LOC.: A indústria de transformação do Ceará perdeu 15 mil postos de trabalho entre janeiro e junho deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado. Por isso, a prorrogação da desoneração da folha de pagamento para 17 setores da economia até o fim de 2021 pode ser importante para a retomada do emprego no estado. Os dados são do Ipece (Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará).
No início de novembro, o Congresso Nacional derrubou veto do presidente Jair Bolsonaro, que impedia a prorrogação da desoneração até o fim do ano que vem para setores como call center, construção civil, tecnologia da informação e têxtil.
Quem é favorável à desoneração alegam que o fim do benefício – que, originalmente, iria até dezembro – poderia gerar demissões em meio à crise econômica causada pela pandemia da Covid-19. Juntos, esses segmentos empregam mais de seis milhões de trabalhadores.
Segundo o deputado federal Eduardo Bismarck, do PDT do Ceará, a manutenção de custos reduzidos para essas empresas é positiva para a economia.
TEC./SONORA: Eduardo Bismarck (PDT/CE), deputado federal
“A partir do momento em que as empresas têm a certeza de que não terão novos desembolsos com o retorno desses gastos tributários com seus funcionários, aumenta sua propensão a mantê-los empregados e até de efetuar novas contratações. A crise econômica devido à pandemia acertou em cheio o fluxo de caixa das empresas. A reoneração poderia ser o golpe final nas perspectivas das empresas de manterem seus funcionários em suas folhas de pagamento.”
LOC.: As empresas de todos os setores devem contribuir para a Previdência Social com 20% sobre o valor do salário de cada funcionário. No entanto, com a desoneração, 17 setores da economia podem optar por contribuir com um percentual que varia de 1% a 4,5% sobre a receita bruta, em vez do tributo convencional.
No Ceará, segmentos que compõem a indústria de transformação tiveram retração significativa no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. Entre eles estão as atividades de confecção do vestuário (-85,9%), fabricação de couros e calçados (-83,7%) e de têxteis (-82,4%) beneficiadas com a desoneração, onde se espera, ao menos, que não ocorram mais demissões.
Segundo o economista Newton Marques, a prorrogação da desoneração traz consequências negativas aos cofres públicos, mas que são necessárias para manutenção da atividade econômica.
TEC./SONORA: Newton Marques, economista
“São três setores envolvidos: os empresários, os empregados e o governo. Todas as vezes que desonera os encargos trabalhistas, isso passa a onerar o governo. E, nesse momento, em que a atividade econômica está em baixa, o governo vai ter que assumir esse ônus. Caso contrário, os trabalhadores ficam desamparados e a atividade econômica vai ficar estagnada.”
LOC.: Criada em 2011, a desoneração da folha de pagamento tem o objetivo de incentivar a manutenção de empregos em 17 setores considerados de alta empregabilidade no país. Em 2018, o Congresso decidiu que, naquele ano, a renúncia fiscal seria prorrogada pela última vez e que acabaria em dezembro de 2020. No entanto, os parlamentares decidiram por incluir uma nova prorrogação na Medida Provisória (MP) 936/2020, aprovada em maio, que criou um programa emergencial de manutenção do emprego.
Reportagem, Felipe Moura.