Foto: Agência Brasil
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Com mercado de gás natural competitivo, Sulgás pode ampliar em 423 quilômetros a rede de gasodutos em cerca de quatro anos

Se aprovada no Congresso Nacional, Nova Lei do Gás pode facilitar expansão da infraestrutura que promete levar o combustível para mais sete cidades do estado

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Municípios do Rio Grande do Sul ainda sem oferta de gás natural podem ter, em breve, a opção do uso do combustível em lares e indústrias locais. A Sulgás planeja aumentar a rede de distribuição de gás natural em 423 quilômetros até 2024 – hoje, a rede gaúcha tem 1.212 quilômetros. A ampliação da infraestrutura depende da abertura e concorrência no mercado, o que, atualmente, esbarra no monopólio da Petrobras. 

Para encurtar esse caminho e garantir oferta suficiente, o estado pode se beneficiar da aprovação da Nova Lei do Gás, proposta que tramita no Congresso Nacional desde 2013. O que se pretende é baratear o preço e democratizar o acesso ao combustível para regiões distantes da costa brasileira. 

“O mercado atual está extremamente fechado e cartelizado, com praticamente 100% sobre o controle da Petrobras e de outras estatais. Não há investimentos para ampliar a malha de gasoduto no Brasil. Com a nova lei, daremos segurança jurídica para que a iniciativa privada possa participar ativamente, construir e levar gasodutos a várias partes do país, gerando novos investimentos”, defende o deputado Domingos Sávio (PSDB-MG), um dos autores do PL 6.407/13.

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A projeto da Sulgás é atender sete novos municípios nos próximos quatro anos: Gramado, Canela, Lajeado, Santa Cruz do Sul, Viamão, Portão e Estância Velha. Atualmente, segundo a companhia estadual, 42 cidades são abastecidas, sendo 25 com rede de distribuição e 17 por Gás Natural Comprimido (GNC).

Entre os benefícios, o consumo de gás natural degrada menos o meio ambiente por ser uma energia mais limpa, com fornecimento contínuo e diminuição nos custos de operação e manutenção. Em alguns casos, é ainda mais barato que outros combustíveis.

“A nova lei vai facilitar a ampliação e instalação de novas indústrias em vários setores em que o gás natural entrará como uma energia mais barata e essencial para o desenvolvimento industrial do país”, acredita Sávio. 

O atual relator da matéria na Câmara, deputado Laercio Oliveira (PP-SE), considera que o texto está pronto para ser votado e vai deixar para trás anos de atraso no setor.

“Hoje, o PL encontra maior apoio do governo federal e do Fórum do Gás, que representa mais de 60 associados. O projeto está maduro, fruto de muitas discussões na Comissão de Minas e Energia. Aceitamos as opiniões de quem pensa contrário, mas podemos avançar nas discussões. O que temos como certeza é que tudo que foi construído até aqui tem o consenso da maioria”, garante.

O diretor de eletricidade e gás da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel) e coordenador-adjunto do Fórum do Gás, Bernardo Sicsú, ressalta a importância do gás natural para reaquecer a economia e, consequentemente, beneficiar o consumidor final. “O gás natural é um insumo fundamental para diversos setores da nossa economia, vários deles demandados nesse momento de pandemia, como alimentos, medicamentos, setores de vidro, cerâmica, incluindo geração de energia elétrica”, exemplifica.



Produção nacional

Segundo o último boletim da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que regula o setor no país, a produção de gás natural em maio foi inferior a abril, com retração de 7,8%. Se comparado ao mesmo mês de 2019, a redução chegou a 3%.

O aproveitamento do gás natural em todo o território brasileiro, de acordo com os dados, foi de 97,6%. O que chama a atenção é que os campos operados pela Petrobras, em consórcio ou não, produziram 94,9% do petróleo e do gás natural. Rio de Janeiro aparece como principal produtor, seguido de São Paulo e Espírito Santo.

Diante desses números, o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, salienta que a produção está concentrada em poucos estados, o que desfavorece o setor produtivo instalado longe dos grandes centros.

“Um desafio que a gente precisa superar é a questão da demanda e da oferta. O Brasil tem uma oferta pequena, somos grandes importadores. Basicamente 50% do gás que a gente consome no país é importado, precisamos reverter isso. A gente só consegue baixar o preço do gás no Brasil, que é caro em relação aos demais países, se aumentar a oferta, a infraestrutura e conquistar novos mercados”, analisa.

Se aprovada na Câmara, a Nova Lei do Gás abre possibilidade para que as companhias precisem apenas de autorização da ANP para construir gasodutos, em vez de passar por licitação pública, como é exigido hoje. Essa flexibilização, no entendimento de Bernardo Sicsú, pode reduzir os custos de transporte do gás natural, um dos fatores que pesa sobre o preço final do produto. “Essa simplificação e desburocratização são fundamentais para acelerar o processo de transformação no setor. Os benefícios vão refletir de forma mais rápida na economia”, sustenta.

A expectativa do atual relator Laercio Oliveira (PP-SE) é que a Nova Lei do Gás seja votada já nas próximas semanas. O texto, em sua tramitação normal, passaria pela Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços, mas há articulação entre parlamentares para que possa ser analisado diretamente em Plenário. 

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