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O Nordeste é a região mais violenta do Brasil. De acordo com dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública, de janeiro a outubro do ano passado, a taxa de homicídio doloso por 100 mil habitantes ficou em 23,40, enquanto no país como um todo foi de 14,33. Foram, em média, 45 mortes do tipo por dia na região, quase metade da média do país — 110 mortes.
Bahia (5.508), Pernambuco (2.995) e Ceará (2.539) lideram a lista dos estados nordestinos com mais mortes violentas, quando considerados os cinco principais indicadores: homicídio doloso, feminicídio, latrocínio, morte por intervenção policial e lesão corporal seguida de morte.
O professor da Universidade Federal do Ceará e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência, Luiz Fábio Paiva, explica que a presença de grupos de outras regiões e o surgimento de grupos locais têm gerado uma série de conflitos armados nas capitais e regiões metropolitanas, além do processo da expansão também para cidades do interior.
“Uma intensa movimentação desses grupos, dos mercados ilegais de drogas, armas, contrabando, tem gerado uma situação muito peculiar em relação à dinâmica de crimes e esse tem sido um dos elementos, não o único, que tem contribuído para que a gente tenha indicadores de violência altos”, comenta.
A Bahia também foi o estado com o maior número de homicídio doloso do país: 3.895, cerca de 102 mortes desse tipo a cada dia. Para o coordenador do Laboratório de Estudos em Segurança Pública, Cidadania e Sociedade da Universidade Federal da Bahia, Luiz Claudio Lourenço, o estado tem sentido, há mais de 10 anos, o aumento da violência.
Ele destaca algumas medidas que precisam ser tomadas urgentemente para resolver a situação, algumas de longo prazo, como diminuir a vulnerabilidade social, mas a principal é olhar para a atuação da polícia.
“Apostar em uma outra solução que visasse de fato a segurança pública e não a insegurança. Essa resposta ostensiva, fortemente militarizada, muitas vezes não gera uma segurança para quem vive na periferia, ela causa insegurança na população. Então, parar de matar é fundamental para isso e quem deve ser o indutor dessa política de paz é fundamentalmente o Estado”, opina.
No ano passado, foram 1.410 mortes por intervenção policial na Bahia, o equivalente a 5 por dia e um aumento de 7,63% em relação a 2022.
Os dois especialistas concordam que é preciso mais do que a repressão policial para reverter essa situação.
“O Ceará foi um estado que expandiu os gastos com segurança pública, ironicamente. Então, ao mesmo tempo em que você expandiu o recurso destinado à segurança, expandiu o serviço de policiamento, nós tivemos uma expansão da criminalidade e consequentemente dos números da violência letal”, diz Paiva.
O pesquisador ressalta que é preciso olhar para as questões que envolvem problemas sociais, como a maneira como a população é afetada pelo crime: “O mercado ilegal se movimenta porque há investimento pesado de grupos que ocupam posições de poder que conseguem manejar grandes quantidades de droga e fazer a comercialização, alcançando as regiões mais pobres, que são as mais afetadas”.
No fim do ano passado, o ministro da Justiça Flávio Dino anunciou um investimento de cerca de R$ 170 milhões para a segurança do estado do Ceará.
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