LOC.: A produção brasileira de grãos deve bater novo recorde em 2022: a safra deve atingir 272,5 milhões de toneladas, segundo levantamento mais recente da Conab, a Companhia Nacional de Abastecimento. O crescimento de 17 milhões de toneladas em relação à safra anterior deve vir mesmo com as adversidades climáticas em algumas regiões, como a seca que atingiu o Sul do Brasil.
Para entender se a possível safra recorde vai ajudar a diminuir o preço dos alimentos e a alavancar o PIB do país em 2022, entrevistamos o coordenador do Núcleo Econômico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Renato Conchon.
LOC.: Renato, como foi o desempenho da agricultura brasileira nas últimas duas temporadas?
“Nós tivemos problemas por adversidades climáticas tanto na safra 2020/2021 quanto na safra 2021/2022, que é essa agora. Na safra 2020/2021, nós tivemos problema no milho safrinha. Veio a safra 21/22. Em setembro e outubro de 2021, o produtor plantou a soja na janela ideal. Veio chuva, ele colheu. Só que em algumas regiões, como no Sul do Brasil, teve atraso, porque não choveu. Ao invés de ter uma safrinha de milho ruim como foi da safra 20/21, teve a safra verão ruim”.
LOC.: A melhora da safra na temporada 2021-2022 foi suficiente para a agricultura recuperar as perdas de 2020-2021?
TEC./SONORA: Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da CNA
“A safra de soja de 2021-2022 comparada com 2020/2021 caiu 10% por cento. Em contrapartida, a safra de milho cresceu 32%. Essa safra de soja foi pior do que a última safra. Mas o milho foi bem melhor. Regionalmente tem alguns prejuízos. Para o pessoal do Sul foi uma safra muito ruim. Para o pessoal do Centro-Oeste foi uma safra muito boa. No balanço total, se a gente somar milho, soja, algodão, trigo, todas essas culturas, ainda assim nós temos uma safra de 272,5 milhões de toneladas, um acréscimo de 6,7% comparado à safra 20/21. Ou seja, é um número bom, um crescimento bastante significativo, mas poderia ter sido melhor”.
LOC.: O aumento da safra de grãos em 2022 vai contribuir para queda no preço dos alimentos?
TEC./SONORA: Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da CNA
“Nós estamos com processo inflacionário em todo o mundo. Principalmente a inflação associada a alimentos e as commodities energéticas. As commodities alimentícias estão subindo porque alguns países, durante a pandemia e a guerra, não conseguiram produzir ou escoar suas safras. Um exemplo muito recente é a Ucrânia com o trigo. Associado a isso, o preço do gás natural subiu, assim como o preço do petróleo, o que está impactando a inflação dos combustíveis. Se a gente olhar para o Brasil, a gente está ‘importando essa inflação’, mas também tem questões internas”.
LOC.: Quais são essas questões internas?
TEC./SONORA: Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da CNA
“Existem outros produtos que influenciam o dia a dia dos brasileiros, que são as hortaliças e as frutas, que não são commodities, ou seja, não são precificadas no mercado internacional. Por exemplo, o tomate. Não tem precificação no mercado internacional, mas o custo para o produtor está subindo, o fertilizante está subindo no mundo todo. Entretanto, no mercado internacional o preço da soja subiu. Então, uma coisa acaba equivalendo a outra. Para o produtor de tomate [o preço], por exemplo, não [subiu]. O custo de produção subiu para todos os produtores. A receita subiu para alguns, mas para outros não, o que está fazendo com que parte dos produtores esteja trabalhando no vermelho e eles acabam reduzindo a produção, o que influencia ainda mais os preços dos alimentos”.
LOC.: Então, mesmo com a maior oferta de grãos nesta safra, isso tende a não impactar tanto o preço dos alimentos?
TEC./SONORA: Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da CNA
“Correto. Tende a ser positivo, porque se tivesse tido uma quebra de safra, com certeza os preços subiriam mais”.
LOC.: O PIB da agropecuária caiu 0,9% no primeiro trimestre deste ano. Acredita que o setor vai conseguir reverter o resultado nos trimestres seguintes?
TEC./SONORA: Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da CNA
“Sim. Houve uma queda neste primeiro trimestre de 2022, mas a nossa previsão é que haja uma recuperação por conta das outras produções do segundo trimestre, especificamente o milho safrinha, que esse ano foi muito bom. Tem também uma previsão muito boa para o algodão. Devemos ver até o final de 2022 uma retomada do PIB da agropecuária. A nossa projeção CNA é que ao final de 2022 o PIB da agropecuária cresça 3,5%, contribuindo para o crescimento do PIB brasileiro, que na nossa projeção está em algo aproximado de 1,7%”.
LOC.: Eu conversei com o Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da CNA. O especialista disse que a safra recorde de grãos em 2022 vai impulsionar o PIB da agropecuária e da economia brasileira, mas que não deve ajudar a baixar o preço dos alimentos, porque existem outras causas para a inflação observada nas prateleiras dos supermercados.
Reportagem, Felipe Moura.