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O mercado de gestão de resíduos sólidos urbanos (RSU) apresenta boas oportunidades para as empresas de micro e pequeno porte que querem apostar e se desenvolver no Brasil. Em 2019, o segmento movimentou cerca de R$ 28 bilhões, de acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). E a projeção é de que esse valor cresça 50% em até sete anos.
Entre 2010 e 2019, a geração de RSU no Brasil passou de 67 milhões para 79 milhões de toneladas. Até 2050, a expectativa é de crescimento de 50% nesse montante, o que abre espaço para a entrada de negócios voltados para o reaproveitamento do lixo, principalmente porque a coleta ainda está longe de ser universalizada, como nas regiões Norte e Nordeste, em que o índice de cobertura é de 81%.
Em entrevista ao portal Brasil61.com, o presidente da Abrelpe, Carlos Silva Filho, afirmou que o mercado de gestão de RSU ainda está em fase inicial em termos de movimentação financeira e que a perspectiva é de crescimento considerável.
“Temos uma grande proporção de práticas inadequadas, que precisam ser regularizadas, fomentando um mercado. Temos índices reduzidos de reciclagem, que podem ser ampliados e ainda não temos iniciativa em escala comercial para uma série de outras frentes, como recuperação energética e digestão anaeróbia. Mas também temos um considerável crescimento desse mercado nos próximos anos”, avalia.
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A gama de atividades para quem deseja empreender a partir do lixo é vasta, ele explica: coleta, triagem, recuperação e tratamento dos resíduos sólidos, até a disposição final em aterros sanitários. Os fins também são inúmeros: os resíduos sólidos podem servir para geração de energia, combustível e de matéria-prima.
“Quando analisamos o panorama de como os resíduos sólidos estão sendo utilizados como matéria-prima pelas empresas, vimos potencial a ser explorado”, diz Helen Camargo de Almeida, analista do Centro Sebrae de Sustentabilidade.
Atualmente, 13.174 micro e pequenas empresas atuam na cadeia de gestão de RSU, segundo a Abrelpe. Apesar da pandemia da Covid-19, o número de negócios no segmento se manteve estável, principalmente pela maior demanda por materiais médico-hospitalares, conta Carlos. “Na questão, por exemplo, de resíduos de saúde houve um crescimento bastante acelerado, realmente acentuado. Houve justamente uma massa e um volume concentrado de resíduos a serem tratados que trouxeram a manutenção dos negócios para as empresas”, explica.
A região Sudeste, liderada por São Paulo, responde por mais da metade da geração de resíduos no país. Boa parte do valor movimentado e das empresas que atuam na cadeia de RSU estão concentradas na região. No entanto, como nas regiões Norte e Nordeste há menor índice de coleta, há também mais espaço para o surgimento de novas iniciativas que deem um novo destino ao lixo reaproveitável.
Visando auxiliar os pequenos negócios que desejam se aventurar na gestão de resíduos sólidos, o Sebrae dispõe de uma plataforma chamada Centro Sebrae de Sustentabilidade. Esse espaço possui mais de 500 conteúdos gratuitos voltados aos empreendedores. São cartilhas, infográficos, vídeos e cases de empresários que implementaram a sustentabilidade em seus negócios, reduziram custos e ampliaram o público consumidor.
“Tem exemplos práticos de como implementar, de como fazer em diversos tipos de negócio. São informações mostrando, para o empresário que deseja abrir um negócio na área de reciclagem ou que já tem um negócio e que deseja melhorar a sua performance na gestão de resíduos, dicas práticas”, diz Helen.
Além da redução de custos e produtividade, muitas empresas que não atuam diretamente com a gestão de resíduos sólidos têm se preocupado com o impacto ambiental de seus produtos, afirma Helen. Afinal, a sustentabilidade tem peso cada vez maior na escolha de consumidores.
Quem enxerga essa tendência sai na frente da concorrência, seja para venda no mercado interno ou para exportar. Até mesmo as pequenas empresas, segundo ela, devem se preocupar com o tema, uma vez que grandes corporações exigem que sua cadeia de fornecedores também adote práticas sustentáveis.
“Atuar com sustentabilidade hoje é um diferencial competitivo para as empresas, mas daqui um tempo isso vai ser uma questão até obrigatória. Temos observado o cenário e os perfis de comportamento dos consumidores que começam a colocar a sustentabilidade como um fator determinante de compra”, analisa.
Criada em 2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei 12.305/10, é a norma que dita as regras de como o país deve lidar com o lixo. A PNRS estabelece as principais formas de como a iniciativa pública e privada devem tratar os resíduos, incentivando a reciclagem, o reaproveitamento dos materiais e a destinação correta daquilo que não tem realmente chance de ser usado novamente.
No que diz respeito às empresas, a lei estipula que todos os negócios, independente de terem os RSU como matéria-prima, devem recuperar e destinar corretamente seus produtos e mercadorias. Dentro dessa responsabilidade está presente o conceito de logística reversa. Um exemplo é a cadeia de pilhas e baterias, em que os responsáveis devem implantar mecanismos que permitam à população retornar o material após o uso.
Já os municípios e o Distrito Federal devem se atentar às mudanças que o Marco Legal do Saneamento Básico (Lei 14.026/20) trouxe em relação ao manejo dos resíduos sólidos.
Até julho deste ano, por exemplo, devem criar uma cobrança para o serviço de coleta de lixo, com o objetivo de garantir os investimentos necessários para o alcance da universalização e modernização das atividades de saneamento básico. Aqueles que não cumprirem a determinação podem ser penalizados por renúncia de receita, de acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal (101/2000).
Atualmente, 4.070 cidades realizam coleta seletiva de lixo. Em muitas dessas nem toda a área urbana é abrangida. Além disso, quase 1500 municípios brasileiros não fazem a coleta seletiva. Na região Norte, por exemplo, apenas 44,1% contam com essa iniciativa.
Os números refletem em outra frente: a destinação adequada de resíduos sólidos no Brasil. Em 2019, cerca de 40,5% do RSU gerado, o equivalente a 29 milhões de toneladas, teve destinação inadequada.
Segundo Helen, o Brasil precisa avançar em um modelo de gestão integrada, coordenada pelos municípios e que invista em tecnologia para viabilizar o surgimento de novos negócios na cadeia de geração de RSU. A matéria-prima, ela diz, é abundante. “O gestor público precisa orquestrar esse movimento também, criando um ambiente para facilitar a expansão de negócios em torno da cadeia produtiva”, orienta.
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