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Após a vacinação contra a Covid-19 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alerta que os testes para diagnóstico da doença disponíveis no mercado não devem ser utilizados para atestar o nível de anticorpos. Isso porque estes testes não têm essa finalidade. Os produtos atualmente registrados no Brasil possibilitam apenas a identificação de pessoas que tenham sido infectadas pelo Sars-CoV-2.
A Agência reforça, ainda, que não há embasamento científico que relacione a presença de anticorpos contra a Covid-19 no organismo e a proteção à reinfecção. Sendo assim, nenhum resultado de teste de anticorpo (neutralizante, IgM, IgG, entre outros) deve ser interpretado como garantia de imunidade e nem mesmo indicar algum nível de proteção à doença.
De acordo com a infectologista Ana Helena Germoglio, é muito comum as pessoas que tiveram Covid-19 ficarem curiosas em saber se adquiriram imunidade após a doença ou após a vacina. “Precisamos fazer com que a população entenda que esses exames que estão disponíveis no mercado que dosam IgG e IGM não se prezam nem para fazer o diagnóstico da doença, nem para fazer o prognóstico, ou seja, para saber se a pessoa vai evoluir bem ou não ou para saber se ela tem ou não imunidade. Ainda não sabemos se o valor X, Y ou Z de determinada quantidade de anticorpos neutralizantes vai ser suficiente para que a pessoa não tenha um novo quadro da Covid”, explica.
Mas segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), Carlos Eduardo Ferreira, os testes são efetivos. “O teste não é uma bobagem, o teste me traz informação e é utilizado para todos os estudos que avaliaram a resposta vacinal. Então, para avaliar a resposta vacinal ele serve e depois ele não serve para ver quem produziu anticorpo?”, pontua.
Conforme disse a Anvisa, a presença de um vírus no organismo pode produzir uma resposta imune (proteção) multifatorial, ou seja, a partir da combinação de diversos fatores. Essa resposta pode contar com a participação de diferentes anticorpos e outros mecanismos de defesa, que vão atuar em conjunto para combater a infecção viral.
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No entanto, apenas uma fração desses anticorpos é capaz de realizar a neutralização do vírus e impedir a infecção de novas células. Esses anticorpos são chamados de anticorpos neutralizantes, que se desenvolvem em resposta a uma infecção viral ou à vacinação. Portanto, eles são responsáveis pela defesa do organismo, evitando a entrada do vírus na célula e a sua replicação.
A Associação Médica Brasileira (AMB) atesta que inúmeras variáveis podem estar relacionadas com resultados de testes sorológicos falso-positivos ou falso-negativos em prever o risco de infecção pelo coronavírus, mesmo se utilizando anticorpos neutralizantes, que apesar de resultados promissores em estudos preliminares, ainda exibem o fato de não existir um correlato de imunidade ainda bem definido contra a Covid-19.
De acordo com Ferreira, os testes trazem a informação de que o paciente produziu anticorpos. “A gente não tem recomendação formal, tanto que o teste ainda não está aprovado no rol da OMS, não está aprovado para pagamento a paciente do SUS. Os exames estão disponíveis, se o paciente tiver um encaminhamento médico, ele pode fazer o teste em qualquer laboratório.”
As informações quanto à proteção imunológica ao Sars-Cov-2 não foram estabelecidas pela ciência até o momento, alerta a Anvisa. Portanto, ainda não foi determinado no meio científico o conhecimento quanto à quantidade mínima de anticorpos para indicar a imunidade vacinal e sua durabilidade.
Sendo assim, o uso dos produtos disponíveis com a finalidade de avaliar o efeito da vacina pode acarretar uma análise incorreta dos resultados e levar a comportamento de risco devido à falsa sensação de proteção a partir do resultado do ensaio.
Se o resultado de um teste de anticorpo for interpretado incorretamente, há um risco potencial de que as pessoas não adotem medidas preventivas contra a exposição a Covid-19, aumentando a possibilidade de infecção e disseminação do vírus.
Deste modo, é fundamental que os produtos para diagnóstico in vitro aprovados no Brasil sejam utilizados exclusivamente com o propósito para o qual foram desenvolvidos, detalhado nas instruções de uso apresentadas pela empresa no momento do registro desses produtos junto à Anvisa.
A indicação da infectologista Ana Helena Germoglio é que não se deve tentar descobrir se tem anticorpos contra o coronavírus pela inconstância do resultado e para que se evite dúvidas sem possibilidade de sanar. “Mesmo esses anticorpos testados positivos, isso não significa que a pessoa está protegida. Então, se você já teve Covid e já tomou as duas doses da vacina, no ambiente de alta circulação viral que temos no Brasil, ainda é importante que se tome todas as medidas disponíveis, que chamamos de medidas não farmacológicas, principalmente o uso de máscaras e evitar aglomeração, porque pode sim pegar uma nova doença.”
Segundo o presidente da SBPC/ML, Carlos Eduardo Ferreira, é possível saber se possui anticorpos contra o coronavírus através de um teste de sangue sorológico. “Todos os laboratórios estão oferecendo os testes de avaliação pós-vacinal. O médico pode solicitar e pedir. Agora, se você perguntar se tem diretriz de utilização do teste? Não temos.”
Apesar das discussões em torno do tema, vale mesmo tomar a vacina contra a Covid-19, pois ela garante imunização e reduz os riscos de óbito segundo os especialistas. Entretanto, mesmo após a vacinação, vale seguir as medidas de prevenção ao vírus. Como explica a infectologista Ana Helena Germoglio. “A segunda dose é o que vai garantir que tenhamos imunidade. E mais para a frente, com os estudos, é que vamos saber se vamos precisar tomar mais doses ou não. Teve ou não a doença? É importante se vacinar, mas ainda é importante que se mantenha todas as medidas de prevenção.”
Atualmente foram aplicadas 99.813.213 doses de vacina contra o coronavírus no país, sendo 74.007.344 pessoas que receberam a primeira dose e 25.805.869 a segunda dose ou única. Os dados são do Ministério da Saúde.
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