Data de publicação: 11 de Abril de 2022, 15:30h, Atualizado em: 01 de Agosto de 2024, 19:34h
Entre 1980 e 2021, a participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil caiu de 34% para 22%. Para o ex-presidente da República Michel Temer, a indústria perdeu espaço nas últimas décadas devido ao crescimento do agronegócio ao mesmo tempo em que os governos sobrecarregaram a atividade industrial.
"Ao longo do tempo deu-se um fenômeno no Brasil que foi o crescimento extraordinário do agronegócio. Quem sustenta o PIB hoje do Brasil é o agronegócio. A indústria brasileira passou por muitas dificuldades, desde a questão trabalhista até a tributária”, disse o ex-presidente durante o seminário Evolução Política, evento que faz parte da série que celebra os 200 anos da Independência do Brasil, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
No mesmo evento, especialistas apontaram que o fenômeno da desindustrialização tem causas diversas, entre elas a forte intervenção estatal na economia, as instabilidades políticas, o crescimento do agronegócio e a sobrecarga tributária sobre os industriais brasileiros.
Para o cientista político José Álvaro Moisés, dois fatores ajudam a explicar as causas da desindustrialização brasileira: a instabilidade política e a ausência de uma política de incentivo à indústria.
“As crises sucessivas e a disruptura na política não favorecem o investimento privado na indústria, nem o investimento nacional. Pensando em vários governos, não vemos uma política industrial, o que significa levar em conta as reivindicações do setor, mas entender como questões estruturais da organização do sistema do país, eventualmente o corporativismo e o patrimonialismo, afetam o funcionamento da atividade econômica privada. Isso prejudica a possibilidade de uma política industrial mais ativa, capaz de recuperar o papel da indústria em relação, por exemplo, ao que [havia] em 1980”, avaliou.
A historiadora e escritora Mary Del Priore, autora da série de livros "Histórias da gente brasileira (colônia, império e república)", disse que o agronegócio está fortemente representado por alguns partidos no Congresso Nacional, o que pode explicar, também, a ausência de uma política voltada para a indústria nas últimas décadas. Ela acrescenta que a competitividade com o mercado internacional sem a desoneração do setor contribuiu para a desindustrialização.
“O papel da mundialização e da entrada de produtos, da vontade de consumir do brasileiro e as portas abertas para os produtos chineses devem ter detonado com a nossa indústria", opinou.
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O sociólogo Bolívar Lamounier, autor do livro “Da Independência a Lula e Bolsonaro: dois séculos de política brasileira”, disse que a estagnação da indústria brasileira se deu em meio a políticas econômicas muito fechadas, que deram pouco espaço para o investimento privado. O caminho para reverter o quadro, segundo ele, é abrir a economia.
“É preciso tirar da cabeça essa loucura de crescer com investimento estatal de um Estado que tem um déficit orçamentário, que não tem dinheiro para fechar as contas. Isso é um disparate. Temos que atrair capital estrageiro, assegurando segurança jurídica e encaminhando investimentos para o setor privado. Ou fazemos isso ou não vamos crescer”, disparou.
Para o líder do Governo na Câmara dos Deputados, o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), a pandemia evidenciou que não é viável para o Brasil depender tanto de insumos, máquinas e equipamentos produzidos no exterior. “As empresas fabricam lá na China, na Índia, com suas marcas daqui, gerando empregos lá fora e nós aqui nos apropriando apenas de um custo mais baixo dos produtos. A pandemia nos ensina que esse modelo é frágil. Faltaram muitos componentes dos produtos em função da crise gerada pela pandemia e do isolamento social”, disse.
Diante das lições deixadas pela pandemia, Barros acredita que a indústria brasileira há de se aproveitar para ganhar destaque novamente. “A tendência, me parece agora, é que as indústrias voltem a ter os seus parques industriais nos seus países de origem. O que vai ser muito bom, porque os países que têm custo de vida mais alto, mais desenvolvidos, terão que agregar muita tecnologia para concorrer com os países de mão de obra mais barata e isso vai nos colocar num outro ciclo de evolução da indústria. Olhar pro futuro e olhar pro passado nos ensina as medidas certas a tomar”, pontuou.
O ex-presidente Michel Temer e o cientista político José Álvaro Moisés também destacaram que é preciso enfrentar o chamado Custo Brasil para que a indústria brasileira volte a crescer de forma sustentável. Para isso, eles afirmaram que a aprovação de reformas, como a trabalhista (feita em 2017) e a administrativa são fundamentais.