Diante do crescente número de casos de dengue no Brasil, o laboratório japonês Takeda informou na segunda-feira (5) que deve priorizar o Ministério da Saúde na entrega do imunizante. Estados e municípios não poderão firmar novos contratos de forma descentralizada e na rede privada a vacinação será limitada.
Nas clínicas e laboratórios, o fabricante deve suprir e priorizar o “quantitativo necessário para que as pessoas que tomaram a primeira dose do imunizante na rede privada completem seu esquema vacinal”.
A médica infectologista Eliana Bicudo, responsável técnica pela Clidip vacinas, em Brasília, comenta que na clínica não há mais vacinas disponíveis para iniciar o esquema vacinal.
“Nos últimos dias, a procura foi muito elevada por conta do número elevado de pessoas que infelizmente estão sendo contaminadas com o vírus da dengue. Hoje estamos com estoque zerado, sem previsão no momento de novas vacinas. A indústria farmacêutica Takeda nos garantiu que teremos vacina para honrar a segunda dose de todas as pessoas que receberam nas clínicas privadas. Até o momento, nós não temos ainda a ideia de quando isso vai acontecer”, diz.
Em Minas Gerais — estado que possui o maior número de casos prováveis de dengue, com 121.412 segundo dados da Secretaria de Saúde daquele estado — o cenário não é diferente, como destaca o gerente administrativo do grupo Vaccine Belo Horizonte, Leonardo Henriques.
“Nosso estoque da vacina Qdenga esgotou. Nesse momento nós não temos uma previsão de recebimento de um novo lote. De fato, houve um aumento de demanda no mês de janeiro em função do surto e das notificações”, completa.
Em nota, a Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC) informou que houve um aumento de 110,75% na procura pela vacina entre dezembro de 2023, (2.341 doses aplicadas) e janeiro deste ano (4.923 doses). No período acumulado de julho de 2023 a janeiro de 2024, foram administradas 13.290 doses da Qdenga.
A entidade ainda ressaltou que compreende e apoia as ações do Programa Nacional de Imunizações (PNI), mas destaca o “papel fundamental do setor privado, complementando o setor público”. “Expressamos nossa preocupação diante da possível falta da vacina nas clínicas particulares e, especialmente, em relação às faixas etárias não cobertas pelo setor público”, diz a presidente do Conselho da ABCVAC, Fabiana Funk.
Vacina Qdenga no Brasil
O registro do imunizante foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março de 2023 e, desde julho, começou a ser comercializado na rede privada de saúde. A vacina é recomendada para as pessoas entre 4 a 60 anos e devem ser administradas em duas doses, com intervalo de 90 dias. Todas as pessoas, mesmo aquelas que já tiveram dengue, podem receber a vacina.
Segundo a infectologista Eliana Bicudo, tomar as duas doses e completar o esquema vacinal é essencial para se proteger contra a dengue.
“Se você recebe a primeira dose, você vai ficar com uma quantidade de anticorpo que a gente chama de “título protetor de anticorpos” bastante elevada, a partir do 14ª ou 15º dia da vacina. E há necessidade, sim, de fazer o reforço com 90 dias porque o estudo mostrou que os títulos protetores se mantiveram acima de 4 anos e meio, 5 anos. As pessoas que tomaram apenas uma dose no intervalo menor, de menos de 1 ano, perderam aquele título protetor. Então ela deve completar o esquema de 2 doses”, explica.
Em nota, o laboratório ainda garantiu a entrega de 6,6 milhões de doses para o ano de 2024 e o fornecimento de mais 9 milhões de doses para o ano de 2025. Em paralelo, a Takeda também informou que está buscando outras soluções para aumentar o número de doses disponíveis no país e que pretende atingir a meta de 100 milhões de doses por ano até 2030.
Vacinação na Rede Pública
Segundo o Ministério da Saúde, ainda durante essa semana será definido o calendário de vacinação contra a dengue. Inicialmente, crianças e adolescentes entre 10 a 14 anos deverão ser imunizados.
Conforme a pasta, 521 municípios de 16 estados e o Distrito Federal preenchem os requisitos para o início de vacinação. É estimado que cerca de 3,2 milhões de pessoas devam ser imunizadas neste ano.
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