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O calendário de semeadura da soja 2023/2024 já teve início em algumas regiões. Mas a Bahia, o Paraná, o Rio Grande do Sul, Rondônia e Santa Catarina tiveram alterações nas datas. Pelo novo calendário, Santa Catarina, por exemplo, já pode se preparar para o plantio que se inicia nesta semana (13). Os cinco estados precisaram mudar os prazos para controlar a ferrugem asiática da soja no país, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). O mestre em agronomia e supervisor técnico da Maxisolo-Sulgesso, Caio Kolling, explica que a medida é necessária para favorecer o cultivo.
“O calendário do plantio de soja ocorre para termos um vazio sanitário no ano agrícola, evitando assim severas infestações de ferrugem asiática, que é uma doença que pode causar muitos prejuízos na soja. (...) Isso se dá em função de características geoclimáticas em cada região”, esclarece.
Kolling acrescenta que alterar as datas é importante nos casos em que a soja é cultivada como uma segunda safra, após, por exemplo, da cultura do milho, do feijão, entre outras. “A gente não tem um período único para cada unidade federativa, mas a partir de agora nós temos essa divisão dentro de cada estado. Então os estados aí têm aí pelo menos três divisões regionais em função desse calendário, deixando mais refinado essas alterações que nós temos em cada região”, analisa.
O advogado especialista em direito agrário, Francisco Torma, informa que os próprios estados já estavam solicitando essa alteração no calendário.
“O período do calendário anterior era um pouco mais curto, e os estados pediram uma dilação nesse período. Esse calendário de semeadura, ele é o período em que o produtor rural pode fazer o plantio da sua soja, da sua semente de soja, da sua lavoura de soja. Ele foi criado basicamente para proteger as lavouras da ferrugem asiática”, aponta.
Torma lembra que no vazio sanitário não existe cultivo. “O solo fica sem a planta da soja e portanto esse fungo que causa a ferrugem asiática, ele acaba morrendo. Quando você consegue controlar a ferrugem asiática através desse vazio sanitário, você precisa menos utilização de fungicidas. O que é muito mais saudável para as lavouras”, observa.
Na opinião do analista de mercado de Safras & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez Roque, a mudança nas datas também tem a ver com uma questão sanitária e econômica. “Tem um pouco de política no meio aí que às vezes os produtores, associações de produtores e secretarias de agricultura dos estados pedem a antecipação do calendário para facilitar o plantio, para plantar antes, para essa soja entrar antes no mercado”, avalia.
Por meio de nota, o Ministério da Agricultura e Pecuária informou que o procedimento é feito todos os anos de forma atender às necessidades regionais, com base nas diferenças de produções e climas do Brasil. A pasta ressalta que as decisões para definição do calendário são feitas com base em informações técnicas, principalmente, da Embrapa, sobre a evolução do controle da ferrugem ao longo do tempo.
Segundo o analista Luis Fernando Gutierrez Roque, podem ocorrer mudanças na entrada da safra. “Se a gente conseguir plantar dentro do período ideal, a gente vai ter uma colheita em alguns lugares um pouco mais cedo, outros lugares um pouco mais tarde, dependendo de como foi a alteração no calendário”.
Na Bahia, por exemplo, a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) informou por meio de nota que, em função de especificidades climáticas do estado e em atendimento ao pleito dos produtores, a Comissão Técnica Regional (CTR) da Soja, solicitou ajustes no calendário da semeadura.
Luís Fernando ressalta que uma janela maior pode oferecer mais segurança para plantar. “Com uma janela menor, podem ter problemas climáticos que atrapalhem o plantio e você pode não conseguir plantar tudo dentro do período ideal”, lembra.
De acordo com o MAPA, as datas estipuladas têm um nível de flexibilidade para alterações e autorizações excepcionais, desde que os pedidos sejam encaminhados dos estados para o Ministério com argumentação técnica para que possam ser analisados e posteriormente publicados.
Luís Fernando Gutierrez Roque diz que é importante observar o calendário e ficar atento ao mercado. “Naturalmente, se a gente tem uma entrada de safra antes, a safra é cheia, a gente vai ter uma queda de preços que isso pode impactar outros setores. Tudo isso depende do tamanho da produção, não exatamente da questão do vazio sanitário em si”, pontua.
O analista de mercado de Safras & Mercado, Luiz Fernando, considera o clima uma preocupação para os produtores. “A preocupação é ver se eles vão conseguir plantar dentro da janela ideal e da janela oficial. Isso pode mudar o nosso potencial produtivo, mas aí vai depender muito da questão climática”, salienta.
Para o advogado agrarista Francisco Torma é preciso harmonizar os interesses. “Ao mesmo tempo que nós queremos deixar as nossas lavouras de soja protegidas da ferrugem asiática, nós também precisamos ter uma janela de plantio, uma janela de semeadura que seja compatível com os interesses do produtor rural e com as características das regiões em que nós cultivamos soja”. Ele ainda acrescenta:
“Nós precisamos ter o cuidado de não deixar uma janela de plantio muito curta, porque o produtor pode, por exemplo, por uma questão climática, acabar ficando fora dessa janela de plantio. Então ele precisa fazer a semeadura dentro dessa janela, mas ela tem que ser ampla o suficiente para não prejudicar o plantio”, afirma.
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