Ethel Maciel - Foto: Fernando Madeira
Ethel Maciel - Foto: Fernando Madeira

Terceira dose da vacina contra a Covid-19 deve ser aplicada 8 meses após a segunda, diz especialista

A epidemiologista da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel, disse ao portal Brasil61.com que a dose de reforço da vacina contra o coronavírus já deveria estar sendo preparada para os vacinados em janeiro

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As discussões e estudos sobre a aplicação da terceira dose da vacina contra a Covid-19 na população brasileira estão a todo o vapor. Na semana passada, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, confirmou a necessidade da dose de reforço, principalmente em idosos e pessoas com comorbidades. Para explicar melhor sobre a importância da terceira aplicação dos imunizantes contra o coronavírus, o Brasil 61 Entrevista conversou com a epidemiologista da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel.

Inicialmente, os estudos apontavam a necessidade da dose de reforço apenas em grupos selecionados (idosos, comórbidos e imunossupressores). Porém, com o surgimento de novas cepas do SARS-COV-2, a ideia é que agora toda a população receba a terceira dose. “Com o tempo, a resposta imunológica de todos nós, independente de termos o sistema de defesa bom ou comprometido, cai. Então, além da terceira dose em grupos específicos, todas as pessoas, depois de 8 meses da segunda vacina, vão tomar uma dose de reforço”, explica Ethel Maciel.

O Ministério da Saúde já encomendou uma pesquisa para avaliar a necessidade de uma terceira dose para verificar a intercambialidade da Coronavac com outros imunizantes disponíveis no País: Astrazeneca/Oxford, Pfizer e Janssen. Entretanto, a pasta ainda não sabe informar quando o processo de imunização da dose de reforço terá início, pois ainda são necessários mais dados científicos. 

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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também autorizou estudos de terceira dose das vacinas da Pfizer e AstraZeneca no Brasil, que também estão em fase de testes.

Segundo Ethel Maciel, dados dos Estados Unidos indicam que a população americana que tomou a vacina contra o coronavírus no início da campanha de imunização já apresenta doenças mais graves, mesmo que vacinada. Ou seja, o Brasil já deveria estar aplicando a dose de reforço nas primeiras pessoas que se vacinaram para evitar maiores complicações de saúde.

“O Brasil tinha comprado doses para esse ano, com o intuito de terminar uma campanha. Agora, já estamos com novas evidências, tendo a necessidade de fazer uma terceira dose para grupos específicos e pensar na dose de reforço para todos os grupos vacinados. Isso tudo precisa entrar no planejamento do Programa Nacional de Imunização (PNI).”

A epidemiologista destaca, ainda, que o surgimento das variantes do coronavírus impactou nas discussões sobre a necessidade da terceira dose no Brasil. Confira a entrevista na íntegra e mais detalhes sobre o assunto no vídeo abaixo.

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LOC.: Olá, sejam bem vindos ao Brasil 61 Entrevista. Eu sou Laísa Lopes e hoje vamos receber a epidemiologista Ethel Maciel, membro do Grupo Técnico da Organização Mundial de Saúde (OMS) para Tuberculose e professora da Universidade Federal do Espírito Santo para falar sobre a terceira dose da vacina contra a Covid-19.

Doutora, seja bem-vinda
 

TEC./SONORA:  Ethel Maciel, epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo

“É um prazer estar aqui com você, Laísa.”
 


LOC.: No início do processo de imunização da população brasileira, era discutido a terceira dose apenas da Coronavac, agora, já se fala de reforço de imunização para as outras vacinas também, porque?
 

TEC./SONORA:  Ethel Maciel, epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo

“Nesse momento, nós estamos discutindo duas coisas, a terceira dose para grupos populacionais que têm alguma doença que dificulta a resposta imunológica, pessoas que têm doenças que a gente chama de imunossupressoras, pessoas que estão tratando contra o câncer, pessoas que têm doenças renais, transplantados e idosos. Então, esses grupos se beneficiariam, porque a gente já sabe que a resposta imunológica deles quando tomam a vacina é menor do que outros grupos populacionais. Então, nós já temos, por exemplo, os Estados Unidos que aprovaram, na semana passada, a utilização de uma terceira dose para esse grupo. Israel já aprovou uma terceira dose para pessoas acima de 60 anos, então, isso é uma coisa. A outra coisa que nós já sabemos é que com o tempo, a resposta imunológica de todos nós, independente de termos um sistema de defesa bom, ou que tenha alguma doença que faça uma imunossupressão, independente disso, todo mundo, com o tempo, ao que parece agora, os estudos começam a apontar que há uma diminuição de resposta, e a gente precisa de uma dose de reforço chamada Booster. Então, além da terceira dose em grupos específicos, todas as pessoas, depois de 8 meses da segunda vacina, vão tomar uma dose de reforço.”
 


LOC.: Doutora, o surgimento de novas variantes impactou na discussão de ser necessário uma terceira dose dos imunizantes?
 

TEC./SONORA:  Ethel Maciel, epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo

“Impactou sim. Inclusive nessa carta das autoridades nos Estados Unidos eles dizem que o impacto da variante Delta, como também teve um impacto de eficácia em pessoas que tomaram uma dose, eles têm um grupo grande de pessoas também que não estão vacinados e está impactando no número de casos. A primeira vez depois do início maior da vacinação que eles chegaram a mais de mil mortos por dia, tudo isso começa também a acender para a gente um sinal de alerta, porque nós temos muito mais pessoas não vacinadas do que eles. E se a variante Delta lá causou essa mudança nos indicadores, a gente precisa ficar muito atenta aqui no Brasil né? Estamos vendo o Rio de Janeiro com uma predominância da variante Delta e já aumentando o número de internações de pessoas, inclusive necessitando de leitos.”
 


LOC.: A dose de reforço aumenta a eficácia das vacinas ou os níveis são mantidos?
 

TEC./SONORA:  Ethel Maciel, epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo

“Nós ainda vamos precisar fazer [a vacinação] e acompanhar. Então, nós esperamos que mantenha o mesmo nível ou aumente. É isso que está agora sendo proposto para que com a diminuição dos níveis, a gente, pelo menos, mantenha ou aumente. Então, vamos precisar aplicar e acompanhar essas pessoas para ver se infecção, se adoecimento e óbitos são minimizados, diminuídos ou que não existam a partir desse reforço.”
 


LOC.: Certo, doutora. E mesmo com a terceira dose, é necessário continuar com o distanciamento social e uso de máscaras?
 

TEC./SONORA:  Ethel Maciel, epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo

“Eu acredito que sim, porque enquanto a gente não tiver o controle da pandemia, nós não tivermos um número de casos bem baixos, preferencialmente não ter óbitos ou um número muito pequeno de mortes, vamos precisar ainda combinar essas medidas. Então é a vacinação, mas as outras medidas de prevenção: usar máscara, manter o distanciamento. Nós ainda estamos no meio de uma pandemia que dependendo de como agirmos, podemos colocar tudo isso que conquistamos a perder. Então tem que ser tudo muito bem planejado e avaliado. A gente analisa os dados, vê como aquela medida que está sendo tomada está impactando no número de casos, no número de internação, no número de óbitos, então tudo precisa ser feito com muita cautela e analisando os dados para que possamos tomar a melhor decisão.”
 


LOC.: Chegamos ao final da nossa conversa, obrigada pela colaboração, Dra. Ethel.

TEC./SONORA: Ethel Maciel, epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo

“Obrigada pelo convite, é um prazer estar aqui com vocês.”
 


LOC.: Obrigada a quem nos acompanhou até aqui. Lembrando que essa entrevista você acessa nas redes sociais e no canal do Brasil61.com, no Youtube. Até a próxima!

Reportagem, Laísa Lopes