Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Amazônia+21: Instituto busca difundir princípios do ESG no Pará

Biogás e integração de lavoura e pecuária com a floresta serão os primeiros passos. Estado já tem exemplos de recuperação de área degradada

SalvarSalvar imagemTextoTexto para rádio

Os projetos iniciais do Instituto Amazônia+21 devem começar a ser desenvolvidos a partir de 2022: a produção de biogás, proveniente de resíduos sólidos; e o ILPF, que é a integração da lavoura e da pecuária com a floresta. Este último já tem uma boa referência no Pará desde 2012, com a produção de cacau sustentável em meio à floresta. Essas diretrizes foram apresentadas nos nove estados da Amazônia Legal e levadas à COP26, Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, realizada este ano na Escócia. 

Uma solução encontrada no Pará é baseada em sistemas agroflorestais, como o plantio de cacau na floresta amazônica aliado a espécies nativas. O processo mantém a floresta em pé ao mesmo tempo em que proporciona a matéria-prima do chocolate, principalmente para a geração de renda de pequenos agricultores familiares, já que o fruto tem alto valor comercial.

A iniciativa teve início em 2012, no município de São Félix do Xingú, no sudeste do Pará, com o projeto Cacau Mais Sustentável. O objetivo é alcançar até três mil famílias de pequenos produtores até 2025 e escalar essa solução para outros municípios no Pará e estados, o que pode ser alavancado por um dos projetos iniciais do Instituto Amazônia+21.

O Instituto pretende disseminar dados coletados em Rondônia sobre ILPF, mostrando às outras regiões e possíveis investidores as vantagens de adotar práticas de agricultura regenerativa de baixo carbono e com vantagens econômicas, sociais e ambientais. O trabalho desempenhado no Pará também deve servir de parâmetro.

Em São Félix do Xingú, parcerias entre empresas privadas e associações locais incentivaram pequenos produtores rurais e pecuaristas a recuperarem áreas desmatadas ou improdutivas com o plantio de cacau e outras espécies florestais, fomentando assim uma agricultura familiar de baixo carbono. Segundo a organização não governamental TNC, o Brasil é um dos maiores produtores de cacau do mundo, mas ainda não consegue atender à demanda interna. Assim, a transformação de áreas degradadas em agroflorestas seria uma ótima solução de economia verde para o país, além de evitar o desmatamento ilegal, um dos compromissos assumidos pelo Brasil na Cop26.

O deputado federal Paulo Bengtson (PTB/PA) explica que iniciativas como a do Instituto Amazônia+21, que busca uma maior interação entre investidores e potenciais negócios sustentáveis na Amazônia, podem aproximar ainda mais o Brasil da missão explicitada na COP26. Segundo o parlamentar, as ações públicas, privadas, mistas ou provenientes de organizações não governamentais devem visar a redução de emissões de gases poluentes e incentivar o desenvolvimento sustentável na Amazônia, respeitando os moradores da região.

“Acho muito importante que empresas se unam, que grupos empresariais se unam para investir nos pequenos produtores. Sou favorável a qualquer ação que vise o meio ambiente e que venha tratar a floresta como ela deve ser tratada, com seriedade”, destaca Bengtson.

O deputado lembra que a floresta de pé dá atualmente mais lucro que se fosse derrubada para a utilização de outras atividades menos sustentáveis. Ressalta, também, que o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará, Ideflor-Bio, foi criado por meio de uma lei estadual para proteger as florestas da região e promover o desenvolvimento sustentável dos diferentes segmentos florestais do estado.

“O Instituto já trabalha fortemente para a regeneração dessas áreas degradadas. Isso é feito por meio de agroflorestas. São espécies nativas, mas com valor econômico. Ali é produzido cacau, açaí, cumaru, ipê, banana. São espécies nativas que trazem de volta a cobertura de floresta sobre as áreas degradadas e isso agrega valor econômico para as famílias, que têm a vida socialmente transformadas ao passo em que nos trazem de volta a floresta”, pontua o deputado.

O Instituto, aliás, promoveu em setembro deste ano capacitações sobre manejo de cacau no município de Conceição do Araguaia. Na ocasião, mais de 70 pequenos produtores locais aprenderam sobre Sistemas Agroflorestais e maneiras de utilizar a cultura cacaueira para o reflorestamento de áreas degradadas.

ESG e a economia verde

O Instituto é voltado para fomentar novos modelos de negócios capazes de promover o desenvolvimento sustentável nos estados da região amazônica. A ideia é proteger a biodiversidade com adoção de práticas produtivas de baixa emissão de gases poluentes e alinhadas com as metas estabelecidas pela chamada economia verde, apoiada em três pilares: ambiental, social e governança (da sigla em inglês ESG).

Segundo Karen Oliveira, gerente para Políticas Públicas e Relações Governamentais da TNC Brasil, organização não governamental que atua há 30 anos na Amazônia com foco em conservação e mitigação de mudanças climáticas, a economia verde é um modelo de desenvolvimento baseado em soluções encontradas na natureza. Além do que a floresta já oferece naturalmente, como os ciclos de água e captura de gases do CO², ela contribui com produtos madeireiros e não madeireiros. E o mercado mundial atento à economia verde exige, cada vez mais, que os empreendimentos tenham cuidados sociais e ambientais.  

“Quando a gente fala da economia verde nós estamos nos baseando numa economia que não é intensiva em carbono, o que a gente chama de uma transição para uma economia de baixo carbono, baseada no uso sustentável da floresta e que respeita os povos da floresta, respeitas as comunidades tradicionais, respeita os indígenas que vivem nessa região e que busca conciliar desenvolvimento com conservação”, explica Karen.

O Instituto Amazônia+21 esteve presente na COP26 porque o encontro não foi apenas uma Conferência Climática, mas tratou também de biodiversidade, uma vez que os assuntos estão interligados. Um dos temas que marcou o evento foi a conservação da floresta ao mesmo tempo em que se promove o crescimento econômico que todos os países almejam. Tanto que o pacto assinado pelos países que participaram da COP26 traz temáticas ligadas às soluções baseadas na natureza como um instrumento de enfrentamento às mudanças climáticas.

Karen destaca que o mundo tenta implementar, desde a Conferência Rio92, o conceito de desenvolvimento sustentável e a economia verde é uma solução vantajosa para se continuar produzindo e se desenvolvendo econômica e socialmente. “O desenvolvimento sustentável nada mais é do que garantir para gerações futuras as mesmas quantidades de recursos naturais que temos hoje disponíveis na natureza”, explica.
 

Receba nossos conteúdos em primeira mão.