LOC.:O ano de 2022 mal começou, mas para boa parte dos brasileiros o cenário é bem parecido ao que era um ano atrás: nome sujo e previsão de despesas que se amontoam nos primeiros meses, como material e matrícula escolar, e impostos, tais quais IPTU, IPVA e DPVAT. Isso sem falar do Imposto de Renda.
Pensando nessas pessoas, eu, Felipe Moura, conversei com a administradora Catharina Sacerdote. Especialista em investimento e risco pela Fundação Getulio Vargas, FGV, ela atua na área de planejamento financeiro pessoal e familiar, e deu dicas para os brasileiros saírem do aperto em 2022. Confira, agora, o bate-papo exclusivo.
LOC.: Catharina, com o início de um novo ano, acumulam-se várias despesas, como matrícula dos filhos na escola, material escolar e os impostos, como o IPTU, IPVA e Imposto de Renda. Como se planejar financeiramente para não passar aperto?
TEC./SONORA: Catharina Sacerdote, administradora e especialista em investimento e risco pela FGV
“Em geral, quando a gente vai falar de planejamento financeiro, a gente quer ter o mínimo de previsibilidade. Então, eu recomendo que as pessoas tenham o que eu chamo de calendário financeiro. Devo sentar e avaliar quais receitas eu tenho pra entrar por mês e, a partir daí, anotar também a previsão das despesas. Quando eu faço uma planilha, eu coloco um mês ao lado do outro. Então, faço janeiro, fevereiro, março, até dezembro e aí eu consigo visualizar se em janeiro eu vou estar deficitário ou superavitário, se está sobrando ou se está faltando dinheiro. E eu já consigo prever com antecedência quais medidas eu vou precisar tomar.”
LOC.: E dependendo do que esse calendário mostrar, qual deve ser a minha estratégia financeira?
TEC./SONORA: Catharina Sacerdote, administradora e especialista em investimento e risco pela FGV
“Vou tentar separar aí mais ou menos em três casos. Naquele orçamento que está sobrando [dinheiro] de alguns meses anteriores, sei lá, dezembro, que é um mês que costuma entrar décimo terceiro, janeiro para alguns servidores costuma entrar também férias, décimo terceiro. Então, está sobrando em janeiro, mas eu já estou vendo que vai faltar em fevereiro, basta fazer essa projeção, deixar o dinheiro ali numa poupança, num CDB com liquidez diária. Então, está disponível para cobrir aquele mês que está faltando. Se eu estou falando de um orçamento que está empatando, vai precisar ter uma luz amarela sobre esse orçamento, porque não dá pra sair muito dali.”
LOC.: E quando as contas estiverem no vermelho? O que fazer?
TEC./SONORA: Catharina Sacerdote, administradora e especialista em investimento e risco pela FGV
“Se a gente está falando de um orçamento deficitário, eu vejo, em geral, duas estratégias que vão funcionar. Uma está relacionada, talvez, fazer uma reorganização e procurar um empréstimo barato. Às vezes, dependendo do acesso que a pessoa tem, a gente até sugere fazer consignado, um empréstimo pessoal que a gente sabe que vai ser uma dívida de custo muito baixo. A gente, às vezes, vai reduzir essa dívida a 30% ao ano. Então, olha que diferença: seu orçamento está faltando mil reais, você vai pagar mil e trezentos no final de um ano. Vai dividir ali em 12 vezes, vai acabar pagando R$ 1.300. Mas é muito melhor do que ter uma dívida de três mil reais no final de um ano por causa de um mês que ficou deficitário. E aí uma segunda estratégia é avaliar o potencial de gerar renda que essa família ou essa pessoa tem. Se uma pessoa que tem um salário fixo e se é possível, se dá no tempo desse assalariado, eu costumo sugerir a buscar uma renda extra. Tem potencial para prestar uma consultoria, para fazer alguma coisa que faz muito bem, muitas vezes ligada à área de alimentação, porque aumenta a renda naqueles meses que está um pouco mais difícil e a gente consegue cobrir esse orçamento.“
LOC.: Pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, CNC, aponta que 3 em cada 4 famílias brasileiras estão endividadas. É possível organizar as contas em 2022? Que dicas você dá para os brasileiros que querem deixar de ter o nome sujo?
TEC./SONORA: Catharina Sacerdote, administradora e especialista em investimento e risco pela FGV
“A primeira coisa que a gente tem que fazer é encarar o tamanho desse problema. Então, recomendo planilha mais uma vez ou papel. É muito importante a gente buscar primeiro o valor original da nossa dívida. Por quê? Tem algumas dívidas que, como eu acabei de citar, o juros é tão alto que chega um momento que a gente se perde. As instituições financeiras são obrigadas a disponibilizar para gente o Custo Efetivo Total, CET, dessa dívida. Então, compare o CET. Às vezes, num primeiro momento, a gente até pode pensar assim ‘cara, aquilo que tem o CET muito alto deixa eu pagar logo porque o juros é maior’. Quando, na verdade, se a gente notar que a gente pode trocar uma dívida de CET muito baixa por uma dívida de CET menor. Então, às vezes vale a pena a gente abandonar essa dívida, deixar ali que a empresa, a instituição financeira passe por um processo de revisão da dívida, porque é muito provável que, em algum momento, ela vai te oferecer um custo menor por essa dívida.”
LOC.: Tá joia, Catharina. E, pra encerrar, que dicas práticas você dá para os brasileiros minimizarem as perdas por conta da inflação?
TEC./SONORA: Catharina Sacerdote, administradora e especialista em investimento e risco pela FGV
“Quando a gente vai falar de alimentos, por exemplo, tentar pesquisar, conversar, fazer compras ali nas feiras que acontecem em bairros pra tentar conversar com essas pessoas e entender quais são os alimentos da época, o que que está passando por entressafras, o que pode ser substituído, o que a gente está visualizando de frutas e verduras da estação, para que a gente consiga encontrar um equilíbrio na economia doméstica, que é tentar gastar menos com o mercado. Eu não consigo dar uma dica pra comprar gás mais barato, mas eu consigo talvez pensar como é que esses alimentos são cozidos dentro de casa? Será que é possível picá-los um pouquinho menor pra gente gastar menos tempo? Cozinhar em panela de pressão que faz esse cozimento ser mais rápido. Quando for usar um forno, pensar assim: ‘o forno é quadrado e a gente tem o hábito de colocar uma assadeira só lá dentro. Será que se eu fizer ali mais duas grelhas e, enquanto uma coisa está assando, eu estou assando uma outra coisa em cima, uma outra coisa embaixo’.”
LOC.: Muito obrigado, Catharina! Com isso, chegamos ao fim do nosso Entrevistado da Semana. Eu conversei com a administradora Catharina Sacerdote. Ela é especialista em investimento e risco pela FGV, e atua na área de planejamento financeiro pessoal e familiar.
Reportagem, Felipe Moura