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O Brasil tem enfrentado uma intensa onda de calor e essa situação pode afetar o agronegócio. São esperadas temperaturas acima de 42ºC em algumas localidades. No Centro-Oeste e Norte, além do interior de São Paulo, as máximas previstas podem passar dos 40ºC, o que levou o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) a emitir alertas sobre a situação.
O clima é um fator importante para a produção agrícola. E essas alterações podem causar prejuízos ao agronegócio brasileiro. O pesquisador Eduardo Monteiro, da Embrapa Agricultura Digital de Campinas, no interior paulista, explica o impacto que essa onda de calor pode provocar, por exemplo, nas culturas de longo ciclo.
“A produção agrícola pode ser bastante afetada, de diferentes formas. Algumas culturas perenes, como o citros e o café, que estão em fase de florescimento — que em muitas regiões coincide com esse período agora de setembro — podem apresentar abortamento floral e redução significativa de produção, dependendo da combinação dos níveis de temperatura com maior ou menor disponibilidade de água no solo, a possibilidade de abortamento floral e do desenvolvimento inicial do fruto é bastante grande, podendo ter perda de produção acima de 60%”, estimou Monteiro.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) alerta que a onda de calor que atinge o Brasil nos últimos dias do inverno deve continuar na primavera, que tem início no sábado (23). São previstas temperaturas acima da média em grande parte do país, chuvas intensas no Sul — em especial Santa Catarina e Rio Grande do Sul — além de menos precipitações no Norte e Nordeste.
A coordenadora do Núcleo de Inteligência de Mercado da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Natália Fernandes, reafirma que boa parte da produção agrícola é impactada pela onda de calor provocada pelo fenômeno e que isso impacta a produção de grãos, inclusive.
“A maioria das atividades agrícolas são impactadas por essa onda de calor, não só pelo calor, mas pela condição gerada pelo fenômeno El Niño, que traz calor excessivo e seca para algumas regiões — como é o caso da região Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Quando a gente tem essa combinação — do fator da falta de chuva com as temperaturas elevadas — a gente pode ter alguns prejuízos, por exemplo, para grãos, como soja e milho”, explica.
O pesquisador Eduardo Monteiro, da Embrapa, também destacou que regiões que tiverem plantio em setembro — o que é raro na região central do país, mas costuma acontecer no sul do estado de São Paulo, no Paraná e outros estados do Sul — podem ser prejudicadas pelo calor, que pode passar dos 50ºC na superfície do solo exposto, e provocar a morte das plântulas, que são um estágio inicial de desenvolvimento da planta. Neste caso, os agricultores acabam tendo que replantar as culturas mais tarde. Além disso, as altas temperaturas também podem provocar a queima de folhas e agravar situações de déficit hídrico.
Café e cereais de inverno também são afetados pelas condições climáticas, como explica a coordenadora da CNA Natália Fernandes. Ela ainda cita o exemplo do milho, que pode ter redução da produtividade. “Em várias fases a alta temperatura combinada com essa redução da precipitação pode prejudicar. No caso do milho ainda, temperaturas muito elevadas podem acelerar o processo de florescimento e enchimento do grão, o que pode parecer que é positivo mas não, porque quando ele acelera esse processo, ele vai reduzir o tempo de acúmulo de matéria seca. E aí pode ter uma redução da produtividade”, diz.
Para o pesquisador Eduardo Monteiro, poucas são as intervenções que podem ser feitas pelos produtores rurais nessas situações, como detalha. “Numa situação como essa os agricultores na verdade conseguem interferir muito pouco no ambiente. Aqueles que dispõem de irrigação conseguem manter o solo com um nível de água mais adequado, e nessas áreas irrigadas as temperaturas tendem a subir menos do que nas áreas que estão secas, então essa é uma possibilidade. No caso de danos em galhos, brotos e folhas, principalmente em culturas perenes, a poda e a remoção dessas folhagens danificadas pode ser necessário depois da ocorrência do dano”.
De acordo com os protocolos internacionais, o aviso de onda de calor é emitido quando as temperaturas excedem em pelo menos 5ºC a média histórica do período. Vale lembrar que a intensidade do aviso em vermelho ou amarelo está relacionada ao número de dias consecutivos do fenômeno, e não aos desvios de temperatura. A meteorologista Dayse Moraes, do Inmet, enumera quais áreas estão em alerta vermelho e amarelo por causa das altas temperaturas.
“Mato Grosso, Goiás, parte do Tocantins, sul do Pará, São Paulo, norte do Paraná e Mato Grosso do Sul estão com esse aviso vermelho de onda de calor que vai até domingo. Nós temos também um aviso laranja de onda de calor que ele abrange algumas áreas de Tocantins, do Pará, norte e leste de Goiás e Minas Gerais também — e o Rio de Janeiro. Esse aviso vai também até domingo, é laranja porque essas temperaturas persistiram de três a cinco dias”
Junto à onda de calor, há previsão de baixos índices de umidade relativa do ar para a maior parte da área de abrangência dos avisos.
Uma combinação de fatores climáticos resultou nesta onda de calor, registrada na última semana do inverno brasileiro, como explica a meteorologista Dayse Moraes.
“Nós estamos com um bloqueio atmosférico, que é um sistema de alta pressão, que inibe a formação de nebulosidade e de instabilidade. Esse bloqueio ele não permite que os sistemas frontais, as frentes frias, avancem, quando elas se formam, ficam restritas ao Rio Grande do Sul. E depois avança para o oceano, então ela não consegue adentrar um pouco mais o continente e esse sistema de alta pressão, bloqueando isso, inibindo a formação de nebulosidade também, faz com que eleve as temperaturas por conta da incidência mais direta da radiação solar”.
O Inmet reavalia diariamente os avisos. A previsão é que esta onda de calor vá pelo menos até domingo (24).
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