LOC.: Olá! Sejam bem-vindos ao Entrevistado da Semana. Eu sou o Felipe Moura e nesta edição nós vamos conversar com o doutor Fabricio da Silva. Ele é médico especialista em cardiologia, clínica médica e emergências clínicas pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e pelo Instituto de Cardiologia do Distrito Federal. O nosso convidado também é especialista em Covid-19 na forma grave e idealizador do projeto “CRITICOVID - Abordagens dos pacientes graves com COVID-19”. Além disso, já atendeu mais de 500 pacientes com a Covid-19, entre eles autoridades políticas, como ministros de Estado, senadores e deputado.
No bate-papo de hoje, o doutor Fabricio vai detalhar o que já se sabe sobre a Covid-19 e sugerir caminhos para um enfrentamento à pandemia mais efetivo.
Doutor Fabricio, seja muito bem-vindo.
TEC./SONORA: Fabricio da Silva, médico especialista em Covid-19 na forma grave
Obrigado pelo convite, pela participação!
LOC.: Para começarmos o nosso bate-papo, doutor: o que mudou do início da pandemia até agora, se tratando de orientação em relação ao tratamento e diagnóstico da Covid-19?
TEC./SONORA: Fabricio da Silva, médico especialista em Covid-19 na forma grave
“A recomendação inicial era “uma vez com sintomas gripais, com diagnóstico da Covid-19, fica em casa e procure o hospital caso tivesse queda de saturação ou piora de falta de ar”. Esse conceito caiu por terra. Hoje a recomendação é cada vez mais, termos o acompanhamento de perto, o diagnóstico precoce. Sabemos rapidamente que aquele sintoma gripal, aquele sintoma suspeito foi confirmado como Covid-19, e que a partir de então, a gente trace um planejamento de seguimento desse paciente por perto, para se se antecipar aos momentos de piora da doença.”
LOC.: Entendi, doutor. Já é possível dizer que a evolução da Covid-19 nos pacientes, em geral, é previsível?
TEC./SONORA: Fabricio da Silva, médico especialista em Covid-19 na forma grave
“Ela tem um curso de evolução muito típico. Então, conseguimos ter algo de previsibilidade nos momentos de potencial piora. O que que eu tô querendo dizer? Ela tem um ciclo bem documentado, uma fase gripal que dura de três a cinco dias, o paciente pode ter alguma melhora ou ficar estagnado na evolução após esse período. E a partir do sétimo, oitavo dia, a fase onde ela pode evoluir para o acometimento pulmonar, pela pneumonia e pelo Covid. E o pico dessa evolução, ela vai acontecer lá no décimo, décimo segundo dia de doença.”
LOC.: Diante disso, é importante acompanhar todos os pacientes, mesmo aqueles casos inicialmente mais leves?
TEC./SONORA: Fabricio da Silva, médico especialista em Covid-19 na forma grave
“O momento de uma reavaliação, obviamente, seria por volta do sétimo, oitavo dia, para tentarmos otimizar o tratamento, bloquearmos o processo, tentarmos bloquear o processo inflamatório e detectarmos aquele indivíduo que tem um potencial risco de piora mais grave e monitorá-lo mais de perto. ”
LOC.: Entendi, doutor. Nesse contexto, que tipo de procedimento o senhor recomenda que deva ser adotado?
TEC./SONORA: Fabricio da Silva, médico especialista em Covid-19 na forma grave
“Realizar tomografia nessa fase é importante para definir o paciente que vai evoluir com acometimento pulmonar, com pneumonia pela Covid e para tentarmos otimizar o tratamento medicamentoso. Eventualmente, envolver a fisioterapia nesse cuidado e já traçar o planejamento de reavaliação, entendendo que ele está entrando na curva de piora da inflamação, em que o pico vai se dar lá no 10º, 11º, 12º dias. Essa noção de evolução e acompanhamento de perto é fundamental.”
LOC.: Doutor, nós passamos recentemente das 500 mil mortes pela Covid-19 no País. Ao que o senhor atribui esses números e o que pode ser feito de diferente daqui pra frente?
TEC./SONORA: Fabricio da Silva, médico especialista em Covid-19 na forma grave
“Boa parte da mortalidade hoje, no País, acontece por mau manejo do tratamento médico da Covid-19. A doença é grave, sem sombra de dúvidas, mas a mortalidade precoce destes doentes é porque o manejo está sendo inapropriado. Estamos há mais de um ano de pandemia e o Brasil não fala uma língua única no tratamento do paciente grave com Covid. Isso é inadmissível. Claro que nós não sabemos curar a Covid, mas já sabemos tratá-la de maneira efetiva, reduzir significativamente a mortalidade e gerar menos danos com o tratamento. Então, criar um protocolo, uma cartilha ou, pelo menos, um eixo de tratamento para os pacientes graves, é fundamental.”
LOC.: Para encerrar o nosso bate-papo, doutor. Há uma preocupação grande das autoridades de saúde com o que se chama de síndromes pós-covid. O impacto psicológico da pandemia será um dos grandes desafios nos próximos meses?
TEC./SONORA: Fabricio da Silva, médico especialista em Covid-19 na forma grave
“O impacto psicológico, psicossocial, psiquiátrico da população mundial é significativo. E isso a gente vivencia todos os dias. Eu não digo nem só do paciente que se curou da Covid, eu digo na população como um todo. Nós, profissionais de saúde, a gente lida com morte, com situações graves, situações tristes todos os dias, isso impacta absurdamente na nossa concepção, na nossa saúde mental. Os familiares que vivem junto com aqueles pacientes internados, também sofrem muito, os transtornos de ansiedade estão muito aumentados durante esse período.”
LOC.: E, com isso, nós chegamos ao final do nosso bate-papo. Doutor Fabrício da Silva, muito obrigado por nos receber.
TEC./SONORA: Fabricio da Silva, médico especialista em Covid-19 na forma grave
Valeu, Felipe. Obrigado pela oportunidade.
LOC.: O Entrevistado da Semana fica por aqui. Obrigado pela sua audiência e até a próxima. Tchau!