LOC.: Em 2020, houve um excesso de mortes maternas de 40%, em relação a anos anteriores. É o que aponta um estudo feito pelo Observatório Covid-19 Fiocruz. Por causa da pandemia, houve aumento da mortalidade entre a população em geral. Mas o excedente de mortes entre as gestantes e puérperas foi ainda maior: 14% acima do registrado nos demais grupos.
O pesquisador Raphael Guimarães destaca que o quadro aponta para uma necessidade de maior atenção às mulheres gestantes e puérperas.
TEC./SONORA: Raphael Guimarães - pesquisador
“O excesso de mortes maternas no Brasil em 2020, primeiro ano da pandemia por Covid-19, foi de 40%. Esse excesso de mortalidade para esse subgrupo é maior do que o excesso de mortalidade geral, que também já foi identificado no estudo anterior do nosso grupo. O excesso de mortalidade geral no Brasil, em 2020, foi de 19% e de mortalidade materna 40%. O que significa dizer que a Covid-19 penalizou mais as gestantes e puérperas do que a população em geral. E, por isso, é um grupo específico que requer atenção prioritária, de organização de intervenção e de prática assistencial diferenciadas para que a gente possa reverter essa situação de iniquidade que permeia grupos sociais distintos.”
LOC.: O pesquisador também explica que a porcentagem de mortes maternas tem uma ligação com a Covid-19, mas não necessariamente de forma direta.
TEC./SONORA: Raphael Guimarães - pesquisador
“Nem todas essas mulheres que morreram em excesso, morreram por covid, mas a covid criou uma certa desorganização da rede assistencial que acabou prejudicando o acesso dessas mulheres, principalmente as gestantes, a um pré-natal e parto de qualidade. E, é um acesso oportuno a esse tipo de assistência. Essa dificuldade de acesso penalizou mulheres mais vulneráveis, principalmente mulheres pretas e pardas, mulheres que vivem em comunidade rural e que tiveram seu atendimento fora de município, o que ratifica a ideia de que a rede essencial estava despreparada para atender esse fluxo em situação de pandemia.”
LOC.: Raphael explica, ainda, que as mulheres que conseguiram atendimento tiveram maior chance de internação e CTI e também de uso de ventilação mecânica invasiva. Ou seja, a rede de saúde procurou atender de forma mais intervencionista essas mulheres para poupá-las logo no início da manifestação dos sintomas mais graves da Covid-19.
Reportagem, Sophia Stein