em economia circular, em que sempre teremos o reaproveitamento do carbono, sem desperdícios, e um impacto ambiental muito menor.”
 


LOC.: Segundo estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), é preciso investir na bioeconomia, pois há grande potencial de retorno. No documento “Bioeconomia e a indústria brasileira”, a entidade afirma que, dentre outros benefícios, ela pode reduzir a dependência e aumentar a segurança econômica do País. 

Reportagem, Jalila Arabi.