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Para marcar o Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção ao suicídio, o Ministério da Saúde anunciou que planeja implantar uma linha de teleapoio emocional àqueles que necessitam do Serviço Único de Saúde (SUS). Segundo Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, as pessoas com doenças mentais precisam de atendimento técnico especializado e humanizado.
“Até o final do ano nós estaremos entregando a linha 196. É o primeiro suporte de atendimento aos doentes mentais do Brasil. Estamos há um ano construindo essa linha, buscando apoio, expertise, para que o Brasil tenha o melhor serviço de atendimento telefônico de saúde mental do mundo”, disse.
Também em virtude do Setembro Amarelo, o ministério começou uma capacitação dos profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) de todo o Brasil no aprimoramento de acolhimento a pacientes em sofrimento psíquico. O “Curso de Formação de Multiplicadores em Urgências e Emergências em Saúde Mental” já foi iniciado através da plataforma online UniverSUS, separado em três turmas com 108 profissionais ao todo.
Para fortalecer a prática de condutas humanizadas e terapêuticas no âmbito da saúde mental, médicos e enfermeiros do SAMU de todas as capitais brasileiras poderão aprender sobre a assistência mais adequada a pacientes com quadros como ansiedade, depressão, violência autoprovocada e ideação suicida.
A capacitação é ministrada por profissionais especialistas, com aulas teóricas e práticas. Na metodologia, estão incluídas simulações realísticas, que vão desde o atendimento da chamada realizada pelo paciente ou familiar até o devido encaminhamento às unidades de saúde.
De técnico de enfermagem para enfermeiro, Pedro Palácios faz parte do SAMU de Senador Canedo, em Goiás, desde 2009. Ele destaca a importância da atenção do profissional com o paciente na hora do atendimento:
“Essa capacitação é de extrema importância para enfrentarmos o mal psiquiátrico. Durante os plantões, nós vemos muitos casos que não têm um desfecho legal, mas às vezes os próprios pacientes nos dão alarmes que podem passar despercebidos durante o atendimento clínico, por isso é importante nós sermos treinados para perceber esses detalhes.”
O enfermeiro diz, ainda, que são programas como esse que ajudam na humanização do serviço: “Temos que lembrar que esses pacientes estão ali por uma série de fatores, como o não acompanhamento, abandono do tratamento, falta de medicação, o meio em que se vive. Então, é uma questão de se colocar no lugar do outro mesmo.”
Marcela (nome fictício, personagem preferiu não se identificar) é uma jovem de 22 anos com quadro depressivo e ansioso. Ela conta que já passou por uma crise em que os pais precisaram recorrer ao SAMU: “A minha pressão estava muito baixa e eu desmaiava muito. Minha mãe ligou para o SAMU, que informou que estava sem ambulâncias no local onde eu moro, mas o atendente a auxiliou sobre o que fazer e me levar para o hospital. No fim, deu certo.”
Marcela diz que sabia de sua depressão até mesmo antes do diagnóstico em 2014, aos 15 anos. Ela praticava automutilação. Hoje, a jovem afirma ter mais consciência de suas ações e consequências, mas para isso precisa de seus medicamentos.
“Eu tomo remédio há 6 anos e eu tenho plena certeza que sou dependente química, pois sem os remédios eu fui muito mal, tenho crises intensas. Hoje eu tenho uma vida mais calma, então, eu acredito que seja uma dependência em um bom sentido”, conta.
A jovem conta que, depois do início da pandemia, passou a ter pensamentos suicidas. “Com todo esse cenário, eu passei muito tempo com pensamentos de ‘se eu pegar esse vírus, eu vou morrer, então por que não morrer logo agora e acabar com a espera? É uma pessoa a menos para colapsar o SUS.’"
A depressão é um transtorno mental comum que atinge pessoas por todo o mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 300 milhões de pessoas sofram de quadro depressivo. Sem tratamento, o transtorno pode afetar a vida cotidiana e causar disfunção no trabalho, escola, relacionamentos e, na pior das hipóteses, levar ao suicídio.
Ainda segundo a OMS, menos de 10% das pessoas com sintomas depressivos recebem o tratamento indicado. Cerca de 800 mil pessoas no mundo morrem por suicídio todos os anos, sendo a terceira principal causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos.
A psicóloga Amanda Oliveira destaca que, para o tratamento correto, é preciso avaliar o grau da depressão: “Dependendo do nível, o cérebro sofre modificações quimicamente. Então, consequentemente se faz necessário o uso de medicamentos prescritos por um psiquiatra.”
Entre as técnicas utilizadas pela psicologia com estes pacientes está a psicoeducação. Nela, o profissional assume o papel de orientar, trabalhar as crenças, a visão do paciente de si mesmo, do mundo e do outro. Porém, mesmo sendo feito este acompanhamento psicológico, é importante que a pessoa tenha uma rede de apoio dentro de casa, principalmente aqueles com tendência de automutilação ou suicida.
“Essas práticas vêm do querer reduzir ou eliminar a dor emocional, ou seja, a pessoa causa dor física para poder mudar o foco da dor emocional. Então, ter rede de apoio e permanecer em terapia é muito importante. E não levar os sinais como ‘frescura’, porque as pessoas realmente dão sinais antes de cometer qualquer tipo de ato.”
Segundo a psicóloga, por mais que a discussão sobre saúde mental esteja crescendo no Brasil, ainda é necessário lutar contra muitos tabus presentes na sociedade: “Muitos acham que terapia é só para ‘doidos’, como eles dizem”, conta a profissional. Outro problema seria a disponibilidade do acompanhamento para as classes mais baixas.
“Tratar desse assunto, ampliar essa temática e disponibilizar para todas as classes seria primordial para que a gente tenha uma sociedade mais saudável e as próximas gerações também”, destaca.
O Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo de forma voluntária e gratuita todas as pessoas que querem conversar por telefone, e-mail ou chat on-line. Disque 188 ou acesse www.cvv.org.br e procure ajuda.
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