LOC.: Alvo de críticas do governo, a taxa de juros pode ser debatida sem, com isso, ameaçar a autonomia do Banco Central. Essa é a avaliação de economistas ouvidos pela reportagem.
Recentemente, o presidente Lula se mostrou insatisfeito com a decisão do Bacen de manter a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 13,75% e deu a entender que pode rever a autonomia do Banco Central após o fim do mandato de Campos Neto, que acaba em 2024.
Segundo a professora de cenários econômicos no Ibmec, Fernanda Mansano, o governo Lula e o Banco Central estão buscando objetivos diferentes no momento, o que faz com que os choques entre a política fiscal e a política monetária sejam mais frequentes.
TEC./SONORA: Fernanda Mansano, economista
"O Banco Central está sempre com o pé no freio, de certa forma, enquanto o governo tem o objetivo de estimular a economia através dos gastos públicos. Para aumentar os gastos públicos, ele precisa de juros menores".
LOC.: Segundo a economista Deborah Bizarria, a independência do Bacen deve ser preservada, porque dificulta ingerências políticas na definição dos juros, que deve ser guiada por decisão técnica.
TEC.SONORA: Deborah Bizarria, economista
"A permanência da autonomia do Banco Central significa que o Brasil está avançando na melhoria das instituições, tirando ou, pelo menos, blindando essas instituições da ingerência político-partidária".
LOC.: O deputado federal Evair Vieira de Melo (PP – ES) foi um dos articuladores da lei que garantiu ao Banco Central sua independência em relação ao poder Executivo. Ele defende a autonomia do Bacen e afirma que a instituição não tem compromisso apenas com o mercado financeiro, mas com a estabilidade econômica do país.
TEC./SONORA: deputado federal Evair Vieira de Melo (PP – ES)
"O nosso Banco Central tem respeito e credibilidade internacional, porque mesmo durante a pandemia teve responsabilidade e, alinhado na época com o ministro Paulo Guedes, o Brasil conseguiu fazer uma transição razoável no momento mais crítico. O Banco Central não tem responsabilidade só com o setor financeiro. Quando ele mexe com juros e inflação, ele está olhando para o abastecimento, para a cadeia produtiva, para o preço do dinheiro".
LOC.: Instituída em fevereiro de 2021, a autonomia do Banco Central brasileiro completou dois anos. Ela é recente na comparação com economias mais avançadas, como Estados Unidos, União Europeia e Japão, que também têm bancos centrais independentes.
Reportagem, Felipe Moura.