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O estado da Bahia pode ser um dos principais polos mundiais de produção do Hidrogênio Verde, apontado como o combustível do futuro. E a movimentação para isso já começou. A pedido do governo estadual, o Senai Cimatec está desenvolvendo o Mapa do Hidrogênio Verde (H2V), um estudo para identificar as áreas prioritárias com vocação para a produção do componente que é feito sem a queima de carbono, ou seja, sem a produção dos gases de efeito estufa.
O potencial baiano no setor foi identificado por outros dois trabalhos publicados pelo Senai Cimatec: o Mapa Eólico, de 2013, e o Mapa Solar, de 2018, ambos apontando os potenciais energéticos provenientes do vento e do sol, abundantes na Bahia.
São necessárias fontes de energias renováveis para realizar a produção do hidrogênio verde. A eletrólise, que é processo químico que quebra as moléculas da água em hidrogênio e oxigênio pela eletricidade, utiliza energia solar ou eólica. Assim, não há queima ou liberação de CO² na atmosfera. O resultado final é um gás que está pronto para ser distribuído para as indústrias, mas que também atende diversos outros setores, como o de mobilidade.
Ricardo Alban, presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), explica que os ventos fortes da Bahia durante a noite e a irradiação solar durante o dia são a combinação perfeita para a produção de hidrogênio verde no estado. Ele ressalta que toda essa nova tecnologia não só vai ajudar a descarbonizar a indústria baiana como também colocar o Brasil entre os protagonistas desse combustível.
“O Brasil poderá se tornar um player importantíssimo nesse mercado, com geração de divisas e emprego estupenda, e precisamos ter muito cuidado com a regulação disso para que a gente não fique criando dificuldades em vez de propiciar condições viáveis e seguras de que esse investimento venha para o Brasil, que isso gere nova renda, para que possamos não só descarbonizar nossa indústria como sermos um player internacional nisso”, destaca o presidente da FIEB.
Ricardo explica que o processo de descarbonizar a indústria tem todo um viés ambiental, mas também econômico. Isso porque a demanda mundial por produtos que tenham origem “verde”, como um aço que usou em seu processo o hidrogênio obtido da eletrólise, está aumentando cada vez mais e a indústria brasileira deve se movimentar antes que essa necessidade apareça.
“Em algum momento o mercado vai estar cobrando isso. Nós vamos correr atrás depois de o mercado já estar cobrando, ou vamos também pari passu fazer esse mesmo movimento aqui no Brasil? Isso, na minha visão, é pensar no amanhã, é ter política industrial. E é disso que o Brasil está precisando”, destaca Ricardo.
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O objetivo principal do projeto consiste na elaboração de estudos, modelos e projeções que subsidiem o planejamento, incentivo e criação de políticas públicas relacionadas à economia H2V na Bahia. José Luis Almeida, coordenador do Mapa do Hidrogênio Verde, explica que o modelo vai cruzar dados, considerando a presença de fontes de águas residuais, do subsolo e salinas, além das fontes de transmissão elétrica e as fontes de energia limpa, como a fotovoltaica, solar e hidroelétrica.
Ele também destaca que o mapa vai conter a parte de regulamentação do hidrogênio verde dos cinco países mais avançados, bem como a forma de financiamento e de fomento, nesses países, do novo combustível. Para isso, integrantes do projeto estão visitando os países protagonistas nessa pesquisa: Alemanha, Portugal, China, França e Espanha. “Eu acredito e todos nós acreditamos, inclusive a Europa, toda ela acredita e está pesquisando também, que o hidrogênio será o combustível do futuro”, aponta José Luis.
“Nós não podemos substituir hoje todos os hidrocarbonetos que geram gases do efeito estufa, NOX, CO² rapidamente. Então, existe um processo de descarbonização, existe uma transição energética. A importância do Cimatec é produzir tecnologia para que cada vez mais os setores da indústria química, a indústria de uma maneira geral seja pouco a pouco descarbonizada, sustentavelmente. E como isso acontece? Substituindo o hidrogênio cinza, de reforma a vapor, gradativamente em todos os setores da indústria.”
Atualmente a indústria já utiliza hidrogênio em vários processos e a queima dele não produz nada agressivo ao meio ambiente, apenas vapor de água. O problema é que a maioria é chamada de “cinza”, já que ele é obtido da queima de hidrocarbonetos, como o gás natural, por exemplo. O hidrogênio verde, como é retirado da água por meio de eletrólise, cujos aparelhos são alimentados por energia solar, eólica ou hidráulica, permanece verde do início ao fim do processo.
Vânia Almeida, superintendente de Inovação e Desenvolvimento Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente da Bahia, explica que o objetivo com a produção do hidrogênio verde vai muito além da questão econômica. Além de colocar o estado na vanguarda dos investimentos que permitirão substituir combustíveis fósseis por energias renováveis, há um foco especial nas questões ambientais e sociais.
“Quando você traz uma inovação, você traz desenvolvimento e isso reflete na questão social. Esse potencial que a Bahia tem, eólica e solar, fez com que colocássemos o hidrogênio verde como pauta para avançar nessa questão das energias renováveis”, relata.
Segundo Vânia, além da questão ambiental, muito importante para o estado, há ainda a oportunidade de geração de empregos, já que toda a cadeia de produção do hidrogênio verde, que inclui também transporte e armazenamento, vai demandar mão de obra especializada e gerar postos indiretos.
“Quando uma empresa for instalar uma planta, por exemplo, envolve construção civil, ou seja, essa cadeia vai precisar de uma série de profissionais no estado que não têm necessariamente ligação com o hidrogênio”, destaca a superintendente.
A produção de hidrogênio verde ainda pode resolver outro grande problema nacional: a dependência de importação de fertilizantes. Apesar de ser um dos maiores produtores de alimento do planeta, o Brasil importa mais de 80% dos fertilizantes utilizados na agricultura. Algo que, segundo o coordenador do Mapa, pode mudar em breve.
“Os nossos projetos que temos hoje abrangem, por exemplo, os fertilizantes. Nós podemos, gradativamente, se esses projetos forem adiante – e irão adiante –, vão aumentar a produção de fertilizantes verdes no Brasil de maneira a suprir toda a nossa necessidade em fertilizantes e, talvez, até para exportar. Porque nós temos um potencial solar, eólico e hidráulico enorme no estado da Bahia”, observa José Luis.
A amônia é um dos principais componentes dos fertilizantes e para produzi-la é necessário hidrogênio. Segundo o presidente da FIEB, o mundo demanda cada vez mais por produtos da economia verde, até mesmo de uma agricultura que use adubos produzidos sem a proliferação de gases do efeito estufa. E isso só é possível com o hidrogênio verde.
“A demanda por uma agricultura realmente verde também está aumentando, com fertilizantes não gerados do gás, que vem de hidrocarbonetos, mas que sejam gerados do hidrogênio que é usado para fazer amônia, que seja gerado de energia verde, o que gera a amônia verde. E isso vai diminuir a demanda de fertilizantes do Brasil”, acredita.
Ricardo Alban aponta também mais um subproduto que será utilizado da eletrólise da água. “A produção do hidrogênio verde ainda rende na produção de oxigênio, que é usado não só como insumo industrial, como na área de saúde. Com isso, você automaticamente vai gerar um barateamento muito grande do uso de oxigênio para fins medicinais.”
O Mapa do Hidrogênio Verde deve ser finalizado pelo Senai Cimatec em novembro e faz parte das ações do Plano Estadual para Economia de Hidrogênio Verde na Bahia, lançado pelo governo em abril deste ano. A equipe envolvida no projeto conta com 19 profissionais especializados em Modelagem Matemática, Estudos Logísticos, Estudos Econômicos, Meio Ambiente e Eficiência Energética.
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