Foto: Divulgação/ABISEMI
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Entenda o que são semicondutores e por que a escassez provocou uma crise no mercado mundial

Os chips são essenciais para a montagem de automóveis, smartphones, computadores e demais eletroeletrônicos. Mercado asiático, que domina o setor, não conseguiu atender à demanda na pandemia

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Desde meados de 2020, quando muitas fábricas desaceleraram ou interromperam a produção devido à pandemia provocada pela Covid-19, se fala da escassez dos semicondutores, o que gerou uma crise em diversos setores do mercado mundial. Mas o que são semicondutores e por que eles fazem tanta falta?

Os semicondutores são materiais utilizados para a condução de correntes elétricas, a matéria-prima para a produção dos chips que integram os mais diversos aparelhos eletrônicos usados em nosso dia a dia, como automóveis, smartphones, televisores, videogames e computadores. Todos esses itens, além de outros vários outros eletroeletrônicos, não existiriam hoje sem os semicondutores. E por isso a falta deles ganhou tanto destaque ao redor do planeta, como explica Diogo Andrade, engenheiro mecatrônico que atualmente trabalha como desenvolvedor de softwares.

“As pessoas não param para pensar, mas o computador que ela está usando está cheio de semicondutores, o celular dela tem chips que são fabricados em Taiwan, na Coreia, os carros de hoje têm módulos que precisam dele. Assistentes virtuais que as pessoas usam dentro de casa, smartwatch, tudo tem um processador que é fabricado nessas fábricas de altíssima tecnologia agregada”, destaca o especialista, que trabalhou por alguns anos no setor.

Diogo explica que os chips são uma estrutura cristalina cúbica, geralmente fabricada com silício e germânio, elementos produzidos pela mineração e que são abundantes em todo o mundo. O que causou a escassez, no entanto, foi a pequena quantidade de fábricas, já que o processo demanda tecnologia e especialização que poucos dominam.

“Divida um metro em um bilhão de vezes e você tem o nanômetro, que são as medidas utilizadas para os transistores, as pecinhas minúsculas que vão formar os chips empregados em eletroeletrônicos e demais aparelhos que precisam deles, como carros, computadores e celulares”, explica o especialista. 

“Essas fábricas, chamadas de Foundry, quase todas concentradas na Ásia, são altamente especializadas e de altíssima tecnologia. E são poucas no mundo. Como o processo de fabricação é guardado a sete chaves, nenhuma outra pode tomar o lugar rapidamente. São necessários anos de investimento e especialização para chegar ao mesmo nível, então, se a demanda aumenta, como ocorreu nesta pandemia, encontramos num grande gargalo.”

Não bastasse o isolamento social, outras questões causaram um desequilíbrio na oferta dos semicondutores, como um incêndio em uma das maiores fábricas do planeta, no Japão, e a falta de chuvas em Taiwan – o país enfrentou a maior seca dos últimos 46 anos e isso afetou a produção, já que o processo de fabricação do dispositivo necessita de muita água.

Efeito cascata 

A desaceleração do setor produtivo por causa do distanciamento social imposto pela pandemia foi apenas o início do problema. Várias montadoras de automóveis, como Volkswagen, GM, Honda e Volvo suspenderam a produção em suas fábricas de todo o mundo e, como cada carro produzido leva, pelo menos, 300 semicondutores, a demanda pelo produto despencou.  

Nos meses seguintes, o avanço do home office e da educação à distância mudou completamente a demanda dos semicondutores com a explosão de vendas de aparelhos eletrônicos, como computadores, celulares e TVs. Como os chips usados nos carros são os mesmos, a produção foi inteiramente direcionada ao mercado de aparelhos usados dentro de casa. E quando a indústria automobilística retomou a produção, a demanda pelos componentes já estava grande demais. Tão alta, aliás, que ainda hoje causa atraso no lançamento de novos modelos de smatphones. 

Escassez de chips evidencia necessidade de fortalecer o setor no Brasil

Milad Kalume Neto, diretor de desenvolvimento de negócios da Jato Dynamics, explica que o mercado de semicondutores vem oscilando bastante desde dezembro do ano passado, quando começou a se recompor e se planejar para a enorme demanda, já que o pior da pandemia passou e as vendas dos mais variados produtos estão se normalizando aos poucos. O problema, segundo o especialista, é que a fila de espera cresceu durante a escassez e o mercado nacional vai demorar, pelo menos, mais um ano para entrar nos eixos. Principalmente porque o Brasil não está entre os primeiros a serem atendidos.

“E aí, o que que a gente a gente tem? A gente tem a perspectiva de melhora para o segundo semestre do ano que vem. O mercado chinês já está, aparentemente, se normalizado, o que é um grande indicador. Está com níveis (de produção) pré-pandemia, o que é um grande sinalizador de que as coisas estão em ordem. Mas aí a gente precisa atender o mercado europeu, o mercado norte-americano, a gente precisa atender o restante da Ásia para, depois, lembrarem de nós aqui, sul-americanos”, destaca Milad.

Incentivo à Indústria de Semicondutores

O PADIS, Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores, de 2007, é um conjunto de incentivos fiscais federais instituído com o objetivo de contribuir para a atração e a ampliação de investimentos nas áreas de semicondutores. Esses incentivos incluem células e módulos/painéis fotovoltaicos para energia solar, além de insumos estratégicos para a cadeia produtiva, como o lingote de silício e o silício purificado. O programa proporciona às empresas interessadas a desoneração de determinados impostos e contribuições federais incidentes na implantação industrial, na produção, importação e comercialização dos equipamentos beneficiados. Contudo, em contrapartida, as empresas se obrigam a realizarem investimentos mínimos em atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D).

A justificativa do incentivo já era clara desde o momento em que foi criado: fortalecer as políticas internas de estímulo à indústria de semicondutores frente à dependência de fabricantes internacionais, principalmente os asiáticos. A preocupação daquela época, hoje ainda mais evidente, bate novamente à porta do setor com a possibilidade da perda dos incentivos.

A Câmara dos Deputados possui duas proposições em tramitação que pretendem resolver parte do problema. Uma delas é o PL 3042/2021, sobre prorrogação do prazo de vigência de incentivos do PADIS até dezembro de 2029, já que a vigência acaba agora em janeiro de 2022. O outro é a PEC 10/2021, sobre a exclusão do setor de TIC e semicondutores do plano de redução de incentivos tributários instituído na Emenda Constitucional 109 (PEC Emergencial). 
 

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