Data de publicação: 14 de Novembro de 2020, 23:00h, Atualizado em: 01 de Agosto de 2024, 19:32h
O impacto da pandemia de Covid-19 nas eleições deve ir além da alteração das datas de votação e as medidas para evitar o contágio do vírus. Segundo especialistas, a gestão dos candidatos diante da crise sanitária deve impactar na decisão dos eleitores na hora de votar.
Mesmo ainda em alta em algumas regiões do interior brasileiro, a taxa de contágio do vírus dá sinais de enfraquecimento na maioria dos municípios, que já respiram mais aliviados. Mas os eleitores devem levar como critério de julgamento a atuação dos gestores no enfrentamento da pandemia.
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O advogado especialista em direito constitucional, Rafael Brasil, ressaltou que a alteração no pleito eleitoral deu mais tempo aos candidatos no período de pré-campanha, dando mais oportunidade para apresentar suas propostas. Além disso, ele avalia que a pandemia influenciou no pensamento coletivo da população, que está mais atenta a seus direitos.
“Ficou claro que o gestor público deve agir de modo rápido no enfrentamento a grandes crises e essa passa a ser agora uma habilidade imprescindível do candidato a prefeito. E se os eleitores estão mais atentos, obviamente a cobrança com o gestor público, especialmente com o prefeito, que é a figura mais próxima das pessoas, tende a ser muito maior”, afirmou o especialista.
Com base em um levantamento com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do portal Brasil.io, dos 182 municípios que possuem taxas acima da média nacional em relação à letalidade e incidência de casos por 100 mil habitantes, destes, 50 prefeitos ou prefeitas estão tentando a reeleição.
Para o cientista político e assessor parlamentar, Ismael Mota Gomes de Almeida, o impacto nas urnas deve ser menor nos pequenos municípios, onde a atividade econômica gira em torno da agricultura, setor pouco atingido pela pandemia, e pelo funcionalismo público municipal.
Almeida considera que os municípios de médio e grande porte devem exercer uma cobrança maior, já que grande parte da população não depende do funcionalismo público. Segundo ele, a maioria social deve ser determinante na rejeição dos atuais gestores, e a população deve tender a apoiar candidatos que sinalizem uma flexibilidade maior na gestão da pandemia daqui para frente.
“A maioria, na verdade, são de trabalhadores informais, assalariados do comércio e que sim, perderam emprego durante a pandemia, porque as empresas fecharam as portas. E ao contrário dos municípios pequenos, o auxílio emergencial, que foi concedido pelo executivo não é capaz de suprir nem minimamente as necessidades básicas de uma família que vive nas grandes cidades, que tem um custo de vida muito alto”, avaliou.
Outro ponto observado pelo analista é que a expectativa de comparecimento será menor. Especialmente aqueles que não tem obrigatoriedade de votar, a exemplo dos idosos com mais de 70 anos, e também pessoas do grupo de risco, dificilmente devem compareceram esse ano.
Levantamento
Desde que o Ministério da Saúde deixou de divulgar com regularidade os dados sobre a pandemia, o Brasil.io formou um grupo de voluntários que, diariamente, compilam boletins epidemiológicos das 27 Secretarias Estaduais de Saúde. Os números são disponibilizados em uma base de dados com a série histórica de casos e óbitos confirmados por município.
Como a última atualização na plataforma do MS era do dia 06/11, no momento do levantamento, a taxa de letalidade e a incidência de casos confirmados não acompanhavam os dados do Brasil.io, que estão mais atualizados.
Por isso, foi pega como referência a média nacional disponível no dia 11/11 às 16h30 no site da Fiocruz, que conta a taxa de incidência de 2.714,11 (por 100k habitantes) + taxa de letalidade de 2,86%.