Data de publicação: 05 de Maio de 2023, 04:00h, Atualizado em: 01 de Agosto de 2024, 19:26h
A decisão do Banco Central em manter a taxa de juros em 13,75% não foi bem recebida pelo governo do presidente Lula. Ao Brasil 61, o deputado federal Rubens Pereira Júnior (PT-MA), vice-líder do governo na Câmara dos Deputados, disse que já "não se satisfaz mais com acenos" futuros para a possível redução da Selic e que a política monetária do Bacen está prejudicando a criação de empregos e o crescimento da economia.
"Mais uma vez o Banco Central dá as costas para a realidade. Mantém a política monetária contrária a tudo o que está sendo feito pelo governo. Aparenta ser decisões tomadas mais levando em conta a política e está prejudicando extremamente o país, especialmente a retomada econômica e a retomada dos empregos".
Segundo o economista Benito Salomão, a manutenção do patamar dos juros pela sexta reunião consecutiva – desde agosto do ano passado – não foi uma surpresa para o mercado financeiro. "Não houve nenhuma surpresa. Isso já era esperado. O que pegou alguns analistas de surpresa foi o tom do comunicado, em que o Banco Central apresentou ali as razões pelas quais talvez a taxa de juros não comece a cair já em 2023".
Em seu comunicado após a decisão de manter a Selic em 13,75%, o Comitê de Política Monetária (Copom) disse que a volta de parte dos impostos federais sobre os combustíveis e, principalmente, a apresentação do arcabouço fiscal diminuíram parte da incerteza em torno da política fiscal conduzida pelo governo. Mas o Copom destacou que a inflação está resistente e que outros bancos centrais continuam a subir as taxas de juros.
Questionado se considerava o comunicado do Copom uma sinalização ao governo de que os juros podem começar a cair no futuro, Rubens Pereira Júnior disse que esperava a queda da Selic há duas reuniões do comitê e que "já não se satisfaz mais com acenos".
Entidades do setor produtivo também se posicionaram contrárias ao parecer do Banco Central. Em nota assinada pelo presidente Robson Braga de Andrade, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que considera "equivocada" a decisão de manter os juros em 13,75% e que o cenário atual já permitiria a redução da Selic.
A CNI argumenta que a taxa de juros real de 7,7%, isto é a Selic menos a inflação, está em "nível acima do necessário para garantir a manutenção da trajetória de desaceleração da inflação nos próximos meses" e que tem contribuído para o encarecimento do crédito para as empresas e para a desaceleração da economia.
Benito Salomão afirma também que, embora o Banco Central tenha dado a entender que o ciclo de redução dos juros pode levar mais tempo para começar, isso não significa, necessariamente, que o Bacen descarta diminuir a Selic ainda este ano.
"Em junho, o Copom se reúne de novo. Novas informações e novos dados vão ser incorporados na análise. E, talvez, já com o arcabouço fiscal aprovado e inflação um pouco mais cadente, talvez o Banco Central possa sinalizar uma queda de juros no próximo comunicado", avalia.
Entenda
Desde o início do ano, o governo elevou o tom das críticas contra o patamar da taxa básica de juros da economia. O presidente Lula chegou, inclusive, ao dizer que poderia tentar rever a autonomia do Banco Central após o fim do mandato do atual presidente, Roberto Campos Neto.
Na avaliação do governo e de representantes do setor produtivo, os juros elevados estão dificultando o acesso ao crédito e freando a economia. O Banco Central, por outro lado, argumenta que está cumprindo o seu papel de fazer convergir a inflação para meta, responsabilidade da autoridade monetária, e que a conjuntura exige paciência.
Setor produtivo pede equilíbrio na taxa de juros