Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Estudo mostra um aumento da vacinação em crianças menores de 2 anos no Brasil

Após anos em queda, a cobertura vacinal do público infantil voltou a subir. O levantamento da Fiocruz analisou quatro vacinas essenciais: BCG, Pólio, DTP e MMRV

SalvarSalvar imagemTextoTexto para rádio

Após anos em queda, a cobertura vacinal do público infantil voltou a subir. Um levantamento feito pelo Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância - Fiocruz/ Unifase) revelou que crianças com menos de 2 anos de idade tiveram um aumento da vacinação no Brasil. O estudo analisou quatro vacinas consideradas essenciais pelos médicos: BCG, Pólio, DTP e MMRV. Os resultados apontaram crescimento na cobertura desse público entre 2021 e 2022.

O médico Dalcy Albuquerque Filho, especialista e membro da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, diz que esse aumento representa um resultado positivo. Mas, para que esse número continue subindo, ele acredita que o Brasil precisa disponibilizar mais vacinas em todas as unidades de saúde e ainda aumentar a quantidade de campanhas de vacinação.

“A gente lembra das campanhas do Zé Gotinha no início dos anos 80, quando você tinha filas imensas nas unidades de saúde, as pessoas ficavam na fila. Hoje essas campanhas são muito fracas, vai muito pouca gente. Então eu acho que a questão toda é essa, é sensibilizar, estar onde as pessoas estão e vacinar. E, na dúvida, dê vacina”, avalia.

A vacina BCG — que protege contra a tuberculose — foi a que mais conseguiu atingir a meta. Ela teve um aumento de 19,7 pontos percentuais e alcançou 99,5% do público infantil em 2022. De acordo com o levantamento, foi o único imunizante que obteve a cobertura vacinal mínima necessária. O maior crescimento foi observado na região Norte, enquanto a Sudeste teve a menor cobertura com 92,7%.

A vacina contra a poliomielite também cresceu 19,7 pontos percentuais, mas não conseguiu chegar no mínimo necessário da cobertura vacinal, entre 90% e 95%. O índice foi de 85,3% em 2022.

A imunização contra a DTP — difteria, tétano e coqueluche — cresceu 9,1 pontos percentuais, para crianças com menos de 1 ano. A cobertura chegou a 85,5% em 2022. Norte e Nordeste foram as regiões que lideraram o crescimento, porém nenhuma região alcançou a meta de 95% de cobertura vacinal.

A vacina MMRV — previne sarampo, caxumba, rubéola e varicela — também teve um aumento da imunização em crianças menores de 2 anos, mas ainda assim não alcançou a meta. Ela cresceu 3,5 pontos percentuais, chegando a 59,6% em 2022. A região Sul esteve na frente da cobertura, com 70,6% e a região Norte, teve o menor índice — de 38,6%. 

Importância da vacinação

O médico Dalcy Albuquerque Filho explica que a vacinação, talvez, seja um dos maiores avanços da medicina nos últimos séculos. “Graças à vacinação, nós conseguimos minorar ou até erradicar doença que durante toda a história da humanidade dizimou populações, causou sequelas e encurtava inclusive a vida média da população.”

Para ele, com o surgimento dos imunizantes, muitos problemas foram deixados para trás. “Com as vacinas, nós conseguimos, por exemplo, a redução de febre amarela, que era uma tragédia no Brasil, a varíola que também era uma tragédia no Brasil e no mundo inteiro e que, inclusive, nós conseguimos até a erradicação”, revela.

O infectologista levanta outros pontos positivos. “Com a vacina, a gente consegue que o organismo tenha uma série de fatores de defesa que impedem que essa doença que tinha um potencial de agravamento muito grande, com o pior desfecho, que era o óbito, a morte do paciente, não aconteça”, salienta.

Vacinação nos idosos

Na opinião do médico Dalcy Albuquerque Filho, as vacinas não são importantes apenas para as crianças. “Não podemos nos esquecer das pessoas idosas que têm comorbidades. Elas são organismos mais frágeis e também precisam se manter imunizados, dentro do que preconizam os calendários vacinais”, ressalta.

O especialista ainda acrecenta: “Pessoas que usam medicações que comprometem a imunidade, de acordo com a orientação do seu médico, da sua terapia, devem também se manter imunizados para evitar ter essas doenças e, se vier a ter, evitar as complicações e os óbitos”, afirma.

Orientações

O médico diz que para evitar complicações ao adoecer, a recomendação é simples: “Vacinem-se e mantenham o calendário de vacina do seu filho rigorosamente em dia, dentro das datas preconizadas. Leve o seu filho num posto de saúde para vacinar e mantenham o calendário dele em dia dentro do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde”, aconselha.

Mas ele ressalta a importância de aumentar o número de vacinas disponíveis em todas as unidades de saúde e também ampliar as campanhas. “É importante atuar em locais de grandes aglomerações, em festas, em jogo de futebol, em todos os lugares e com pessoas sensibilizadas e fazendo brincadeiras até para atrair as crianças e tudo mais”, cita.

A advogada especialista em direito médico Ana Lúcia Boaventura faz um alerta. “A vacinação é obrigatória não somente para crianças, ou seja, os pais devem levar seus filhos a se vacinarem e também para os adultos. É claro que ninguém vai adentrar à residência de uma pessoa e obrigá-lo a se vacinar, mas a gente deve entender que alguns direitos podem passar a ser restringidos em razão da falta de vacinação”, informa.

Caso os pais não levem os seus filhos para se vacinar, a advogada esclarece: “Eles podem começar a ter direitos restringidos em matrículas, em escolas, recebimento de Bolsa Família e assim por diante. Então, a vacina é obrigatória, sim, obviamente, não de uma maneira coercitiva, mas com relação à restrição desses direitos, porque o que se pretende com a vacinação obrigatória, não é só a proteção do indivíduo que vai receber a vacina, mas é uma questão de saúde coletiva.”, ressalta.

Receba nossos conteúdos em primeira mão.