Data de publicação: 22 de Setembro de 2023, 02:10h, atualizado em 22 de Setembro de 2023, 11:47h
LOC.: O Brasil enfrenta uma intensa onda de calor — e essa situação pode afetar o agronegócio. São esperadas temperaturas acima de 42ºC em algumas localidades. No Centro-Oeste e Norte, além do interior de São Paulo, as máximas previstas podem passar dos 40ºC, o que levou o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) a emitir alertas sobre a situação.
O clima é um fator importante para a produção agrícola. E essas alterações podem causar prejuízos ao agronegócio brasileiro. O pesquisador Eduardo Monteiro, da Embrapa Agricultura Digital de Campinas, no interior paulista, explica o impacto que essa onda de calor pode provocar, por exemplo, nas culturas de longo ciclo.
TEC./SONORA: pesquisador Eduardo Monteiro, da Embrapa Agricultura Digital de Campinas, SP
“A produção agrícola pode ser bastante afetada, de diferentes formas. Algumas culturas perenes, como o citros e o café, que estão em fase de florescimento — que em muitas regiões coincide com esse período agora de setembro — podem apresentar abortamento floral e redução significativa de produção, dependendo da combinação dos níveis de temperatura com maior ou menor disponibilidade de água no solo, a possibilidade de abortamento floral e do desenvolvimento inicial do fruto é bastante grande, podendo ter perda de produção acima de 60%.”
LOC.: O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) alerta que essa onda de calor deve continuar na primavera, que tem início no sábado (23). São previstas temperaturas acima da média em grande parte do país, chuvas intensas no Sul – em especial Santa Catarina e Rio Grande do Sul – além de menos precipitações no Norte e Nordeste.
A coordenadora do Núcleo de Inteligência de Mercado da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Natália Fernandes, reafirma que boa parte da produção agrícola é impactada por essas condições, inclusive a produção de grãos.
TEC./SONORA: coordenadora do Núcleo de Inteligência de Mercado da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)
“A maioria das atividades agrícolas são impactadas por essa onda de calor, não só pelo calor, mas pela condição gerada pelo fenômeno El Niño, que traz calor excessivo e seca para algumas regiões — como é o caso da região Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Quando a gente tem essa combinação — do fator da falta de chuva com as temperaturas elevadas — a gente pode ter alguns prejuízos, por exemplo, para grãos, como soja e milho.”
LOC.: Regiões que tiverem plantio em setembro também podem ser prejudicadas pelas condições climáticas, além do café e dos cereais de inverno. Para o pesquisador Eduardo Monteiro, poucas são as intervenções que podem ser feitas pelos produtores rurais nessas situações, como ele detalha, em seguida.
TEC./SONORA: pesquisador Eduardo Monteiro, da Embrapa Agricultura Digital de Campinas, SP
“Numa situação como essa os agricultores na verdade conseguem interferir muito pouco no ambiente. Aqueles que dispõem de irrigação conseguem manter o solo com um nível de água mais adequado, e nessas áreas irrigadas as temperaturas tendem a subir menos do que nas áreas que estão secas, então essa é uma possibilidade. No caso de danos em galhos, brotos e folhas, principalmente em culturas perenes, a poda e a remoção dessas folhagens danificadas pode ser necessário depois da ocorrência do dano.”
LOC.: De acordo com os protocolos internacionais, o aviso de onda de calor é emitido quando as temperaturas excedem em pelo menos 5ºC a média histórica do período. A meteorologista Dayse Moraes, do Inmet, enumera quais áreas estão em alerta vermelho e amarelo por causa das altas temperaturas.
TEC./SONORA: meteorologista Dayse Moraes, do Inmet
“Mato Grosso, Goiás, parte do Tocantins, sul do Pará, São Paulo, norte do Paraná e Mato Grosso do Sul estão com esse aviso vermelho de onda de calor que vai até domingo. Nós temos também um aviso laranja de onda de calor que ele abrange algumas áreas de Tocantins, do Pará, norte e leste de Goiás e Minas Gerais também, e o Rio de Janeiro, esse aviso vai também até domingo, é laranja porque essas temperaturas persistiram de três a cinco dias.”
LOC.: Vale lembrar que a intensidade do aviso em vermelho ou amarelo está relacionada ao número de dias consecutivos do fenômeno — e não aos desvios de temperatura. Junto à onda de calor, há previsão de baixos índices de umidade relativa do ar para a maior parte da área de abrangência dos avisos. A condição é provocada por um bloqueio atmosférico, que é um sistema de alta pressão, que inibe a formação de nebulosidade e não permite que as frentes frias avancem quando se formam no Sul do país. O Inmet reavalia diariamente os avisos. A previsão é que esta onda de calor vá pelo menos até domingo (24).
Reportagem, Janine Gaspar