LOC.: A renda média brasileira ficou instável entre crescimentos e decréscimos nos últimos cinco anos de acordo com um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Apesar de toda oscilação, o levantamento revelou que em todo momento a população mais pobre do Brasil teve redução do rendimento, ou seja, enquanto a renda per capita dos 5% mais ricos subiu quase 9% no período 2015-2018, os 50% mais pobres da população viram sua renda média encolher 4%.
Segundo Rogério Barbosa, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da UERJ e co-autor da pesquisa do Ipea, uma das justificativas para este alargamento das diferenças sociais é que os momentos de recuperação econômica começam sempre da classe mais alta para a mais baixa, e se interrompidos por novos períodos de recessão, como foi o caso, esse alívio na renda média nunca chega de fato aos mais pobres.
O pesquisador afirma que a nova crise econômica causada pela pandemia só serviu para atenuar esse distanciamento de classes. Segundo Rogério, de início, entre março e abril vários setores sociais foram atingidos ao mesmo tempo, mas logo a partir de maio formas diferentes de recuperação já estavam disponíveis para populações mais ricas.
TEC./SONORA: Rogério Barbosa, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da UERJ e co-autor da pesquisa do Ipea.
“Por exemplo, o teletrabalho é uma possibilidade de emprego que não está disponível para todos os tipos de trabalhadores. Trabalhadores manuais, trabalhadores sem acesso à internet, não podem realizá-lo. A impossibilidade de manter o vínculo, principalmente desses colaboradores menos qualificados ou manuais levou a um desemprego desigualmente concentrado entre os mais pobres.”
LOC.: De acordo com o economista Cosmo Donato, da LCA Consultores as expectativas não são as melhores para os próximos anos. Segundo o especialista a retirada de programas sociais como o Auxílio Emergencial desaceleram ainda mais a recuperação econômica da população mais pobre.
TEC./SONORA: Cosmo Donato, economista da LCA Consultores.
“O maior impacto da pandemia sobre as famílias mais desfavorecidas ainda não será esse ano e sim ano que vem. Mesmo que já tenha uma percepção muito ruim de 2020, infelizmente 2021 deverá ser pior. Em 2022 em diante, talvez a capacidade de crescimento da economia brasileira não seja maior que 2% e essa agenda de crescimento é muito importante para promover a distribuição de renda.”
LOC.: O último levantamento da Síntese de Indicadores Sociais (SIS) do IBGE, com dados de 2018/2019 havia apontado uma diminuição de 0,6% na pobreza brasileira. Essas eram as pessoas que viviam com até R$ 30,25 por dia, no ano passado. Ainda assim, sem os dados de 2020, não é mais possível afirmar que essa estatística se mantenha atualmente após a paralisação econômica.
Reportagem, Agatha Gonzaga.