Indústria de calçados. Foto: Miguel Ângelo/CNI
Indústria de calçados. Foto: Miguel Ângelo/CNI

Pequena indústria de Joinville cresce no terceiro trimestre, mas escassez de energia trava retomada mais consistente

Indústria do município do norte catarinense gerou mais de mil vagas de emprego entre julho e setembro

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Os micro e pequenos industriais de Joinville (SC) tiveram um terceiro trimestre de 2021 positivo. No entanto, a baixa oferta de energia elétrica impediu que a retomada da atividade econômica dessas empresas fosse mais consistente. A informação é da Associação de Joinville e Região de Pequenas, Micro e Médias Empresas, a Ajorpeme. 

Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), os principais indicadores das indústrias de micro e pequeno porte brasileiras melhoraram no terceiro trimestre, na comparação com o trimestre anterior. O índice de desempenho, por exemplo, saltou de 46,5 pontos em junho para 48,3 pontos em setembro. Já o indicador que mede a situação financeira subiu 0,3 ponto, passando de 42,3 pontos para 42,6 pontos. 

Para o deputado federal Coronel Armando (PSL/SC), a melhora financeira das indústrias de pequeno porte se deve à facilitação do acesso ao crédito, com destaque para o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) e o Open Banking. 

“O Pronampe injetou recursos na pequena e média empresa e, com isso, permitiu que essa empresa fizesse os investimentos que estavam presos e também manter o emprego dos seus funcionários. Da mesma forma, algumas medidas do Open Banking, que é a disponibilização de recurso no sistema bancário desde que com autorização do cliente, trouxe novidade e redução dos juros dos créditos que as empresas necessitam”, destaca. 

Leonardo Santana, presidente da Ajorpeme, afirma que, no início da pandemia, as micro e pequenas empresas tiveram dificuldade para conseguir crédito, o que mudou com o aperfeiçoamento do Pronampe, um programa que oferece empréstimos aos empresários, a juros mais baixos e com prazos extensos para o pagamento. 

Ele diz que os empresários industriais de Joinville estão mais confiantes desde o terceiro trimestre. A explicação passa pelo avanço da imunização e redução dos casos da Covid-19, aliados à reabertura dos estabelecimentos. Leonardo explica que o crescimento pode ser percebido na procura por mão de obra.

“Joinville está, praticamente, numa situação de pleno emprego. As indústrias estão até buscando profissionais fora da cidade para conseguir atender à demanda que acabou ficando represada nos meses da pandemia e, hoje, existe uma grande demanda para ser colocada em dia. Há um crescimento e um otimismo geral, principalmente nas pequenas empresas”, avalia. 

De modo geral, a indústria de Joinville criou 1.031 postos de trabalho entre julho e setembro de 2021, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). No trimestre anterior, o setor teve saldo de 2.396 empregos. 

Adriano Reinert é dono de duas indústrias de pequeno porte em Joinville. Uma das empresas fabrica cervejas e foi duramente afetada pelo fechamento de bares e restaurantes, e pela proibição de eventos em meio à pandemia da Covid-19. Desde agosto, ele diz, o pequeno negócio passou a fabricar e comercializar sete vezes mais litros do produto, graças à retomada da atividade econômica. 

“Foi um ano bastante promissor, a ponto de que chegamos até a reinvestir recursos. A pandemia nos travou no ano passado e até agosto deste ano, e a partir de então nós acreditamos que, em algum momento, o pessoal ia fazer o consumo, seja por eventos, aniversários, confraternização de fim de ano, e crescemos bastante”, conta. 

O empresário diz que a sua outra indústria, que produz materiais plásticos com foco no mercado odontológico, também cresceu. “O faturamento quase duplicou em 2021”, completa. 

Indicadores da pequena indústria apresentam resultados positivos no segundo trimestre

Falta ou alto custo de matéria-prima é o principal problema das pequenas indústrias pelo quinto trimestre consecutivo

PIB: economia do país deve crescer 1,2% em 2022, enquanto 2021 fecha com crescimento de 4,7%, estima a CNI

Entraves

No entanto, Adriano cita como a falta de matéria-prima, por exemplo, impactou a empresa. “No ramo petroquímico, fui totalmente afetado, porque dependo do petróleo para fabricar minhas peças de plástico. É praticamente tudo importado”, diz. 

De acordo com a CNI, a falta ou o elevado custo de matéria-prima e da energia elétrica, além da elevada carga tributária são os principais problemas enfrentados pelas pequenas indústrias. 

Leonardo Santana explica que os entraves foram sentidos pelos demais empresários da cidade. Ele ressalta que a crise hídrica que o Brasil atravessa impactou a oferta de energia e travou o crescimento de negócios no município do norte catarinense. 

“A falta de energia é uma realidade também em Joinville. Já ouvi falar de empresários que vem buscando aumentar a sua capacidade produtiva, mas não conseguem fazer porque não tem energia para aumentar o seu parque fabril, comprar novas máquinas, porque não tem energia disponível no local da sua sede ou não tem energia disponível em Joinville para manter a ampliação de uma empresa”, relata. 

Diante da pior crise hídrica em 91 anos, de acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o custo da conta de luz disparou, com a criação, inclusive, de uma bandeira tarifária de escassez hídrica pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a energia elétrica ficou 30% mais cara nos últimos 12 meses. 

O professor do Instituto de Economia e pesquisador do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Marco Antonio Rocha, destaca que dois fatores explicam a crise energética que o país atravessa. Em primeiro lugar, as mudanças climáticas e a falta de chuvas. Depois, porque o Brasil investe pouco na transição energética para outras fontes de energia renovável, como solar e eólica. 

“Esse é um problema mais difícil de se corrigir, porque são investimentos de grande escala e longa maturação, e tudo isso demora um tempo até que a oferta chegue ali na ponta da indústria. Então, essa pressão de custo dos insumos energéticos ainda deve permanecer por um bom tempo. Pelo menos, esse deve ser o cenário ainda para o primeiro semestre de 2022”, projeta. 

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