Data de publicação: 21 de Fevereiro de 2023, 17:59h
LOC.: A volta do voto de qualidade no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, o Carf, fere a imparcialidade dos julgamentos das disputas tributárias entre governo e os contribuintes. A avaliação é da vice-presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), Letícia Amaral.
TEC./SONORA: Letícia Amaral, vice-presidente do IBPT
"O contribuinte é a parte mais frágil. A gente vai voltar ao que havia – e era muito ruim –, que é essa parcialidade. O CARF, por ser um órgão paritário, na sua essência, teria que ser paritário em tudo. Paritário e imparcial. O que o torna parcial é justamente o voto de qualidade".
LOC.: Um decreto publicado há 50 anos previa que, nos casos de empate nos julgamentos de litígios tributários, cabe ao presidente da turma, representante da Fazenda Nacional, o chamado voto de qualidade, para desempatar. Mas, em 2020, o Congresso Nacional aprovou uma lei que acabou com a regra e estabeleceu que, em caso de empate, a vitória ficava com o contribuinte.
A MP do governo Lula retomou o voto de qualidade no Carf, dando mais força à União do que aos contribuintes. O deputado federal Joaquim Passarinho (PL-PA) afirma que o complexo sistema tributário brasileiro já torna a vida das empresas e dos cidadãos mais difícil, o que tende a piorar com o retorno de voto de qualidade.
TEC./SONORA: deputado federal Joaquim Passarinho (PL – PA)
"O contribuinte tem que ter, pelo menos, o direito da dúvida. Para eu fazer um Imposto de Renda preciso de contador. Imagina uma empresa. O cara contrata advogado, contador, e não sabe se pagou correto. E se o Fisco achar que pagou errado, multa a empresa. Quando tiver que recorrer sabe que vai perder, porque é metade mais um, porque o voto de qualidade está do lado do governo. É uma coisa injusta com quem paga imposto nesse país".
LOC.: A MP tem força de lei e já está valendo para os processos que são julgados no Carf. O Congresso Nacional tem 60 dias para analisá-la. O prazo é prorrogável por mais 60 dias, caso Câmara e Senado não tenham votado a medida.
Reportagem, Felipe Moura