Ocupação de leitos Covid-19 aumenta nos hospitais brasileiros

Festas de fim de ano e flexibilização das medidas de proteção podem piorar o cenário

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Leitos de UTI - Foto: Agência Brasília

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Ocupação de leitos reservados para pacientes com Covid-19 cresce em hospitais privados e públicos no Brasil. Segundo Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), a taxa na rede particular chegou a 71,2% de ocupação, na semana de 28 de novembro a 4 de dezembro.

Os dados levam em conta 34 respondentes de diversas regiões do Brasil. Entre eles, existiam 74.816 leitos operacionais-dia, sendo 14% – ou 10.147 – destinados exclusivamente para pacientes com Covid-19.

O aumento se intensifica principalmente por conta dos pacientes vindos da rede pública, onde os índices de ocupação também estão bem elevados. Em Belo Horizonte, a prefeitura contratou, em caráter excepcional e temporário, unidades de internação em hospitais privados, para dar continuidade à política de ampliação de leitos destinados à Covid-19. Segundo a Secretaria de Saúde, serão investidos R$ 42 mil reais, por leito de UTI Covid e R$ 10.500 reais, por leito de enfermaria.

O pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz, Diego Xavier, destaca que antes, a contaminação tinha um fluxo determinado – das regiões metropolitanas para o interior. 

“No início da pandemia observamos a chegada da doença nas grandes cidades e depois esse fenômeno da interiorização do vírus. Quando chegou no interior, a doença já apresentava – na maioria das regiões metropolitanas – um processo de diminuição. Tivemos oportunidade logística de enviar esses pacientes do interior para as regiões metropolitanas, que é onde se concentra a maior parte dos recursos”.

Agora, segundo o epidemiologista, os casos acontecem simultaneamente.

“O que temos observado agora são casos acontecendo simultaneamente nessas duas áreas.  Se antes tínhamos essa oportunidade logística, agora não temos mais”, alerta.

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Diego Xavier alerta para a movimentação de pessoas durante as festas de fim de ano, o que deve agravar a situação dos leitos.

“Infelizmente as pessoas têm abandonado as medidas de distanciamento e uso de máscara. As festas e as confraternizações de final de ano, como Natal por exemplo, tem uma capilaridade muito grande. A tendência é que as pessoas se movimentem e se exponham. Infelizmente estamos em uma situação em que os leitos de UTI estão bastante cheios. Aqui no Rio de Janeiro já temos uma fila de espera com cerca de 500 pessoas”, comenta.

Em Sorocaba, município do interior de São Paulo, também falta vaga na rede pública: 10 pacientes aguardavam por uma vaga no SUS para leito Covid, na última sexta-feira (11); sendo 9 para enfermaria e 1 para UTI. 

No entanto, a Secretaria de Saúde destaca que um paciente, que solicitou vaga na UTI, se encontra em hospital particular e busca transferência para o SUS. 
O Epidemiologista e professor da Universidade de Brasília (UnB), Wildo Navegantes, fala sobre esse movimento inverso, de pacientes da rede particular que buscam a rede pública.

“Do ponto de vista do Sistema Único de Saúde, ele é universal; serve para qualquer usuário. Agora se esse usuário paga convênio médico, espera-se que – via Agência Nacional de Saúde – esse leito, que tem destinação pública, tenha o recurso reposto pelo convênio médico ao SUS”, comentou.

De modo geral, a ocupação de leitos aumentou tanto na rede privada, quanto na rede pública. Segundo a Fiocruz, oito capitais apresentam taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19, para adultos, acima de 80%: Macapá (92,5%), Fortaleza (86,4%), Recife (83,3%), Vitória (84,9%), Rio de Janeiro (92%), Curitiba (92%), Florianópolis (90,4%) e Campo Grande (100%).

O epidemiologista Wildo Navegantes, destaca o que motivou o aumento de ocupação de leitos.

“Naturalmente foi um relaxamento das atividades de distanciamento social. E também os atos de motivação da retomada – propostos por alguns governos – fazendo com que o comércio fosse aberto, os shoppings fossem abertos, algumas áreas que não são essenciais fossem abertas. Com isso as pessoas voltaram a conviver”, destaca.

Segundo o epidemiologista Wildo Navegantes, apesar da Covid-19 já ser uma doença mais conhecida pelos profissionais de saúde, o governo federal precisa ter uma boa comunicação de risco, para que as pessoas não voltem a se infectar em grande escala. Ele cita a possibilidade do repique de contaminações.

“Por exemplo, no estado do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, que a magnitude dos casos atingiu uma quantidade tão grande, quanto da teórica primeira onda, que nós passamos. Nós corremos o risco de ter repique, em um cenário bem pior, do que nós vimos anteriormente”, alerta.

A Frente Nacional de Prefeitos (FNP) reuniu prefeitos eleitos e reeleitos, para debaterem os impactos da Covid-19 até agora e os desafios a serem enfrentados pelos municípios no próximo ano.