Foto: freepik
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Pobreza menstrual: direito básico de higiene da mulher ainda é violado

Dignidade menstrual deveria ser um direito básico de toda mulher, mas ainda hoje é um problema de políticas públicas e de violação de direitos humanos


Em novembro deste ano, o Ministério da Saúde lançou portaria que institui incentivo financeiro para o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual.

Mas afinal, o que é pobreza menstrual? De acordo com a ginecologista Nycolle Pinto, é a falta de condições de realizar higiene menstrual adequada. A falta de condições pode ser estrutural, por falta de itens básicos de higiene, como absorventes, saneamento básico, água encanada. E até mesmo falta de conhecimento e informação a respeito do ciclo menstrual.

Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que a pobreza menstrual é considerada um problema de políticas públicas e violação de direitos humanos, já que é uma questão que afeta diretamente a vida de meninas e mulheres jovens que vivem abaixo da linha da pobreza.

Ainda de acordo com a ONU, a pobreza menstrual vai além da saúde física. Estudos apontam que a falta da dignidade menstrual afeta também a saúde mental e é uma das principais causas da evasão escolar de jovens na faixa etária dos 13 aos 19 anos, por conta do desconforto e da discriminação.

A ginecologista explica que, ainda que seja um problema maior, existem algumas práticas para que possamos melhorar a pobreza menstrual como o autoconhecimento e educação.

“Melhorar a forma de educação com palestras, promoção de saúde e autoconhecimento no SUS, ampliar o acesso a informação em escolas. São os primeiro passos, além de mobilizar a sociedade a fazer alguma coisa, como doações e divulgação do tema”, afirma.

Para amenizar o problema, o diretor do Centro de Educação 11, da Ceilândia (DF), Kiko Gadelha, conta que as professoras do centro educacional criaram um projeto dentro da escola para que todos os meses sejam feitas doações de itens básicos de higienes para as meninas da escola.

Além disso, Kiko fala sobre a relevância de se abordar temas como este nas salas de aula: “A importância de falar sobre a dignidade menstrual na vida das meninas é gigante. Às vezes as famílias não têm a cultura para falar sobre isso e acaba que vira um tabu. Então aqui na escola a gente tenta fazer isso para que essas meninas saibam o que é”, enfatizou.

O diretor conta que por estarem localizados em bairro mais pobre, muitas meninas às vezes usam folhas, panos e outros itens não-adequados para a higiene pessoal, quando menstruadas. Por isso, o projeto criado dentro da própria escola é essencial para a saúde delas.

Apesar de ser um problema simples de solucionar para a maioria da população, pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza ainda sentem muita dificuldades, por não terem condição de separarem recursos para a compra de absorventes e outros itens de higiene pessoal. A falta de absorvente é uma ponta do problema para quem vive sem água, esgoto e energia.

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LOC.: Falar sobre pobreza e dignidade menstrual ainda é tabu na sociedade, mas a Organização das Nações Unidas (ONU) já considera o tema um problema de políticas públicas, com  violação de direitos humanos. 

A ginecologista Nycolle Pinto explica o que é pobreza menstrual. 
 

TEC\SONORA: 

“Pobreza menstrual é uma falta de condições de realizar uma higiene menstrual adequada. Essa falta de condições pode ser estrutural, pode ser por falta de itens básicos de higiene como absorventes, como infraestrutura, saneamento básico, água encanada”.
 


LOC.: A médica explica que muitas mulheres não têm condições e meios de adquirir absorventes. Assim,  utilizam outras formas de “cuidado” no período menstrual que podem levar a problemas de saúde, como infecções, machucados, entre outros. 
 

TEC/SONORA: 

“Essas mulheres quando não tem situação adequadas para fazer uma higiene menstrual adequada, elas acabam indo atrás de meios mais baratos e que não são adequados, como folha de jornal, folha de papel, miolo de pão”. 


LOC.: Para combater esse problema, é importante que existam projetos governamentais e iniciativas da população para amenizar a falta de cuidados com as mulheres e levantar questionamentos na sociedade, já que é um tema que abrange mulheres de todo país. 

A ginecologista explica que é um assunto de saúde pública: 

TEC/SONORA: 

“Então quais são as formas que a gente pode melhorar esses índices de pobreza menstrual? Melhorando a forma de educação com palestras, promoção de saúde e autoconhecimento no Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente, ampliar o acesso a informação de qualidade sobre o tema”. 


LOC.: A pobreza menstrual é um problema que atinge grande parcela da população de mulheres adolescentes e jovens. Os gastos com higiene básica interferem na vida das pessoas que vivem na extrema pobreza ou com dificuldades financeiras. É ainda uma desafio a ser vencido pela sociedade, no Brasil.

Reportagem, Daniela Gomes