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Ocorreu nesta quarta-feira (14) o último encontro que antecede o Fórum Amazônia+21. No primeiro painel do dia, moradores emblemáticos da região compartilharam seu conhecimento sobre a cultura local e o que acreditam ser o caminho para o desenvolvimento sustentável da Amazônia: a participação dos povos e comunidades tradicionais que ali vivem.
Participante do debate, o cacique Almir Narayamoga Suruí, um dos representantes indígenas de destaque atualmente, defendeu o diálogo entre os diversos interessados na exploração da rica biodiversidade amazônica. “É muito importante utilizar os conhecimentos tradicionais, tecnológicos, de pesquisa e científicos, para juntar esses conhecimentos e buscar um caminho que valorize todos os segmentos, que são importantes para uma economia mais consciente”, ressaltou.
O líder indígena reforçou que não é contra o desenvolvimento da região, mas que deve existir critério e planejamento na adoção de políticas que utilizem os recursos naturais com foco nas futuras gerações. “Não adianta dizer que outros segmentos são meus inimigos, porque nós somos povo brasileiro, queremos que o país avance”, completou.
Último encontro preparatório para Fórum Mundial Amazônia+21 ocorre nesta quarta-feira (14)
Proteção da Amazônia é defendida em Fórum voltado ao desenvolvimento sustentável da região
Com o tema “Um pouco sobre a história e a vida na Amazônia: a diversidade dos povos e os desafios da floresta”, o painel contou com a presença do geógrafo Gustavo Rangel, pesquisador da vida na região e professor do Departamento de Antropologia da Universidade Federal de Rondônia. Segundo ele, a pecuária e a agricultura – muitas vezes tidas como vilãs do bioma – ainda estão presas a técnicas ultrapassadas de manejo do solo, que acabam prejudicando o meio ambiente.
“Temos que pensar em formas melhores de utilizar esses recursos nessa região, de utilizar a floresta, os saberes tradicionais, técnicas mais modernas e eficientes. A ciência e a academia têm soluções para uso dos recursos humanos da Amazônia”, acredita.
Ele ressaltou que o desenvolvimento gerado pela exploração dos recursos da Amazônia deve atingir quem vive na região, como os indígenas, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas, seringueiros, garimpeiros e moradores dos centros urbanos. “Essas pessoas devem ser absorvidas pelas novas políticas públicas a serem implementadas na região amazônica. Muitos deles estão enchendo bolsões de pobreza nos perímetros urbanos. Precisamos atender quem vive aqui e tentar de alguma forma racional, inteligente e sustentável atender às demandas dos povos que vivem na floresta”, disse.
Já o escritor manauara, Márcio Souza, destacou que há muita ignorância e uma visão limitada sobre a diversidade e complexidade da região amazônica, que passa pelas autoridades políticas e se estende aos moradores de outros locais do país.
Autor de Mad Maria, romance que inspirou a série de TV, ele diz que os moradores da região podem contribuir substancialmente para o desenvolvimento local. “Teríamos condição de ter inserção na alta indústria, aproveitando o conhecimento profundo que a cultura das sociedades tribais possui sobre a fauna e a flora.”
Para Almir Suruí não é possível falar em um interesse coletivo por parte dos índios, já que existem diversas etnias na região, cada uma com suas particularidades e visão de exploração da região. “Cada povo tem que decidir como querem fazer a gestão do seu próprio território. Temos nossas culturas diferentes, nossas línguas diferentes. Tenho muito cuidado em falar em nome dos povos indígenas, porque eu defendo o que eu gostaria de fazer para o meu povo”, afirmou.
O povo Suruí, por exemplo, do qual Almir é o líder, desenvolveu um plano estratégico de desenvolvimento para os próximos 50 anos. A iniciativa estabelece que o desenvolvimento econômico e social do povo virá atrelado ao cuidado com o meio ambiente e levando em consideração a tecnologia, a ciência e os saberes tradicionais estabelecidos.
Programado para os dias 4, 5 e 6 de novembro, o Fórum Amazônia+21 é uma iniciativa que visa mapear perspectivas e buscar soluções para temas relacionados ao desenvolvimento da região e melhoria da qualidade de vida dos mais de 20 milhões de cidadãos que vivem na Amazônia Legal, composta pelos sete estados da região Norte, mais Maranhão e Mato Grosso.
O fórum é promovido pela Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (Fiero), Agência de Desenvolvimento de Porto Velho e Prefeitura de Porto Velho. A Confederação Nacional das Indústrias (CNI) e o governo do estado apoiam o programa. Por conta da pandemia da Covid-19, este ano o evento vai ocorrer virtualmente.
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