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O município de Cavalcante é um quinhão de terra encrustado no interior de Goiás, com uma população menor que dez mil habitantes e ocupam uma área que não chega a sete mil quilômetros quadrados. A cidade tem origem antiga na história do Brasil, que remota à década de 1730 com as expedições em busca de novas minas de ouro pela região. Apesar disso, oficialmente, só em 1939 que a cidade foi instalada na Federação.
Hoje Cavalcante abriga uma parte da comunidade Kalunga, dentro do Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, principalmente no Povoado Engenho e no Vão do Moleque, além de cerca de 60% da área total do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, o que faz da pequena cidade um ponto de parada para o turismo ambiental. Principalmente para os frequentadores de cachoeiras e praticantes de trilhas pelo cerrado, uma vez que a região possui incontáveis destinos dessa categoria e torna a economia do município mais forte por conta do turismo. Mesmo assim, a cidade configura na lista das localidades brasileiras com menor Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), na posição 4.540º entre os 5.570 municípios do país.
Entenda a matemática da sigla das rodovias federais
BR-163: A epopeia de uma estrada quase sem fim
O IDHM é uma medida elaborada com indicadores de três dimensões do desenvolvimento humano: longevidade, educação e renda. O índice varia de 0 a 1, sendo que quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano. Neste caso, Cavalcante possui a classificação 0,584, de acordo com o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para municípios assim, estar localizado às margens de uma rodovia que corta o estado ou País, é mesmo que dizer novas formas de conseguir fontes de renda e ampliar a exploração do turismo. E por muitos anos essa foi uma esperança de Cavalcante, inserida no planejamento de governo do presidente Juscelino Kubitschek, na campanha dos “50 anos em 5”, com a criação da BR-010, que liga o Distrito Federal ao Pará.
É o que explica Thaís Strozzi Carvalho, que é especialista em direito administrativo e infraestrutura. “O investimento em infraestrutura é essencial para o crescimento econômico e sustentável do País, principalmente se considerarmos que o principal meio de logística de distribuição aos municípios é o rodoviário. O fato de uma BR passar por municípios menores é de suma importância ao desenvolvimento local. Seja para trazer mais turismo ou para o escoamento da produção já existente na região”, destacou a especialista.
Apesar disso, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), anunciou que a estrada, anteriormente planejada para passar por Cavalcante, foi deslocada para outra área. Segundo o órgão, foram estudadas duas alternativas de traçado, nomeadas como Alternativa 1 e Alternativa 2 (que passa pela cidade), sendo a primeira com uma extensão de 277,10 km e a segunda com 272,32 km, em que ambos os traçados sugeridos interceptam, em parte, a Comunidade Quilombola Kalunga.
Entre os dois projetos, foi considerado que a Alternativa 1 apesar de mais longa por poucos quilômetros, tem possibilidades de causar uma intervenção menos impactante na região.
Para o líder comunitário e quilombola, Cezariano Paulino da Silva, manter o plano original não vai causar danos, pelo contrário, deve ajudar a região a melhorar as condições de vida da população local. “A nossa esperança estava nessa BR, que iria desenvolver muito por aqui e tínhamos expectativa de grande melhora. Agora, tem até pessoas que já falaram que se a BR não for passar por aqui, vai ter de se mudar porque não há desenvolvimento. Com a BR, nós poderíamos buscar mercado por fora para escoar o pouco que a gente produz aqui na região”, afirmou.
O relato vai ao encontro do sentimento da moradora e empresária, Gabriela Maciel França, que lamenta a perda da oportunidade que poderia alavancar a economia da cidade. “Eu, como empresária, sinto um prejuízo muito grande porque era uma oportunidade que a cidade teria para se desenvolver, considerando que aqui já se tentaram outras formas. Mas, infelizmente, só tivemos retrocesso como por exemplo o transporte que nós tínhamos, um ônibus que saía com destino à Brasília e Colinas do Sul, e hoje em dia não temos mais linha de transporte para Cavalcante exceto o pirata”, declarou a comerciante.
A importância de uma estrada e os impactos provocados em uma população geram fomento na economia de comunidades mais distantes. É essa a opinião da Marcielly Cardoso Roquete, que é especialista em administração pública e mestranda em transporte pela UnB. De acordo com ela, “as rodovias têm esse poder de levar desenvolvimento aos municípios, pois elas geram renda para a população e consequentemente acabam fortalecendo a economia local. As rodovias abrem o caminho para o crescimento de regiões localizadas estrategicamente ao seu redor”, explicou.
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