LOC.: A adesão brasileira ao Protocolo de Nagoya, pendente de avaliação do Senado por meio do PDL 324/2020, pode evitar que os produtores de café de Minas Gerais sejam prejudicados pelas políticas de uso e exploração do patrimônio genético de outros países. O estado, maior produtor nacional, deve colher em 2020 entre 30,7 milhões e 32 milhões de sacas do grão, o que representa um incremento de até 30% no comparativo com o ano passado. A estimativa é da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Tema ainda não pacificado entre as 126 nações que já ratificaram o tratado, a taxação sobre produtos considerados essenciais para a alimentação é alvo de debate na Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB). No caso do café, o Brasil teria de compensar a Etiópia, país de origem do grão, pelo uso e exploração comercial dos recursos genéticos.
O doutor em Direito das Relações Econômicas Internacionais e sócio-diretor da consultoria Agroicone, Ricardo Lima, alerta que a não participação brasileira no acordo deixa o Brasil alheio a discussões regulatórias internacionais e sem possibilidade de defender seus interesses.
TEC./SONORA: Ricardo Lima, Direito das Relações Econômicas Internacionais e sócio-diretor da consultoria Agroicone.
“Pode ter um país que queira fazer cobranças abusivas pelo uso de um produto que teve origem nele, o que pode chegar a impactar no preço de alimentos no Brasil. Como a lei de um país pretende ser implementada em território de outros países de uma forma retroativa? Isso é super discutível e ilegal no final das contas, e o Brasil precisa estar lá para discutir isso.”
LOC.: O PDL 324/2020, que ratifica o acordo assinado pelo Brasil em 2011, foi aprovado pela Câmara dos Deputados na primeira quinzena de julho e ainda não tem data para ser analisado no Senado. Entre outros pontos, o texto estabelece que os países têm soberania sobre seus recursos genéticos, como sementes e micro-organismos, e que o uso deles para fins comerciais passa a depender de autorização das nações detentoras.
O vice-presidente do Senado, Antonio Anastasia (PSD-MG), considera que o Protocolo de Nagoya é ''fundamental'' para a política ambiental brasileira e garante, em complemento à Lei da Biodiversidade (13.123/2015), tratamento específico aos produtos agrícolas.
TEC./SONORA: Antonio Anastasia, senador.
“Minas Gerais tem um patrimônio genético muito diverso, produtor de diversos produtos importantes da pauta agrícola do Brasil, como café, frutas, também no patrimônio genético de animais. Temos aqui (Minas Gerais) uma riqueza biológica muito grande que é protegida pelo Protocolo de Nagoya. Vamos apoiar a homologação desse importante documento internacional.”
LOC.: Segundo especialistas, a ratificação do Protocolo de Nagoya traz mais respaldo internacional ao Brasil no segmento da biodiversidade e dá segurança jurídica para potenciais investidores estrangeiros. Para entrar em vigor, o tratado internacional precisa ser aprovado no Senado e, depois, e ser regulamentado por meio de decreto do presidente Jair Bolsonaro.