LOC.: Dados da Abramed revelam que o Brasil pode estar passando por um novo avanço na disseminação da Covid-19. Em relação à semana anterior, por exemplo, entre os dias 24 de abril e primeiro de maio foi notado um salto de 26% no número de exames realizados e de 12,9% na taxa de positividade.
Para explicar essa possível tendência de aumento de casos da doença, vamos conversar com a médica infectologista, Dra. Joana D'arc.
Dra., Por que, mesmo depois do avanço da vacinação contra Covid-19, os casos da doença continuam aumentando?
TEC./SONORA: Joana Dra. Joana D'arc, infectologista
“Sabemos que algumas variantes produzem o que chamamos de escape imunológico. Então, mesmo após você ter se infectado ou ter se vacinado, você pode se infectar outras vezes. A diferença é que a gravidade, letalidade ou possibilidade de hospitalização vão ter reduzido muito, porque seu organismo responde melhor à infecção. Não impede totalmente de se infectar, mas impede de complicações.”
LOC.: É possível afirmar que essa época do ano é propícia para Covid-19? Ou isso não é algo que temos que levar em conta?
TEC./SONORA: Joana Dra. Joana D'arc, infectologista
“Em determinadas épocas do ano, principalmente quando faz frio, tendemos a aglomerar mais. Ou seja, preferimos ficar em ambientes mais fechados e a ficar mais próximos uns dos outros, até mesmo quando saímos, vamos a restaurantes ou outros ambientes. Isso predispõe a propagação de todas as doenças respiratórias, não apenas Covid-19. Também temos o caso da influenza, gripe, resfriado e outras doenças que você pode se infectar por proximidade.”
LOC.: Casos seguidos de adoecimento por covid-19 em um curto intervalo de tempo vêm aparecendo nos últimos meses. Como isso acontece, se, até o ano passado, a literatura dizia que, após ter Covid-19, o corpo produzia anticorpos suficientes para proteger o indivíduo por no mínimo 90 dias?
TEC./SONORA: Joana Dra. Joana D'arc, infectologista
“Com relação a esse vírus, temos visto que alguns erros foram cometidos. Vimos em alguns estudos que muita coisa não chegou a se concretizar. O comportamento do vírus não foi o esperado. No início da pandemia achávamos que em três meses estaria tudo bem, e já estamos há mais de dois anos nesse cenário de pandemia. Com relação às novas variantes, elas são mais transmissíveis, sim. O nosso organismo consegue produzir uma quantidade de anticorpos, mas não chega a ser protetora por um período prolongado.”
LOC.: Ainda mesmo após as inovações dos testes para Covid-19, eles podem testar falso positivo?
TEC./SONORA: Joana Dra. Joana D'arc, infectologista
“A questão do falso positivo é algo bem raro com os testes que chamamos de padrão ouro, com o PCR. Ele capta, inclusive, fragmentos virais que não necessariamente representam uma infecção. Ou seja, ele capta bem o vírus, mas não significa necessariamente que você está doente. Às vezes, você está portando um vírus, fez o teste e deu positivo, mas não teve nenhum sintoma. Pode ter havido uma colonização transitória sem grandes repercussões para o organismo.”
LOC.: Novas variantes sempre podem causar reinfecção?
TEC./SONORA: Joana Dra. Joana D'arc, infectologista
“Podemos ter sim as reinfecções por essas e por outras mutações. Cada vez que o microrganismo penetra em um organismo novo, em um ser humano, ele pode passar por múltiplas mutações. Algumas são bem relevantes e outras não. Por isso, dividimos em variantes de várias classificações. Essas possibilidades de mudanças são naturais. Quando o microrganismo está se adaptando, normalmente ele não deseja matar o hospedeiro, porque ele busca um mecanismo de sobrevivência. Mas, a possibilidade existe e vamos conviver com esse vírus por um longo período de tempo. Será uma doença a mais como problema de saúde pública para estarmos sempre monitorando, vendo os riscos de infecção, sazonalidade, estudar esse comportamento viral até chegarmos em uma estabilidade.”
LOC.: Chegamos ao final da nossa entrevista. Dra. Joana D'arc, obrigado pelos esclarecimentos e até uma nova oportunidade.